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O rompimento com o pensamento estético tradicional

No documento renataangelopernisa (páginas 96-103)

CAPÍTULO 2: A VERDADE DO SER ENTREVISTA NA OBRA DE ARTE

2.1 O entrelace do pensamento sobre a verdade do ser com a questão da obra de arte

2.1.3 O rompimento com o pensamento estético tradicional

A reflexão sobre a obra de arte representa a passagem por um horizonte que nos permite abordar a verdade do ser em harmonia com o pensamento que se ambienta da diferença ontológica. Para o pensamento heideggeriano, após Ser e Tempo, a referência à questão da obra de arte significa o passo a seguir no caminho da questão do ser. Um passo que a coloca no horizonte do pensamento, que segundo Herrmann, “se abre à passagem em direção ao caminho da elaboração do pensamento do Ereignis. O problema da origem da obra de arte pertence, pois a primeira concepção do pensamento do Ereignis” (HERRMANN, 2001, p. 23). Aqui, o pensamento que se abre à origem toma a obra de arte como acesso, compreendendo-se caminhante ao modo do acontecimento apropriativo. Para tanto, é necessário nos desenraizarmos dos pressupostos do pensamento estético tradicional.

Ao trazermos a obra de arte para nossa reflexão, não estamos em busca de pensá-la como um objeto que representa uma cópia da realidade. Propomos uma abordagem que busque nela a possibilidade de um pensar que ultrapasse sua figuração do real. A obra pode expressar algo mais, seja em qualquer modalidade artística. Heidegger exemplifica essa possibilidade da obra ser pensada indo além de sua representação na descrição e interpretação de algumas modalidades de manifestação artística. Através dessas obras podemos observar a presença de um mundo que não está diretamente figurado na obra, partindo de um modo de percepção que não se dá mapeado por um saber específico das artes. Esse é o caminho da obra que propomos colocar em curso. Um caminho que nos aproximará de uma dimensão do pensamento aberto ao ressoar do ser como um acontecimento.

Pensamos metafisicamente e estamos acostumados ao conforto da proximidade dos entes que se mostram imediatamente ao nosso olhar que ocorre vinculado a uma forma de visão confirmada na totalidade de seu desencobrimento. Nesse horizonte de pensamento, não

questionamos o modo como tais entes são desencobertos diante de nós. Ou, ainda, não nos dispomos a questionar o como isso acontece, porque isso acontece assim e não de outro modo. Apesar disso, o homem é um ente que se destaca dos demais por poder pensar. Ao se dispor no pensar, ele pode se colocar em questionamento quanto àquilo que ele mesmo é. Assim, indagando-nos quanto àquilo que somos, nos abrimos ao desencobrimento do ser que participa de nossa essência, não permanecendo estacionados no ente que somos. A obra de arte, pensada antes de sua configuração como produto artístico, dá passagem para pensarmos além de nossa compreensão somente entificada. Através dela podemos retomar a verdade como a)lh/qeia, elaborada como Lichtung.

Ao propormos uma reflexão acerca da obra de arte como busca de uma possível aproximação de um sentido mais originário da verdade do ser, faz-se necessário, então, nos afastarmos de um tipo de abordagem que é comum ao pensar metafísico. Devemos ultrapassar os limites de uma abordagem estética convencional e buscarmos outra possibilidade para interpretarmos a arte. Segundo Heidegger,

escutou-se frequentemente, nas últimas décadas, a queixa de que as inumeráveis considerações e investigações estéticas sobre a arte e sobre o belo não foram capazes de empreender nada e não ofereceram nenhum auxílio ao acesso à arte, que elas tampouco contribuíram de alguma maneira com a criação artística e com uma educação segura para a arte. Não há dúvida que tal queixa é correta e de que ela se mostra como particularmente válida no que diz respeito ao que circula hoje ainda sobre o nome de “estética”. A questão é que não podemos retirar do mundo atual os critérios para julgar a estética e a sua relação com a arte; pois o decisivo para a medida segundo a qual a arte se mostra ou não em uma época como formadora de história é, em verdade o fato de se e de como uma época está presa a uma estética, de se e de como ela se relaciona com a arte a partir de uma postura estética (HEIDEGGER, 2007a, p. 73).

