• Nenhum resultado encontrado

2.3.2 O perfil dos participantes

2.4 Instrumentos de pesquisa

2.4.1 Os questionários

Nesta pesquisa foi utilizado um questionário semi-estruturado contendo 24 (vinte e quatro) questões (anexo 3). O propósito da utilização desse instrumento foi o levantamento das crenças dos participantes sobre a LE no que se refere a alguns mitos ou crenças recorrentes relacionadas a esse ensino. Procuramos abordar pontos por nós considerados importantes, tais como o papel da LE no ensino formal, sua relevância no ensino público, a importância da gramática e da oralidade, a noção de aptidão e inteligência, a relação entre o ensino-aprendizagem de uma língua e aspectos culturais, o papel do professor no processo, dentre outros.

A elaboração do questionário embasou-se em instrumentos já utilizados para o levantamento de crenças, dentre eles o BALLI (Horwitz, 1985), o qual é constituído por afirmações que revelam idéias comuns sobre ensinar e aprender línguas. Sendo os questionários do tipo Likert típicos de uma abordagem normativa (Barcelos, 2004) e limitados pelo fato de se pautarem, principalmente, na mensuração das crenças através de afirmações pré-determinadas, impossibilitando a expressão de diferentes interpretações (Barcelos, 2001, 2004), optamos por adaptá-los. Buscamos fazer alterações que levassem os questionários a corresponder aos nossos objetivos de explorar e observar as idéias e opiniões que os participantes têm frente ao ensino- aprendizagem de LE em foco neste estudo, como também que conseguissem fazê-los ilustrar nossa abordagem contextual a respeito das crenças.

As afirmativas utilizadas em nosso questionário não representam as questões constitutivas do questionário referido acima em sua íntegra. Em nosso trabalho, as afirmações foram elaboradas tendo como referencial os pontos-chaves que nos despertavam interesse. Foram inclusas frases que faziam menção às idéias dos participantes sobre o ensino de LE em escolas públicas, sobre a importância de ensinarmos a LE nos ciclos 1 e 2 do Ensino Fundamental, sobre a relevância da habilidade de leitura sobre as demais, a respeito da necessidade do ensino de mais de uma LE e acerca da importância do professor.

Para criar o questionário aqui utilizado, embasamo-nos, conforme já mencionado, em afirmações que exemplificam crenças recorrentes ou mitos relacionados ao ensino-aprendizagem de LE, provenientes de trabalhos como o de Silva (2005),

Lightbown e Spada (1999), dentre outros. Incluímos em nosso questionário, também, idéias que se referem à idade e à aprendizagem de LE, à necessidade de irmos para o exterior para aprendermos uma nova língua efetivamente, às concepções sobre vocabulário e gramática, à questão da aptidão na aprendizagem de línguas, à relevância da cultura para o ensino de LE, entre outras.

Deixamos, após cada item, um espaço para que os participantes pudessem expressar suas idéias a respeito das afirmações explicitadas com mais liberdade, o que nos possibilitou a obtenção de dados mais ricos para serem triangulados com os dados provenientes das entrevistas. Salientamos, também, que as adequações que fizemos ao elaboramos nosso questionário, devem-se ao fato de buscarmos que ele estivesse adequado aos nossos propósitos e tipo de pesquisa. Conforme ressalta Barcelos (2000), a escolha dos instrumentos que operacionalizam a investigação de crenças deve seguir três variáveis, a saber, os objetivos da pesquisa, seu formato e o número de participantes.

É importante mencionarmos que os mesmos questionários foram utilizados para os pais, professores e agentes, o que também ocorreu com as entrevistas. Uma vez que nosso objetivo era desenvolver uma pesquisa exploratória, com a qual pudéssemos observar diferenças e/ou semelhanças entre as crenças expressas pelos participantes diretos e indiretos do contexto de ensino em foco, não tínhamos como propósito a investigação de possíveis conflitos entre crenças expressas e crenças enraizadas, ou seja, entre o dizer e o fazer dos participantes. Assim, não encontramos razões para a elaboração de instrumentos distintos para cada grupo.

2.4.2 As entrevistas

É importante salientar que a entrevista foi usada para obtenção de dados neste trabalho, por ser esse um instrumento que possibilita maior interação entre pesquisador e participante, permitindo que o processo de comunicação seja construído conjuntamente.

Foram duas as entrevistas utilizadas como instrumento para a coleta de dados nesta pesquisa. Uma delas foi elaborada com 13 (treze) perguntas abertas (anexo 4), com embasamento nas questões abordadas nos questionários, visando à investigação das crenças, expectativas e objetivos dos participantes dos Grupos P, PI, PS e AG, de forma mais livre e possivelmente com menor grau de indução.

A outra entrevista teve, como norte, um roteiro (anexo 5) com cerca de 20 (vinte) perguntas, as quais se voltavam para a investigação das idéias do Grupo AL acerca do ensino e da aprendizagem de inglês. Nela foram abordados aspectos referentes à importância atribuída à disciplina, às atividades preferidas, à atuação do professor, ao livro didático adotado, ao trabalho individual ou coletivo em sala, ao uso da língua alvo dentro e fora das aulas, entre outros.

