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Lógica formal e lógica dialética: os princípios da contradição, da identidade e do terceiro excluído As posições de Knapp, Hegel, Marx e Lefebvre.

LÓGICA, LINGUAGEM E PROCESSO.

9. Lógica formal e lógica dialética: os princípios da contradição, da identidade e do terceiro excluído As posições de Knapp, Hegel, Marx e Lefebvre.

O fato de a atenção da lógica formal voltar-se para fenômenos que se examinam sob um prisma estático fez vicejar, em seu desfavor, a crítica no sentido de que sendo a realidade indiscutivelmente dinâmica e constituída pela união dos contrários, não poderia, por seu intermédio, ser bem representada em razão do “princípio da contradição”, pelo qual uma proposição não pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Assim, uma lógica que pretendesse retratar mais precisamente o mundo real deveria preocupar-se com a evolução fática dos fenômenos que descreve.

A lógica formal arrima-se, ainda, em mais dois princípios: o da identidade: se uma idéia é verdadeira é verdadeira; e o do terceiro excluído pelo qual uma idéia ou é

62“... também com o uso de uma linguagem simbólica. Certo que seu simbolismo alcançava apenas as

variáveis-de-objeto e variáveis-de-predicado (termos). Simbolizava, em notação autônoma, com letras, entidades e propriedades quaisquer. (...) Se não estendeu o simbolismo às constantes lógicas (“não”, “e”, “ou” e inclusive o “é” apofântico), nem por isso deixou de utilizar uma notação algorítmica para servir de linguagem às formas lógicas”.VILANOVA. Lógica jurídica, p. 37 e 38. Apofântico, segundo Aristóteles, diz-se de enunciados verbais suscetíveis de serem falsos ou verdadeiros, i. e., dos juízos de atribuição de um predicado a um sujeito. Citação extraída de AURÉLIO, Dicionário eletrônico.

verdadeira ou é falsa. Viktor Knapp afirma que o problema central na questão do uso da lógica à Cibernética, centra-se nas diferenças substanciais que separam a lógica formal da lógica dialética. A lógica formal apóia-se no princípio da identidade abstrata, que supõe a invariabilidade dos fenômenos objeto do conhecimento, a lógica dialética, ao contrário, sem prescindir das regras da lógica formal, confronta continuamente as formas abstratas próprias do pensar com a realidade objetiva, considerando a evolução dos fenômenos captados pelo conhecimento, partindo da infinitude de seus aspectos. Knapp conclui que uma máquina cibernética não abrange na íntegra o pensamento jurídico em sua complexa dialética, mas nada obstante isto poderá fazê-lo sempre que as relações submetidas à sua análise sejam-lhe acessíveis.64

As críticas contra a lógica formal surgiram por volta do ano de 1946, na Polônia, tendo como autor Adam Schaff. Posteriormente, replicando as malsinações que se perfilhavam contra a lógica formal, Kasimierz Ajdukiewicz, em 1948, publicara um artigo demonstrando o desacerto dos ataques contra o princípio da contradição. Para este filósofo, não se deve confundir o conceito de mudança com o de contradição, esclarecendo que a lógica formal tinha por objeto a descrição de fenômenos e não de sua evolução real, que constituía, este sim, o objeto da lógica dialética.

A dialética tem em Hegel seu idealizador mor, ele identifica o real com o racional, ofertando ao mesmo tempo a dinâmica do pensamento e da realidade, de acordo com leis que lhes são próprias, de maneira que o evolver do raciocínio traria em si mesmo aquilo que estivesse contido na experiência, chegando a confundir-se com ela. O desenrolar deste pensamento dá-se através de três fases, as quais Hegel denominou de tese, antítese e síntese, que são sinônimo de: posição, contraposição e conciliação, respectivamente. Do embate dos opostos surge a conciliação (síntese), que, os integrando em si, os supera ao mesmo tempo em que os nega e, dessa negação, dinamiza-se o processo trifásico.65 Nenhum fenômeno jurídico representa tão bem a dialética quanto o processo, nele

64 Segundo Knapp: “... entièrement la pensée juridique dans sa dialectique complexe; elle est néanmoins

capable de le faire dans la mesure où les relations soumises à l’ánalyse peuvent lui être rendues accesibles, eu égard au degré d’abstraction de leur représentation, par un nombre fini de formules logico-mathématiques finies”. KNAPP, ap. LUÑO. Cibernética, informática y derecho : un anályses metológico. Bolonha: Real

Colégio da Espanha, 1976, p. 49.

vislumbram-se claramente contidas: a tese (petição inicial), a antítese (contestação) e a síntese (sentença judicial).

Quando o enfoque dialético exalta o real conferindo-lhe prioridade sobre o racional, quedamo-nos diante da dialética Marxista. Marx procura explicar a História como uma sucessão de contradições, máxime no que tange à ordem econômica. Enquanto Hegel procura através da dialética fazer prevalecer o dever ser, pois para ele é o ideal que norteia a história, Marx exalta o ser, ou mais especificamente as vicissitudes econômicas que dirigem a História.66 O pensamento jurídico marxista surge como uma reação de origem

hegeliana aos abstratos sistemas jurídicos de origem kantiana.67 Mais tarde, os defensores da dialética aceitaram a lógica formal no âmbito dos problemas e perspectivas que lhe são inerentes: a análise das proposições descritivas de uma determinada realidade. Os defensores da lógica formal, de sua parte, reconheceram que o princípio da contradição é insuficiente para a explicação de fenômenos reais.

Esta conciliação, pondo fim à polêmica, repercutiu de forma muito positiva para os estudos correlacionados com o processamento eletrônico de dados. E isto porque o uso do computador pressupõe a formalização do fenômeno que será objeto do processamento eletrônico. Dessa forma se não se atribuísse à formalização um valor simplificador, mas falsificador, inutilizar-se-ia, “apriori”, este tipo de pesquisa computadorizada. Lefebvre, situando a lógica formal, deflagra que ela não se basta e não basta, pois ao apresentar de antemão um conteúdo não consegue separar-se dele e enquanto forma lógica o reduz ao mínimo estrito. Aqui o conteúdo mantido como algo exterior ao ser apreendido, queda-se estático em nítida contraposição com o real que é dinâmico. Mas isto não significa que a lógica formal é incompossível com a lógica dialética, pois, se bem aprofundada a lógica formal não veda o pensamento dialético, ao contrário, remete à dialética pela mediação da lógica dialética. Porém, ao inverter-se esse movimento a lógica formal vislumbra-se tão-somente como uma redução do conteúdo. Registre-se a despeito da lógica dialética, que seu conceito aflui para o de lógica concreta, entendendo-se por esta as

66 MARX. Apud LOSANO, op. cit. p. 43. 67 LOSANO, op. cit. p.43.

investigações entre as relações que envolvem a ordem próxima e a ordem distante sob vários tais como: tempo, discurso, espaço, etc.68

Lefebvre registra a índole harmônica da compossibilidade entre lógica formal e lógica dialética, ressaltando que Hegel não cogita em negar ou rejeitar a lógica formal integralmente, mas tenta enquadrá-la no âmbito da dialética, visando a captação do real como um todo concreto em detrimento de sua pureza formal.

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