• Nenhum resultado encontrado

Pós-estruturalismo: o discurso como uma prática de significação do mundo

4 NOÇÕES SOBRE A DIMENSÃO EDUCATIVA DO CAMPO MUSEAL BRASILEIRO

5. ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

5.3 Pós-estruturalismo: o discurso como uma prática de significação do mundo

Prestar atenção em um aspecto faz com que este salte para o primeiro plano, invadindo o quadro, como em certos desenhos diante dos quais basta fecharmos os olhos e ao abri-los a perspectiva já mudou. Ìtalo Calvino O pós‐estruturalismo não se refere a um movimento homogêneo, como uma escola de princípios definidos. Em linhas gerais, é um modo de pensamento que questiona aspectos centrais do projeto de modernidade, ligados a uma concepção essencialista de sujeito, presente no pensamento Iluminista. Segundo Ernesto Laclau (1996) essa teoria procura desconstruir a concepção de sujeito centrado, posicionado a partir de determinadas relações estruturais, mas ainda mantém, com este, alguns pontos em comum.

Pois, o pós-estruturalismo emerge do estruturalismo. Assim, algumas questões de ruptura, centrais na perspectiva estruturalista, continuam na abordagem pós-estruturalista, de maneira ressignificada, como: a descentralização do sujeito; a importância fundamental atribuída à lingüística- o caráter arbitrário do signo- de não existir um predomínio do significante sobre o significado; a ênfase na natureza relacional das totalidades, e ao aspecto temporal como algo constitutivo e integrante da natureza dos objetos e eventos; a critica aos pressupostos universalistas da racionalidade; a valorização da ideia de inconsciente; e a relevância das estruturas no comportamento humano.

Para Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo (2011), o estruturalismo elimina a ideia de sujeito, enquanto um ser autônomo, livre e autoconsciente, como até então postulava a modernidade. Entender o mundo passa a ser entender as estruturas que o constituem, seja porque os sentidos estão na estrutura, ou porque a própria ―consciência humana" é também ela produzida por estruturas invariantes; o que pode ser feito por intermédio da análise estrutural da linguagem. Para elas: ―essa é uma análise que privilegia o sincrônico (termos localizados em uma situação, sem historia), sem atenção ao diacrônico (sucessão dos termos ao longo do tempo)‖. (LOPES, MACEDO, 2011, p. 39)

Lopes e Macedo (2011), reforçam as aproximações entre estruturalismo e pós- estruturalismo no que concerne às críticas à Modernidade, mas chamam atenção para muitos afastamentos. Para elas:

O estruturalismo tem uma pretensão científica de se constituir em método para as ciências sociais e isso impacta fortemente sua capacidade de lidar com a linguagem, Desenvolvido por autores como Saussure, no campo da lingüística, Lévi-Strauss, na antropologia ou Piaget, na psicologia da educação, o estruturalismo advoga a existência de uma estrutura ou sistema ou conjunto de relações que subjaz aos fenômenos. É por isso que dizemos que a realidade e constituída pela linguagem, entendida, em sentido amplo, como um sistema abstrato de relações diferenciais entre as suas várias partes, Qualquer sentido é dado por tal sistema, por uma estrutura invariante que constitui ela mesma a realidade. A criação de sentidos só é possível tendo em vista a estrutura do texto ou a estrutura cognitiva do leitor. (LOPES, MACEDO, 2011, p. 38)

Para Ernesto Laclau o descentramento do sujeito anunciado pelo pós‐estruturalismo possibilita pensar nas formas pelas quais múltiplas experiências que são vivenciadas em diferentes contextos e neste movimento vão constituindo identidades que nos definem como sujeitos. Nesta perspectiva, o pós‐estruturalismo reafirma a importância da estrutura, não na constituição do sujeito, mas sim na determinação das diferentes posições de sujeito, que emergem nos momentos de tomada de decisão (LACLAU, 1996). Para Joanildo A. Burity (1997):

A partir dos anos 60, uma outra forma de habitar uma tradição se colocou no horizonte intelectual e político de nosso tempo: trata-se da proposta de Jacques Derrida, inspirada em Nietzsche e Heidegger, de desconstruir o edifício que ora se apresenta como monumento dos diversos elementos constitutivos da tradição, mostrando a contingência e historicidade última de sua configuração. (BURITY, 1997, P. 02).