O proposto na interpretação do distanciamento de uma leitura estética da arte é decorrente do fato de a estética tradicional manter sua apreciação no âmbito do desencobrimento do ente. O distanciamento com o saber previamente estabelecido sobre a arte nos aproxima da Lichtung do ser, ao mesmo tempo em que manifesta outra modalidade de acontecimento para o pensamento. Nesse sentido, o que buscamos é a condição de vivenciarmos, através da arte, esse outro que nela está disposto.

A obra de arte permite que nela seja revelado outro sentido que não só o que vem representado diretamente à visão; “de certo modo, na estética tradicional se diz que a representação artística suspende a experiência imediata” (NUNES, 2011, p. 97). Contudo, ainda assim é uma suspensão que se dá por meio de uma reação do sujeito que busca dar à obra outro sentido a partir de seu sentir. Ao propormos a interpretação de algo outro que se

mostra na obra de arte, ou ainda, ao suspendermos a sua interpretação estética, dispomo-nos ao encontro com esse outro no modo como ele se manifesta na obra e não como uma reação que temos diante dela.

A virada para uma reflexão não estética não nos leva ao seguimento de um tipo de ciência da arte. Também, o fato de buscarmos um pensamento que nos permita pensar a arte para fora do pensamento estético não significa buscarmos por um tipo de filosofia da arte. Buscamos um desdobramento do olhar à arte a partir de uma apropriação do pensamento heideggeriano que “caracteriza, ao invés, o seu esforço de pensamento em torno da arte como um perguntar ou como meditação (Besinnung) do estabelecer-se da arte” (HERRMANN, 2001, p. 41), portanto, a partir de uma modalidade de pensamento voltada para o próprio exercício de sua ocorrência. Questionar a arte significa, aqui, experimentá-la através de seu ser no modo como ele se manifesta.

É nesse sentido que ao indagarmos pela obra de arte, estamos fazendo uma passagem ao exercício que dá início ao pensamento como Ereignis. A experimentação desse modo de acontecimento do pensar, através da essência da arte, ocorre com e juntamente. Em outras palavras, na interpretação da obra ocorre, também e junto, a compreensão do pensamento que a interpreta. O rompimento com os pressupostos de uma leitura tradicional da arte representa também a ultrapassagem do pensamento de modo geral e não somente no contexto da arte. Assim, enquanto o pensamento tradicional sobre a arte se dá paralelamente atado ao pensamento do primeiro início, o interpretar para além desse contexto representa a interpretação do pensamento em um outro início.

A proposta de romper com a estética ocorre junto ao pensar que medita sobre a arte, sem mudar a direção do caminho pelo qual percorremos. Por meio da pergunta sobre o próprio modo de ser do pensamento estético, passamos ao encontro de outra possibilidade para considerarmos a arte em suas diversas manifestações. Assim, mesmo que imediatamente compreendamos a arte de modo estético, ao caminharmos por uma interpretação que se dá em abertura, nos colocamos em disposição de realizarmos a passagem à outra compreensão. Isso nos é permitido ao nos questionarmos acerca do que esse olhar estético tem a nos mostrar para além de suas fronteiras.

Seguindo por essa via que interpreta a arte a partir do que dela é interpretado, nos aproximamos de um contexto que compõe o pensamento estético e consolida sua história em acordo com a própria história do pensamento metafísico. Mantemos a reflexão se desenvolvendo em seguimento da proposta de destruição da estética enquanto retirada de seus pressupostos. Todavia,

é fato, porém, que a destruição nunca foi uma eliminação; de certo modo ela, a destruição, evoca a epoché husserliana, pois que mantém, de uma certa maneira, aquilo que atinge. Não se trata de eliminar, mas de recuperar as motivações mais profundas daquilo que Heidegger chama de origem. Veremos que a concepção heideggeriana de modo algum legitima a suspensão das teorias modernas da arte no seu plano próprio. Trata-se, simplesmente, de mostrar que essas teorias não são suficientes para dar conta da obra de arte (NUNES, 2011, p. 98).

