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MODELO HIERÁRQUICO DA VINCULAÇÃO ADULTA: UMA PERSPECTIVA INTEGRADORA

CAPÍTULO 2. A RELAÇÃO MÃE-BEBÉ NA GRAVIDEZ

2.1. CONCEPTUALIZAÇÃO DA RELAÇÃO MÃE-BEBÉ NA GRAVIDEZ

2.1.4. MODELO HIERÁRQUICO DA VINCULAÇÃO ADULTA: UMA PERSPECTIVA INTEGRADORA

Condon (1993) propõe a conceptualização da relação mãe-bebé a partir de um modelo hierárquico da vinculação adulta.

Este modelo pressupõe três níveis da experiência de vinculação: 1. o primeiro nível nuclear da experiência de vinculação (ou "amor"); 2. o segundo nível, conceptualizado pelo autor como as disposições ou necessidades (atitudes) que derivam da experiência de vinculação ("amor"), constituído por cinco experiências subjectivas mediadoras, que expressam o aspecto nuclear mais central; e 3. os aspectos mais comportamentais, de expressão da experiência nuclear em comportamentos concretos que correspondem ao terceiro nível de experiência subjectiva da vinculação.

O 1o nível nuclear da experiência de vinculação ou "amor" é considerado pelo autor

difícil de investigar através dos métodos convencionais por limitações de linguagem e pela influência de processos inconscientes. Já Vaillant (1985, cit por Condon, 1993) reconhecia que os indivíduos adultos requeriam a utilização de metáforas para expressar as suas experiências de amor. Pelo contrário, as experiências relacionadas com o 2o nível da experiência de vinculação no modelo proposto, podem ser articuladas

com alguma facilidade e espontaneidade. Assim, o autor valoriza a avaliação das experiências de 2o e 3o nível na compreensão da experiência nuclear de vinculação,

como indicadores daquele constructo de difícil operacionalização. Em relação à ligação entre o 2o e o 3o nível da experiência subjectiva de vinculação, o autor refere que não

há uma relação directa entre disposições ou atitudes e comportamentos específicos e que algumas disposições podem não encontrar qualquer expressão comportamental.

Aplicação do Modelo Hierárquico da Vinculação Adulta à relação com o feto:

f

Querer Conhecer

Experiência Nuclear Subjectiva de Vinculação (ou "Amor")

J

J

Querer Estar e Interagir Evitar a Separação ou a Perda Querer Proteger

"I

Querer Gratificar / Satisfazer

Comportamentos de Vinculação do Adulto

(procura de informação, procura de proximidade, proteger, agradar, etc.)

Modelo Hierárquico da Vinculação Parental de Condon (1993)

As cinco experiências subjectivas da vinculação adulta propostas pelo autor são aplicadas à relação com o bebé (vinculação parental prenatal):

1. Querer conhecer o objecto de vinculação:

Esta disposição ou necessidade está relacionada com a curiosidade sobre a natureza do objecto de vinculação e, no caso do bebé, com a necessidade de elaborar as características da sua imagem. Esta disposição pode manifestar-se em comportamentos de procura de informação. E, aliás, encontramos facilmente grávidas (especialmente primíparas) relatando um interesse e uma procura de informação sobre o desenvolvimento fetal e as características e comportamentos do bebé, que são muito particulares deste período com um significado reconhecido em termos do processo de construção de uma representação mental do bebé e da vinculação prenatal. Esta forma de explicar os comportamentos de procura de informação na gravidez contrasta com a

abordagem de Mendes (2001) que propõe que o nível de informação de que a mãe dispõe sobre o bebé condicionaria a qualidade da ligação materno-fetal. Pelo contrário, neste modelo, Condon (1993) propõe que é a relação afectiva com o bebé que promove o comportamento de procura de informação sobre ele (de facto, a hipótese de Mendes não se veio a verificar; Mendes, 2001 ).

A importância desta disposição ou atitude para conhecer o objecto de vinculação é também bem visível na valorização das ecografias ou nas consultas obstétricas de acompanhamento e avaliação do bem-estar do bebé. A centralidade desta "disposição" ou "necessidade" é reveladora do significado que elas assumem em termos de oportunidades de "ver / conhecer" o bebé.

