• Nenhum resultado encontrado

Partindo do pensamento de Lourival Vilanova: “generalização” para uma teoria geral do direito; e “formalização” para uma lógica jurídica.

LÓGICA, LINGUAGEM E PROCESSO.

1. Partindo do pensamento de Lourival Vilanova: “generalização” para uma teoria geral do direito; e “formalização” para uma lógica jurídica.

O professor Lourival Vilanova logrou o título de Livre Docente da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito da Faculdade de Direito do Recife no ano de 1947, quando defendeu a tese: “Sobre o conceito do Direito”, (Recife: Imprensa Oficial), na qual se constata a presença das idéias de Stammler e uma inclinação para a fenomenologia. Em 1953 apresentou tese intitulada: “O problema do objeto da teoria do Estado”, (Recife: Imprensa Oficial), que lhe rendeu o título de Professor Catedrático e na qual se verteu para o formalismo, mas ainda convivendo com temáticas não estritamente jurídico-formais, o que talvez se explique em razão do exercício da cátedra de Sociologia no Curso de Ciências Econômicas da UFPE até – aproximadamente – o ano de 1956, quando, enfim, assumiu a titularidade da cadeira de Teoria Geral do Estado na Faculdade de Direito.8 Mesmo assim o interesse pela fenomenologia não diminuiu, tanto que em 1966 publicou: “Notas para um ensaio sobre a cultura” (Recife: Imprensa Universitária – UFPE) e em 1969 publicou:

8 Neste sentido veja-se SALDANHA, Nelson. In Memoriam: Lourival Vilanova. Revista Brasileira de

“Teoria das formas sintáticas – anotações à margem da teoria de Husserl (Recife: Imprensa Universitária – UFPE).

Iniciou o seu ministério de lógico por volta de 1970, quando já lecionava esta disciplina na Faculdade de Filosofia da UFPE. Inicialmente partiu das idéias de Kelsen e de Kant para depois se relacionar com as obras de Klug, Schreiber, Weinberg, dentre outros. Sua ligação com a fenomenologia, como explica Nelson Saldanha, foi, de certa forma, definitiva, pois foi nessa corrente do pensamento que encontrou a preocupação ‘objetivista’ que tanto o impressionou e também o pensar analítico já verificado em Kant. Em certa medida a influência da fenomenologia explica sua filiação ao kelsenismo, constatado de forma veemente a partir da década de sessenta. O interesse e o estudo das idéias de Kelsen rendeu-lhe o reconhecimento de especialista mor no Brasil na obra do mestre de Viena.9 A partir de 1973 Vilanova exerceu a coordenação da Pós-graduação em Direito da UFPE, atividade que se estendeu até 1985. Do conjunto de sua obra dois trabalhos eram sempre destacados pelo saudoso professor: “As estruturas lógicas e o sistema de direito positivo”, publicado em São Paulo em 1977 e “Causalidade e relação no direito”, publicado no Recife em 1982, tendo ambos sido republicados posteriormente.10 Mas não se pode deixar de fora o seu “Lógica jurídica” editado em 1976, tanto pela dimensão da obra em si quanto pela pertinência temática com aquelas outras duas.

Para além de Nelson Saldanha a importância da obra deste professor é ainda testemunhada por outros também renomados juristas, exemplificativamente, atesta Paulo de Barros Carvalho: “Não tenho a menor dúvida de que, diante dos modernos vultos da

9 A respeito diz Nelson Saldanha: “Vilanova tornou-se um dos maiores conhecedores (senão o maior) no

Brasil, da obra do pensador da Reine Rechtslehre, embora não pareça ter tido interesse maior na variada teorização de Kelsen sobre forma de governo e sobre a justiça”. Ibidem., p. 6.

10 Sobre a importância destas duas obras Nelson Saldanha escreveu: “De suas obras, entretanto, aquelas a

que o autor atribuía relevância maior foram “As estruturas lógicas e o sistema de direito positivo” (São Paulo, RT, 1977) e “Relação e causalidade no direito” (Recife, 1982, e depois São Paulo, Saraiva, 1989). Nestes dois livros estão delineadas as suas preocupações que em grande parte pressupõem o seu longo trato com a obra de Kelsen e com as disquisições lógicas dos que, de certo modo, reconstruíram ou redirecionaram o normativismo”. Ibidem., p. 6.

