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4 NOÇÕES SOBRE A DIMENSÃO EDUCATIVA DO CAMPO MUSEAL BRASILEIRO

5. ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

5.1 O método de pesquisa documental:

Os caminhos e meios das ciências nunca poderão atingir a essência da ciência. Todavia, como ser pensante, todo pesquisador e mestre da ciência, todo homem que atravessa uma ciência, pode mover-se em diferentes níveis do sentido e manter-lhe sempre vivo o pensamento.

Martin Heidegger

As noções do que é ou não documento passou por diversas modificações ao longo da história No final do século XIX, com a escola positivista, a representação do registro escolhido como documento, pela maioria dos historiadores era o escrito, sobretudo o oficial. (SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009). Esse documento assumia o peso da prova histórica e para os pesquisadores ratificava a objetividade esperada da pesquisa.

A valorização do documento como garantia de objetividade, marca indelével dos historiadores positivistas, exclui a noção de intencionalidade contida na ação estudada e na ação do pesquisador, sendo esse processo construído historicamente. A palavra documento com o sentido de prova jurídica, representação que se mantém até a atualidade, já era usada pelos romanos, tendo sido retomada na Europa Ocidental no século XVII. Assim, os historiadores positivistas, ao se apropriarem do termo, conservam-lhe o sentido de prova, agora não mais jurídica, e sim com status científico. O próprio fato de nomear a palavra documento aos testemunhos históricos traduz uma concepção de história que confunde o real com o documento e o transforma em conhecimento histórico. Captar o real nessa lógica cartesiana seria conhecer os fatos relevantes e fundamentais que se impõem por si mesmos ao conhecimento do pesquisador. (SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009).

Mas esse conceito de documento foi modificado com as transformações ocorridas na concepção da História, enquanto disciplina e método, tendo como principal impulsionador o movimento feito pela Escola de Annales44. Essa escola, ao privilegiar uma abordagem mais globalizante, amplia consubstancialmente o conceito de documento: ―tudo o que é vestígio do passado, tudo o que serve de testemunho, é considerado como documento ou fonte‖ (CELLARD, 2008, p.296 apud SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009, p. 08). E mais: pode tratar-se de textos escritos, mas também de documentos de natureza iconográfica e cinematográfica, ou de qualquer outro tipo de testemunho registrado, objetos do cotidiano, elementos folclóricos, etc.

44

A Escola dos Annales foi um movimento historiográfico surgido na França, durante a primeira metade do século XX. Mais informações ver: BURKE, Peter. A Escola dos Annales: 1929-1989. São Paulo: Edit. Univ. Estadual Paulista, 1991.

Pode-se, até, qualificar de documento um relatório de entrevista, ou anotações feitas durante uma observação: ―Qualquer suporte que contenha informação registrada, formando uma unidade, que possa servir para consulta, estudo ou prova. Incluem-se nesse universo os impressos, os manuscritos, os registros audiovisuais e sonoros, as imagens, entre outros‖. (CELLARD, 2008, apud SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009). Essa visão amplia a definição de documento. De acordo com o conceito técnico da Associação de Arquivistas Brasileiros, o documento define-se como qualquer informação fixada em um suporte (AAB, 1990).

Mazzotti e Gewandsznajder (2002) consideram como ―documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informação‖ (MAZZOTI & GEWANDSZNAJDER, 2002, p. 169). Marli André e Menga Ludke (1986) também defendem uma visão ampla do que pode ser considerado documento, os autores colocam:

―São considerados documentos ‗quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano‘(PHILLIPS, 1974, p. 187). Estes incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares‖ (LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 38).

Na perspectiva Museológica, de acordo com Ulpiano Bezerra de Meneses (1994) qualquer objeto pode funcionar como documento. O documento histórico o é pela questão do conhecimento, pois o documento não tem sua própria identidade ou uma alta carga de informação. É o historiador quem fala pelo documento (por meio de uma operação retórica), ele não faz o documento falar (MENESES, 1994). Se, ao invés de usar uma caneta para escrever, lhe são colocadas questões sobre o que seus atributos informam relativamente à sua matéria-prima e respectivo processamento, à tecnologia e condições sociais de fabricação, forma, função, significação etc. - este objeto utilitário está sendo empregado como documento (MENESES, 1994, p. 21).

O método de análise desta pesquisa foi o bibliográfico e documental, e inclui a: Plataforma virtual do PNEM (em particular as discussões do Fórum e dos grupos de trabalho específicos sobre educação museal); os documentos tomados como referência na construção da PNEM: Documento Preliminar do PNEM, Carta de Belém, Carta de Petrópolis – Subsídios

para a construção de uma Política Nacional de Educação Museal, Metas do Plano Nacional

Politica Nacional de Museus – PNM. Além de artigos, teses, dissertações, revistas / periódicos sobre educação e museus / educação museal.

As Cartas Patrimoniais exercem um importante papel social, e tem estabelecido alguns marcos no campo museal, são usadas como referência conceitual nas políticas de preservação do patrimônio, em diferentes áreas: conservação, restauro, legislação. O primeiro documento de recomendações internacionais de conservação, manutenção e utilização do bem cultural, foi a Carta de Atenas (1931). No geral, as cartas têm caráter indicativo, são documentos concisos e sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo indicações de modo geral. Possuem, portanto, condição indicativa, ou, no máximo, prescritiva.

A Carta de Petrópolis (2010) é considerada o documento subsídios para a construção da Política Nacional de Educação Museal e a Carta de Belém (2014) lança os Princípios e Parâmetros para a criação e posterior implementação da Política Nacional de Educação Museal. A análise das cartas, enquanto recurso metodológico possibilitou fazer um esboço sobre o direcionamento das ações no campo museal. E observar como uma síntese das discussões, quais processos de articulação permitem a hegemonização de determinados sentidos.

As cartas são importantes instrumentos no campo museal. Algumas cartas, já mencionadas no decorrer do texto, são utilizadas como marcos que estabeleceram mudanças importantes. Manuellina Duarte Cândido (2003) ressalta a relevância de algumas dessas cartas para renovação do cenário Museológico Porém, as Cartas não se constituem como um modelo, pronto a ser aplicado, impõe uma análise crítica do documento. Também é necessário considerar os limites das cartas, enquanto instrumentos de observação:

(...) três dos principais marcos do movimento da Nova Museologia – Cartas de Santiago, Quebec e Caracas – e o documento final do Seminário Regional da UNESCO sobre a Função Educativa dos Museus, do Rio de Janeiro, que inaugura uma linha de seminários regionais e a perspectiva de pensar a Museologia a partir de olhares não europeus. São documentos fundamentais para o entendimento da renovação no cenário museológico internacional e, notadamente, na América Latina, onde a maior parte deles tomou corpo. (DUARTE, 2003, p.17)