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DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES

2. Culturas e Lideranças de Escola

2.2 Lideranças de Escola

Existem diversos conceitos de liderança e praticamente todos citam alguns elementos- chave como trabalho em grupo, influenciar pessoas e atingir resultados.

A liderança é um conceito que tem sido alvo de várias interpretações e definições no último século. O líder, em geral, tem sido visto como alguém que possui determinadas

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características inatas ou adquiridas, alguém que se adapta às circunstâncias e ao contexto em que a organização se insere e alguém que gere conflitos e exerce influência em ambientes ambíguos, complexos e incertos.

Para Chiavenato (1999), a liderança é uma forma de influência e a influência é uma transacção interpessoal em que uma pessoa age para modificar ou provocar o comportamento de outra pessoa, de maneira intencional.

Maxwell (2008) evidencia diversos parâmetros para o exercício de liderança, tais como: (i) disposição de assumir riscos; (ii) desejo apaixonado de fazer diferença; (iii) se sentir incomodado com a realidade; (iv) assumir responsabilidades enquanto outros inventam justificativas; (v) observar as possibilidades de uma situação enquanto outros só conseguem ver as dificuldades; (vi) disposição de se destacar no meio da multidão; (v) abrir a mente e o coração; (vi) capacidade de subjugar o ego em benefício daquilo que é melhor; (vii) evocar em que nos ouve a capacidade de sonhar; (viii) inspirar outras pessoas com uma visão clara da contribuição que elas podem oferecer; (ix) poder de potencializar muitas vidas; (x) falar com o coração ao coração dos liderados; (xi) integração do coração, da mente e da alma; (xii) capacidade de se importar com os outros e, ao fazer isso, liberar as ideias, a energia e a capacidade dessas pessoas; (xiii) sonho transformado em realidade; (xiv) coragem; (xv) o líder exerce influência no seu grupo para que façam o que ele deseja, conduzindo-os na direcção que sozinhos não seguiriam, deve mostrar oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional e pessoal, incentivar, mostrar que é possível, colocar a equipe em condições de avançar e também aprender com os erros; (xvi) a responsabilidade pelo desenvolvimento das pessoas recai sobre o líder. E isso significa mais do que apenas ajuda-las a adquirir habilidades profissionais. Os melhores líderes ajudam os liderados não só em relação à carreira, mas também em relação à vida pessoal. Eles os ajudam a se tornarem pessoas melhores, e não apenas bons profissionais. Os líderes potencializam os liderados. E isso é muito importante, pois promover o crescimento das pessoas gera crescimento para a organização.

O líder é, então, um grande influenciador, envolvendo e conduzindo a equipe a lutar pelas mesmas causas.

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Os estilos de liderança desenvolvem-se de acordo com as características individuais e conforme a cultura das pessoas e da organização. No quadro seguinte, Chiavenato (1999) faz uma comparação entre três estilos de liderança e descreve as principais características do líder, a forma como aborda as tarefas e como age com os subordinados.

Quadro 5: Estilos de Liderança Liderança

Aspectos Autocrática Democrática

Liberal (laisser-faire) Tomada de

decisões

O líder fixa as directrizes, sem qualquer participação do grupo.

As directrizes são debatidas e decididas pelo grupo, estimulado

e assistido pelo líder.

Há liberdade total para as decisões individuais ou de grupo, e mínima participação do líder. Programação dos trabalhos O líder determina as providências para a execução das tarefas, cada uma por sua vez, na medida em que se tornam necessárias e de modo imprevisível para o grupo.

O grupo esboça as providências para atingir o alvo e pede aconselhamento do líder, que sugere alternativas para o grupo escolher. As tarefas ganham novas perspectivas com os debates.

A participação do líder é limitada, apresentando apenas materiais variados ao grupo, esclarecendo que poderia fornecer informações desde que as pedissem.

Divisão do trabalho

O líder determina a tarefa que cada um deve executar e o seu companheiro de trabalho.

A divisão das tarefas fica a critério do grupo e cada membro tem liberdade de escolher seus companheiros de trabalho.

A divisão de tarefas e escolha dos colegas fica totalmente a cargo do grupo. Absoluta falta de participação do líder.

Comportamento do líder

O líder é dominador e é pessoal nos elogios e nas críticas ao trabalho de cada membro.

O líder procura ser um membro normal do grupo, em espírito. O líder é “objectivo” e limita-se aos “factos” nas críticas e elogios.

O líder não avalia o grupo nem controla os acontecimentos.

Apenas comenta as actividades quando questionado.

Fonte: Adaptado de White e Lippitt (1969, in Chiavenato, 1999: 565)

Também Castanheira e Costa (2007), reunindo e organizando as ideias essenciais abordadas no vasto conjunto de literatura sobre a temática da liderança, apresentam três tipos de liderança: liderança transformacional, liderança transaccional e liderança laissez-faire.

A teoria da liderança transformacional tem adquirido especial importância, uma vez que considera que um líder é quem motiva os seus seguidores, provocando mudanças nas suas atitudes de forma a inspirá-los para a realização de objectivos comuns. Este tipo de liderança apresenta quatro componentes essenciais, nomeadamente: (i) a

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carismática – que promove o desenvolvimento de uma visão comum e induz orgulho, respeito e confiança; (ii) a inspiracional – que fomenta a motivação, a definição de objectivos e metas elevadas; (iii) a de respeito pelos subordinados no sentido de lhes prestar toda a atenção e apoio necessários para que os mesmos se desenvolvam profissionalmente e consigam atingir não só os objectivos delineados para a organização, como também, os seus próprios objectivos individuais; e a de (iv) estimulação intelectual – no sentido de desafiar os subordinados a atingirem novas metas, superando os seus limites na procura de soluções criativas que permitam a resolução dos problemas diagnosticados.

