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a O Instituto sem Defesa: a necessidade financeira e os estudos futuros

III. O futuro em expansão: a fábrica do impensável

III.3. a O Instituto sem Defesa: a necessidade financeira e os estudos futuros

As mudanças metodológicas e de análise dentro do HI estavam acompanhadas de alterações nos temas e nos objetos de análises, nas premissas institucionais e nos contratantes. Essas mudanças dentro do HI são entendidas, aqui, a partir de dois fatores. Primeiramente, uma motivação desde a criação de não ser dependente de contratos governamentais militares, que foi, no fim da década de 60 e ao longo da de 70, concretizado por questões exteriores ao HI, como a contrariedade contra a Guerra do Vietnã e uma investigação do Congresso sobre os contratos do DoD com institutos de consultoria. Somado a isso, houve também uma

114 Analista político e de questões internacionais, com interesse no bloco soviético, na Europa ocidental e nos

países subdesenvolvidos, trabalhando, no HI, sobre a estratégia militar, a política soviética, as teorias de escalada e o futuro da OTAN, com experiência de trabalho no Department of State servindo na Bulgária, Iugoslávia e Holanda.

115 Um analista político e escritor do HI com experiência em questões europeias e afro-asiáticas, que abordava

operações políticas de guerra e questões de análises do bloco sino-soviético, além de ser articulista de questões estrangeiras.

116 Especialista em operações militares e análise política em questões de relações internacionais.

117 YUDKIN, Richard A. Carta para Herman Kahn. Washington D.C.: Department of the Air Force. 18 de

Janeiro de 1967; KAHN, Herman. Carta para Yudkin. Harmon-on-Hudson: Hudson Institute Inc. 31 de Janeiro de 1967; YUDKIN, Richard A. Carta para Herman Kahn. Washington D.C.: Department of the Air Force. 13 de Fevereiro de 1967; SINGER, Max. Carta para Richard A. Yudkin. Harmon-on-Hudson: Hudson Institute Inc. 17 de Fevereiro de 1967

mudança de concepção sobre a pesquisa dentro do HI e entre os think tanks, havendo também um aumento de instituições desse tipo, aquecendo a concorrência, o que criou uma necessidade de diversificação das áreas estudadas e uma reforma sobre a concepção institucional do HI.

Primeiramente, é preciso entender que o HI, desde sua criação, já trabalhava com DC e, como vimos na proposta para a FA, já não havia muito mais o que se dizer sobre essa questão. Kahn, por exemplo, já não pesquisava sobre o tema desde 1965 e essa falta de interesse sobre o tema só cresceu desde então. Além da falta de interesse do líder do HI, havia as motivações internas ao Instituto: a busca por independência e autonomia. Desde 1965, o HI já buscava clientes de outras áreas que não a militar e tentava relacionar seus estudos com o programa de estudos futuros que desenvolvia. Com isso, em 1968 e 1969, o HI possuía temáticas diferentes e diversas das militares e apresentava-se com um conjunto de métodos, categorias de análises e conceitos para os estudos futuros. Sob esse perfil, o HI conseguiu desenvolver estudos do futuro do desenvolvimento urbano de New York, sobre os problemas de uso de drogas, sobre educação, sobre recursos para o futuro, abordando poluição e a possibilidade de motores elétricos, sobre o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos, sobre o futuro do espaço, em estudos para NASA, sobre o desenvolvimento da região das Cataratas do Niágara, sobre uma enciclopédia que abordaria as questões principais dos próximos dez anos, visando auxiliar o governo dos EUA, sobre as implicações do movimento hippie e sobre os problemas de uma nova forma de sociedade que poderia surgir no ocidente. Além disso, desenvolveu conferências com finalidade educacionais fora do HI, em Colleges ligados às forças armadas e no Brooklyn Polytechnic Insitute, por exemplo.118

Essa ampliação dos temas estudados apresentou efeitos superficiais e um mais profundo. Primeiramente, houve uma diversificação dos temas das palestras e das conferências oferecidas pelo HI e, com isso, uma diversificação do público e do staff do Instituto. O programa de seminários continuava com duas séries: uma consistia em três palestras curtas e a outra, de seminários que duravam três semanas, todos voltados para os