Filosofia e da Teoria Geral do Direito, ninguém lhe sobrepuja no rigor e na correção do pensamento”.11 Já Geraldo Ataliba insculpe:

“Lourival Vilanova é autor de raros, mas preciosos trabalhos, que representam verdadeiras jóias das nossas letras jusfilosóficas. Reputado e acatado aquém e além de nossas fronteiras, é sem favor algum, um dos expoentes do nosso pensamento jurídico e jusfilosófico. A consideração que merece de mestres do porte Recaséns Siches – testemunhada publicamente em simpósios internacionais – orgulha o Brasil e desvanece os seus discípulos e admiradores”. 12

Sempre brilhante e acessível aos alunos, Lourival Vilanova deixou-nos em 2001, sendo certo que até o ano de 2000 ainda exercia, com maestria e clareza de raciocínio, o ministério da cátedra que tanto amava e em nome do qual recusou o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal. Feita a merecida homenagem, esclarecemos previamente que as nossas considerações sobre a lógica tiveram como fonte de argumentação central as três últimas obras acima citadas do professor Lourival Vilanova. A partir daí desenvolveremos raciocínio conducente à cibernetização do direito com enfoque centrado sobre o direito processual.

O pensamento de Lourival Vilanova pode ser secionado em dois enfoques: lógica jurídica e teoria Geral do Direito. No uso da lógica jurídica Vilanova enfrenta os problemas do Direito através da técnica da formalização. No uso da teoria geral do Direito, o método utilizado é o da generalização.

Quando escreveu o seu Lógica Jurídica, Lourival Vilanova teve por objetivo legitimar a existência de uma Lógica Jurídica como “teoria formal”. As técnicas de tratamento científico-dogmático do Direito, empregadas por advogados, magistrados e, enfim, todos os operadores do Direito, pertencem à metodologia do Direito. É o que denomina em seu As Estruturas Lógicas e o Sistema do Direito Positivo de “logicismo”,

11 VILANOVA, Lourival. As estruturas lógicas e o sistema de direito positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997. Texto extraído da “apresentação” do professor Paulo de Barros Carvalho.

sendo corroborado por Geraldo Ataliba para quem a experiência lógica será parcial porque abstrai o formal-estrutural ostentado pelo direito positivo. É nesta seara que a lógica jurídica atua. Ir além dela significa extrapolar os seus limites.13 Temos, então, uma dúplice visão acerca do conhecimento sobre o jurídico: de um lado o tratamento lógico, realizado por meio da formalização e que transcende ao âmbito da metodologia; de outro, o tratamento do jurídico inserido na Teoria Geral do Direito, realizado através do método da generalização. Esses dois campos, chamemos assim, da visão geral de Vilanova (1o -- As Estruturas Lógicas; 2o -- A Teoria Geral do Direito) não se incompatibilizam. Ao contrário, a metodologia adquirirá maior rendimento teórico e científico quando se verter para os albores da lógica jurídica.14 Assim, tanto maior será a destreza do prático do Direito quanto mais familiarizado for com a Lógica Jurídica. E na via recíproca constrói-se uma teoria lógica (formal) vertida para a experiência jurídica com relevo para a compatibilidade entre os modelos lógicos: deôntico e alético.

Isto, por si só, adquire enorme importância para a teoria do Direito Cibernético, já que autoridades como Mario Giuseppe Losano -- maior especialista do mundo sobre o assunto e criador da teoria da Giuscibernetica -- chegaram a afirmar que a lógica que o Direito Cibernético requer é do tipo alético e dual, apenas. É que se o computador opera, no âmbito do hardware, com o alfabeto binário, não seria capaz de ‘entender’ e processar informações jurídicas baseadas em proposições de três ou mais valores. Também, como as proposições binárias dão-se nos modos Verdadeiro ou Falso, a lógica alética seria a única apta a conviver com a modernidade cibernética. Por dissentirmos deste entendimento, data venia, partiremos, então, da premissa do professor

13 ATALIBA, Geraldo. Em prefácio à obra As estruturas lógicas e o sistema de direito positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997.

14 Somente aqueles de mente pequena e limitada enveredam-se pelos caminhos do Direito Positivo de cada um dos ramos da ciência jurídica, sem querer ou esforçar-se para compreender o sistema jurídico como um todo em sua amplitude. Geraldo Ataliba, quando prefaciou a primeira edição de As estruturas lógicas

e o sistema de direito positivo, na p. 17, neste mesmo sentido, disse-nos: “Na verdade, pensamos que o que mais falta a quem pretende conhecer o Direito não é a informação sobre os institutos e as normas, ou sobre as soluções que os problemas vêm tendo, na jurisprudência ou na prática do Direito aplicado. Não! O que falta de modo alarmante é o domínio dos princípios, a facilidade de compreensão e manuseio das categorias, a visão sistemática, global, operacional e funcional do Direito como conjunto, como um todo. (...) É inútil o conhecimento que se limita à superfície do fenômeno jurídico, sem buscar penetrar seus fundamentos explicativos e justificativos”. Os grifos são nossos.

Lourival Vilanova, para sustentarmos que a lógica deôntica é compatível com o Direito Cibernético – enfoque não enfrentado pelo eminente lógico da Escola do Recife.

2. A lógica e o logos. Valoração do conhecimento e isolamento temático:

Outline

Documentos relacionados