No que concerne à liderança transaccional, esta centra-se na existência de um sistema de recompensas e de castigos a aplicar pelo líder em resultado do cumprimento ou incumprimento dos objectivos predefinidos. Neste tipo de liderança, o líder apenas se limita a indicar quais os comportamentos que os seus subordinados devem adoptar e quais os objectivos a alcançar, não influenciando nem motivando os seus seguidores para a prossecução das metas desejadas. De acordo com Castanheira e Costa (2007: 142),

“a liderança transaccional baseia-se, então, numa dicotomia clara entre o líder enquanto superior e o seguidor enquanto dependente, numa perspectiva mais de conformidade do que de criatividade face aos desafios e às metas impostas pela realidade organizacional”.

No que respeita à liderança de tipo laissez-faire esta caracteriza-se pelo fraco ou mesmo inexistente exercício do papel do líder dentro da organização, pois o mesmo evita tomar decisões e abdica da sua responsabilidade e autoridade.

Atendendo a que o presente estudo decorre no âmbito de um contexto escolar, são abordados, de seguida, três tipos de liderança escolar.

O tipo de liderança de uma escola pode permitir ou impedir de forma, mais, ou, menos, explícita, o envolvimento dos docentes em actividades que o levam a progredir nas diferentes fases da carreira profissional.

Relativamente à problemática das lideranças escolares Day (2001), sustentado nos resultados de um trabalho empírico desenvolvido por Blase e Anderson (1995) com

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professores sobre as micropolíticas da liderança escolar, apresenta três tipos de liderança identificados pelos autores, nomeadamente: a liderança normativo- instrumental, a liderança facilitadora e a liderança emancipadora.

Num tipo de liderança normativo-instrumental os líderes escolares “trabalham ‘através’ dos professores para articular as suas (dos directores) visões, metas e expectativas” (Day, 2001: 136). Importa salientar que os líderes que exercem este tipo de liderança consideram ser sua função motivar os professores para a implementação dos seus próprios objectivos (os do líder) ou os de entidades externas, não tendo a preocupação de envolver os professores numa reflexão sobre o valor ou relevância desses objectivos. O autor adverte que o exercício deste tipo de liderança, embora possa ser eficaz,

“não aumenta o profissionalismo e a autonomia dos professores, ainda que, às vezes, possa parecê-lo. Assim, indirectamente, as estratégias de controlo servem para manter o papel subordinado dos professores enquanto elementos operacionais” (Day, 2001: 136).

De acordo com este tipo de liderança é pouco provável que a reflexão para além do plano técnico seja estimulada ou sequer apoiada. Day (2001) advoga, ainda, que neste tipo de contexto de liderança o tipo de cultura de aprendizagem escolar dominante é o de aceitação. Poder-se-á associar, na tipologia de Hargreaves (1998), às culturas não colaborativas.

No que respeita à liderança facilitadora, Day (2001) sublinha as sete estratégias, apresentadas por Blase e Anderson (1995), que potenciam a emancipação do professor, a saber: (i) demonstração de confiança nos professores; (ii) desenvolvimento de estruturas de gestão partilhada (estabelecendo um calendário de reuniões, envolvendo os professores nas tomadas de decisão, etc.); (iii) encorajamento e auscultação da participação individual (ouvindo e valorizando a opinião dos professores, criando ambientes agradáveis e não hostis); (iv) estimular a autonomia individual do professor; (v) encorajar a inovação; (vi) dar recompensas (elogiar e reconhecer as dificuldades); e (vii) dar apoio (permitindo o desenvolvimento profissional docente, concedendo disponibilidade de tempo, fornecendo recursos materiais e financeiros, auxiliando na resolução de problemas de natureza pessoal e profissional).

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Segundo este tipo de liderança a reflexão crítica por parte dos professores é apoiada e estimulada, contudo os valores e os contextos inerentes às culturas de ensino e de aprendizagem não são objecto de escrutínio crítico. O tipo de cultura de aprendizagem escolar dominante neste tipo de contexto de liderança é, segundo Day (2001), o de cooperação e, usando a tipologia de Hargreaves (1998), também as culturas de colegialidade artificial e colaborativas poderão estar associadas a este tipo de liderança.

Relativamente ao tipo de liderança emancipadora, este assenta em tradições de participação, equidade e justiça social, cujo objectivo não visa apenas melhorar o moral dos professores, as decisões e o sucesso dos alunos, mas sobretudo eliminar as diferenças de poder e estabelecer uma comunidade justa e democrática. Contudo, os critérios de justiça variam com cada cultura de escola, mas serão sempre aspectos discutidos e definidos pelas comunidades. A reflexão crítica e emancipatória por parte dos professores tem carácter obrigatório neste tipo de liderança escolar, sendo a colaboração o tipo de cultura de aprendizagem escolar dominante (Day, 2001; Hargreaves, 1998).

O desenvolvimento e manutenção de uma liderança colegial são processos demorados que requerem uma responsabilização partilhada por parte dos professores na tomada de decisões referentes às opções tomadas e cujo “papel principal da liderança é o de mobilizar a capacidade colectiva de desafiar as circunstâncias mais difíceis” (Fullan, 2003: 136).

De facto, nos últimos anos, tem-se verificado a necessidade de uma liderança alargada a todos os actores envolvidos no processo educativo que tenha subjacente uma dinâmica de colegialidade e de formação de equipas que definam objectivos, construam projectos, planifiquem, avaliem e reflictam (Veiga Simão, Caetano & Freire, 2007).

Uma liderança de escola assente no apoio e no encorajamento dos docentes, sustentada numa cultura colaborativa, proporciona terreno fértil para a formação docente e para o desenvolvimento profissional contínuo.

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