118 SMITH, Mark J., 1972, p. 19-21; NORTHRUP, Bowen. They Think for Pay: Herman Kahn's Experts Mull

Nuclear strategy, ... Wall Street Journal (1923 - Current file). Sep 20, 1967. In: ProQuest Historical Newspapers: The Wall Street Journal (1889-1995) p. 1; BRUCE-BRIGGS, B., 2000, p. 268-274, 334, 372- 373; HUDSON Institute. Report to the Members of the Hudson Institute 1969. Croton-on-Hudson: Hudson Institute Inc. July 1969, p. 2, 3, 8-12; HUDSON Institute. Report to the Members of The Hudson Institute 1968. Croton-on-Hudson: Hudson Institute Inc, July 1968, p. 3, 7-10. Gostaríamos de informar que, a partir daqui, optaremos por citar os “report to the members” do HI da seguinte forma: sempre será posto “Report to the members” e o ano que o relatório aborda, e não o ano de produção. Com isso, queremos deixar claro para o leitor o ano que está sendo tratado, evitando a confusão com o ano que o relatório foi elaborado – normalmente um ano após o ano abordado. Assim, exceto a primeira menção a cada relatório, na qual a referência estará completa, as seguintes serão sempre na forma acima mencionada.

representantes do governo de outros países, à imprensa dos EUA, ao Congresso e aos líderes de negócios. Os seminários tinham a mesma finalidade que antes, ou seja, estimular a integração dos membros e dos funcionários do HI, desenvolver e compartilhar conceitos, suposições e ideias e testar e apresentar os trabalhos do HI. Entre os temas, estavam o trabalho de especulação sobre o ano 2000, questões sobre desenvolvimento, inclusive da América Latina, pesquisas sobre o Vietnã, a escalada e o Japão e sobre elementos de mudança que poderiam afetar as decisões na década seguinte. Havia também seminários oferecidos no Canadá, na Alemanha, para universidades, companhias, bancos, órgãos militares, órgãos ligados à administração pública de New York e um bastante peculiar, para a “International Flavors and Fragrances Company of New York”, sobre o que seria um dos temas que marcavam e marcariam os estudos de Kahn nos anos seguintes: a sociedade pós-industrial.119

Entre 1967 e 1969, o público que acompanhava os seminários do HI também se diversificou, englobando, entre outros, uma delegação do Ceilão para a ONU, um padre jesuíta, estudantes de diferentes universidades e pessoas de diferentes países. Além disso, a aura de celebridade de Kahn e o interesse despertado pelo HI e seus trabalhos internacionais, fizeram com que o rei belga Baudoin visitasse o HI em 19 de Maio de 1969 e, um pouco mais de um ano depois, em 11 de Junho de 1970, seu irmão, o príncipe Albert. O contato foi feito por meio do cônsul belga. Um programa especial foi montado para a visita do príncipe e do rei, com um tour pelo Instituto e um almoço especial, tanto para os membros e funcionários convidados para o almoço, quanto para os não convidados. Houve, também, protocolos de segurança e etiqueta, especialmente em relação ao rei.120

Entre 1967 e 1969, o HI não estava livre dos problemas financeiros, uma vez que Singer punha a situação do HI como apertada e com pouco espaço de manobra. A situação era posta dessa maneira principalmente referente ao problema do HI em manter a independência e a estabilidade financeiras, o que era difícil já que os contratos eram vários e separados e a maioria ligado ao DoD. Na década de 1960, as análises militares eram a principal fonte de renda do HI, já que um pouco mais de 88% do faturamento do HI vinha, entre 1964 e 1965,

119 Report to the members 1968, p. 24-25; Report to the members 1969, p. 31-34; SMITH, Mark J., 1972, p. 27-

28.

120 SINGER, Max. To the trustes. May 20, 1970; WILSON, Ray. Visit of Prince Albert of Belgium: memo to

all staff. Croton-on-Hudson: Hudson Institute Inc. June 10, 1970; SINGER, Max. Memo to All Staff. Croton- on-Hudson: Hudson Institute Inc. May 16, 1969; GLICK, Edgar. Visit of his majesty King Baudoin, King of the Belgians on Monday, May 19th: Memo to all staff. Croton-on-Hudson: Hudson Institute Inc. May 19,

desses estudos militares, sendo que em torno de 75% provinha dos estudos de defesa, os quais foram responsáveis por mais de 70% do faturamento do HI ao longo da década de 60.121

