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Capítulo II- Metodologia de Pesquisa

2.1 A natureza e o caráter do estudo

Além de bibliográfica e documental (André & Lüdke, 1986; Matos & Vieira, 2002), esta pesquisa define-se como interpretativa, de natureza qualitativa e de cunho etnográfico, segundo a perspectiva de Erickson (1986), Brown & Rodgers (2002), Santos Filho & Gamboa, (2002), André (2003), dentre outros.

Segundo Matos & Vieira (2002: 49), um estudo define-se como bibliográfico ao realizar um trabalho “a partir de um levantamento de material com dados já analisados, e publicados sobre o tema que se deseja conhecer”, ou seja, a pesquisa bibliográfica envolve “fontes secundárias” (Gonsalves, 2003: 32). Dentro desta perspectiva, ressaltam os mesmos autores, que “toda pesquisa científica, independentemente de sua natureza, requer uma pesquisa bibliográfica”.

A pesquisa documental, por sua vez, pode ser definida como aquela que trabalha com “fontes primárias” (Gonsalves, 2003: 32), que se caracterizam como “dados que ainda não receberam tratamento analítico e nem foram publicados” (Matos & Vieira, 2002: 49). André & Lüdke (1986: 38) salientam que a análise documental apresenta-se

como uma “técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos”, pois pode complementar informações obtidas ou, ainda, desvelar novos aspectos da questão investigada.

As referidas autoras consideram documentos quaisquer materiais escritos que contribuam para fornecer informações sobre o tema do estudo, citando como possíveis exemplos, leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, dentre outros. André & Lüdke (1986: 40) asseveram, ainda, que “a escolha dos documentos não é aleatória”, devendo a mesma ser guiada pelos propósitos que norteiam a pesquisa.

Este estudo caracteriza-se como bibliográfico e documental, portanto, uma vez que utiliza fontes documentais e bibliográficas para a realização de suas investigações. O caráter documental e bibliográfico desta pesquisa revela-se na medida em que a mesma tem como um de seus objetivos, investigar documentos oficiais que norteiam hoje o ensino de LE, em busca de possíveis diretrizes para o ensino de línguas de 1ª a 4ª séries.

Como fontes documentais ou primárias este estudo considera os referenciais teóricos oficiais que hoje norteiam o processo de ensino-aprendizagem de LE no Ensino Fundamental, a saber, os PCN-LE. A fim de complementar a análise no que concerne ao referido documento, esta pesquisa ampara-se em fontes bibliográficas provenientes de estudos já concluídos e publicados a respeito do tema em questão, tais como os trabalhos de Borges (2003) e Miranda (2005).

No que se refere aos paradigmas quantitativo e qualitativo relacionados a estudos científicos, devemos ressaltar que a pesquisa qualitativa adota uma visão epistemológica contrária ao esquema quantitativo, na medida em que concebe a realidade como subjetiva e a verdade como relativa e historicamente condicionada (Santos Filho & Gamboa, 2002). A pesquisa qualitativa tem como foco o processo de construção, de compreensão e de interpretação de significados, de forma descritiva e indutiva (André, 2003).

O significado, segundo Santos Filho & Gamboa (2002), não pode ser desvinculado de seu contexto. Uma vez que privilegia a compreensão e a interpretação dos significados dentro de um contexto específico (André, 2003), a pesquisa de natureza qualitativa utiliza-se de uma abordagem hermenêutica, buscando engajar-se em uma “compreensão interpretativa” (Santos Filho & Gamboa, 2002: 27), revelando-se, desta forma, também interpretativa ou interpretativista (Erickson, 1986).

De acordo com Guba (1990), devido à amplitude do termo “qualitativo”, não podemos definir um estudo como tal, sem explicitar os princípios adotados para conduzi-lo. Villani (2003: 48) destaca que a “pesquisa qualitativa é focada em uma multiplicidade de métodos, envolvendo uma abordagem interpretativa e naturalística com seu problema/objeto”, sendo sua principal característica a ênfase no processo de significados, os quais não são “examinados ou medidos em termos de quantidade, intensidade ou freqüência”.

Desta forma, passaremos a explanar os fatores que nos levam a situar esta pesquisa dentro do paradigma qualitativo. Este estudo revela sua natureza qualitativa (Santos Filho & Gamboa, 2002; André, 2003; dentre outros) e seu cunho interpretativista (Erickson 1986), através de sua abordagem naturalística e holística do fenômeno em questão, uma vez que procura compreender, descrever e interpretar o processo de ensino-aprendizagem de LE (inglês) “em seu acontecer natural, sem a manipulação de variáveis ou tratamento experimental” (André, 2003: 17).

Ao objetivar a proposição de direcionamentos teóricos que possam vir a embasar o ensino-aprendizagem de LE (inglês) de 1ª a 4ª séries, este trabalho busca uma possível articulação entre as diretrizes oficialmente estabelecidas para o ensino de línguas no Ensino Fundamental e as crenças, expectativas e objetivos dos participantes acerca do processo. Assim sendo, asseveramos que esta pesquisa procura construir significações, levando em conta “os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas” (André, 2003: 17).

Dentro desta perspectiva, a natureza qualitativa desta pesquisa apresenta-se através de suas características indutivas e descritivas e de sua ênfase em compreender o referido processo de ensino-aprendizagem, ou seja, a situação, dentro de seu contexto específico, ao invés de centrar seu interesse no “produto final” (André, 2003: 29) e explicar o fato social através da “análise quantitativa, testagem de hipóteses e generalização” (Santos Filho & Gamboa, 2002: 42). Corroboramos, desta forma, o pensamento de Guba (1990: 22), o qual pontua que “localidade e especificidade são incomensuráveis com generalizações”.

