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A informática jurídica: de gestão (ofimática); de registros (documental); de decisão (metadocumental); de ajuda à decisão.

INFORMÁTICA, TELEMÁTICA E CIBERNÉTICA DIREITO: INFORMÁTICO, TELEMÁTICO E CIBERNÉTICO.

2. A informática jurídica: de gestão (ofimática); de registros (documental); de decisão (metadocumental); de ajuda à decisão.

A informática jurídica é uma disciplina bifronte na qual se entrecruzam uma metodologia tecnológica com seu objeto jurídico, que, por sua vez, condiciona as próprias possibilidades ou modalidades da aplicação dos recursos tecnológicos ao direito. A aplicação da informática geral ao fenômeno jurídico tem sempre por objeto de estudo o emprego dos computadores eletrônicos ao direito unido aos pressupostos e conseqüências desta utilização, podendo ser entendida em dois diferentes sentidos. No âmbito do primeiro, nos Estados Unidos, privilegiou-se o estudo automático das sentenças, assemelhando-se a computer science, já que objetivou a automação da administração pública ou de procedimentos regulados pelo direito. Na Europa priorizou-se a documentação jurídica, incluindo-se leis, sentenças e doutrina. Neste sentido a informática jurídica tem por objeto a criação de dados jurídicos.131

A classificação da informática jurídica varia conforme o ponto de vista pessoal dos juristas. Considerando as várias espécies existentes, propomos em nossa dissertação de

130 Ibidem.

131 Este aspecto da Informática jurídica fora aventado por LUÑO. Manunal de informática y derecho. Madrid: Ariel, 1996, p. 22.

mestrado sua ordenação em informática jurídica: de gestão ou operacional; de registros ou documental; de decisão ou metadocumental; e de ajuda à decisão.132

A informática jurídica de gestão compreende o estudo da mecânica, do funcionamento das repartições, escritórios e gabinetes jurídicos, tendo por fim a aplicação dos princípios informáticos a toda e qualquer atividade jurídica de trabalho físico- material.133 Assim considerada a informática jurídica logrou um desenvolvimento mais decidido nos últimos anos, recebendo também a denominação de ofimática ou burótica, o que consistiu numa tentativa de traduzir a expressão inglesa “Office Automation”. Sob esses rótulos abarcam-se todos os avanços tendentes à automação das tarefas rotineiras da vida prática do direito verificadas em qualquer ambiente jurídico como: tribunais, juízos, escritórios de advocacia, etc. Visa a realizar, através de suportes informáticos ou telemáticos, operações destinadas a receber e transmitir qualquer tipo de comunicação: leitura e escritos de textos jurídicos; formação, organização e atualização de arquivos e registros; exigir e receber pagamentos, etc.134

Os avanços da Ofimática - informática jurídica de gestão – permitiram, quanto ao gerenciamento da justiça e também de escritórios de advocacia, uma automação de todas as operações que obedecem a determinadas normas rotineiras, regulares e constantes, na forma de redação, contabilidade, comunicação e certificação, visando a uma uniformização e também a uma celeridade nos despachos e decisões judiciais. Isto significa um ganho de tempo e o excedente pode ser empregado numa atividade jurídica criadora, ou que exija a iniciativa pessoal, ou ainda naqueles processos que para serem decididos exigem do magistrado um estudo mais aprofundado.135

A informática jurídica de registros ou documental ocupa-se com todos os tipos de registros, sejam eles públicos ou privados, visando a facilitar aos diferentes usuários o acesso de todos os registros oficiais com muito mais rapidez e facilidade que os meios tradicionais facultavam. São exemplos: os registros de apenados, atos de última

132 PIMENTEL, Alexandre Freire. O direito cibernético: um enfoque teórico e lógico-aplicativo. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. Sobre o assunto veja-se o capítulo VII desta obra.

133 AZPILCUETA, op. cit.,. p. 53-54.

134 LUÑO. Manual de informática y derecho, p. 23. 135 Ibidem, p. 23.

vontade, registro civil, registro da propriedade imobiliária, intelectual, etc. Permite ainda a facilitação de trabalhos complementares como registro de dados estatísticos, eliminação de documentos escritos, dentre outros.136

Esta conceituação foi elaborada por Azpilcueta, mas Perez Luño oferece-nos outra mais abrangente segundo a qual a informática jurídica documental seria a ambiência da informática jurídica, cujo objeto se constitui na automação dos sistemas de informação correlacionados com as fontes do conhecimento jurídico: legislação, jurisprudência e doutrina. Trata-se de poderoso instrumento mitigador do problema da inflação normativa, que se constitui numa das características das sociedades tecnologicamente avançadas. É que o fluxo incessante de leis e decisões judiciais, cujo conhecimento é imprescindível para o jurista, mormente quando o problema for o da interpretação e aplicação do direito vigente, resta deveras dificultado pela excessiva produção legislativa e por decisões judiciais controvertidas. O excesso de informação jurídica importa em falta de transparência ao sistema normativo, pressuposto básico da certeza do direito, e que torna o direito positivo inacessível para os próprios especialistas. Essa crise da informação e documentação nas sociedades modernas somente poderá ser combatida com o emprego da tecnologia informática e dos sistemas de telecomunicação. Só assim o profissional do direito poderá restabelecer o equilíbrio entre o incessante fluxo de dados jurídicos e sua capacidade de assimilá-los e aproveitá-los.137

