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Modelo de Rutherford

No documento Ronei_fisica_quantica (páginas 81-84)

Figura 4.7: Representa¸c˜ao esquem´atica do (a) resultado esperado e (b) resultado obtido por Rutherford.

Este fato era incom- pat´ıvel com o modelo de Thomson, j´a que a distri- bui¸c˜ao cont´ınua de cargas de cada ´atomo deveria pro- vocar apenas pequenas de- flex˜oes nas part´ıculas inci- dentes. Ocorre que Ruther- ford verificou que mesmo ´

atomos individuais poderiam

espalhar a part´ıcula alfa por ˆangulos muito grandes (at´e 180◦). Segundo

Rutherford: Foi praticamente o acontecimento mais inacredit´avel de minha vida. Era t˜ao inacredit´avel como se vocˆe atirasse um obus de 15 polegadas sobre um peda¸co de papel de seda e ele voltasse e o atingisse.

4.3

Modelo de Rutherford

No modelo de Rutherford para a estrutura do ´atomo, todas as cargas po- sitivas deste ´atomo e, consequentemente, a sua massa, est˜ao concentradas em uma pequena regi˜ao central, chamada n´ucleo. Se suas dimens˜oes forem sufi- cientemente pequenas, uma part´ıcula alfa que passe bem perto desse n´ucleo poder´a ser espalhada em um grande ˆangulo devido a forte repuls˜ao coulombi- ana. Para que o espalhamento ocorra a um ˆangulo de θ ∼ 1 rad, ou seja, cerca de 57◦, toda carga positiva do ´atomo deve estar concentrada em uma regi˜ao com raio da ordem de 10−14 m31. Em suas considera¸oes Rutherford utilizou

as seguintes hip´oteses:

1. O espalhamento ocorreria apenas para ˆangulos maiores do que alguns graus (o que elimina o espalhamento por el´etrons);

2. O espalhamento ocorreria principalmente devido `a intera¸c˜ao coulombi- ana entre part´ıculas alfa e o ´atomo;

3. Os ´atomos considerados seriam pesados, isto ´e, suas massas seriam t˜ao grandes em rela¸c˜ao `as massas do el´etron que durante o espalhamento n˜ao ocorreria o recuo do ´atomo;

4. As part´ıculas alfa n˜ao penetrariam nos n´ucleos atˆomico e a intera¸c˜ao entre ambas ocorreria como se fossem cargas pontuais.

Por simplicidade, omitiremos os c´alculos feitos por Rutherford baseados na trajet´oria parab´olica da figura 4.8.

edu/electromag/java/rutherford.

72 Miotto e Ferraz Modelos Atˆomicos

Figura 4.8: Representa¸c˜ao esquem´atica da trajet´oria hiperb´olica considerada por Rutherford. b ´e o parˆametro de im- pacto e θ o ˆangulo de espalhamento. Em seu trabalho32, Rutherford

mostrou que o n´umero de part´ıculas alfa que atravessam o alvo e s˜ao espe- lhadas entre um determinado ˆangulo θ e θ + dθ (que chamamos N (θ)dθ) equivale ao n´umero de part´ıculas que incidem no alvo com parˆametro de impacto sobre o n´ucleo entre b e b + db. A express˜ao determinada por Rutherford tem a forma:

N (θ)dθ =  1 4π0 2 zZe2 2mv2  Iρt2π sin θ sinθ 2 4 dθ, (4.2)

onde t ´e a espessura do alvo; ρ ´e o n´umero de n´ucleos por cent´ımetro c´ubico no alvo; I ´e o n´umero de part´ıculas alfa incidentes; θ ´e o ˆangulo de espalhamento; Ze, a carga do n´ucleo; e ze, M e v s˜ao, respectivamente, a carga, a massa e a velocidade das part´ıculas alfa.

A an´alise da express˜ao 4.2 indica claramente que o espalhamento em ˆangulos grandes ´e muito mais prov´avel em um ´unico espalhamento por um ´atomo nu- clear (como o sugerido por Rutherford) do que em um espalhamento m´ultiplo em pequenos ˆangulos (como sugerido no modelo de Thomson). De fato, Gei- ger e Marsden33realizaram um grande n´umero de experimentos para verificar

as dependˆencias sugeridas na formula¸c˜ao original de Rutherford, obtendo os seguintes resultados:

1. Testou-se a dependˆencia angular usando-se alvos de prata e ouro, e va- ria¸c˜oes de θ entre 5 e 150◦. Embora N (θ)dθ variasse por um fator 105

nessa regi˜ao, os dados experimentais eram proporcionais `a distribui¸c˜ao angular te´orica;

2. Verificou-se que N (θ)dθ era proporcional `a espessura do alvo (t) pelo menos para varia¸c˜oes de t da ordem de 10 vezes;

3. Utilizando diferentes fontes de part´ıculas alfa foi poss´ıvel verificar que N (θ)dθ era inversamente proporcional `a energia cin´etica das part´ıculas; 4. N (θ)dθ foi utilizado para determinar com sucesso o n´umero atˆomico (Z) de diversos ´atomos e tamb´em para verificar que o n´umero de el´etrons era igual ao n´umero atˆomico.