O sentido da destruição, que na citação acima é tratada com proximidade à “epoché husserliana”, não suspende os pré-conceitos em prol de uma estética pura. A questão da suspensão diz respeito a uma desconstrução, como um modo de desnudar a estética de sua bagagem historial. Novamente, o pretendido é a retomada de um pensamento mais originário, agora acerca da arte.

A volta a esse contexto representa, para nós, a retomada de um pensamento acerca da arte ainda não vinculado a um tipo de saber teórico e específico. Essa ambiência originária é a condição para nossa interpretação se livrar dos pré-conceitos adquiridos historiograficamente. Nesse contexto, a arte de modo geral “não era o objeto de uma ‘cultura’ e de um impulso de vivência, mas sim a ação de ‘trazer-para-a-obra’ [Ins-Werk-bringen] o desencobrimento do ser a partir da vigência do próprio ser” (HEIDEGGER, 2008b, p. 169). Aí, a arte representa a vivência de um povo, o grego, e isso não significa dizer que ela é a retratação de sua cultura. Mais que isso, ela simboliza a manifestação da própria essência da vivência. Ou seja, o modo como aquele povo compreendia o mundo e a própria arte.

Assim como a lógica e a ética, a estética representa um modo de ocorrência de nosso saber. Nessa modalidade, o conhecimento se funda a partir do comportamento do homem em que a estética é “a consideração do estado sentimental do homem em sua relação com o belo, é consideração do belo na medida em que ele se encontra em ligação com o estado sentimental do homem” (HEIDEGGER, 2007a, p. 72). Ela é a compreensão do sentido que o sujeito dá ao entendimento que ele tem da obra de arte. Enquanto denominação de um tipo de conhecimento específico sobre a arte, a estética somente aparece por volta do século XVIII. Apesar disso, o pensamento sobre a arte como representação do modo como o homem se comporta diante do belo acontece desde o início do pensamento. E com isso, também o desenvolvimento de sua fundamentação na totalidade do pensamento do desencobrimento.

A construção da formação do conhecimento do homem, em um modo de pensar vinculado às ideias, também chega ao modo de interpretar as manifestações artísticas. Em virtude dessa construção, o pensamento sobre a arte se estabelece em seguimento à ideia do belo. A arte espelha a beleza ao apresentar a formação do homem em alinhamento à ideia do bem. Isso significa dizer que ela se torna objeto representativo do real, naquilo que Platão

chama de mi/mhsij, como imitação ou cópia. A partir dessa interpretação da obra como reflexo do belo, sua compreensão se fecha a uma verdade em conformidade com o pensamento que se desenvolve em retitude ao bem. Desse modo, sua apreciação deixa de apresentar uma modalidade de pensamento em abertura, ao que a obra tem a dizer, e se consolida no pensar do desencobrimento do ente pelo homem. Com isso, o que antes se deixava entrever na obra é abandonado e deixado fora de sua apreciação. Ao ser vinculada à totalidade do desencobrimento, a obra de arte deixa de demonstrar o seu ser por ela mesma e se torna aquilo que é visto pelo homem.

A arte como representação da realidade do homem determina sua composição, matéria e forma ao domínio do desencobrimento do ente. Sua matéria toma a forma pelo modo como o homem se comporta no mundo. Sua compreensão se dá como sendo a reprodução do que é verdadeiro para aquele que a interpreta na sua criação, seja seu criador ou seu apreciador. Isso, por meio de um saber nomeado de te/xnh. O sentido do termo grego te/xnh não tem o mesmo entendimento da palavra técnica Ge-stell. Ele representa o modo de conhecimento do homem naquilo que ele mesmo é. Segundo Heidegger,

desde o início, a palavra nunca é a designação para um ‘fazer’ e um produzir. Ao contrário, ela é uma designação para aquele saber que porta e conduz toda irrupção humana em meio ao ente. Por isso, te/xnh é, frequentemente, a designação para o saber humano pura e simplesmente (HEIDEGGER, 2007a, p.75).

