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Objectivo 4. Avaliar a associação entre a relação mãe-bebé e a vivência do corpo

4.6. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

4.6.7. QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO

Realizou-se, ainda, a recolha de um conjunto de outras informações consideradas relevantes na compreensão das variáveis em estudo. Assim, foi construído um Questionário Sócio-Demográfico no sentido de obter informação social e demográfica da grávida e do seu companheiro, bem como os dados relativos ao agregado familiar, história de problemas obstétricos e psicológicos ou psiquiátricos das participantes (Ficha de Identificação em Anexo).

Privilegiou-se a recolha de informação por auto-relato sobre a consulta dos processos clínicos ou outra fonte de informação por se valorizar as percepções pessoais e subjectivas (sobre os "factos" objectivos) na sua influência nos processos de adaptação à gravidez.

As questões colocadas referiram-se a aspectos como a idade, o estado civil e agregado familiar, o número de filhos, a escolaridade e a situação profissional. As informações mais especificamente relacionadas com a gravidez incluíram o tempo de gestação, a percepção de movimentos fetais, o auto-relato de "gravidez planeada", a reacção inicial à gravidez, a percepção de gravidez de risco, o auto-relato da realização de exames obstétricos, e a percepção de dificuldade de engravidar. Foram também avaliados deste modo aspectos psicossociais como a percepção de apoio social e o auto-relato de história de depressão ou outra situação de psicopatologia.

A variável idade foi registada de acordo com o número de anos referido pelo sujeito e agrupada em cinco grupos etários: gravidez adolescente (até aos 19 anos), dos 20 aos 25 anos, dos 26 aos 30 anos, dos 31 aos 35 anos, e gravidez tardia (mais de 35 anos). Em algumas análises, foram considerados apenas três grupos etários: gravidez adolescente, gravidez "normal" (20-34), e gravidez tardia.

A variável estado civil foi classificada como: casada (pela primeira vez), recasamento, união de facto, solteira, e divorciada. Em algumas análises, agrupou-se as participantes que mantinham relação estável com o pai do bebé (casada pela 1o vez, recasamento, e

união de facto) numa única categoria de análise.

O agregado familiar da grávida, explorado a partir da resposta à pergunta "Com quem vive?", foi classificado quanto a: família nuclear, família alargada, família de origem, outro agregado familiar.

O nível de escolaridade foi classificado tendo em conta o grau de escolaridade atingido: 1o ciclo (até ao 4o ano de escolaridade), 2o ciclo (entre o 5o e o 6o ano de escolaridade),

3o ciclo (entre o 7o e o 9o ano de escolaridade), secundário (entre o 10° e o 12° ano), e

superior (escolaridade superior ao 12° ano).

Recolheu-se informação relativa à situação profissional da grávida em termos de estar empregada, desempregada, trabalhar por conta própria, estudante / em formação, doméstica, ou outros (pedia-se para especificar qual).

A variável paridade foi registada de acordo com o número de filhos referido pelo sujeito e agrupada em três grupos: primípara (1o filho), grávida com um filho, grávida com dois

ou mais filhos.

Em relação à variável gravidez planeada, pediu-se a cada grávida que indicasse se a sua gravidez tinha sido planeada numa escala de três pontos: "sim", "mais ou menos", e "não". Em algumas análises, foram agrupadas as duas primeiras categorias, de forma a evidenciar o grupo das grávidas que não tinham planeado a sua gravidez.

Gravidez desejada: reacção inical à gravidez (da grávida e do cônjuge). Pediu-se a

cada participante que indicasse qual tinha sido a reacção inicial à notícia de gravidez, separadamente, numa dupla escala de quatro pontos: de "muito feliz" a "nada feliz", e de "muito preocupada" a "nada preocupada" com a notícia da gravidez. Esta variável foi tratada como variável métrica, assumindo-se aquela escala de resposta como uma escala tipo likert. Em algumas análises, no entanto, esta variável foi tratada como nominal ou categorial, agrupando-se, para o efeito, os pontos contíguos da escala de resposta. Este procedimento permite comparar determinadas dimensões psicológicas avaliadas quanto ao facto de se ter ou não "desejado" a gravidez, destacando o grupo das grávidas que não tinham desejado a sua gravidez.

A variável história de depressão foi registada apenas de acordo com os dados referidos pelo sujeito em termos de ter tido já algum tipo de apoio psicológico ou psiquiátrico, quando e porquê (depressão ou outro motivo, e qual). Estes dados foram classificados posteriormente em quatro grupos: história de episódio depressivo no passado (há mais de 1 ano), depressão recente ou actual (no último ano), outros motivos de acompanhamento psicológico / psiquiátrico, e sem experiência de acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.

