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Proximidade e distância na relação entre o pensamento e a poesia

No documento renataangelopernisa (páginas 175-182)

CAPÍTULO 2: A VERDADE DO SER ENTREVISTA NA OBRA DE ARTE

3.2 A poesia no horizonte do pensamento e do sagrado

3.2.3 Proximidade e distância na relação entre o pensamento e a poesia

A proposta de abordarmos, neste ponto, o âmbito referencial entre o pensamento e a poesia no norte de proximidade e distância tem por escopo a abertura do horizonte que visa o sagrado. O ressalte do que distancia ou aproxima um do outro dá o traço de sua referência, mas não só isso, pois nesse jogo também está em ocorrência nossa interpretação. Por isso, a abordagem da relação entre pensamento e poesia como proximidade e distanciamento pode ser considerada como sendo a interpretação mesmo. Nela, tomamos o passo para o interior da

experimentação da interpretação. É nesse sentido que propomos a passagem pelo desdobramento da referência como abertura para uma possível experiência pensante da poesia que ressoa o sagrado.

Percorrermos o caminho de uma possível experiência pensante da poesia indica nossa participação na ausculta do que ela tem a nos dizer. Isso não se dá separadamente, pois auscultar a poesia implica já uma experiência pensante do que ela tem a dizer. Ao mesmo tempo em que essa experiência se realiza, ela também abre espaço para a referência de uma outra experimentação ocorrer, a saber, a experimentação da poesia como a própria essenciação da linguagem no pensamento. É em vista disso que nossa participação na poesia não é somente um posicionamento diante dela. Participação aqui implica a harmonização do pensamento com a poesia, ou ainda, o modo como nos comportamos ao ouvirmos e, portanto, também falarmos à poesia.

Em um verso do poema de Hölderlin encontramos o dizer da “participação”. O poema intitulado “Os Titãs” nos diz: “Mas não é este/ O tempo. Ainda não estão/ Amarrados. O divino não atinge os que não participam” (HEIDEGGER, 2004, p. 60). O verso aponta o horizonte que circunda a questão da participação que estamos procurando expressar quando diz que somente aqueles que participam podem atingir o divino. Ou, enquanto o que é divinal se revela em abertura, somente aqueles que dialogam participam do diálogo, estão dispostos nessa referência ao divino.

A participação de que fala o poeta caracteriza o nosso ser-aí como tal, é aquela forma do nosso ser-aí em que joga o Ser e o não ser. Nesta participação decide-se, a priori e constantemente, o modo como somos aquilo que fazemos. Se não está dito em que é que devemos participar e a que devemos estar ligados, se se fala apenas da participação como tal ou “do cuidado”, então “diz-se” com isso mesmo que é esta uma condição necessária para que venha o tempo em que seremos “atingidos” pelo divino, em que caia o relâmpago. Mas se a tarefa da poesia consistir em trazer este relâmpago, envolvido em palavras, para o ser-aí do povo, esta palavra só nos diz uma coisa se tomarmos parte na poesia, isto é, no diálogo (HEIDEGGER, 2004, p. 62).

Ao dialogarmos com a poesia, estamos fazendo a experiência pensante de sua essenciação. Experiência esta que indica entrarmos na região de ausculta da linguagem poética, e isso não é nos deixarmos levar pelo imaginário do poema, mas sim escutarmos a genuinidade de sua linguagem.

Tratamos de pensar a essenciação da linguagem poética seguindo a indicação da ausculta da própria linguagem que a essencia. O que não é simples mudança de foco no questionamento – perguntar pela essenciação da linguagem é seguirmos pela linguagem da essenciação – pois ela indica o viés de um caminho ocorrido no tracejo do círculo hermenêutico. O dar-se essencial da linguagem, nessa interpretação, tem o sentido de “vigorar

na presença e na ausência” (HEIDEGGER, 2003a, p. 158), articuladas na demora e na passagem. O dizer da linguagem poética ocorre nessa articulação que vigora e se essencia na presença de sua precariedade.