As características naturalistas deste estudo são reforçadas na medida em que a mesma, conforme fundamenta Minayo (1994: 21-22),

“...trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Ressalte-se ainda que, ao investigar o contexto mencionado, esta pesquisa aceita a diversidade e o conflito, corroborando outra visão constitutiva do paradigma qualitativo, que é a concepção da realidade como complexa e conflituosa e da verdade como subjetiva e relativa (Santos Filho & Gamboa, 2002). Dentro deste paradigma “torna-se inaceitável uma postura neutra do pesquisador” (André, 2003: 17), pois o mesmo aproxima-se das pessoas, situações, locais, eventos, mantendo com eles um contato direto.

No que diz respeito ao presente estudo, entendemos que a pesquisadora, na qualidade de coordenadora de PLE e de professora de inglês no Ensino Fundamental e Médio de EP, faz parte do contexto em que a pesquisa está inserida e, portanto, “imerge- se no fenômeno de interesse” (Santos Filho & Gamboa, 2002: 45), não se colocando fora da realidade social em que o estudo se desenvolve. Gonsalves (2003: 67) destaca que, ao buscar informações diretamente junto à população pesquisada, o pesquisador aproxima- se da situação ou fenômeno pesquisado, fazendo com que a pesquisa possa ser definida como uma pesquisa de campo.

Vale ainda salientar, conforme destaca André (2003), que pesquisas científicas relacionadas a questões educacionais são geralmente vinculadas à etnografia. De acordo com a mencionada autora, o que estudiosos da educação têm feito não deve ser entendido como etnografia em seu sentido estrito, devendo ser considerado como uma adaptação da etnografia a essa área de conhecimento. A autora defende que trabalhos podem, primeiramente, ser definidos como do “tipo etnográfico” ao fazerem uso de técnicas que tradicionalmente são associadas à etnografia (André, 2003: 28).

Desta forma, esta pesquisa pode ser definida como sendo de cunho etnográfico uma vez que, ao focar o processo de ensino-aprendizagem de LE dentro de um determinado contexto, “faz uso das técnicas que tradicionalmente são associadas à etnografia” (André, 2003: 28), dentre as quais podemos citar a observação, a entrevista e a análise de documentos. A observação, nesta pesquisa, consiste em observar os contextos das escolas selecionadas para serem investigadas, buscando oferecer “uma visão panorâmica” dos cenários em foco, principalmente no que concerne às crenças e objetivos

dos agentes inseridos nesse contexto. Desta forma, podemos caracterizá-la como uma primeira “aproximação a um determinado fenômeno”, o que, de acordo com alguns teóricos, atribui ao estudo, também um caráter exploratório (Gonsalves, 2003: 64).

A observação, neste caso, pode, ainda, ser denominada “participante”, uma vez que o pesquisador mergulha no contexto social investigado, assumindo um alto grau de interação com a situação estudada, “afetando-a e sendo por ela afetado” (André, 2003: 28). A interação, neste caso, ocorre, principalmente, entre a pesquisadora, seus colegas de trabalho, a saber, os professores de LE e os coordenadores de PLE. O contato com os professores de sala, os coordenadores, diretores das escolas e alunos, ocorre durante as visitas da pesquisadora, em sua função de coordenadora de PLE, às escolas municipais e às salas de aula, como também é decorrente do contato com os profissionais e alunos de EP, devido a seu trabalho como uma das professoras de inglês desse cenário.

Dentro desta perspectiva, a presente pesquisa define-se, também, como Participante, posto que, segundo Matos & Vieira (2002: 46), este tipo de pesquisa “caracteriza-se pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas pesquisadas”. De acordo com Rizzini, Castro & Sartor (1999: 71), a observação participante caracteriza-se pela não neutralidade do pesquisador, que vivencia, “juntamente com os sujeitos pesquisados, as situações de seu dia-a-dia”.

De um modo geral, o presente estudo reforça sua natureza qualitativa e seu cunho etnográfico, na medida em que a pesquisadora adentra as escolas, insere-se no contexto de ensino em questão e interage com seus participantes durante o processo de investigação. Neste sentido, ressaltamos que esta pesquisa envolve um trabalho de campo típico de pesquisas de base etnográfica, uma vez que, conforme já explicitado, a pesquisadora aproxima-se da situação de ensino de LE nas escolas envolvidas no estudo, dos locais em que o ensino-aprendizagem é desenvolvido, como também dos participantes desse processo, “mantendo com eles um contato direto e prolongado” (André, 2003: 29), o qual, de acordo com Nunan (2003), pode durar meses ou anos.

Buscando uma melhor percepção dos critérios utilizados para a classificação deste estudo, apresentaremos através do quadro a seguir, embasado em Gonsalves (2003: 64), informações a este respeito, agrupadas segundo natureza do trabalho, seus objetivos, procedimentos de coleta e fontes de informação.

Tipo da pesquisa segundo os objetivos Tipo da pesquisa segundo os procedimentos de coleta Tipo de pesquisa segundo as fontes de informação Tipos de pesquisa segundo a natureza dos dados • Exploratória • Bibliográfica • Documental • Participativa • Campo • Bibliográfica • Documental • Qualitativa • Cunho Etnográfico

Quadro 2- Classificação da pesquisa

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