2. Querer estar com o objecto de vinculação (manter proximidade):

Esta disposição ou necessidade representa o desejo de interagir com o objecto de vinculação e a satisfação que daí decorre. Os casais expectantes habitualmente interagem com o bebé pelo toque ou falando com ele. As limitações a esta disposição anteriormente abordadas (no capítulo "especificidades da vinculação parental"), em que a procura de proximidade do objecto de vinculação parental teria que ser devidamente balanceada com a promoção da autonomia e da individualidade, referindo-se à vinculação parental pós-natal, não se colocam naturalmente nesta fase do ciclo parental.

3. Querer evitar a separação ou a perda (real ou simbólica) do objecto de vinculação:

Esta disposição está relacionada com a experiência de luto por separação ou a perda (já referida), e pode ser manifestada em comportamentos de prolongar o contacto com o objecto de vinculação e de evitar a sua perda. O autor evoca os comportamentos de evitamento de andar de avião ou a cavalo para melhor ilustrar esta disposição, mas estes comportamentos de risco têm pouca aplicação à nossa realidade. Mas, outros comportamentos parecem, na nossa sociedade, traduzir esta necessidade, como toda a preocupação com a possibilidade / eventualidade de o "bebé não mexer" que activa, de forma imediata e intensa, os sentimentos de vinculação pelo bebé. Esta atenção, esta procura constante com o "não mexer" e o comportamento complementar de "procura de sinais" de que o bebé "está bem", pode traduzir todo o medo de perder o objecto de vinculação. Assim, as grávidas sentem a necessidade de "sentir" o bebé, procurando

frequentemente sinais de que ele "está bem", cujo significado pode ser melhor compreendido à luz desta disposição essencial associada à experiência de vinculação prenatal, em que a possibilidade de perda do objecto de vinculação é experienciada com níveis elevados de ansiedade e sofrimento psicológico indutores de comportamentos de verificação do bem-estar do bebé. Assim, a importância atribuída à vigilância sobre os movimentos fetais, e toda a preocupação com uma eventual diminuição ou ausência destes sinais da vitalidade e bem-estar do bebé, poderá ser enquadrada nesta disposição da grávida para evitar a perda do bebé. E de facto, as grávidas referiam frequentemente a preocupação com o "não mexer" e a "procura de sinais" sentidos como muito tranquilizadores após situações de risco (real ou imaginário) para o bebé. Também associada a esta atitude de evitar a separação poderá estar a forte intenção de manter o contacto com o bebé após o parto, não sendo "fácil" para as "nossas" participantes perspectivar uma separação do bebé (objecto de vinculação). Muitas das questões abordadas em torno do regresso ao trabalho após a licença de parto e maternidade poderão assim melhor ser compreendidas à luz desta atitude / disposição / necessidade.

4. Querer proteger o objecto de vinculação:

Disposição relacionada com a protecção do objecto de vinculação de influências que o possam prejudicar ou pôr em risco, como por exemplo, o desejo de deixar de fumar, pode estar relacionado com a vinculação em termos da vontade de protecção do bebé. Um comportamento de risco muito referenciado pelas "nossas" grávidas participantes, e claramente enquadrado nesta atitude de protecção do objecto de vinculação (mas também de evitar a perda do bebé) é o subir a bancos ou escadotes para chegar a locais fora do seu alcance e que muitas grávidas referiram no nosso estudo como comportamentos a evitar.

Esta disposição evoca a função de responsabilidade e protecção associada à relação parental do ponto de vista da teoria do caregiving (George & Solomon, 1996) e da abordagem de Newman e Newman em que é considerada como a função central e distintiva daquele sistema comportamental.

5. Querer identificar e satisfazer as necessidades do objecto de vinculação:

altruísta em que as necessidades do objecto de vinculação transcendem as necessidades do self.