Uma vez que nos "outros motivos de acompanhamento" se incluíram situações tão diversas como o acompanhamento instituicionalizado das situações de infertilidade ou a orientação vocacional, e muitas vezes não era sequer especificada a razão do acompanhamento, só se considerou para efeitos de análise, a referência a episódio depressivo (recente ou actual / passado / ausente).

Para avaliar a percepção de apoio social, foi pedido que cada participante indicasse se "tem tido apoio dos outros?" numa escala de resposta em quatro pontos do "nenhum", ao "pouco", até ao "bastante", e ao "muito".

A percepção de apoio social e a história de depressão foram obtidas apenas por questões isoladas de resposta directa, por não se tratarem de variáveis em estudo privilegiadas e pela necessidade de limitar o número de questionários a preencher. Assim, sem deixar de se reconhecer o interesse que a avaliação mais capaz daquelas variáveis poderia ter, mediante instrumentos de avaliação específicos, tal não se enquadrava nos objectivos específicos do presente estudo pelo que se optou por incluir apenas uma forma mais limitada de avaliação destas, que permitisse controlar minimamente o efeito de variáveis parasitas que pudessem confundir os resultados obtidos. Os resultados conseguidos por este meio terão, no entanto, que ser interpretados com cautela.

O tempo de gestação, foi registado pelo número de semanas de gestação de cada participante, classificando-se, posteriormente, quanto ao trimestre de gravidez em função desse registo: 1o trimestre (até às 14 semanas), 2o trimestre (das 15 às 27

A percepção de movimentos fetais foi avaliada pedindo a cada participante que indicasse se "Já sentiu o bebé?" em três alternativas de resposta: "sim", "mais ou menos" ou "não".

A realização de exames obstétricos foi registada pedindo a cada participante que indicasse se já tinha feito ecografia e/ou amniocentese. Esta variável foi depois codificada separadamente para a experiência de ecografia (sim ou não) e para a experiência de amniocentese (sim ou não).

Avaliou-se a percepção de risco associado à gravidez, pedindo-se a cada participante que indicasse a existência de complicações médicas associadas e as classificasse como muito ou pouco graves, resultando em três categorias de análise: gravidez sem risco, gravidez com algum risco, gravidez de risco elevado, de forma a enfatizar a própria percepção de risco (e que pode ser diferente da gravidade objectiva da situação obstétrica) facilitando também a própria classificação das respostas.

Avaliou-se a história de aborto, pedindo-se a cada participante que indicasse a existência de alguma experiência passada de aborto, especificando-se o número e o tempo que decorreu até à actual gravidez. Estes dados foram classificados posteriormente em quatro grupos com diferentes níveis de "gravidade", quanto à sua quantidade e à sua proximidade no tempo. A natureza melindrosa no actual quadro legal e cultural da variável "tipo de aborto" (voluntário ou involuntário) levou-nos a excluí-la da nossa análise, reconhecendo, no entanto, a importância que poderia ter a intencionalidade para uma melhor compreensão do significado da experiência de aborto e seu impacto na experiência de gravidez.

Avaliou-se a percepção da dificuldade de engravidar pela dificuldade de engravidar tal como era percebida pelas participantes, em termos de "nenhuma", "alguma", ou "muita" dificuldade de engravidar. Mais uma vez, foram desvalorizados os dados mais "objectivos" que poderiam ter sido avaliados em termos de quantidade de tempo decorrente na tentativa de engravidar, enfatizando-se, como já foi assumido, a própria percepção subjectiva dessa dificuldade que será relativamente independente da

dificuldade "objectiva", tendo, no entanto, maior influência na vivência psicológica da gravidez em estudo.

A definição e operacionalização das variáveis a avaliar procurou ser suficientemente abrangente, de forma a incluir os principais aspectos relevantes na compreensão da experiência da gravidez, sem ser no entanto demasiado extensa ou intrusiva, o que poderia desmobilizar a participação das grávidas da nossa amostra. Além disso, procurou simplificar-se ao máximo as possibilidades de resposta para facilitar a sua compreensão por parte de uma amostra com reconhecidas limitações culturais, e para que não envolvesse um período de tempo acrescido, o que dificultaria as condições de administração dos questionários. Assim, apesar de algumas questões poderem ter sido mais desenvolvidas, considerou-se que, no essencial, foi possível abordar um conjunto de variáveis que proporciona uma apreciação relativamente clara e completa das circunstâncias que envolviam as grávidas em estudo.

CAPÍTULO 5.