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2. Respeitando-se as crenças e objetivos dos agentes envolvidos nos níveis de ensino explicitados em 1(um) acima, quais objetivos e

1.5 Justificativa da pesquisa

1.5.1 A relevância pessoal do estudo

Esta pesquisa nasceu de minhas indagações, na qualidade de co-coordenadora de PLE, a respeito de diretrizes teóricas e práticas que deveriam, justificada e adequadamente, ancorar o processo de ensino-aprendizagem dentro do contexto em que o mesmo se encontrava inserido. Mediante a ausência de parâmetros oficiais específicos para esse ensino, parecia-me insuficiente e improdutivo respaldar o referido curso em adaptações de propostas existentes para outros contextos.

Conforme ressaltam Johnstone (1994) e Fukushima (2004), entre outros, é extremamente importante considerarmos a qualidade do ensino desenvolvido nas séries iniciais do ensino formal e nível de apropriação do mesmo e de seus objetivos ao contexto em que este se encontra inserido, para que se atinjam resultados positivos. Passaram a ser essenciais para mim, questões referentes à inclusão da LE nas séries iniciais do Ensino Fundamental, aos objetivos e parâmetros que deveriam nortear esse ensino e às maneiras de conduzi-lo, de forma efetiva.

O despreparo do professor de LE da Rede Pública, bem como a fragilidade do ensino de línguas nesse contexto (Paiva, 1997; Moita Lopes, 1996; Celani, 2003; Walker, 2003; somente para citar alguns) já vêm, há muito, sendo alvo de trabalhos na área de Lingüística Aplicada. Ao iniciar meu trabalho na coordenação de PLE passei a vivenciar de forma mais acentuada essa questão. Autores como Rixon (1995) e Phillips (2003) chamam nossa atenção para o fato de não contarmos com um grande número de professores capacitados a atuar satisfatoriamente dentro do contexto de ensino de LEC em escolas primárias.

Convergindo com essa disposição, Cameron (2003) argumenta que, além da competência lingüístico-comunicativa (Canale & Swain, 1980; Canale, 1983), o professor de LEC, precisa estar capacitado a iniciar o processo de letramento do aluno na língua- alvo (Hall, 1995) e necessita ter conhecimentos relacionados a como a criança se desenvolve, pensa e aprende (Wood, 1998), diferenciando-a de aprendizes de outras faixas etárias, bem como sobre os fatores e aspectos que a motivam. Deparei-me, assim, com a necessidade de contar com parâmetros mais sólidos e especificamente embasados para conduzir o ensino de LE para os alunos de PLE, para que estes pudessem servir de referencial para a prática dos professores envolvidos no processo.

Chamava-me, também, muita atenção dentro do contexto em que PLE encontrava-se inserido, o conflito entre as percepções e valorações dos profissionais envolvidos direta e indiretamente no processo e os objetivos e expectativas dos alunos e de seus pais frente ao ensino em questão. Por um lado, encontrávamos certa resistência por grande parte dos professores de sala, coordenadores e diretores das escolas municipais em julgar o ensino de LE relevante para a formação do aluno de 1ª a 4ª séries. Por outro, contávamos com a alta motivação dos alunos frente à aprendizagem de uma nova língua e com expectativas muito positivas de seus pais no que se refere à implantação de PLE nas escolas da Rede Pública do município.

São muitos os estudos que mostram que são comuns e freqüentes as crenças de que o professor da escola pública não ensina inglês (Barcelos, 1995; Souza, 1998; entre outros). O mito de que “não se aprende inglês na escola pública” (Moita Lopes, 1996), o que eu estendo também à grande maioria das escolas particulares de Ensino Fundamental e Médio, parecia-me muito presente no cenário de PLE. Tal crença tornou-se alvo de intenso questionamento de minha parte, já que, em minha acepção, o ensino de LE é um potente instrumento para o desenvolvimento cognitivo, psicológico e cultural do aluno. Na qualidade de profissional atuante nesse contexto, passara a ser essencial para mim, a desafiadora tarefa de buscar formas de concretizar o ensino de LEC, visando a mostrar que o oposto é possível e verdadeiro.

A intenção de ouvir as vozes dos participantes e de investigar suas crenças e objetivos sobre o ensino de LE em foco advém, portanto, de minha necessidade de compreender mais profundamente o (possível) conflito entre as diversas vozes que ecoavam no contexto em questão. Para tanto, fazia-se necessário que investigássemos a tensão entre as crenças das pessoas envolvidas no processo, principalmente no que concerne ao valor social e educacional da LE nos ciclos iniciais do Ensino Fundamental e às melhores maneiras de se efetivar esse ensino.

Busquei trocar informações e experiências com outros profissionais envolvidos em contextos semelhantes e percebi que vivenciavam as mesmas inquietações. Desta forma, fortalecia-se a necessidade de se buscar possíveis encaminhamentos para as questões que dificultavam o desenvolvimento de um ensino de LE efetivo em nosso contexto de atuação. Assim, na qualidade de autora deste trabalho, essa pesquisa evidencia minhas necessidades e anseios pessoais e profissionais, no que diz respeito à busca por um ensino de línguas mais significativo para crianças de 1ª a 4ª séries.