Por exemplo a atitude em relação à alimentação na gravidez em que muitas grávidas procuram conhecer e cumprir (ou não) regras de uma alimentação adequada (à gravidez e ao desenvolvimento fetal), poderá ser aqui entendida como uma forma de

"caregiving", de satisfazer as necessidades de desenvolvimento e bem-estar do bebé.

Qualquer uma destas disposições ou necessidades pode ou não ter manifestação comportamental, dependendo de outros factores que não a própria experiência nuclear de vinculação. Assim, os comportamentos de vinculação dependem também das condições gerais de vida do casal expectante. Por exemplo, o comportamento de procura de informação relativa ao bebé pode ser influenciado pelo acesso à informação e pela qualidade e adequação da informação disponível ou pela oportunidade de realização de ecografias, e o comportamento de evitar situações de risco também depende de condições gerais de vida (Condon dá o exemplo de uma tratadora de cavalos, que poderá não ter recursos económicos para evitar esta situação de risco), ou o comportamento de procura de proximidade com o bebé poderá ser condicionado pela disponibilidade de tempo do casal ou pela competição de outros papéis.

Condon (1993), propõe duas dimensões na Vinculação Prenatal associadas à qualidade e à intensidade da experiência de vinculação como dois aspectos distintos a ter em conta na compreensão da relação com o bebé:

Factor 1: Qualidade da Experiência Afectiva em Relação ao Bebé:

Esta dimensão da vinculação prenatal inclui sentimentos de proximidade /ou de distância, de carinho /ou de irritação, sentimentos positivos/ ou negativos, imagem mental do bebé clara /ou vaga, concepção do bebé como pessoa / ou como coisa e consciência /ou não de que o bebé depende de si para o seu bem-estar.

Factor 2: Quantidade ou Intensidade da Experiência Afectiva:

A segunda dimensão da vinculação prenatal refere-se ao tempo dispendido pela mãe a pensar no bebé e ao grau do seu interesse por ele.

Este autor define 4 padrões de vinculação prenatal resultantes do cruzamento destas duas dimensões:

Quantidade ou Intensidade

da Experiência Afectiva de Vinculação Prenatal

Investimento Emocional Desinvestimento Emocional

Qualidad e d a Experiênci a Afectiv a d e Vinculaçã o Prenata l TO > 55 o D. TO . > O 55 TO O <0) *L_ CD C L X LU

Mães Positivamente Preocupadas Experiência de grande envolvimento com o bebé, acompanhada de sentimentos de proximidade, desejo do bebé e carinho.

Mães Positivamente Desinteressadas

A experiência afectiva tem uma tonalidade afectiva positiva, com sentimentos de proximidade, desejo do bebé e carinho, mas a entrega a esta experiência de vinculação é menor, talvez por distracção (multíparas, sobrecarga profissional, etc) ou por evitamento (gravidez de risco em que a experiência de vinculação possa ser ameaçadora). Qualidad e d a Experiênci a Afectiv a d e Vinculaçã o Prenata l TO > ' ■ * — • TO CO CU Z TO >

1

CO o c <CD ' C CL) O . X LU

Mães Negativamente Preocupadas Grande preocupação e envolvimento com o bebé, mas associada a ansiedade ou ambivalência numa preocupação ansiosa ou numa racionalização excessiva da relação com o bebé. Assim, a quantidade de tempo dedicada ao bebé, não é acompanhada de uma tonalidade emocional positiva.

Mães Negativamente Desinteressadas

Experiência afectiva negativa ou ambivalente e Desinvestimento emocional perante o bebé. Estas mães experienciam os movimentos fetais como alienantes e desconcertantes acompanhados de ansiedade, ressentimento e hostilidade.

Contributos deste modelo

Este modelo de compreensão da vinculação parental prenatal enfatiza claramente as experiências subjectivas do adulto, sem excluir, no entanto, os seus comportamentos. Esta ênfase é particularmente relevante na relação prenatal em que os comportamentos directos face ao bebé estão mais limitados, mas não deixa de ser relevante na avaliação da relação parental após o parto que, tradicionalmente, se tem limitado às observações comportamentais externas.

forma uma nova perspectiva dos estudos da relação mãe-bebé mencionados, sistematizando e organizando, num modelo hierárquico, os diferentes níveis da experiência de vinculação. Este modelo, além de abordar aspectos explorados em diferentes estudos e por diferentes autores, permite articulá-los entre si numa ferramenta conceptualmente clara e estruturada.