É também pelo vigor da linguagem que podemos aproximar pensamento e poesia. No dizer de ambos perdura o vigorar da linguagem. Pensamento e poesia se constituem por esse dizer, um dizer como saga que

o horizonte dá o caminho, ele coloca em movimento (bewëgt). O horizonte onde o caminho tem seu lugar se anuncia na vizinhança da poesia e do pensamento. Poesia e pensamento são modos do dizer (sagen). Mas a proximidade (die Nähe), aquela que traz a poesia e pensamento à vizinhança de um e de outro, Heidegger a nomeia die Sage (saga) (BRITO, 1999, p. 176).

Tanto na linguagem do pensamento quanto na da poesia seu dizer não representa uma simples conversa ou falatório. No diálogo entre poesia e pensamento auscultamos o dizer da linguagem no vigor de sua essenciação que “se anuncia como saga do dizer, como o que tudo en-caminha e movimenta. Só uma palavra do poeta não pode ser esquecida, aquela que traz a palavra à palavra” (HEIDEGGER, 2003a, p. 163). Portanto, o sonoro da linguagem poética não está em sua vocalização, e sim no pensar que ausculta sua essenciação dita através da poesia. Esse pensar pensa a palavra poética passando por aquilo que ela nomeia.

No diálogo entre pensamento e poesia algo nos é dito; no entanto, o que nos é apresentado no dizer não se revela por nomeação de alguma coisa que é. Sua vinda ao nosso encontro no dizer se mostra naquilo que vem manifesto na própria vinda. O que é dito nesse diálogo se mostra no vigor do transcurso do próprio dizer. Assim, o acontecimento mesmo do dizer traz à compreensão a relação que aproxima um e outro, “a proximidade que aproxima é ela o acontecimento apropriador em que poesia e pensamento são remetidos ao próprio de sua essência, de seu vigor” (HEIDEGGER, 2003a, p. 153). Pela apropriação fazemos a experiência com o dar-se essencial da linguagem, do mesmo modo em que nossa disposição na experiência também nos aproxima do horizonte relacional.

O traço que aproxima pensamento e poesia não nos é dado de imediato. Ele requer abertura ao exercício da essenciação que vigora na linguagem que os constitui. Logo, entrar na experiência representa seguirmos o compasso da relação. A concepção da relação entre ambos significa mais que um confronto entre as partes. Ela toma cada um a partir de sua coisa e em unidade, o que nos indica que essa unidade os aproxima, mas também aponta um distanciamento decorrente daquilo que cada um é em seu ser próprio.

Ao propormos a possibilidade de tal relação, nos deparamos com o contexto que os aproxima. O modo como se dá a sua aproximação não acontece apoiado nas noções de espaço

e de tempo. Se assim o fosse, ficaríamos na demora da aproximação, ou mesmo na demora da separação e, com isso, perderíamos o contexto relacional. Quando aqui abordamos a questão da aproximação, a tomamos em uma perspectiva de proximidade no sentido de vizinhança. Isso amplia nosso horizonte compreensivo, se entendemos a questão da vizinhança como uma forma de reunir diferentes em um mesmo contexto. Por isso, não é uma questão de proximidade espacial. Ela ocorre como na quadratura em que “a proximidade é o que en- caminha e movimenta a vizinhança dos quatro campos do mundo, permitindo que um alcance e en-contre o outro, guardando na proximidade a sua distância” (HEIDEGGER, 2003a, p. 167). A relação entre pensamento e poesia resguarda essa relação mais originária da quadratura quando se deixa reunir a partir daquilo que os essencia.

Observando a poesia de George Trakl – Uma tarde de inverno – podemos, então, colocar em experiência a relação entre pensamento e poesia no contexto entre proximidade e distância. Diz a poesia:

Na janela a neve cai, / Prolongado soa o sino da tarde,/ Para muitos a mesa está posta/ E a casa bem servida.// Alguns viandantes da errância/ Chegam até a porta por veredas escuras./ Da seiva fria da terra/ Surge dourada a árvore dos dons.// O viandante chega quieto;/ A dor petrificou a soleira./ Aí brilha em pura claridade/ Pão e vinho sobre a mesa (HEIDEGGER, 2003a, p. 26).

