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RELAÇÃO DE EMPREGO

1.3 NATUREZA JURÍDICA

A investigação acerca da natureza jurídica da relação de emprego visa identificar os elementos fundamentais que integram sua estrutura específica, diferenciando-a de outras figuras para, então, classificá-la e inseri-la no conjunto composto pelas relações jurídicas mais próximas, entre todas as existentes no universo do Direito.

Conforme ensina Maurício Godinho Delgado, para se identificar a natureza jurídica de um determinado instituto é necessário realizar uma operação intelectual de separação e subsequente classificação.[7]

Definir qual é a natureza jurídica da relação de emprego não é uma tarefa fácil, pois o tema é envolvido por interessantes discussões doutrinárias polarizadas em duas teorias:

Teoria contratualista — sustenta a existência de um vínculo contratualentre empregado e empregador, vínculo este que não enquadra essa relação em nenhum dos modelos contratuais existente, mas, ao contrário, tomando por base a própria estrutura da relação de emprego, reconhece nela um negócio jurídico que tem como elemento essencial a vontade e que, embora tenha por objeto a prestação de serviços, diferencia-se das demais figuras contratuais clássicas em razão desta prestação de serviços ser subordinada.

A relação de emprego é fruto da autonomia da vontade das partes, autonomia esta que é, porém, exercida de forma limitada, tendo em vista que a definição do conteúdo do vínculo empregatício é restringida pelas normas trabalhistas. Portanto, embora seja possível argumentar que o contrato de trabalho, na sua maior parte, não é fruto da vontade livre das partes, não se pode negar que a vontade sempre está presente na efetiva pactuação do vínculo, ou seja, quando se celebra o contrato.[8]

Assim, pode-se dizer que na relação de emprego a atuação da vontade deve ser analisada em dois momentos distintos: o primeiro, quando da celebração da relação pelas partes, sendo a vontade aqui exercida em sua plenitude; o segundo, quando da pactuação do conteúdo da relação de emprego, que poderá ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às normas de proteção ao trabalho (art. 444, CLT). Neste sentido, o conteúdo do contrato é formado

por um núcleo obrigatório (fixado pelas normas trabalhistas) e um núcleo negociado (fruto da livre vontade das partes).

Tendo origem na autonomia da vontade das partes, a relação de emprego tem inegável natureza contratual. Por esta razão, o art. 442 da CLT estabelece que: “Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego”.

Teoria anticontratualista — a autonomia da vontade não tem qualquer influência ou relevância na formação e no desenvolvimento deste tipo específico de relação jurídica denominada relação de emprego. Partindo desta constatação básica, as ideias defendidas pelos anticontratualistas podem ser identificadas em dois grupos fundamentais:

Teoria da relação de trabalho — sustenta que os contornos jurídicos da relação de emprego não decorrem de qualquer manifestação subjetiva ou da prática de qualquer ato volitivo pelas partes, sendo fruto das atitudes das próprias partes que praticam, no mundo físico e natural, atos denominados emprego.

Neste sentido, a relação de emprego é considerada como um ato jurídico objetivo, consubstanciada na própria prestação de serviços que, sendo geradora de direitos e obrigações para as partes, leva à configuração da relação jurídica específica. Assim, “pisar os pés no estabelecimento e começar a prestação efetiva dos serviços é o quanto basta” para a caracterização da relação de emprego[9] que, exatamente por isso, não tem qualquer natureza

contratual.

Institucionalismo — parte do conceito de instituição para afastar a relação de emprego da ideia de contrato. Considerando a empresa como uma instituição (“uma realidade estrutural e dinâmica que teria prevalência e autonomia em face de seus próprios integrantes”),[10] os

institucionalistas afirmam que esta se sobrepõe à vontade de seus componentes, empregador e empregados.

A partir da análise das teorias acima indicadas, nota-se que a ideia de contrato é fundamental para a definição da natureza jurídica da relação de emprego, sendo que a primeira teoria afirma a natureza contratual da relação de emprego e a segunda a nega.

