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Na sua estrutura organizacional, o SIGERH, congrega instituições estaduais, federais e municipais, em três subsistemas: Sistema de Gestão (instituições com atribuições de planejamento, administração e regulamentação dos recursos hídricos);

Sistemas Afins (responsáveis pelas obras e serviços de oferta, utilização e preservação

dos recursos hídricos); e Sistemas Correlatos (instituições ligadas a serviços de planejamento e coordenação geral, incentivos econômicos e fiscais, ciência e tecnologia defesa civil e meio ambiente). Além das instituições públicas executoras, existem os órgãos colegiados: I - Conselho de Recursos Hídricos do Ceará - CONERH; II - Comitê Estadual de Recursos Hídricos - COMIRH; III - Secretaria dos Recursos Hídricos - Órgão Gestor; IV - Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FUNORH; V - Comitê de Bacias Hidrográficas – CBH.

O CONERH é o órgão de coordenação, fiscalização, deliberação coletiva e de caráter normativo, com as seguintes finalidades: Coordenar a execução da Política estadual de Recursos Hídricos; Formular, explicitar e negociar políticas de utilização,

oferta e preservação dos recursos hídricos; Promover a articulação entre os órgãos estaduais, federais e municipais e a sociedade civil; Deliberar sobre assuntos ligados aos recursos hídricos (SRH, 1992b).

O COMIRH é um órgão colegiado formado por técnicos(as) das instituições estaduais ligadas a recursos hídricos, e analisará os problemas do ponto de vista técnico funcionando apenas como órgão consultivo. Suas atribuições são: Assessorar tecnicamente o CONERH; Compatibilizar tecnicamente os interesses setoriais em problemas envolvendo água; Emitir parecer prévio, de natureza técnica, sobre projetos e construções de obras hidráulicas (SRH, 1992b).

Os CBH - Comitês de Bacia Hidrográficas, são organismos colegiados integrantes do Sistema Estadual de Gestão de Recursos Hídricos, com funções deliberativas e consultivas, constituídos por representantes dos(as) usuários(as), da sociedade, do poder público municipal e dos órgão públicos estaduais e federais, que tenham interesse ou atuem na bacia, com o objetivo de colocar em prática o processo de Gestão Participativa da Bacia Hidrográfica.

Ao analisar os principais preceitos da Lei de Recursos Hídricos do Ceará e da Lei Nacional de Recursos percebemos diferenças que merecem alguns comentários. Destacamos a que diz respeito a Agência de Água, prevista na Lei Nacional, que todavia a Lei do Ceará não contempla. Argumenta-se que a maioria das bacias hidrográficas cearenses seriam deficitárias do ponto de vista de arrecadação financeira com a cobrança pelo uso da água, e por isso não teriam condições de manter uma Agência de Água. Essa situação na realidade nos parece a predominância de uma lógica centralizadora, onde todo o dinheiro a ser arrecadado e o próprio planejamento das ações públicas nas bacias seriam centralizadas num organismo de gerenciamento estadual. O que destoa da proposta da Agência de Bacia prevista na Lei Nacional de Recursos Hídricos e do modelo francês, onde as Agências de Águas, uma para cada bacia, são estabelecimentos públicos, de caráter administrativo e com autonomia financeira. São os órgãos executivos que aplicam a política estabelecida pelo comitê através do programa de intervenção (Leal, 1998).

No artigo 48, da lei 11.996/92, já definia a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Curu, cujo estatuto seria estabelecido pelo CONERH, em até 120 dias,

inclusive devendo ser implantado em 90 dias após a publicação do seu regulamento no Diário Oficial do Estado.

Percebe-se, apesar do texto da lei afirmar que a gestão dos recursos deveria ser descentralizado e participativo, uma forte tendência centralizadora e burocrática, onde não vislumbrava a possibilidade de participação da comunidade local na discussão e elaboração do estatuto do Comitê de Bacia Hidrográfica do Curu, bem como definia uma data a curto prazo para a sua implantação, desconhecendo ou minimizando a dinâmica social e organizacional daquela bacia. O referido comitê só veio a ser instalado em outubro de 1997.