O modelo em questão permite ainda enquadrar, de acordo com as teorias da vinculação, aspectos explorados por outros estudos. Assim, Condon (1993) propõe um conjunto de indicadores do conceito de vinculação, que são formulados de forma compatível com as formulações clássicas da vinculação inicialmente referidas, permitindo precisamente reconceptualizar os estudos e as perspectivas exploradas, que era aliás a finalidade da exploração daqueles estudos. De facto, quando Condon (1993) refere a procura de proximidade ou o evitamento da separação, estabelece uma relação com conceitos-chave das abordagens clássicas da vinculação a partir do paradigma da Situação Estranha de Ainsworth (1973).

Além disso, Condon (1993) introduz uma nova dimensão na compreensão da relação mãe-bebé: a dimensão da perda (real ou simbólica) do objecto de vinculação. Esta dimensão da vinculação, explorada já em termos da conceptualização da relação mãe- bebé ("impacto da perda da gravidez") é entendida como um componente fundamental da experiência de vinculação. No entanto, esta dimensão tem sido praticamente ignorada na investigação da relação mãe-bebé. Assim, Condon (1993), ao recuperar e integrar esta dimensão da perda (e do luto) na conceptualização e avaliação da relação mãe-bebé, enfatiza a possibilidade desta ser perspectivada a partir das teorias da vinculação, na medida em que, o luto após a perda, é justamente uma caractarística necessária à definição de uma relação de vinculação.

Uma outra potencialidade, na proposta deste autor, está na sua conceptualização da relação com o bebé a partir da construção de um modelo de vinculação adulta. A possibilidade de se aplicar as noções definidas para a vinculação adulta à compreensão e avaliação da relação com o bebé tinha sido já discutida inicialmente, mas como sendo ainda assim um pouco abusivo, na falta de estudos empíricos que a fundamentassem. No entanto, a proposta de Condon, foi precisamente conceptualizada como tal ("this framework for understanding the construct of adult attachment is

applicable to objects other than a fetus"- Condon, 1993, pp. 171). Esta abordagem foi Ana Meireles • 2005

recentemente testada (ainda que com limitações) por Pollock e Percy (1999). Estes autores, com o objectivo de compreender e antecipar o abuso prenatal, avaliam o padrão de vinculação de uma amostra clínica de 40 grávidas assinaladas para avaliação forense das competências parentais, pressupondo que o risco de abuso fetal decorre de uma dificuldade ou incapacidade no processo de construção de uma vinculação com o bebé (considerando que a atitude de protecção do bebé é um componente central na experiência de vinculação, de acordo com a formulação de Condon). Estes autores estabelecem uma associação entre o padrão de vinculação prenatal, definido a partir do Maternal Antenatal Emotional Attchment Scale para descrever a relação da mãe com o bebé (Condon, 1993) e o padrão de vinculação adulto, definido a partir da Family Attachment Interview de Kim Bartholomew (1990, 1994, 1997). Pollock e Percy (1999) verificaram na amostra clínica (referenciada por dificuldades parentais), constituída por 15 grávidas com padrão de vinculação prenatal "negativamente desinteressado" e por 23 grávidas com padrão "negativamente preocupado", segundo a avaliação proposta por Condon (1993), uma associação entre estes padrões de relação com o bebé e a avaliação dos padrões de vinculação propostos por Bartholomew. Assim, constataram que grávidas com padrão de vinculação prenatal "negativamente preocupado" estão associadas a uma maior probabilidade de serem classificadas na Family Attachment Interview como "preocupadas", e que grávidas com padrão de vinculação prenatal "negativamente desinteressado" estão associadas a uma maior probabilidade de serem classificadas na

Family Attachment Interview como "desligadas". O facto de se tratar de uma amostra

clínica levanta dificuldades de generalização, mas esta tentativa de relacionar o padrão de vinculação prenatal com o padrão de vinculação adulto sugere novas potencialidades da proposta de conceptualização da vinculação adulta de Condon. Assim, é possível conceber que a forma como o adulto se relaciona com o bebé apresente aspectos comuns com a forma como tende a envolver-se nas suas relações significativas de proximidade e como construiu uma representação da sua relação com as próprias figuras parentais.