Na leitura da poesia notamos a descrição de uma tarde de inverno. O seguimento dessa descrição aí nomeada leva-nos ao passo da experimentação do dizer de sua palavra poética. Dito de outro modo, seguimos o caminho do acontecer da nomeação, abertos à ausculta do dizer da poesia. Não se trata, aqui, de uma teoria metodológica para ler poesias, porém, de outro sentido que pode nos abordar quando nos dispomos ao pensamento aberto à palavra poética. A referência ao poema Uma tarde de inverno traz-nos a possibilidade de ouvirmos o dizer da linguagem nas palavras da poesia, sem implicar na explicação daquilo que o poema quer dizer. Estamos em disposição ao encontro no diálogo com a poesia.

Pensar a poesia, naquilo que nela vem nomeado, corresponde ao convite que nos vem evocado na nomeação. É nessa nomeação que encontramos a relação de proximidade e distância. Assim, quando na poesia é dito “na janela a neve cai” e “prolongado soa o sino da tarde”, somos imediatamente transportados para o espaço aberto pela nomeação. Aproximamo-nos da branca neve que cai sobre a janela, e até entreouvimos o sino soar em uma fria tarde. Isso nos vem ao pensamento, mesmo não estando em presença, de fato, do referido momento ali descrito. Entretanto, mesmo distantes, estamos em proximidade da neve e do soar do sino porque a nomeação traz-nos o dizer de um acontecimento. Nessa experimentação da poesia, ela nos chama a participar de uma região em que “a evocação abre

um jogo de espaço e tempo onde proximidade e distância são colocadas em jogo” (ARAÚJO, 2008, p. 130). No jogo, a presença daquilo que está distante é trazido à proximidade pela nomeação do dizer poético. Sua presença é então evocada a partir do distanciamento de sua ausência.

Na abordagem do quadro de Van Gogh entrevimos tal evocação através da figuração retratada na pintura. Lá, a nomeação não ocorre em palavras como na poesia. Seu ambiente se dá no campo visual, porém isso não impede que a obra comunique aquilo que a constitui. Através de sua imagem ultrapassamos o visível, vamos ao encontro do invisível, embalados pelo pensar que se abre ao entrever o invisível enquanto tal. É nisso que a evocação da obra revela o jogo entre presença e ausência na relação do que se desencobre e encobre. Com a poesia, o jogo entre presença e ausência nos é entregue no desencobrimento da nomeação na linguagem, enquanto língua escrita e falada, em conjuntura com a linguagem do dizer poético que ali se abriga em encobrimento.

Se no quadro de Van Gogh entrevemos a luta de terra e mundo, desencobrimento e encobrimento por meio de sua figura, “na poesia de Trakl, palavras como ‘neve’, ‘sino’, ‘mesa’ e ‘casa’ recolhem na sua simplicidade as quatro vozes do Geviert” (ARAÚJO, 2008, p. 130). Seu dizer vai além daquilo que cada palavra funda com seu significado, assim como vai além da figuração do quadro. Ele reflete o mundo que vigora na linguagem do dizer, o mundo como “quadratura, como um ‘jogo-espelho’, no qual cada um – os divinos e os mortais, a terra e o céu – reflete a essência dos restantes e assim se espelha no seu próprio” (PÖGGELER, 2001, p. 240). Nas palavras da poesia cada coisa é desencoberta como aquilo que é – como a neve que é; como o sino que é; como a mesa que é e como a casa que é casa – e no enquanto desse desencobrimento se dá também o encobrimento daquilo que torna cada coisa, bem como sua nomeação, ser isso que é.

A dinâmica da presença e ausência, do desencobrimento e encobrimento, reporta ao comum-pertencimento da própria quadratura de mundo. Logo, o que reúne as palavras não é somente o fato de pertencerem e constituírem o dizer de uma tarde de inverno. Antes, vigora a relação que constitui o modo de ser de cada palavra, mas também do mundo da poesia. A saber, a relação que acolhe e reúne a diferença, sem deixar que se perca aquilo que faz da diferença ser como diferença.