1.5.2 A relevância científica e social da pesquisa

1.5.2.1 A carência de estudos na área

Buscando embasamento em autores como Rojo (1999), Kaplan (2002) e Almeida Filho (2005) e, assim, tomando a Lingüística Aplicada como uma ciência que investiga questões da linguagem extraídas da prática social, a relevância científica deste trabalho recai, primeiramente, na importância de investigarmos um contexto de ensino-aprendizagem de LE ainda carente de pesquisas, apesar da crescente propagação do mesmo na sociedade atual. Segundo Cameron (2001), Brewster, Ellis & Girard (2002), dentre outros, o ressurgimento do interesse pelo ensino de LEC tem propiciado o aumento significativo de publicações na área, tais como as obras de Rixon (1992, 1999), Dunn, (1984), Halliwell (1992), entre outros autores já citados, sem, contudo, assegurar que se promovam suficientes pesquisas e debates teóricos neste campo.

No Brasil, a situação não é diferente, conforme atestam Figueira (2002) e Luz (2003), entre outros. Nesse sentido, devemos ressaltar que a maioria dos estudos existentes está voltada às escolas de idiomas. Tomando-se como foco específico o ensino de LE para os ciclos 1 e 2 do Ensino Fundamental e considerando-se a atual expansão de iniciativas de escolas públicas para introduzi-lo, podemos afirmar que o número de pesquisas nesse contexto é ainda restrito e insuficiente.

São igualmente escassos, conforme salienta Coelho (2005), trabalhos concernentes à escola pública em geral, como também estudos especificamente relacionados às crenças de seus professores e alunos. No que se refere às crenças de crianças frente à aprendizagem de LE, contamos com um número ainda mais reduzido de pesquisas. Nessa área, podemos citar os trabalhos de Alanen (2003) e Dufva (2003), como também o estudo de Lima (2005), o qual envolve a investigação embasada na interpretação de desenhos produzidos por alunos. Devemos aqui enfatizar, também, a escassez de pesquisas que abrangem as crenças de terceiros sobre o ensino-aprendizagem de línguas, como é o caso dos trabalhos desenvolvidos por Souza (2002) e Perin (2002), entre outros.

Diante da explicitada carência de estudos na área, entendemos que os resultados deste trabalho relevam sua importância científica e social por duas razões. Primeiramente, ressaltamos nosso objetivo de colaborar com o preenchimento da lacuna originada pela

ausência de parâmetros oficiais para o ensino de LE nos ciclos 1 e 2 do Ensino Fundamental. Além disso, a relevância deste trabalho é fortalecida pela possibilidade de embasamento que seus resultados possam oferecer para a elaboração futura de documentos, oficiais ou não, que apresentem diretrizes básicas, passíveis de adaptações a diferentes contextos sociais, para o ensino de LE de 1ª a 4ª séries.

1.5.2.2 A relevância da formação integral do aluno através da LE e

sua relação com a prática crítico-reflexiva

A importância deste trabalho é fortalecida pela necessidade de se promoverem estudos que propiciem condições para o ensino de LEC tornar-se mais significativo no Ensino Fundamental, vindo, desta forma, cumprir seu papel na formação integral do aluno (Williams & Burden, 1997; Freire, 2004; dentre outros). É interessante ressaltar que a função formativa atribuída ao referido ensino converge com os objetivos oficialmente estabelecidos para o Ensino Fundamental, através da LDB 9394/96 (Art. 3º, inciso III)13.

Estudos têm indicado a prática ainda essencialmente estruturalista dos professores de LE em escolas regulares (Souza, 1998; Vieira-Abrahão, 1999, 2004; Sandei, 2005; entre outros), prática esta distante, portanto, da ação orientada para a formação global do indivíduo e divergente de referenciais atuais sobre o ensino de LEC. Desta forma, tornam-se relevantes as possíveis contribuições deste estudo, no que se refere à formação (inicial ou contínua) do professor de LEC. Nessa perspectiva, os resultados desta pesquisa podem servir de base para o desenvolvimento da “curiosidade epistemológica”, ou seja, da “criticidade” necessária ao professor para que ele possa vir a ensinar de forma efetiva (Freire, 2004: 31).

A ênfase que colocamos na reflexão do professor acerca de seu próprio ensino advém da relevância atribuída à reflexão (crítica) como instrumento para o crescimento e bom desempenho desse profissional, segundo autores como Schon (1987), Zeichner (1993), Smith (1992), Magalhães (2004), Silva, Rocha & Sandei (2005), entre outros. Moon (2000: 14), por sua vez, assevera ser importante que o professor de LEC “examine continuamente suas crenças, a fim de alterá-las, se necessário”.

Deste modo, esta pesquisa mostra-se importante ao procurar contribuir com proposições que possam fortalecer referenciais já existentes, servindo como instrumento

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propulsor para o processo de reflexão docente. Em suma, dentro de suas limitações, este estudo pode oferecer resultados positivos, no sentido de propiciar possibilidades para transformações (se necessárias) no ensino de LEC, com o objetivo de que o processo cumpra seu papel de preparar o aluno para o mundo multicultural e plurilíngüe em que hoje vivemos, oferecendo, concomitantemente, oportunidades para a reflexão do profissional atuante nesse contexto.

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