5. Utilizando-se do fato de que a distˆancia de m´axima aproxima¸c˜ao ´e pro- porcional ao raio da esfera carregada positivamente, Geiger e Marsden

32The Scattering of α and β Particles by Matter and the Structure of the Atom, Philos.

Mag. 6, 21 (1911)

33On a Diffuse Reflection of the α-Particles, Proceedings of the Royal Society, Series A 82,

4.3 Modelo de Rutherford Miotto e Ferraz 73 estimaram o raio atˆomico do n´ucleo de ouro como sendo da ordem de 3 × 10−14 metros. O tamanho de um n´ucleo atˆomico est´a, tipicamente, entre 1 × 10−14 e 10 × 10−14 metros.

Figura 4.9: Representa¸c˜ao esquem´atica do modelo atˆomico proposto por Rutherford.

Esse conjunto de experimentos indicava claramente que a proposi¸c˜ao de Rutherford era compat´ıvel com os resultados experimentais e foi fun- damental na populariza¸c˜ao do apa- rato experimental por ele desenvol- vido. Em s´ıntese, o Modelo de Rutherford prevˆe um n´ucleo mas- sivo, carregado positivamente e gran- des espa¸cos vazios, onde se encon- trariam os el´etrons carregados nega- tivamente, conforme esquema na fi- gura 4.9.

4.3.1

A estabilidade do ´atomo nuclear

A verifica¸c˜ao experimental detalhada das previs˜oes do modelo nuclear de Rutherford para o ´atomo deixou pouco espa¸co para d´uvidas em rela¸c˜ao `a va- lidade desse modelo. No centro do ´atomo encontra-se um n´ucleo cuja massa ´e aproximadamente a massa de todo o ´atomo, e cuja carga ´e igual ao n´umero atˆomico (Z) multiplicado pela carga fundamental (e); em torno desse n´ucleo existem Z el´etrons, neutralizando o ´atomo como um todo. Todavia, surgem s´erias quest˜oes a respeito da estabilidade de um ´atomo desse tipo. Supondo, por exemplo, que os el´etrons em um ´atomo s˜ao estacion´arios, n˜ao existe ar- ranjo est´avel que os impe¸ca de colapsar no n´ucleo, sob a influˆencia da atra¸c˜ao coulombiana. N˜ao podemos admitir que o ´atomo sofre um colapso, pois isso implicaria em termos ´atomos com um raio da mesma ordem de grandeza do raio nuclear, que ´e quatro ordens de grandeza menor do que o valor obtido em diversos experimentos.

Uma segunda possibilidade seria pensar em um modelo orbital. Nesse caso, os el´etrons simplesmente circulariam em torno do n´ucleo, em ´orbitas semelhantes `as dos planetas em torno do Sol. A For¸ca Eletrost´atica, Fe, exer-

ceria o mesmo papel que a For¸ca Gravitacional exerce no caso planet´ario. O sistema assim idealizado pode ser mecanicamente est´avel, como ocorre com o sistema solar. Surge, no entanto, uma dificuldade s´eria quando tentamos trans- portar essa id´eia do sistema planet´ario para o sistema atˆomico: os el´etrons, que s˜ao eletricamente carregados, estariam constantemente acelerados em seu movimento em torno do n´ucleo, e, de acordo com a Teoria Eletromagn´etica cl´assica todos os corpos carregados irradiam energia na forma de radia¸c˜ao eletromagn´etica.

74 Miotto e Ferraz Modelos Atˆomicos

Figura 4.10: Compara¸c˜ao esquem´atica entre um sistema mecanicamente est´avel, semelhante a um sistema planet´ario, e a instabilidade ele- tromagn´etica, provocada pela emiss˜ao de ra- dia¸c˜ao pelo el´etron acelerado, decorrentes do Modelo de Rutherford.

A energia seria emitida `as custas da energia mecˆanica do el´etron. Para que a ener- gia do sistema seja conser- vada, a velocidade orbital, ~v, deve diminuir, tornando a ´orbita inst´avel. Nesse caso, o el´etron necessaria- mente descreveria uma tra- jet´oria espiralada at´e atin- gir o n´ucleo, conforme com- para¸c˜ao esquem´atica da fi- gura 4.10. Novamente ter´ıa- mos um ´atomo que rapida-

mente sofreria um colapso: para um ´atomo de 10−10 m de diˆametro, por exemplo, o intervalo de tempo que um el´etron leva para colapsar no n´ucleo ´e da ordem de 10−12 segundos. Isso significa que a mat´eria, tal como conhece- mos, n˜ao poderia existir. Al´em disso, o espectro cont´ınuo de radia¸c˜ao emitido durante esse processo n˜ao est´a de acordo com o espectro discreto observado experimentalmente. O problema da estabilidade atˆomica foi um dos motivos que levaram Niels Bohr a propor um novo modelo para a estrutura dos ´atomos.

No documento Ronei_fisica_quantica (páginas 81-84)