A informática jurídica de decisão consiste na aplicação do método informático ao direito com o fim de obtenção de decisões judiciais pelo próprio computador. É considerada pela doutrina como a mais problemática subespécie da informática jurídica, deve, pois, ser bem compreendida para não se pensar que representa uma proposta de automatismo cibernético das decisões judiciais. Visa, na verdade, a estabelecer determinadas pautas em hipóteses cujo trabalho intelectual é substituído por um labor repetitivo e rotineiro, facilitando a redação de modelos de decisões para o bem do próprio juiz e do funcionamento judicial.138 Com efeito, existem inúmeros casos práticos

aonde a decisão judicial é de tal forma tão simplificada que modelos de sentenças e de

136 AZPILCUETA, op. cit., p. 54.

137 LUÑO. Manual de informática y derecho, p. 22-23. 138 AZPILCUETA, Derecho informático, p. 55 e 56.

despachos são necessários, não apenas para facilitar o trabalho do juiz, mas principalmente para que se possa com mais rapidez e segurança prestar a tutela jurisdicional a bem do jurisdicionado e da sociedade como um todo.

A informática jurídica de decisão é também denominada de informática jurídica metadocumental, vez que é integrada pelos procedimentos dirigidos à substituição ou reprodução das atividades do jurista, mais precisamente dos magistrados, auxiliando- lhes e oferecendo-lhes soluções práticas dos problemas jurídicos e não apenas dedicando-se a uma mera documentação informatizada. Hodiernamente uma das questões de maior expoente da informática jurídica de decisão ou metadocumental reside no uso da “inteligência artificial” na aplicação do direito, cuja amplitude abrange desde a compreensão de linguagens naturais até sons e imagens pelos computadores mais modernos, constituindo-se num instrumento habilitado para soerguer as profecias típicas da primeira fase da informática jurídica.139

139 A respeito das fases históricas da Informática jurídica, dedicamos o item 7.1 do capítulo 7 de nosso “O

direito cibernético: um enfoque teórico e lógico-aplicativo”, vejamos: “A história da Informática jurídica correlaciona-se com o desenvolvimento tecnológico da informática, ou seja, inicia-se com a difusão dos computadores eletrônicos nos Estados Unidos, com o término da Segunda Guerra Mundial, cuja origem formal denota-se na obra de Loevinger em 1949. Somente na metade da década de sessenta chega à Europa, onde seu marco inicial fora um congresso mundial de juízes, realizado em Genebra no ano de 1967.139 Outro símbolo inolvidável de seu prelúdio europeu, é o CREDOC (Centre de

Documentation Automatique du Droit) considerado por Losano como o primeiro centro operativo de Informática jurídica da Europa, fundado na Bélgica em 1967. O percurso histórico da Informática jurídica pode ser subdivido em duas fases: a primeira, marcada pelo entusiasmo dos juristas informáticos, inicia-se em 1949 e vai até 1975; a segunda tem seu termo inicial a partir desta última data e perdura até os dias atuais, caracterizando-se, segundo alguns pela decepção, e consoante outros, pela marca do saneamento das falhas ocorridas anteriormente. Até meados de 1975, os juristas dedicados ao estudo da Informática jurídica, acreditavam entusiasticamente neste ramo do saber jurídico e em sua capacidade de solucionar os problemas oriundos do excesso de documentação jurídica. Como observou Steimüller, existiu uma época de euforia iniciada em 1970, exaurindo-se por volta de 1980, onde vicejou uma nova etapa nominada de fase de saneamento perdurando até hoje. Para Lothar Philips existiu uma fase de otimismo tecnológico até meados de 1975, sendo seguida por uma era de “pessimismo tecnológico”. Até 1975, a Informática jurídica exerceu sobre os juristas um fascínio, que somente veio a declinar quando os resultados práticos profetizados não aconteceram. Outro fator que norteou os estudiosos do direito para uma visão um tanto pessimista quanto ao futuro desta disciplina, é representado pelos supostos perigos sociais inerentes à informática. Especificamente pode-se mencionar o fato de sua impressionante capacidade de agregar e selecionar dados jurídicos, ter provocado nos juristas o temor de possibilitar a prosperidade de uma sociedade total e totalitariamente “controlável”. Como conseqüência, houve um desvio na preocupação do jurista para um estudo de como controlar o uso que o Estado e as empresas poderiam fazer com os dados pessoais fornecidos pelos cidadãos. Nesta fase surgem as primeiras leis de proteção de dados pessoais139 e, com

elas muitos juristas retomaram seus estudos sobre o direito. O jurista informático percebendo que não seria capaz de dedicar-se aos estudos informáticos para solucionar problemas jurídicos, por conta do

