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PROÁGUA programa nacional de desenvolvimento de recursos

5.3 O plano “águas do Ceará” e os principais programas

5.3.4 PROÁGUA programa nacional de desenvolvimento de recursos

Outras ações no Ceará, no setor de recursos hídricos, são ainda realizadas através do Programa Nacional de Desenvolvimento de Recursos Hídricos - o PROÁGUA. Um Programa do Governo Federal, iniciado em 1996 e efetivado em 1998, que prevê investimentos da ordem de US$ 2,15 bilhões até o ano 2001, resultante de um empréstimo junto ao Banco Mundial.

O PROÁGUA tem como objetivos: Assegurar a ampliação da oferta de água de boa qualidade em todo o território nacional, promovendo o uso racional dos recursos hídricos, disponibilizados de tal forma que a escassez relativa de água deixe de representar obstáculos ao desenvolvimento econômico e social do país; Atender as demandas por água de boa qualidade, de modo a assegurar o desenvolvimento sócio- econômico do país, em bases sustentáveis, e consolidar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; e Dotar o Semi-Árido de água para consumo humano e para a produção, conclusão de obras inacabadas e prioritárias, tais como barragens, açudes e adutoras , bem como promover o fortalecimento institucional nacional, com o objetivo da melhoria do gerenciamento dos recursos hídricos.

O Programa vem sendo conduzido em dois diferentes contextos:

PROÁGUA NACIONAL: compreende a realização de inversões da ordem de US$ 1,82 bilhão, a serem utilizados em programas, atividades e projetos incluídos no Orçamento Geral da União, vinculados à oferta de água para o consumo humano e ao desenvolvimento do uso sustentado dos recursos hídricos.

PROÁGUA SEMI-ÁRIDO: contempla especificamente as ações orientadas para o uso sustentável dos recursos hídricos do Semi-Árido brasileiro, com prioridade para a região Nordeste, onde prevê-se a realização de investimentos da ordem de US$ 330 milhões na primeira etapa e US$ 670 milhões, numa segunda etapa, a partir de 2001

52 Item adaptado de: Brasil (2002) e SRH (2002b).

O PROÁGUA SEMI-ÁRIDO tem o objetivo geral de garantir a ampliação da oferta de água de boa qualidade para o Semi-Árido brasileiro, com a promoção do uso racional desse recurso de tal modo que sua escassez relativa não continue a constituir impedimento ao desenvolvimento sustentável da região.

E seus objetivos específicos são: Promover o uso racional e sustentável dos recursos hídricos, com ênfase na gerência participativa; Prover com água a unidade doméstica, de forma confiável e sustentável, com prioridade para o abastecimento de áreas rurais com alta concentração de famílias de baixa renda; e Estabelecer, de forma sustentável, um processo de administração, operação e manutenção das infra-estruturas de abastecimento de água.

As ações desse programa estão previstas em três componentes: 1 - GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS – objetiva buscar o desenvolvimento institucional dos sistemas de recursos hídricos estaduais e o aperfeiçoamento das bases técnicas para a gestão dos recursos hídricos. Compreendendo: a) estruturação dos Órgãos gestores; b)implantação de sistema de outorga e cobrança; c) capacitação de recursos humanos; d) ações de comunicação, educação e gestão participativa; e) instalação de redes de monitoramento hidrometeorológicas e de qualidade de água; f) implantação de sistemas de informação de recursos hídricos. 2 - ESTUDOS E PROJETOS. Compreendendo: a) planos de bacias hidrográficas; b) planos de recuperação e manutenção da infra- estrutura hídrica; c) estudos de disponibilidade hídrica; d) estudo de viabilidade de obras elegíveis; 3 - GESTÃO DO RIO SÃO FRANCISCO – Objetiva implementar um novo modelo de gestão para a bacia do Rio São Francisco, suportado num Plano de Gestão de Recursos Hídricos, que inclui a organização da base de dados existente, de forma a permitir a sua utilização por todos os setores interessados; e) OBRAS PRIORITÁRIAS – Compreende: a) construção de açudes que se destinem predominantemente ao abastecimento humano; b) construção de adutoras; c) construção de estações de tratamento de água; d) construção de sistemas simplificados de abastecimento de água; e) implementação de sistemas de captação de água subterrânea (poços).