Os anos de 1967 e 1969 indicam os efeitos das mudanças no HI a partir da análise financeira. Singer afirma no relatório para os membros de 1968 que, ali, era o momento de tentar a independência, a qual poderia ser obtida a partir de bolsas de longa duração mais gerais – tal como a tentada anteriormente junto à FF – e visando compor um quinto do faturamento do Instituto. O resto continuaria sendo provido pelos tipos de contratos que já existiam. Esse aumento da renda do HI por meio de bolsas já se mostrava uma tendência desde 1964, aumentando gradualmente e atingindo, em 1968, o triplo de dólares de 1964. Porém, em 1968, essa fonte de renda ainda era mínima, totalizando 370 mil dólares, ou seja, pouco em comparação aos 1 milhão e 360 mil do total do montante obtido pelo HI, dos quais 950 mil era somente de estudos militares de DC. Contudo, o grande impacto ocorreria a partir de 1969, quando haveria uma redução para 20% do faturamento oriundo de contratos com o DoD. Isso significava uma grande perda, já que entre 1968 e 1969, o DoD foi responsável por 75% da renda do HI. Para equilibrar as contas, Singer demonstrava confiança em outros programas, os quais poderiam realizar a transição para novas formas de financiamento.122

Essa redução de contratos com o DoD parece ter também relação com o resultado de um relatório governamental feito pelo General Accounting Office dos EUA (GAO) frente ao montante de 69,5 milhões gastos pelo DoD, durante seis anos, sobre a temática de DC, financiando cento e vinte organizações diferentes, incluindo o HI. A partir de algumas semanas de investigação realizada na contabilidade, nos relatórios e nos procedimentos ligados aos contratos entre o Office of Civil Defense (OCD)123 e o HI e de entrevistas com membros do HI e da OCD, a equipe designada não encontrou nenhuma impropriedade, mas emitiu um relatório crítico para a administração da OCD, sobre três contratos de pesquisa dentre oito que foram firmados com o HI entre 1962 e 1966, os quais resultaram em onze

121 Report to the members 1968, p. 2-4; Report to the members 1969, p. 4, 7; SMITH, Mark J., 1972, p. 4;

HUDSON Institute. Existing and potential backlog. 1 de Out. de 1963

122 Report to the members 1968, p. 5, 7; Report to the members 1969, p. 7, 4.

123 A OCD foi estabelecida em Agosto de 1961 e era responsável por desenvolver e executar programas para

abrigos, proteção contra os resultados de uma guerra química, biológica ou radiológica, por sistemas de comunicação de emergência e pela assistência de emergência para os governos nacional e locais. O programa de pesquisa tinha como objetivo aumentar a economia de materiais e operações, aumentar a efetividade dos sistemas, aumentar a confiança das performances humanas e das máquinas para salvar vidas, lidar com o ambiente pós-ataque, desenvolver o estado de alerta como um sistema de defesa integrado e, por fim, desenvolver as bases para planejar, para decisões sobre programas futuros e para decisões operacionais. Frente a isso, os investimentos em pesquisa, em 1966, atingiram cerca de 58,8 milhões e, em 1967, próximo de 70 milhões, OBSERVATIONS on the administration by the office of civil defence of research study contracts awarded to Hudson Institute;: Report to the Congress [on the] Department of the Army. Washington: Comptroller general of the United States, 1968, p. 3-4.

relatórios. Esse conjunto de relatórios dos três contratos custou ao OCD 600 mil dólares e todo os contratos com o HI entre 1962 e 1966 totalizavam 1 milhão e 721 mil dólares. Os relatórios do HI visavam estudar temas priorizados pelo OCD, como análise estratégica, análise de sistemas, desenvolvimento de modelos de recuperação social-econômica e análise de ambientes de pós-ataque no longo prazo. Para analisar esses assuntos, considerados complexos pelo relatório da GAO, o programa de pesquisa do OCD buscava, por meios de contratos de R&D, obter a base necessária de dados factuais assim como os métodos para o desenvolvimento de planos, operações e equipamentos necessários para os programas de DC atuais e futuros. O critério de qualidade dos relatórios era medido pela capacidade de ou mudar a mente do leitor ou de reforçar seu pensamento. A clareza, a precisão dos objetivos, a sustentação dos resultados eram outras características valorizadas para determinar a qualidade do trabalho.124