Buscamos analisar o que as crianças pensavam a respeito da LE, ou seja, procuramos inferir suas crenças através, também, dos sentimentos expressos em relação à situação de ensino-aprendizagem. Conseqüentemente, durante alguns questionamentos apresentamos às crianças figuras, que poderiam, possivelmente, facilitar seu entendimento do ponto discutido e a explicitação de sua resposta.

Vale salientar que iniciamos a entrevista das crianças pedindo que as mesmas explicassem seus desenhos, falando livremente sobre eles. Quando existente, nossa intervenção nesse momento objetivou indagar a respeito de alguns pontos que não estivessem claros para nós, como também fazer com que a criança falasse sobre aspectos não mencionados e que nos eram relevantes para interpretarmos a relação do aluno com o professor e o ensino da LE (Olivero & Palacios, 2001). Dentre tais aspectos, citamos, por exemplo, o sentimento da criança naquele momento desenhado, sua presença ou ausência no desenho, a atividade que estava sendo desenvolvida na aula, entre outros.

A gravação das entrevistas e sua respectiva transcrição (segundo Van Lier, 1988) são também métodos utilizados nesta pesquisa, visando à aquisição de dados. As mesmas são consideradas, neste estudo, instrumentos que nos permitem avaliar com mais clareza as concepções verbalizadas dos participantes sobre o processo de ensino-aprendizagem de LE (Van Lier, 1988). Desta forma, todas as entrevistas realizadas neste trabalho foram gravadas e posteriormente transcritas, para servirem de dados a serem analisados.

2.4.3 Os desenhos

Os desenhos constituem um outro instrumento de coleta utilizado nesta pesquisa e são considerados, neste estudo, fontes secundárias de dados. Eles foram utilizados com a intenção de complementar a análise dos dados provenientes das entrevistas, oferecendo-nos oportunidade de triangulação. Foi pedido à criança que pensasse na

situação de ensino-aprendizagem que vivenciava na escola e fizesse um desenho que representasse “a sua aula de inglês”.

Esperávamos com isso que a criança representasse graficamente o evento da aula, permitindo-nos interpretar qual a visão da mesma sobre o processo de ensino- aprendizagem, ou seja, como se dá a interação entre professor, aluno e objeto de aprendizagem (a LE). Para tanto, encontramos apoio no “Teste do Par Educativo” (Olivero & Palacios, 2001: 2), que tem como embasamento a visão de que

“cada situação de aprendizagem será a resultante dinâmica do

interjogo entre o sujeito que aprende e o sujeito que ensina, seus próprios objetos internos associados a este ato de aprender e outros objetos externos em jogo durante este processo, encontrando-se todos numa relação dialética” .

Esse método nos pareceu adequado por retomar a importância asseverada por Gobbi (2002) de utilizarmos o gráfico e o verbal nas investigações com crianças. Desta forma decidimos nos orientar pelo mesmo, adaptando-o, já que orientamos a criança a desenhar livremente. Para Olivero & Palacios (2001), o Teste do Par Educativo nos permite efetuar tanto uma análise do grafismo quanto do relato verbal, sendo também útil por permitir que consigamos coletar dados com a criança de forma natural e direta. Segundo os citados autores, o referido teste mostra-se como uma técnica de coleta interessante, uma vez que nos dá acesso à obtenção de dados que podem ser interpretados por profissionais distintos, mediante uma linguagem comum.

Na modalidade do Teste do Par Educativo descrita por Olivero & Palacios (2001), é pedido ao aluno que desenhe duas pessoas, uma que ensina e outra que aprende. Uma vez realizado o desenho, pede-se à criança que discorra sobre o mesmo, discorrendo sobre os personagens e sobre o que pensou no momento da realização da tarefa. É também solicitado que a mesma escreva ou relate uma história sobre o que aconteceu no momento ilustrado, sendo adequado que a mesma dê um título à representação que fez através do seu desenho.

O objetivo central do Teste do par educativo é buscar averiguar, a partir da fantasia de quem desenha, suas concepções sobre o objeto de aprendizagem, sobre o modo como circula esse objeto entre quem ensina e quem aprende e sobre sua relação com quem

ensina. Em nosso estudo, procuramos fazer adaptações a essa modalidade, deixando que os desenhos fluíssem livremente, sem solicitar que a criança desenhasse as figuras do professor e do aluno. Com isso pretendemos observar quais elementos, além dos que compõem a cena de sala de aula, a criança relaciona com o ensino-aprendizagem de LE.

Desta forma, através dos desenhos coletados em nossa pesquisa, buscamos interpretar como o aluno vê seu professor e a si próprio no processo de ensino- aprendizagem de LE. Buscamos observar como ele enxerga o referido processo, ou seja, quais são suas crenças em relação ao mesmo. Para tanto, conforme já salientado, pedimos que cada aluno falasse sobre seu desenho, o que nos proporcionou mais riqueza de detalhes para desenvolvermos nossa análise.

Documentos relacionados