Na evolução institucional no setor de recursos hídricos no Ceará, o marco do processo de operacionalização da gestão participativa pode ser definido a partir da criação da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos – COGERH, pela Lei Estadual no 12.217, de 18 de novembro de 1993. Com a criação da COGERH teve início o trabalho de mobilização e apoio a organização dos(as) usuários(as) de água para a participação na gestão dos recursos hídricos.

Para a operacionalização da Política Estadual de Recursos Hídricos, que passa pelo planejamento, administração e regulamentação, o SIGERH, definiu o Sistema de

Gestão, que é composto de um órgão gestor, a SRH, e suas vinculadas (FUNCEME,

SOHIDRA, COGERH45), que executam as funções de gestão que forem delegadas pelo órgão gestor.

A FUNCEME - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, é uma

fundação pública de direito privado, criada em 1972, sob a denominação Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais, vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Em 1987, a FUNCEME teve seu nome modificado para Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, passando a ser vinculada à SRH. Em 1988, a FUNCEME absorveu parte das atividades da extinta Superintendência de Desenvolvimento do Ceará – SUDEC. Em 1993, passou a integrar a estrutura da nova Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ceará - SECITECE. Em 1997, a FUNCEME volta a fazer parte da SRH. O retorno da FUNCEME para a SRH deveu-se à observância de que a Fundação deveria destinar-se a subsidiar as demandas da SRH, relacionadas a implantação do SIGERH.

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A Lei 11.996, como é anterior a criação da COGERH, não previa sua participação no Sistema de Gestão, obviamente após sua criação em 1993, foi incorporada ao referido sistema.

Os objetivos da FUNCEME hoje estão voltados para o desenvolvimento de tecnologias, pesquisas aplicadas e para a criação, manutenção e constante expansão de banco de dados, gerando todo um conjunto de informações meteorológicas, climatológicas, geográficas, ambientais, hidrográficas e sobre a cobertura vegetal e solos do Estado do Ceará. Para tanto, desenvolve levantamentos e pesquisas em três áreas de atuação: Meteorologia, Recursos Hídricos e Recursos Ambientais.

A SOHIDRA – Superintendência de Obras Hidráulicas, é uma autarquia, criada

em 1987, que incorporou parte da SOEC, da Companhia de Desenvolvimento Agropecuário – CODAGRO e parte da SUDEC. Apresenta entre as suas atribuições, de acordo com sua lei de criação: coleta e organização de informações com vistas ao balanço hídricos; execução de estudos e projetos objetivando o aproveitamento de águas subterrâneas e superficiais; execução de obras e serviços de engenharia hidráulica; gerenciamento de sistemas e aproveitamento sócio-econômicos das áreas de influência das bacias hidráulicas públicas; estudos, projetos e implantação de sistemas de irrigação estaduais. A SOHIDRA teve historicamente um papel importante na implantação e acompanhamento dos perímetros irrigados construídos pelo Estado do Ceará, bem como no incentivo da irrigação nas bacias dos açudes públicos a partir da distribuição de sistemas de irrigação. Atualmente a SOHIDRA é responsável pelo acompanhamento das obras de açudes e adutoras que são construídos pelas firmas contratadas pela SRH, pela locação e construção de poços para obtenção de água subterrânea e a instalação de dessalinizadores. Atualmente a SOHIDRA atua na construção de açudes, adutoras e sistemas de irrigação, e após a construção essas obras são repassadas respectivamente a COGERH, CAGECE e a SEAGRI (Secretaria Estadual de Agricultura Irrigada), para que sejam gerenciadas. É importante acrescentar que todos os perímetros públicos construídos pela SOHIDRA, foram repassados para a SEAGRI.

A COGERH – Companhia de Gestão de Recursos Hídricos, criada em 1993, é

uma empresa da Administração Pública Indireta, dotada de personalidade jurídica própria, organizada em forma de sociedade anônima. Tem a finalidade de gerenciar a oferta dos recursos hídricos constantes dos corpos d’água superficiais e subterrâneos de domínio do Estado, visando equacionar as questões referentes ao seu aproveitamento e

controle. É responsável pela gestão da água bruta46 em todo o Ceará. Entre as ações que a COGERH desenvolve, podemos citar: monitoramento dos recursos hídricos; formação e assessoramento dos comitês de bacia hidrográfica; operação e manutenção dos açudes estaduais; estudos relacionados a gestão de recursos hídricos; cobrança pelo uso dos recursos hídricos; etc.

