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INFORMÁTICA, TELEMÁTICA E CIBERNÉTICA DIREITO: INFORMÁTICO, TELEMÁTICO E CIBERNÉTICO.

6. Internacionalização, uniformização

e o problema da restrição temática direito teleinformático.

A regulamentação legal da informática e da telemática deve obedecer a uma técnica legislativa de cláusulas ou princípios gerais, ante a dinâmica desse fenômeno, de maneira a não necessitar ser alterada quando qualquer inovação informática ou telemática venha a ocorrer. Assim, os órgãos aplicadores da lei poderiam, adaptar, subsumir as situações fáticas aos princípios gerais positivados. Além desses detalhes deve-se ainda considerar que a informática e a telemática ultrapassam as fronteiras dos mais diversos países, o que acarreta a conseqüência de o direito teleinformático dever ser concebido como um direito internacional, capaz de poder ver aplicadas suas normas a todos os países do mundo. Essa homogeneidade, para ser posta em prática, visando a possibilitar a circulação internacional de dados pessoais, teve um importante marco em 28 de janeiro de 1981, quando a Convenção do Conselho da Europa, objetivando uniformizar as legislações de cada um dos Estados da Comunidade Européia, fixou um esquema de diretiva legal inspiradora da elaboração das respectivas legislações internas.157

156 LOSANO. A Informática jurídica vinte anos depois, p. 361. 157 LOSANO. A informática jurídica vinte anos depois, p. 361.

Uma proposta de uniformização do direito teleinformático na América Latina, digna de registro, fora aventada por Gero Dolezalek para quem a informática jurídica e o direito romano são aliados, embora à primeira vista possa não parecer, no caminho da unificação do direito em nosso continente. Dolezalek acusa que os debates doutrinários, até então, apenas pugnavam por um projeto de documentação jurídica em âmbito nacional, destacando Colombia, Brasil e Argentina. A sua proposição consiste na criação de um sistema uniforme entre as nações, abrangendo todos os Estados da América Latina, com o escopo de documentar toda a literatura jurídica, bem como as decisões das cortes supremas e ainda a legislação de toda a região. A simples criação de um sistema uniforme, porém, não seria suficiente, sendo mister também integrá-lo aos sistemas nacionais e prever ainda uma possível futura conexão com o sistema europeu de documentação jurídica.158

Até o final do século XVIII existia na Europa uma cultura jurídica supranacional, baseada nos direitos: romano, germânico-medieval e canônico, modificada quando cada país passou aplicar exclusivamente o seu direito. A América Latina pertencia a este mundo homogêneo, por conseguinte todos os direitos dos países latino-americanos emanam de uma raiz comum. Assim, o direito romano constitui um laço de unidade para latino-americanos num duplo sentido: primeiramente porque era a base principal do velho direito comum; depois, porque era o fundamento da jurisprudência sistemática – também chamada pandectista -- do século XIX. Considerando isto, e sem pretender quebrar a autonomia dos sistemas jurídicos de cada país, é possível traçar um paralelo envolvendo o direito teleinformático com o direito comum, no qual o sistema teleinformático estaria ao fundo da cena jurídica, como estava o direito comum em comparação com o direito positivo de cada nação. A aceitação desta idéia – deveras pertinente, nos parece – pode acarretar o advento de uma nova espécie de direito comum: o direito comum teleinformático representado por regras juscibernéticas gerais internacionais.159

O fato de o direito teleinformático constituir-se num direito interdisciplinar não significa que se traduza num amálgama de diversas e dispersas normas pertencentes a diferentes setores da ciência jurídica, é na verdade constituído por um conjunto unitário de

158 DOLEZALEC, Gero. Informática jurídica y derecho romano para la unificación del derecho en latinoamerica. Sao paulo: Revista de Direito Civil, nº 27, p. 23-24.

regras especificamente dirigidas à regulação de um objeto bem delimitado e enfocado por uma metodologia própria. Este argumento é suficiente para contestar aqueles que, aceitando a autonomia do direito informático, insistem em incorporá-lo a determinados ramos do direito já existentes.160 Com assaz precisão escatológica, Luño profetiza que os juristas devem fazer um esforço para superar a tendência de pôr o vinho novo das questões que emergem das mudanças social e tecnológica em velhos odres conceituais e metódicos da dogmática jurídica tradicional. Esta maneira de pensar e de agir implica no risco de se operar com coordenadas metodológicas condenadas, adrede, pelas respectivas obsolescências acarretadas pela pressão dos métodos informáticos.161

Um outro fator que deve ser também considerado para melhor fundamentar a autonomia do direito teleinformático é a existência de suas fontes legislativas, jurisprudenciais, doutrinárias e acadêmicas. Quanto à doutrina, é preciso que os juristas estejam atentos para a elaboração das leis que tratem da matéria, no sentido de fazer sempre uma análise crítica de eventuais imperfeições a fim de impedir que uma plêiade de disposições dispersas e heterogêneas obscureçam, irremediavelmente, a sua estrutura normativa.162 Até então os juristas informáticos – como são denominados aqueles que se enveredam por estas praias – não demonstraram a preocupação em sistematizar uma base principiológica para o direito da informática e da telemática. Na terceira seção desta tese volveremos a tratar do assunto, esclarecendo, por obediência à metodologia, que deixamos de tratar desta base principiológica nesta primeira seção porque ela representa parte do próprio núcleo do trabalho.

Considerando as assertivas supra é imprescindível esclarecer-se que o direito teleinformático - expressão agora adotada para designar tanto o tratamento quanto o transporte da informação jurídica - restringe-se a aplicar, ao direito, a instrumentalidade da informática e da telemática. Mas essa disciplina não tem o mérito de designar o fenômeno

160 Ibidem.

161 LUÑO. Manual de informática y derecho, 1996, p. 21. Em sua dicção: “ ...realizar un ezfuerzo para

superar la tendencia congénita a escanciar el vino nuevo de las cuestiones que emergen del cambio social y tecnológico en los odres viejos conceptuales y metódicos de la dogmática jurídica tradicional. De no actuar así se corre el riesgo de operar desde coordenadas metodológicas condenadas ab initio a la obsoleescencia. Se halla plena de razón la advertencia sobre: el carater obsoleto de reglas tradicionales que entran en desuso bajo la presión de la informática (Linant Belleffonds, 1983, 14)”.

da aplicação da tecnologia cibernética à experiência jurídica em toda sua plenitude, pois prescinde de abordagens filosófio-cibernéticas que, a exemplo da teoria dos sistemas, são indispensáveis para a conformação de uma completa visão do problema jurídico e de seu tratamento pela tecnologia. O direito teleinformático, pois, atrai para si uma delimitação conceitual restritiva do fenômeno justecnológico.

Assim, uma proposta de pesquisa que objetiva a proposição de cientificidade como decorrência da aplicação da tecnologia ao direito, não pode deixar de abordar o fenômeno cibernético em sua inteireza. Pelo que, passaremos agora a tratar da cibernética e suas vertentes.

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