Este Programa é bastante interessante para o Estado do Ceará, pois os custos são pequenos. O empréstimo junto a Banco Mundial deverá ser pago pela união e a contrapartida do Estado representa apenas 20% do valor de cada obra ou estudo elegível. Os recursos para as intervenções previstas no Programa será dividido da

seguinte forma: 60% oriundo do empréstimo do Banco Mundial, 20% de contrapartida da União e 20% de contrapartida dos Estados.

Outra característica do PROÁGUA é que os recursos são direcionados e liberados aos estados na medida em que os mesmos enviam projetos para aprovação pela Unidade de Gestão do Programa, em Brasília.

Atualmente o Ceará já conseguiu a aprovação de projetos que totalizam um montante de R$ 118.869.575,99 (Cento e dezoito milhões, oitocentos e sessenta e nove mil, quinhentos e setenta e cinco reais e noventa e nove centavos), podendo até o final do PROÁGUA obter a aprovação de mais recursos (SRH, 2002b).

No Ceará, as ações desenvolvidas pelo PROÁGUA mais significativas foram: a realização de cursos de capacitação em diversas áreas; a contratação do cadastro de usuários de água bruta nas bacias do Alto Jaguaribe, Metropolitanas, Salgado e Acaraú; e a construção de açudes e adutoras.

Em relação aos açudes já existe a aprovação para a construção do açude Arneiroz II e uma relação de mais 04 açudes pré-selecionados. Como pode ser visto na Tabela 8.

Tabela 8 - Açudes pré-selecionados para o PROÁGUA.

Açude Localização Volume acumulado

(milhões de m³)

Situação atual

01 Arneiroz II Arneiroz 161,00 Em execução

02 Taquara Cariré 279,00 Planejada

03 Figueiredo Iracema, Potiretama e Alto Santo 500,00 Planejada

04 Paulo Apuiarés/Tejuçuoca 15,40 Planejada

05 Melancia São Luís do Curu 18,10 Planejada

TOTAL 973,50

Fonte: SRH (2002b)

Pelo PROÁGUA já foram construídas 07 adutoras, conforme pode ser visto na Tabela 9, e outras 06 estão planejadas e já aprovadas pelo Programa.

Tabela 9 - Adutoras construídas pelo PROÁGUA.

Adutora Município Fonte hídrica Extensão (km) Ano de

execução

01 Cascavel Cascavel Rio Choró 8,84 2000

02 Tauá Tauá Açude Trici 19,60 1999

03 Icó Icó Açude Lima Campos 12,00 2001

04 Iguatu Iguatu Açude Trussu 20,00 2001

05 Baturité/Aracoaiaba Aracoiaba Açude Aracoiaba 24,84 2002

06 Chav al/Barroquinha Chaval Açude Itaúna 33,87 2002

07 São Gonçalo do

Amarante/Umarituba

São Gonçalo do Amarante

Canal Sítios Novos 18,41 2002

08 Senador Catunda Catunda Açude Carmina 2,00 2002

09 Lavras da Mangabeira /Quintaúis

Lavras da

Mangabeira

Açude Rosário 25,86 Planejada

10 Pires Ferreira Pires Ferreira Adutora do Ipu 15,60 Planejada

11 Catarina Catarina Açude Rivaldo de

Carvalho

20,88 Planejada 12 Serra do Félix/Boqueirão

do Cesário

Beberibe Canal do Trabalhador 19,50 Planejada 13 Ibiapaba (ampliação) Ubajara, Viçosa,

Ibiapina e São Benedito

Açude Jaburu I 149,72 Planejada

Total 371,12

Fonte: SRH (2002b).

O PROÁGUA tem resultado em intervenções importantes para o Ceará, todavia não tem cumprido totalmente os seus objetivos, pelo menos no que diz respeito ao objetivo específico de dar “ênfase na gerência participativa”, pois as definições de quais obras devem ser realizadas não tem contado com a participação da comunidade ou dos comitês de bacias. Outro aspecto verificado é que as adutoras construídas até o momento foram basicamente para o atendimento de sedes municipais não sendo dada “prioridade para o abastecimento de áreas rurais com alta concentração de famílias de baixa renda” como estabelece outro objetivo específico.