Tem-se ainda a informática jurídica de ajuda à decisão que é baseada no princípio de que o computador deve facilitar a informação adequada ao jurista, ajudando-o a decidir. Pressupõe o tratamento e a recuperação da informação jurídica através dos computadores nos tradicionais campos da jurisprudência e legislação.140

Todas as atividades, trabalhos e distintas aplicações da “máquina computacional” à experiência jurídica em suas múltiplas manifestações como memorização e tratamento de informações, geram efeitos e relações jurídicas que em seu conjunto constituem-se no objeto do que se assentou nominar de direito informático, da mesma forma que o transporte das informações representa outro aspecto, cujas manifestações conformam o que alguns denominam de direito telemático. Já nos filiamos aos que entendem que a transposição da informação jurídica deve ser considerada também como objeto do direito informático, não havendo razão, dizíamos, para subdividi-lo em duas disciplinas distintas. Mas o progresso da telematização e sua inegável presença no cotidiano ocorrida nesses últimos cinco anos, exige agora uma nova reflexão. Pois bem, mesmo

progresso da informática geral que estaria a exigir-lhe uma dedicação completa e um aprofundamento ininterrupto das técnicas informáticas, sente o anseio de retornar às suas origens. O temor de no futuro termos uma sociedade excessivamente controladora, fora denominado por Igor Tenório como o “lado negro da Cibernética”, o professor da Universidade de Brasília chega a fazer referências aos filmes “Alphaville” e “1984”, onde predominava o controle das máquinas sobre os homens, servindo de advertência para todos nós. No entendimento de Wirt Peters à medida em que a revolução cibernética progride os meios de controle dos governos aumentam na mesma proporção, com indiscutível restrição e risco para liberdades individuais, constitucionalmente asseguradas. Podlech, jurista considerado por Losano como figura emblemática das duas fases que a Informática jurídica européia viveu nos seus trinta anos de história, enriquecera sobremaneira os estudos especializados nesta área, mormente com sua proposta do uso de lógicas instituicionistas, ou seja, capazes de operar sem o princípio do terceiro excluído - princípio lógico onde determinada proposição pode ser apenas verdadeira ou falsa, sem admitir um valor intermediário. Pugnava pelo uso de uma lógica trivalente, obtendo grande aceitação na seara da inteligência artificial, contribuindo ainda para separar a Informática jurídica européia da Informática jurídica americana. No entanto em 1976, Podlech afastava-se da Informática jurídica passando a outros a continuação de seus estudos, para dedicar-se a pesquisas mediavalistas. Nos anos noventa a informática firmou-se como uma tecnologia madura, podendo-se constatar que os erros cometidos no passado na automação documentária, foram motivados por equívocos organizacionais. Como já foi dito, a mera aquisição de computadores por si só não resolve problema algum, podendo inclusive, piorar a situação fática existente”. Vide PIMENTEL, Alexandre, op. cit.,.

140 AZPLICUETA, op. cit., p. 56.

Mas apesar dessa classificação Mario Saquel, por exemplo, considera a Informática jurídica de ajuda à

decisão, como sinônimo da Informática jurídica documental: “Informática jurídica de ayuda a la decisión o Informática jurídica documental, trata el procesamiento de la información jurídica, es decir, legislación, doctrina y jurisprudencia, en soportes computacionales, para su posterior recuperación. Se denomina de ayuda a la decisión, porque sólo sobre la base de una adecuada información, el profesional del Derecho podrá optar válidamente entre las distintas alternativas que un problema jurídico le plantee”. Cfira-se SAQUEL, Mario. Ciência da informação, Home Page: http://www.chilepac.net/msaquel/2htm.

admitindo que a telematização tende a crescer cada vez mais, e apesar de nos parecer melhor continuar a designar o fenômeno em pauta sob a rubrica de um só saber, cremos que ela deve sofrer alteração. Para deixar mais bem realçado o aspecto do tele-transporte cibernético da informação jurídica passamos a adotar a nomenclatura: direito “teleinformático”, porque aí estarão abrangidos tanto o transporte quanto o tratamento localizado da informação, bem como a juridicização daí proveniente, pois dificilmente poder-se-á nos dias atuais pensar num processamento de informações jurídicas que não tenha uma finalidade, ainda que mediata, de teletransportação. Enfim, deve-se sublinhar que o âmbito do direito teleinformático decorre e, ao mesmo tempo, restringe-se exatamente à regulação legal e doutrinária da aplicação do computador ao direito e do transporte da informação jurídica.

Vejamos agora a possibilidade de máquinas computacionais processarem informações jurídicas autonomamente, através de uma inteligência própria: a inteligência artificial.

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