Entre as várias atribuições da COGERH, destaca-se a operacionalização da gestão participativa dos recursos hídricos, através da definição participativa da operação dos reservatórios públicos e a formação dos comitês de bacias hidrográficas. Até o ano de 2004, foram instalados os comitês das seguintes bacias: Curu, Baixo Jaguaribe, Médio Jaguaribe, Alto Jaguaribe, Salgado, Banabuiú e Metropolitanas.

Em 1996, a COGERH assumiu o sistema que fornece água para a região metropolitana de Fortaleza, incluindo os açudes, o Canal do Trabalhador e estações de bombeamento e ainda o sistema de distribuição de água bruta para o distrito industrial de Maracanaú. Todo esse sistema era gerenciado pela CAGECE, todavia como a atribuição de gerenciar a água bruta é da COGERH, o Governo do Ceará estabeleceu um acordo onde a COGERH passaria a gerenciar o sistema metropolitano e a CAGECE passaria a pagar pela quantidade de água utilizada na sua estação de tratamento. Com esse acordo a CAGECE passa a se preocupar com as suas efetivas atribuições que é o tratamento e distribuição da água nos assentamentos urbanos.

A criação da COGERH, resultou em algumas superposição de atribuições, pois a mesma não estava prevista na Lei Estadual de Recursos Hídricos de 1992. Essa situação deve ter provocado alguns conflitos institucionais que tiveram de ser negociados e acomodados no decorrer do processo de gestão dos recursos hídricos nos últimos anos.

A atual legislação estadual não apresenta a figura da Agência, mas com a promulgação da Lei Federal, é provável que seja necessário uma revisão da Lei Estadual dos Recursos Hídricos. Atualmente está tramitando na Assembléia Legislativa um Projeto de Lei de reforma da Legislação Estadual de Recursos Hídricos.

A Lei Nacional de Recursos Hídricos, cria a figura das Agências de Água, estabelecendo que esta deverá exercer a função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês, tendo como principais atribuições: manter balanço atualizado da

46 Água bruta é a denominação das águas presentes nos rios, açudes, lagoas, etc, que não recebem nenhum tipo de tratamento para

serem utilizadas pelos usuários. No caso da água utilizada para abastecimento humano é necessária um tratamento prévio e por isso é denominada de água tratada.

disponibilidade de recursos hídricos em sua área de atuação; manter o cadastro de usuários(as) de água; efetuar, mediante delegação dos(as) outorgantes, a cobrança pelo uso da água; gerir o Sistema de Informação sobre recursos hídricos em sua área de atuação; promover os estudos necessários para a gestão da água; elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação dos respectivos Comitês.

Dado que a Legislação de Recursos Hídricos do Ceará não estabelece a figura da agência e bacia, a COGERH vem ocupando essa lacuna, na prática, como se fosse uma agência estadual, uma vez que realiza várias atribuições que seriam pertinente a uma agência de água, tais como: a cobrança pelo uso da água; o papel de secretaria executiva nos Comitês; realiza os estudos e dar apoio técnico para a tomada de decisão para a operação dos sistemas hídricos, etc.

No caso do Ceará, é pouco provável que as bacias existentes tenham condições econômicas de implantar agências de água, nos moldes em que estabelece a Lei Nacional de Recursos Hídricos. Com isso, é necessário definir uma forma de resolver este impasse, pois a figura da agência, é de extrema importância para o comitê, enquanto órgão de apoio e executor das suas deliberações.

O Sistema Estadual de Recursos Hídricos, conforme está descrito nesta pesquisa, composto pela SRH, COGERH, SOHIDRA e FUNCEME, foi modificado pela reforma administrativa realizada pelo atual governo em janeiro de 2003. Nessa reforma, a FUNCEME passou para a Secretaria de Ciência e Tecnologia, e estava previsto a extinção da SOHIDRA, cuja funções e funcionários(as) seriam absorvidos pela COGERH. No entanto, a extinção da SOHIDRA não se concretizou, ficando o Sistema Estadual de Recursos Hídricos composto pela SRH, COGERH e SOHIDRA.