De acordo com Lopes e Macedo (2011), a partir da crítica à estrutura, o pós- estruturalismo desconecta totalmente a ideia de significado do significante. Pois não há relações estruturais entre dois significantes, não há relações diferenciais fixas entre eles e, portanto, não há significados a eles associados. Assim, cada significante remete a outro significante, indefinidamente, sendo impossível determinar-lhe um significado; este é sempre adiado:

Todo significante é, portanto, flutuante e seu sentido somente pode ser definido dentro de uma formação discursiva histórica e socialmente contingente. A questão fundamental se toma: como e em que condições um determinado discurso é capaz de constituir a realidade? (LOPES, MACEDO, 2011, p. 38)

A abordagem pós‐estruturalista possibilita uma reavaliação do lugar social do sujeito e da prática social por meio de um pensamento que valorizava a ação. Segundo Laclau (1996) esta reorientação intelectual pode ser entendida como uma mudança de modelo, marcada pela

incorporação do tema da historicidade que passa a ocupar o lugar o qual antes era da estrutura. Assim, o discurso apresenta-se como uma prática de significação do mundo, não apenas de sua representação. Não existe uma realidade dada a priori, ela é construída, e significada, a partir de práticas discursivas.

A educação museal, observada na concepção da TD, é entendida como uma pratica discursiva. Nesse sentido, refletir sobre a construção de conceitos a respeito da educação museal vis-à-vis os elementos constitutivos da educação escolar hegemônica (representado pela forma escolar). Implica incluir essa reflexão, em um patamar mais amplo, que considere as próprias condições e discursos que possibilitaram a emergência da concepção hegemônica da forma escolar. E como a atuação e articulação desses discursos passam a definir novas possibilidades e limites.

A forma escolar valoriza a ideia de educação concebida como um dos modos de submeter o pensamento humano a uma ordem objetiva. O acesso ao saber, ainda parece, voltado para uma educação do logos, centrado no controle, fortemente marcado por uma distância com a vida, com o prazer, a emoção, o afeto. ―imaginação esterilizada‖, des- potencializada. De acordo com canário: ―a escola sofreu mutações que engendraram as contradições estruturais e os paradoxos em que hoje se move‖. (CANÁRIO, 2005, P.61).

O cenário político contemporâneo apresenta-se como um terreno fértil para discutir questões referentes aos contextos educacionais. Mostra-se como um campo marcado por disputas institucionalizadas e por demandas isoladas. No qual, se travam "lutas‖ por lugares hegemônicos, por fixação de sentidos. Deste modo, a concepção de significantes vazios é central para a significação política. A noção de antagonismo e equivalências, proposta por Laclau, reconhece, a heterogeneidade como constituinte do social. Resultado de práticas articulatórias entre elementos diferentes. Essa consideração de um sistema diferencial como condição necessária do social, não anula a presença de conflitos, mas destaca a impossibilidade de um fechamento no social, nesse sentido:

Se, entretanto, a leitura desconstrutivista nos mostra que a ―ontologia‖ – a plena reconciliação – é inalcançável, que o tempo esta constitutivamente deslocado, que o fantasma é a condição de possibilidade de todo o presente, a política torna-se também constitutiva do vínculo social. Poderíamos dizer do espectro o que o Groucho Marx dizia sobre o sexo: é algo que vai permanecer conosco por um tempo. (LACLAU, 2011, p, 112)

5.4 Teoria do discurso de Ernesto Laclau: formação discursiva em torno da Educação