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Os argumentos de Einstein

No documento Ronei_fisica_quantica (páginas 66-68)

3.3 O efeito fotoel´ etrico

3.3.1 Os argumentos de Einstein

Einstein argumentou que os experimentos ´opticos bem conhecidos de in- terferˆencia e difra¸c˜ao da radia¸c˜ao eletromagn´etica haviam sido feitas apenas em situa¸c˜oes que envolviam um n´umero muito grande de f´otons. Essas ex- periˆencias fornecem resultados que s˜ao m´edias dos comportamentos dos f´otons individuais. Segundo Einstein, a presen¸ca dos f´otons nessas experiˆencias n˜ao ´e mais aparente do que a presen¸ca das gotas de ´agua isoladas em um jato de ´

agua de uma mangueira de jardim se o n´umero de gotas for muito grande. Evi- dentemente as experiˆencias de interferˆencia e difra¸c˜ao mostram que os f´otons n˜ao v˜ao de onde s˜ao emitidos at´e onde s˜ao absorvidos da mesma forma que part´ıculas cl´assicas o fariam. Eles se propagam como ondas cl´assicas, o que corresponderia, em m´edia, a como os f´otons viajam. Einstein n˜ao concentrou sua aten¸c˜ao na forma familiar com a qual a luz se propaga, mas sim na ma- neira corpuscular na qual ela ´e emitida e absorvida. Ele argumentou que o resultado de Planck segundo o qual a energia de um sistema oscilat´orio assume apenas os valores 0, hν, 2hν, ..., nhν implicava que no processo de transi¸c˜ao entre um estado com energia nhν para um estado com energia (n − 1)hν, a fonte emitiria um pulso de radia¸c˜ao eletromagn´etica discreto, com energia hν. Einstein supˆos ainda que no processo fotoel´etrico um f´oton ´e completamente absorvido por um el´etron no catodo.

A partir desses argumentos, Einstein pˆode explicar as falhas no modelo cl´assico da seguinte forma:

1. A amplitude da onda n˜ao cresce com o aumento da intensidade de luz. A hip´otese do f´oton concorda integralmente com a experiˆencia: dobrar a intensidade da luz meramente dobra o n´umero de f´otons, duplicando a corrente eletrˆonica sem, no entanto, alterar a energia hν de cada f´oton ou a natureza do processo fotoel´etrico;

2. A existˆencia de um tempo de retardo ´e eliminada pela hip´otese do f´oton, pois a energia necess´aria ´e fornecida em pacotes concentradas e n˜ao es- palhada em uma frente de onda;

3. A existˆencia de um limiar de frequˆencias ´e imediatamente satisfeita pela Equa¸c˜ao de Einstein, pois se 12mv2 = 0, ent˜ao hν = Φ, o que significa

que um f´oton de frequˆencia νotem exatamente a energia necess´aria para

ejetar os fotoel´etrons e nenhum excesso que possa ser transformado em energia cin´etica. Se a frequˆencia for menor do que νo, os f´otons, n˜ao

importando quantos sejam (isto ´e, independentemente da intensidade da luz incidente), n˜ao ter˜ao individualmente a energia necess´aria para ejetar fotoel´etrons.

Citando Millikan40 ... O efeito fotoel´etrico ...., descrito corretamente ape-

nas pela Equa¸c˜ao de Einstein, fornece uma prova independente da fornecida

40Tradu¸ao livre do autor para ... The photoelectric effect then, ..., if only it is correctly

3.3 O efeito fotoel´etrico Miotto e Ferraz 57 pela radia¸c˜ao do corpo negro da exatid˜ao da hip´otese fundamental da teoria quˆantica, ou seja, a hip´otese da emiss˜ao descont´ınua ou explosiva da energia que ´e absorvida das ondas et´ereas pelos constituintes eletrˆonicos dos ´atomos. Ele materializa, por assim dizer, a quantidade h descoberta por Planck em seu estudo da radia¸c˜ao do corpo negro e como nenhum outro fenˆomeno nos faz acreditar que o conceito f´ısico b´asico que est´a por tr´as do trabalho de Planck corresponde `a realidade.

Apesar do sucesso de sua teoria em explicar o efeito fotoel´etrico, o que lhe valeu o Prˆemio Nobel de 1921, a hip´otese do f´oton de Einstein n˜ao era plena- mente aceita pela comunidade cient´ıfica41. Em contrapartida, atualmente, a hip´otese do f´oton ´e aceita e utilizada em todo o espectro eletromagn´etico para explicar com sucesso diversos fenˆomenos observados experimentalmente.

Leitura Complementar: Mas ser´a que s˜ao el´etrons mesmo?

Figura 3.16: Apresenta¸c˜ao es- quem´atica de um dispositivo utili- zado no estudo do efeito fotoel´etrico acoplado a um eletrosc´opio.

Uma pergunta ´obvia quando estu- damos o efeito fotoel´etrico ´e como ter certeza de que as part´ıculas eje- tadas s˜ao realmente el´etrons? Os primeiros experimentos de Lenard j´a indicavam que essas part´ıculas tinham caracter´ısticas semelhan- tes aos el´etrons caracterizados por Thompson alguns anos antes. To- davia, a prova definitiva veio com a constru¸c˜ao de sistemas com eletrosc´opios acoplados, como o exemplificado na figura 3.16. A montagem experimental garante a identifica¸c˜ao das part´ıculas ejeta- das como sendo el´etrons, j´a que o desbalanceamento das cargas no eletrosc´opio provoca a deflex˜ao das folhas met´alicas.

of black-body radiation of the correctness of the fundamental assumption of the quantum theory, namely, the assumption of a discontinuous or explosive emission of the energy absorbed by the electronic constituints of atoms from ether waves. It materialize, so to speak, the quantity h discovered by Planck through the study of black body radiation and gives us a confidence inspired by no other type of phenomenon that the primary physical conception underlying Planck’s work corresponds to reality. Physical Review 7, 355 (1916).

41ibid, ... Despite then the apparently complete sucess of the Einstein equation, the

physical theory of which it was designed to be the symbolic expression is found so untenable that Einstein, himself, I believe, no longer holds it.

58 Miotto e Ferraz A Teoria Quˆantica A Ciˆencia em nosso cotidiano: Detectores fotoel´etricos

O efeito fotoel´etrico ´e a base de v´arias aplica¸c˜oes tecnol´ogicas. Como exemplo, podemos citar os sensores e sua enorme gama de utiliza¸c˜oes. Os sensores fotoel´etricos tˆem, em geral, alcance de v´arios metros e s˜ao aplicados em ambientes que necessitam de resposta de detec¸c˜ao r´apida. Seu funcionamento ´e relativamente simples, pois ´e baseado na detec¸c˜ao de altera¸c˜oes da quantidade de luz que ´e refletida ou bloqueada pelo objeto a ser detectado.

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