O termo te/xnh representa a constituição da formação do homem enquanto tal. O que não significa dizer que é um modo de conhecer determinado por ele. Diferentemente da Ge-stell, a

te/xnh não ocorre de acordo com a necessidade do homem em exercer sua vontade. Ela

representa um saber anterior ao seu próprio querer. Portanto, tanto no ato criador do artista quanto no conhecimento que se tem das artes em geral, a te/xnh expressa o desdobramento de um saber que não é determinado e de domínio do homem, mas que é parte dele.

No horizonte da te/xnh, o conhecimento sobre a arte faz vir aos olhos a obra a partir de uma base desencobridora, assim como também na Ge-stell. No entanto, esse desencobrimento não se dá submetido ao querer do homem. A te/xnh expressa uma modalidade da obra se manifestar desencoberta no ente por ela mesma, e não porque sejamos nós que a compreendemos assim. Aqui, a compreensão da arte e a constituição do homem acontecem juntas. Portanto, o saber sobre a arte não é uma produção sua. Aquilo que aproxima uma da outra, Ge-stell e te/xnh, sua determinação no desencobrimento do ente, também as distancia. Um distanciamento indicado pelo esquecimento de que o desencobrimento faz parte da constituição do homem, e isso não significa que ele seja o dono

do seu desencobrimento. Assim como os demais entes, ele também se mostra por um desencobrimento. Aqui avistamos o risco a que nos dispomos, pois “o destino do desencobrimento não é, em si mesmo, um perigo qualquer, mas o perigo” (HEIDEGGER, 2006a, p. 29). Sermos e estarmos em um fundamento que se dá no desencobrimento dos entes nos condiciona a responder a essa essência a partir dela mesma. Por isso, vivemos no risco do domínio da Ge-stell, o risco de deixarmo-nos esquecer do esquecimento do ser e somente pensarmos o ente. Nesse sentido, a obra de arte se fecha à objetivação do homem, perdendo- se de sua abertura histórica.

No desenvolvimento do pensamento tradicional, o sentido da te/xnh vai sendo deixado mais e mais para traz. Na modernidade, o pensamento se distancia da te/xnh, ao mesmo tempo em que se avizinha da Ge-stell, quando coloca seu modo de compreender ocorrendo a partir da relação sujeito e objeto.

O problema do caráter próprio da arte moderna inclui aquele da arte na era da técnica. De fato, a arte moderna pertence à era da técnica. Também este problema deve ser desenvolvido, em suas linhas de fundo, na perspectiva do tratado sobre a obra de arte e do pensamento da Ereignis (HERRMANN, 2001, p. 48)

Na modernidade, a compreensão da arte acontece a partir da vontade do sujeito e o seu saber não foge à fundamentação dessa vontade. O homem é o ente que determina os demais entes e, com isso, se perde de si mesmo como ente. Nesse contexto, a arte deixa de ser somente reflexo da realidade e passa a espelhar a projeção que o sujeito tem de sua realidade. Ela se torna o objeto que espelha a vontade do sujeito, sem que se perceba que esse seu entendimento ocorre mediante uma verdade desencobridora que não é a verdade do sujeito. Com isso, ela passa a ser representada pelo ápice da técnica, porque se torna o reflexo do esquecimento daquilo que o homem deixa de pensar, o seu próprio ser. Esse modo de conhecimento das artes é o que fundamenta o pensamento estético e o trajeto do qual estamos tentando desviar. Tanto a obra quanto o sujeito são entes que se mostram assim desencobertos a partir de uma constituição que mantém resguardada a vigência do ser. Entretanto, na modernidade,

A arte consuma nessa época sua essência metafísica até aqui. O sinal disto é o desaparecimento da obra de arte, ainda que não da arte. Essa torna-se um modo da consumação da maquinação na construção total do ente para a disponibilidade incondicionadamente segura daquilo que é instaurado (HEIDEGGER, 2010b, p. 31).