Tanto na experiência pensante do quadro, quanto na da poesia, nos é entregue o ressoar do dizer de sua essenciação na dinâmica entre a proximidade e distância da linguagem na obra de arte. No entanto, no dizer da palavra poética, tal ressoar da essenciação implica em uma certa primazia por ela se constituir de fato na linguagem. Sendo assim, alcançamos a

proximidade da “poesia como vizinha do pensamento” (ZANELLO, 2004, p. 298). A poesia deixa transparecer em seu dizer seu próprio modo de ser como dizer da linguagem. Nela, mundo e terra são nomeados no modo de sua ocorrência. Assim, na proximidade e distância que desencobre e encobre cada um na referência de uma comum-pertença em que “Heidegger, seguindo Hölderlin, a pensam como mera intimidade. Ela descerra o entre, o intervalo, que ao mesmo tempo separa e recolhe mundo e coisa” (ARAÚJO, 2008, p. 131), vigorando, assim, a proximidade e o distanciamento no intervalo como comum-pertencimento.

A comum-pertença une palavra e poesia pelo “entre” da relação entre um e outro. No entre que os entremeia está o jogo sendo jogado de um para com o outro. Em vista disso, do jogo jogado, não há o esgotamento de um pelo outro. Ou, ainda, o entre a palavra e a poesia não transporta um para o lado do outro porque sua união se dá pelo vigor do jogo. Por isso, a palavra não se reduz à poesia e nem esta à palavra. Ambas jogam o jogo sendo o que são, unidas na mesma partida em jogo.

Retomando o dizer do poema de Trakl, nos debruçamos sobre a figura da “soleira” presente no segundo verso da terceira estrofe: “A dor petrificou a soleira”. A soleira na porta marca a passagem de um ambiente a outro. Ela representa uma região intermediária entre a entrada e a saída, o interior e o exterior. Ligados pela soleira, interior e exterior não se igualam, cada um é si próprio e participante de um horizonte comum que é a soleira. Portanto, a soleira não coloca um ambiente dentro do outro ao fazer a sua ligação. Ela os entremeia, separando-os e mantendo-os unidos pela comum-pertença que compreende o interior na referência do exterior, este último também na referência do outro.

A soleira causa um rompimento. Ela não deixa que um ambiente se transforme no outro. Por isso, no verso onde está contida a palavra “soleira” também nos é dito que “a dor petrificou a soleira”. Qual dor? O que podemos aqui compreender do termo dor? A dor dá à soleira a medida de uma quebra. Todavia, “a palavra dor torna o verso enigmático. Ela não pode ser aqui entendida como mero sofrimento físico; a sua essência não está simplesmente neste caráter antropológico. A dor simplesmente quebra” (ARAÚJO, 2008, p.132). A quebra representa o sentido da cisão que separa interior e exterior. Contudo, a dor da quebra é também a junção do que é quebrado; junção que não implica na integração, transformando tudo em único e inteiro. A partir disso, nos diz Heidegger que

a dor é o rasgo do dilaceramento. A dor não dilacera, porém, espalhando pedaços por todos os lados. A dor dilacera, corta e diferencia, só que ao fazer isso arrasta tudo para si, reunindo tudo em si. Enquanto corte que reúne, o dilacerar da dor é também um arrancar para si que, como riscas ou rasgaduras, traça e articula o que no corta se separa. A dor é junta articuladora no dilaceramento que corta e reúne. Dor é articulação do rasgo do dilaceramento. Dor é soleira. Ela dá suporte ao entre, ao meio

dos dois que nela se separam. A dor articula e traça o rasgo da di-ferança. A dor é a própria di-ferença (HEIDEGGER, 2003a, p. 21).

Na soleira, o que é petrificado é a diferença que permanece. Ela se solidifica, mas não deixa de ser diferença. A diferença que separa e causa a dor da rasgadura se estabelece no entremeio que acolhe um e outro.

Pela rasgadura ocorre, então, uma abertura onde “aí brilha em pura claridade/ Pão e vinho sobre a mesa”. A pura claridade representa a verdade aclarada pelo dizer da poesia que ao se mostrar traz consigo a quadratura. Assim, “pão e vinho são frutos do céu e da terra, são presentes dos divinos para os mortais” (HEIDEGGER, 2003a, p. 22), sua referência na poesia dá voz à quadratura. Uma voz anunciada na quietude da palavra.