Além desses programas de financiamento externo, o Estado do Ceará tem construído adutoras para o atendimento de distritos e algumas sedes municipais utilizando recursos próprios. São as chamadas “Adutoras do Sertão”. No período de 1995 a 2001, foram construídas 301,67 km de adutoras, atendendo 68 comunidades. Além das adutoras, foram construídos açudes de médio e pequeno porte, utilizando recursos próprios, chamados de “açudes regionais”. No período de 1987 a 2000, foram construídas 38 “açudes regionais”, totalizado um volume acumulado de853 milhões de metros cúbicos de água (SRH, 1999b).

Essas intervenções promovidas pelo Estado do Ceará vão além de propiciar o aumento da oferta de água para a população, na realidade tem o objetivo de criar condições de infra-estrutura para o movimento de expansão do capital e sua respectiva acumulação, hegemonizado pelo capital industrial, na medida que tem o objetivo claramente perceptível de aumentar a garantia de água para a Região Metropolitana de Fortaleza, centro industrial mais importante do Ceará, com a construção do eixo de integração Castanhão-Região Metropolitana de Fortaleza. Bem como a ênfase em aumentar a garantia de abastecimento de água das sedes municipais.

Um dos fundamentos da concentração urbana é a possibilidade de uma socialização capitalista das condições de produção, reduzindo relativamente os custos de produção (Moraes e Costa, 1999).

Sobre o resultado dessas intervenções no setor de recursos hídricos, Bezerra, (1999, p. 97), afirma que,

“essas intervenções, aliadas a outras políticas públicas, mesmo que se reconheçam, de antemão, as suas limitações e os principais beneficiados, se de fato forem concretizadas, contribuirão para desenhar um novo mapa das águas no Ceará. As possibilidades e os limites da democratização do uso desse recurso pelo conjunto da população, efetivamente, não estão circunscritas apenas na política e na gestão dos recursos hídricos, mas nas orientações que dizem respeito à gestão do território, que inclui condicionantes técnicos, políticos, econômicos e culturais estabelecidos pela relação com o lugar.”

O Estado ao alocar a infra-estrutura e os investimentos público no setor de recursos hídricos, começa a desenhar um novo “mapa das águas” no Ceará, e essa situação repercute na valorização do espaço e tudo o que ele contém, o que interfere não apenas na gestão dos recursos hídricos, mas na gestão do território. Por isso essas intervenções deveriam ser realizadas de forma participativa, a partir de uma discussão com a sociedade sobre o processo de desenvolvimento de cada lugar.

O que verifica-se, entretanto, é que todos os açudes e adutoras construídos pelos programas acima citados, no âmbito da Política Estadual dos Recursos Hídricos, não passaram por nenhuma forma de discussão com a sociedade. Todas a decisões acerca das obras foram centralizadas na SRH. Nem mesmo os órgãos colegiados previstos no SIGERH: o CONERH e os Comitês de Bacia Hidrográficas, participaram das decisões sobre essas intervenções.

A situação parece ser mais complicada, quando analisadas as atas das reuniões ordinárias e extraordinárias do CONERH, que deveria ser o órgão decisório máximo do SIGERH, verifica-se que não há registro de informações, análises, pareceres ou deliberações sobre os programas citados anteriormente. A maior parte dos assuntos tratados estavam relacionados a tarifa de água bruta, organização e funcionamento de Comitês de Bacias e sobre situação dos recursos hídricos no Estado. Verificamos ainda que, segundo informações colhidas junto a técnicos do sistema de recursos hídricos, o COMIRH, que deveria ser um órgão de assessoramento técnico, ao CONERH, não chegou sequer a ser instalado.

Não obstante, a Política Estadual dos Recursos Hídricos estabelece como princípios fundamentais que a gestão dos recursos hídricos deve ser integrada, descentralizada e participativa sem dissociação dos aspectos qualitativos e quantitativos.

06 AS GESTÃO PARTICIPATIVA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO CURU