Apesar de a arte moderna consumar o desencobrimento do ente na subjetividade daquele que a cria e a experimenta, ainda assim, ela traz o acesso ao ser quando pensada para além de sua consumação. Em outras palavras, a própria consumação representa a passagem ao

outro da arte. A obra de arte, seja na reflexão Estética, seja em um contexto anterior a isso, representa o reflexo do modo como o homem entende sua constituição. Se, desde o início, isso se dá através da fundamentação no ente, então é necessário buscarmos pela possibilidade de desviar desse pensamento em seguimento de outro horizonte de compreensão. Assim,

mostrar como a obra de arte “da própria arte” deixa o ser aparecer e o traz para o desencobrimento. Perguntar assim está distante do pensamento metafísico acerca da arte, pois este pensa “esteticamente”. Isso significa: a obra é considerada com respeito ao seu efeito sobre o homem e sobre sua experiência vivida. Mas, na medida em que a própria obra é considerada, é vista como produção de uma criação, “criação” essa que expressa um “impulso de vivência”. Mesmo quando se considera em si mesmo a obra de arte, ela é tomada como objeto e produto de uma experiência de vivência criativa ou imitativa. Isso significa: é constantemente concebida com base na percepção (ai))/sqesij) humana subjetiva (HEIDEGGER, 2008b, p. 166).

Mesmo que pensemos a arte como um objeto de representação do comportamento do homem, se alojarmos o pensamento em uma ambiência que não deixa o ser esquecido na base, ou seja, um desdobramento do pensamento que traz consigo a abertura da diferença entre ente e ser, podemos então nos aproximar daquilo que a arte um dia foi para os gregos.

Juntamente ao desenrolar da história do pensamento metafísico, ocorre a história do pensamento sobre a arte. Não pretendemos, com isso, falar da arte partindo de uma leitura historiográfica, ressaltando sua herança histórica. O que para nós é essencial na arte enquanto histórica é a sua interpretação como abertura histórica. Uma ambiência que mantém resguardado e em operação algo além do que dela, tradicionalmente, estamos acostumados a pensar. Algo que constitui nossa essência e que se perde na decorrer histórico do ente, afastando-nos daquilo que somos. Contudo, mesmo que “na época contemporânea, caracterizada no estabelecimento da técnica, ser, para Heidegger, uma época ‘em que a grande arte e o seu estabelecer-se são, juntos, afastados do homem” (HERRMANN, 2001, p. 500), a obra não se fecha nesse afastamento. Nela, continua vigente e em abertura o caminho para pensarmos o ser. Seu acontecimento historial se dá na junção dos constitutivos da verdade que se clareiam na obra, e não se fecham em uma data histórica. O que se mostra histórico na obra de arte é sua abertura. Dito de outro modo, ao interpretarmos a obra de arte como Lichtung, nos colocamos em um horizonte de compreensão que toma a arte como abertura para o acolher do desencobrimento do ente. Isso, em articulação ao encobrimento do ser, nos dá a passagem para pensarmos tal articulação em constante jogo e em abertura historial.

Assim, a interrogação pelo sentido do ser que colocamos em marcha desde o inicio de nossa pesquisa passa, agora, à interrogação sobre o ser da obra de arte e o que nos parece distante, o estabelecer da arte como a elaboração da verdade em abertura é resgatado no questionamento, recordando aquilo que nos é mais próximo. O distanciamento de nossa

compreensão da arte como representação de nossa essenciação não nos impede de retornar a uma ambiência em que a arte ainda ressoe essa nossa constituição. A manifestação da arte a partir de uma perspectiva de abertura de verdade permanece na origem, participa de nossa constituição e é a via de nossa interpretação.

A interpretação da arte nesse horizonte ocorre em compreensão hermenêutica. O que não representa a subordinação da reflexão aos limites de um determinado conhecimento sobre as artes. É um modo de interpretarmos em que podemos buscar na arte o seu próprio modo de ser em experimentação daquilo que nós mesmos somos. Isso nos coloca no caminho de pensar a obra de arte a partir da arte, ao mesmo tempo em que ela também se estabelece através da obra. Por isso, também sua produção acontece de modo diferente da produção artesanal, indo além do entendimento utilitarista da arte na obra. Ao perguntarmos pelo ser da obra de arte, não estamos buscando por sua utilidade, e menos ainda o estamos fazendo no contexto

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