Sete dos onze contratos do HI analisados foram considerados menos úteis do que era esperado e precisariam de revisão, já que não apresentavam nada de novo sobre o tema ou eram superficiais, reutilizando inclusive ideias anteriores. Desses sete, três tiveram uma circulação entre agências e empresas, enquanto outros três ficaram restritos ao OCD, sem publicação para divulgação mais ampla por não terem qualidade para isso. O sétimo não foi aceito como relatório final, mas apenas como um “working paper”. Outro problema indicado pelo relatório da GAO foi o de falta de clareza nos relatórios parciais do HI, assim como a falta de comprometimento com os prazos, sendo que um dos relatórios atrasou sete meses. Frente a esses diagnósticos, o relatório do GAO era enfático sobre a necessidade, por parte dos organismos governamentais, de refinar e controlar os resultados parciais e finais das pesquisas contratadas, com o monitoramento constante da pesquisa e com as etapas determinadas, além de deixar claro os objetivos e o escopo da pesquisa quando do estabelecimento dos contratos.125

O relatório do GAO representou um baque à saúde financeira do HI, sendo considerado, dentro do HI, como injustiça contra o Instituto. Esse sentimento continuou durante os anos vindouros, mesmo após uma profunda mudança no quadro de funcionários. Porém, os contratos continuaram, principalmente com o Office of Secretary of Defense. De 1968 a 1969, o HI teve apenas 50 mil dólares provenientes do OCD, porém, 980 mil do OSD e 110 mil de outro órgãos, todos ligados ao DoD, que era responsável por 74% do rendimento do Instituto. O resto era composto por 20 mil dólares de outros órgãos do governo que não o

124 OBSERVATIONS…, 1968, p. i-ii, 1-2, 4-5, 7-8 125 OBSERVATIONS…, 1968, p. ii, 7-10, 12-18.

DoD e outros contratantes não governamentais e bolsas. Conforme Cimbala, o DoD financiava o HI com o objetivo de manter Kahn ativo como um pensador heterodoxo sobre a estratégia de defesa e não esperava nenhum resultado particular do HI em contratos específicos.126

O relatório do GAO foi interpretado por parte da imprensa e por alguns membros do Congresso como evidências de que os estudos do HI não tinham méritos. Para Smith, essa investigação não considerou a qualidade dos trabalhos, mas sim como a OCD lidava com os contratados. Smith insinua que pode ter havido, então, uma espécie de repreensão ao HI, já que muitas das críticas à DC e, por decorrência, às posturas e às ações assumidas pelo governo, vinha dos estudos do HI. Os estudos do HI também foram criticados por aquilo que era sua proposta básica: estimular a mente. Como Kahn argumentou em uma carta em resposta ao relatório, apesar de reconhecer a necessidade dos pontos postos pelo GAO, Kahn insistia que o objetivo principal do HI era enfatizar os estudos especulativos. Para isso, defendia a necessidade de liberdade sem muitos constrangimentos, pois, para Kahn, nem sempre o sucesso seria obtido, devendo prevalecer uma média de sucesso, já que sucesso sempre, para ele, seria uma falta de imaginação. Contudo, o HI foi defendido por alguns membros do OCD, que valorizavam essa função a que o HI se propunha.127

O GAO foi uma grande reação às pesquisas heterodoxas patrocinadas, não só no HI, pelo DoD, como, por exemplo, sobre a vulnerabilidade comunista ao uso da música, estudo, este, confidencial, sobre o temperamento do homem italiano, sobre o sistema nervoso da lula chilena, sobre bruxaria no Congo e, oriunda de um contrato de 600 mil com a University of Mississipi, sobre o papel que os pássaros poderiam desempenhar na guerra. Uma das críticas a essa abundância de estudos seria uma superprodução de papelada desnecessária, dificultando o processo de decisão.128

Em seguida ao GAO, em 1969, o Senado dos EUA procurou restringir o papel da pesquisa do Departamento de Defesa. Segundo Black, a seção 203 do Military Procurement Authorization Act for Fiscal Year 1970 não autorizava a continuidade ou o estabelecimento de projetos de pesquisa ou estudos que não tivessem relacionados a uma função ou a uma operação militar específica. Atendendo a isso, o OSD e o DoD requisitaram que suas várias agências encerrassem qualquer projeto que não cumprisse essa norma. Conforme Black, em