Em relação à posição adotada pelo legislador brasileiro acerca da natureza jurídica da relação de emprego, como afirma Alice Monteiro de Barros, “prevalece no Brasil, como regra geral a forma livre de celebração do contrato, que pode assumir o caráter expresso (verbal ou escrito) ou tácito (art. 442 e 443 da CLT)” . Referida autora alerta, porém, que “infere-se do art. 468 da CLT que a legislação brasileira adotou a corrente contratualista, mas os art. 2º, 503 e 766 da CLT enquadram-se na corrente institucionalista, confundindo empregador com empresa. Daí sustentarem alguns autores o perfil eclético da nossa legislação trabalhista”.[11]

Assim, resta evidente que em nosso país prevalece a teoria contratualista, que considera a vontade como elemento indispensável à configuração do contrato.

1.4. QUESTÕES

1. (XXII Concurso para a Magistratura do Trabalho — 15ª Região — 2007) Considerando as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta:

I. A subordinação é o principal elemento diferenciador entre a relação de emprego e as fórmulas contemporâneas de prestação de trabalho.

serviços são prestados subordinadamente ou não.

III. A subordinação é hoje considerada como dependência econômica, resultante da assimetria existente entre empregador e empregado.

IV. A subordinação consiste em uma situação jurídica, na qual o empregado, acatando ter a autonomia de sua vontade limitada, transfere ao empregador o poder de direção sobre sua atividade.

V. Estando a força de trabalho indissoluvelmente ligada à pessoa do trabalhador, a decorrência lógica é a situação de subordinação deste em relação a quem pode dispor de seu trabalho.

a) As assertivas II, IV e V estão corretas. b) As assertivas I, IV e V estão incorretas. c) As assertivas I e II estão corretas.

d) As assertivas III, IV e V estão incorretas. e) As assertivas II e III estão incorretas. Resposta: “e”.

2. (XXXIII Concurso para a Magistratura do Trabalho — 2ª Região — 2007) Em referência ao contrato de trabalho o sistema brasileiro adota a teoria:

a) Contratualista pura. b) Anticontratualista.

c) Híbrida (contrato e instituição). d) Institucionalista pura.

e) N.D.A.

Resposta: “c”. Ao indicar como resposta correta a “teoria híbrida”, a Comissão do Concurso utilizou-se de posicionamento doutrinário minoritário. A maioria da doutrina adota a teoria contratualista pura. Neste sentido, vide Alice Monteiro de Barros,[12] Amauri Mascaro Nascimento,[13] Délio Maranhão,[14] Maurício Godinho Delgado[15] e Sérgio Pinto Martins.[16] 3. (Concurso para a Magistratura do Trabalho — 1ª Região — 2005) Diz-se, em relação ao empregado, que o contrato de trabalho é concluído intuitu personae. Analise as proposições abaixo, assinalando a resposta correta:

I. A pessoalidade é uma das notas típicas da relação de emprego.

II. O pacto de trabalho origina para o empregado uma obrigação de fazer que não é fungível. III. A obrigação de prestar o serviço é personalíssima e, portanto, intransmissível.

IV. A morte do empregado dissolve, ipso facto, o contrato.

V. O empregado não pode fazer-se substituir na empresa que trabalha — salvo se o empregador consente. a) todas as alternativas estão corretas;

b) todas as alternativas estão incorretas; c) apenas as alternativas I e IV estão corretas; d) apenas as alternativas II e V estão corretas; e) apenas a alternativa II está incorreta.

Resposta: “a”.

[1] DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho, 9. ed., p. 272.

[2] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho, 24. ed., p. 431.

[3] BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho, p. 289.

[4] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho, 24. ed., p. 432.

[5] DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho, 9. ed., p. 278-279.

[6] MAGANO, Octávio Bueno. Manual de direito do trabalho: direito individual do trabalho. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: LTr, 1993. v. II, p. 54.

[7] DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho, 9. ed., p. 288.

[8] ROMAR, Carla Teresa Martins. Alterações do contrato de trabalho: função e local. São Paulo: LTr, 2001. p. 27.

[9] NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho, 24. ed., p. 576.

[10] DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho, 9. ed., p. 298.

[11] BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho, p. 244.

[12] Curso de direito do trabalho, p. 244.

[14] SÜSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. 21. ed. atual. São Paulo: LTr, 2003. v. 1, p. 234-235.

[15] Curso de direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 296-297.

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