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Universalidade da relação: norma, fato e causalidade natural e jurídica.

RELAÇÃO MEDIATA SUJEITO INDETERMINADO, MAS EXISTENTE

06. Universalidade da relação: norma, fato e causalidade natural e jurídica.

A relação jurídica tem caráter universal porque ocorre em qualquer ramo do direito e se distingue da relação meramente fática. Esta distinção é encontrada em Pontes de Miranda que, por sua vez, entende a relação fática como suporte de incidência da regra jurídica. Já a relação jurídica é conseqüencial, efectual. Para haver relação jurídica é imperioso que a hipótese abstrata, estatuída na norma primária, ocorra factualmente. É preciso que haja a sua positivação.261 Sem isso relação jurídica não há, pois uma relação só

exatamente isto o que está dito. Todavia, no 2o parágrafo da página 149, está dito o inverso, por mera distração, certamente.

260 Sobre isto Kelsen já advertia que a distinção romana entre o direito sobre uma coisa e o direito em face de uma pessoa leva a equívoco conclusivo: “Esta distinção induz em erro. Também o direito sobre uma

coisa é um direito em face de pessoas. Quando, para manter a distinção entre direito real e direito pessoal, se define aquele como o direito de um indivíduo a dispor de qualquer forma de uma coisa determinada, perde-se de vista que aquele direito apenas consiste em que os outros indivíduos são juridicamente obrigados a suportar esta disposição, quer dizer: a não a impedir ou de qualquer forma dificultar; que, portanto, o jus in rem é também um jus in personam”. KELSEN. Teoria pura do direito, p. 143.

261 Para Pontes de Miranda a realidade jurídica não deve ser dissociada da realidade fático-social. Para ele direito é realidade fática e cogente: “Os sistemas jurídicos são realidades, tanto que têm efeitos,

inclusive físicos...”. Isto é tão verdadeiro que os efeitos derivados do direito implicam em alteração

física de certas situações, tais como o deslocamento do patrimônio de uma determinada pessoa para outra, ou a retirada da guarda de um filho. Somente quem não vive em contato com a vida é capaz de

será jurídica na medida em que for qualificada por uma norma jurídica válida de determinado ordenamento jurídico. Sempre que houver norma jurídica e a ocorrência do fato que ela prevê haverá relação jurídica.262

A relação-de-causalidade-natural não se confunde com a relação-de- causalidade-jurídica. Esta distinção é suficientemente bem denotada no exemplo da responsabilidade civil objetiva. Nele, geralmente, o agente causador do dano é concebido como um dado-de-fato que a norma o toma como sujeito imputável, ligando-o ao dever de reparar o dano, como conseqüência. Todavia, no caso da responsabilidade objetiva isto não se dá, pois inexiste causalidade entre o sujeito e o dano, mas ainda assim a norma faz o ligamento ao dever de indenizar.263

07. Normas de sobredireito e o suporte fático mediato.

Norma de sobredireito é aquela que atua sobre normas jurídicas quando elas incidirem sobre um mesmo fato, regulando a mesma matéria de forma distinta, ou seja, quando há conflito normativo. A norma que incide sobre normas é uma sobrenorma posta em nível superior. Mas está inserida no sistema jurídico positivo de um determinado Estado. Não

afirmar que esses efeitos, provocados pela incidência de normas jurídicas, não fazem parte da realidade: “A contemplação do texto frio, estático, sugere a comparação com as fantasias literárias e

os planos apriorísticos. Direito é mas a medida de seu ser é dada pela sua realização. Tal realização, ou ocorre pela observância espontânea, ou pelos aparelhos do Estado, tendentes a isso, às vezes criados para isso, como é o da Justiça. Existe, ainda, direito especial, que se destina à realização do Direito – o direito processual”. MIRANDA, Pontes de. Comentários à Constituição de 1967. Tomo I.

São Paulo: Revista dos Tribunais, 1967, p. 30.

262 Arrimando-se em Norberto Bobbio, Lourival acentua que: “... il rapporto giuridico è quello rapporto che

si distingue da ogni altro tipo de rapporto per essere un regolato da una norma giuridica.”. BOBBIO,

ap. VILANOVA em referência a Teoria della norma giuridica, p. 30-4. Nossa tradução do texto de Bobbio é: “a relação jurídica é aquela relação que se distingue de todos os outros tipos de relação

por ser regulada por norma jurídica”.

é norma de direito internacional ou pertencente a outro sistema, nem é sobreestatal, nem heteroestatal. Tanto pode estar situada no código civil quanto na Constituição.264

Toda norma, para incidir, exige a ocorrência de um fato que realize sua hipótese abstrata. Assim, dado o suporte fático F, deve ser a conseqüência C. O suporte fático, entretanto, não se revela sempre num atuar positivo, outrossim, pode consistir numa omissão. Neste sentido temos o exemplo da revelia, no qual para que haja a incidência da norma do artigo 319 do código de processo civil é preciso que o réu não conteste a ação. Este suporte é imediato porque dada sua existência sobrevirão os efeitos jurídicos conseqüentes.

Mas em relação às normas de sobredireito o seu suporte fático é a existência de normas conflitantes acerca da mesma situação objetiva, daí não se tratar de suporte fático imediato, eis que estas espécies de normas são sobrenormas dirimentes de normas conflitantes. Nota-se sensível diferença entre os suportes das normas que incidem com a simples ocorrência do fato em sentido amplo (natural ou social, ou mesmo processual), com os das de sobredireito. Nestas o suporte fático é exatamente a situação conflitual entre normas materiais que regem a mesma matéria de maneira diversa. Somente alcança o suporte fático (social ou natural) através da norma material, porque será a norma de sobredireito que determinará qual norma material irá incidir na hipótese concreta.

É possível esquematizar que o suporte fático pode ser um fato social ou natural, sempre juridicizado. Se se tratar de norma material esse suporte será sempre imediato, porque, uma vez ocorrendo, acarretará a incidência da norma jurídica com seus conseqüentes efeitos. Mas observamos que em relação às normas de sobredireito, em nossa opinião, o suporte fático não se traduz num fato (social ou natural), mas sim num fato abstrato estritamente jurídico. Assim pensamos porque tal fato seria, tão somente, um dirimir de conflito normativo, ou seja, seria uma decisão da autoridade, judicial ou administrativa, com competência para deliberar. É exatamente por isso que se deve afirmar que esse suporte é

264 Lourival Vilanova admite que as normas de sobredireito pertencem ao “Direito Internacional Privado”. Entretanto, precisa-se não se olvidar que ele entende equivocada a concepção de um Direito Internacional Privado, eis que suas normas encontram-se sempre positivadas no interior de um dado sistema de Direito Positivo Interno e não externo. Logo, não se trataria de Direito Internacional, na medida em que sua eficácia seria sempre dependente de previsão normativa intrasistêmica, de um dado Estado. Ibidem, p. 77.

mediato, isto é, porque nenhuma das normas materiais conflitantes incidirá, imediatamente, quando ocorrer, concretamente, a hipótese que prevêem. O suporte fático, então, da norma de sobredireito é mediato porque consiste numa decisão acerca de qual das normas conflitantes incidirá. Na verdade ele não ocorre no mundo fático (social ou natural), mas apenas no estritamente jurídico-abstrato. Exceto se considerarmos este atuar dos órgãos julgadores do Estado como um fato social, só então poderemos afirmar tratar-se de um fato social.

08. Do abstrato ao concreto. Relação jurídica em sentido técnico-dogmático e

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