126 Report to the members 1969, p. 7; CIMBALA, Stephen J. 1970, p. 7-9, 13; SMITH, J.A., 1991, p. 156. 127 SMITH, Mark J., 1972, p.19; DICKSON, P., 1971. p. 106; OBSERVATIONS …, 1968, p. 39-40. 128 DICKSON, P., 1971. p. 41-44

teoria, pouco mudou, uma vez que toda pesquisa financiada pelo DoD era considerada relacionada aos problemas de defesa.129

Além das restrições à pesquisa militar, foi também aprovado um Tax Reform Act, enrijecendo as restrições sobre as atividades políticas de fundações privadas, historicamente os principais financiadores de TTs, como a FF que, no mesmo período, também enfrentou uma diminuição dos recursos e do interesse em financiar TTs. O principal motivo do Congresso restringir a atuação das fundações era no sentido de diminuir a influência delas nas campanhas políticas ou mesmo na legislação. O poder dos TTs financiados por fundações era tanto que ganharam a alcunha de “a sombra do governo”. O HI era um exemplo desse poder, uma vez que estava isento de impostos, tinha acesso a documentos confidenciais e grande influência nas decisões, sem, contudo, correr o risco de ser demitido, já que não eram funcionários do governo.130

Outro fator que também criou situações conturbadoras para o HI foi a contrariedade às questões militares que surgiu nos anos finais da década 60, principalmente em relação ao Vietnã, o qual foi tema de pesquisa no HI entre 1965 e 1969 e uma área sobre a qual os jornais procuravam conhecer a opinião de Kahn. Os estudos sobre o Vietnã eram entendidos como um desvio no programa do HI, que propunha analisar questões importantes, mas não urgentes. O Vietnã contrariava isso, pois lidava com considerações políticas imediatas e com ações de desenvolvimento político que não eram comuns para o HI. Entre os resultados desses estudos estava um livro sobre o Vietnã, em grande parte pago pelo HI, “Can We Win in Vietnam?”, que era um trabalho coletivo que apresentava as contradições de opiniões dentro do HI e envolvia cinco membros do quadro de funcionários do HI, incluindo Kahn. A questão do Vietnã foi financiada pelo DoD até 1969. O resultado foi apresentado para vários componentes da administração federal por meio de briefings, consultorias, papers e memorandos. Após isso, o HI afirmou que continuava estudando a questão com financiamento próprio. Por realizar estudos militares e sobre o Vietnã, em Setembro de 1969, o HI se tornou alvo de um grupo vigília para a paz, que se reuniu em frente ao Instituto para protestar contra o complexo militar-industrial. Todavia, segundo Smith, nenhuma das organizações de pesquisa tinha muita influência sobre a decisão dos EUA de entrar na guerra

129 BLACK, Cyril E. G. Government-Sponsored Research in International Studies. In: World politics, vol. 22,

n.4 (Jul, 1970), p.582-596: The Johns Hopkins University Press: Baltimore. p. 583; RICH, A., 2004, p. 57, 62.

ou sobre quais táticas usar, apesar de Dickson afirmar que o próprio governo Nixon reconheceu que estava considerando alguns aspectos que o HI tinha proposto.131

Porém, por volta de 1970, apesar dos gastos onerosos com defesa, o Congresso dos EUA, conforme Cimbala, já não estava mais disposto a subsidiar pensamentos militares especulativos e essa resistência também existia em relação aos TT sem fins lucrativos dentro da administração republicana governamental, que tinha, agora, como Presidente Richard Nixon. Conforme Bruce-Briggs, Nixon se interessou em ouvir Kahn em diferentes assuntos, sem, todavia, concretizar nada formalmente. Os dois inclusive se tornaram próximos. Além disso, durante a década de 70, Kahn estava mais próximo do conservadorismo do período e, por isso, de ideais defendidos pelos republicanos naquele momento.132

Entre 1967 e 1969 e, principalmente após esse período, o HI mantinha o mesmo diagnóstico sobre os problemas mundiais que apresentara para a FF e para a FA. Para lidar com isso, o HI passou por mudanças de enfoque e institucionais. As mudanças de objetos de estudo, de ferramentas de análise e de enfoque norteador representaram uma reforma institucional, como Cimbala mostra. Conforme Cimbala, que era professor assistente do departamento de Political Science da State University of New York, as mudanças na estrutura