Na investigação da vinculação adulta, Kim Bartholomew (1990) sistematiza a concepção de Bowlby acerca dos modelos internos dinâmicos pela intersecção dos modelos do self e dos outros: o modelo do self - associado ao grau de ansiedade e dependência nas relações próximas, e o modelo do outro - associado ao evitamento de

relações próximas. Estas duas dimensões parecem ser na sua definição muito próximas conceptualmente das dimensões definidas por Condon, que distingue uma primeira dimensão entre as experiências afectivas de carinho e afecto vs. de ansiedade e ambivalência (semelhante ao grau de ansiedade e dependência de Bartholomew) e uma segunda dimensão entre as experiências de envolvimento ou evitamento da experiência de vinculação (que parece semelhante ao grau de evitamento das relações próximas). Apesar desta comparação ser puramente especulativa, não deixa de poder ser levantada como uma forma de, mais uma vez, aproximar e confrontar a perspectiva das teorias da vinculação, com a compreensão e reflexão em torno da relação mãe- bebé.

É neste sentido, que se pode ainda estabelecer um outro paralelismo entre a vinculação prenatal e a abordagem da vinculação adulta a partir da proposta de Hazan e Shaver (1987).

Hazen e Shaver (1987) sistematizam as narrativas protótipo de cada um dos três estilos de vinculação: o Seguro sente relativa facilidade em se aproximar dos outros e sente-se confortável quanto à dependência na relação com os outros (quer seja o sujeito a depender de alguém ou outra pessoa a depender de si) e não é facilmente perturbado pelo abandono ou pela grande proximidade de alguém. Esta postura facilitará a aceitação das experiências corporais envolvidas na relação mãe-bebé na gravidez. O Evitante sente-se desconfortável perante a proximidade dos outros, sentindo dificuldade em confiar neles e depender deles, fica incomodado se alguém se aproxima demais e os outros gostariam que fosse mais próximo; para estas grávidas, a proximidade do bebé inerente ao processo gravídico poderá ser mais difícil de gerir. O Ansioso- Ambivalente sente que os outros têm relutância em se aproximar de si como gostaria que acontecesse, preocupando-se com frequência com o facto de os outros poderem não gostar dele ou de estar com ele, querendo estar totalmente envolvido com o outro, o que pode paradoxalmente, afastar esse outro. Para estas grávidas, a vivência corporal da relação mãe-bebé será possivelmente sentida como muito positiva.

Parece assim pertinente a valorização da influência do próprio modelo de relação com o self e com o outro da grávida, na forma como encara e gere este novo contexto de interacção. Assim, as dificuldades de relação mãe-bebé poderão decorrer, não só da satisfação conjugal (Colpin, De-Munter, Nys & Vandemeulebroecke, 1998), do apoio social (Condon & Corkindale, 1997), ou das dificuldades económicas e/ou financeiras

associadas à forma como a experiência gravídica é vivida, mas decorreria ainda da forma particular como a grávida aprendera a se relacionar com o selfe os outros, e que é levada ao extremo numa situação como a da gravidez, em que todas as distâncias físicas, emocionais e relacionais são abaladas. A proximidade e a dependência assume, sem dúvida, um novo formato na relação com o bebé, que pode ser muito desafiante e perturbador para quem tenha construído modelos de interacção baseados na definição clara e rígida de fronteiras e limites pessoais. Assim, os modelos internos dinâmicos poderão eventualmente explicar algumas das diferenças encontradas na forma como as grávidas constroem a relação com o bebé, à semelhança do que acontece na relação parental após o parto (Belsky & Jaffee, in press).