O silêncio que vem auscultado na palavra poética ocorre quando no dito da palavra, falta palavra. Aí, se abre o campo onde a quadratura se deixa aclarar. Ao abrir campo, o silêncio da palavra poética se revela como “um deixar ser lugares onde silêncio e palavra podem jogar a sua essência” (ARAÚJO, 2008, p. 133). Em tais lugares nos encontramos quando nos dispomos à escuta da palavra na poesia. Nosso encontro não ocorre no seguimento de um endereçamento; portanto, não vamos ao encontro de uma localidade previamente estabelecida. Isso porque seguimos o caminho da ausculta da palavra na poesia. Ausculta que conforma proximidade e distância ao nos fazer ouvir os acenos do distante.

Na ausculta escutamos o dizer da palavra poética como silêncio que ecoa por meio da palavra na poesia. Esse encontro com o ser da poesia se dá pelo diálogo que com ela travamos. No diálogo, falamos e ouvimos, auscultamos o ser como aquele que acontece em referência ao que nós somos, e não como um ente separado de nós. Não falamos e auscultamos o ser da poesia como uma coisa desvinculada daquilo que nós mesmos somos. Logo, só falamos e auscultamos o dizer da poesia porque esse dizer também nos constitui.

O encontro de pensamento e poesia se revela também na fala e na ausculta de seu ser e “a partir disso, a poesia atende ao pensamento em sua necessidade de dizer o inaudito, o que se furta à determinação última. Deste modo, a linguagem poética possibilita ao pensamento suportar o movimento do ser, isto é, permite-lhe acompanhar sua fugacidade” (TOLEDO, 2011, p. 213). E isso enquanto pensados a partir do ambiente da diferença. A diferença de um acolhe a diferença do outro. Acolher o outro representa recebê-lo como diferente. Diante disso, ao concebermos a relação entre o pensamento e a poesia como uma experimentação pensante da poesia, fazemos atenção ao que Heidegger diz sobre a tomada da palavra poética pelo pensamento em que

não devemos pensar que nos é permitido revestir à pressa este ser cunhado no dizer do poeta com o manto de uma linguagem “filosófica”, para que, por esta via, o dizer poético seja transformado num saber pensante e, daí, num conhecimento aproveitável e proveitoso das coisas. (...) A nossa interpretação serve aqui, unicamente, os propósitos do poeta; ela deixa conscientemente por dizer o lado pensante e as suas necessidades, ou seja, a sua penúria (HEIDEGGER, 2004, p. 143).

Na poesia, o pensamento é acolhido na ausculta do dizer poético, e isso não faz com que ele deixe de ser um modo de pensar. Do mesmo modo, no pensar, a poesia é acolhida no ressoar do pensamento. Logo, o acolher que reúne o pensamento e a poesia se dá pela diferença que cada um possui e que podemos entrever no sentido de que a poesia é um dizer da linguagem do ser e o pensamento é a ausculta de seu dito.

Enquanto na poesia o ser acena pelo dizer da linguagem, no pensamento seu aceno é a ausculta do dizer da linguagem. A experiência da referência entre o pensamento e a poesia revela-nos o ser na linguagem como dizer e como ausculta, como diálogo entre o pensar e o poetizar. Entramos no exercício dessa relação em resposta ao chamado do ser nessa referência. Nesse caminho, abriu-se espaço para o aceno de uma dimensão de mistério abrigada na quietude da palavra poética. Aí, o pensamento encontra a palavra para dizer o mistério pelo encobrimento. Na poesia, ele alcança a abertura do espaço que não é um lugar comum. É um espaço consagrado pelo ressoar do mistério do ser, onde “o pensador diz o ser. O poeta nomeia o sagrado” (HEIDEGGER, 2008a, p. 324). E a relação entre pensamento e poesia pode então nos indicar o sagrado do ser ou o ser do sagrado.

No documento renataangelopernisa (páginas 175-182)

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