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O surgimento da relação entre o indivíduo e o soberano

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165 Referências bibliográficas

NACIONALIDADE E CIRCULAÇÃO DE PESSOAS PELO MUNDO BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS

1. O surgimento da relação entre o indivíduo e o soberano

NACIONALIDADE E CIRCULAÇÃO DE PESSOAS PELO MUNDO BREVES APONTAMENTOS HISTÓRICOS

ANTONIO JOSÉ IATAROLA4 LUÍS RENATO VEDOVATO5

Go west, life is peaceful there. Go west, lots of open air. Go west to begin life new. Go west, this is what we'll do. Go west, sun in winter time. Go west, we will do just fine. Go west where the skies are blue . Go west, this and more we'll do.

Go West – Village People

1. O surgimento da relação entre o indivíduo e o soberano

A sensação de que haverá um outro lugar para onde ir, uma Pasárgada, um Eldorado, uma Canaã, ou, até mesmo, uma San Francisco, para o movimento homossexual das décadas de 60 e 70, nos EUA, acompanha a humanidade desde o seu surgimento. No entanto, a total ocupação do globo, a superpopulação e a necessidade de se garantirem formas de tributação e de garantia de direitos sociais impedem que a circulação pelo mundo seja como já foi, sem amarras e com limites exclusivamente ligados à mortalidade e aos poucos avanços tecnológicos em transportes. O ser humano ainda continua a tentar circular, mas, ao mesmo tempo que a vinculação do indivíduo a um Estado trouxe vantagens, pois ganhou proteções que antes não tinha, também limitou o indivíduo às fronteiras da nação. É nesse contexto que se pensou o presente artigo.

Há dois objetivos nesse trabalho, primeiro, busca-se identificar a vocação do ser humano a migrar e, posteriormente, construir a relação desse com um soberano, pelo vínculo de nacionalidade. A povoação completa do planeta já bastaria para identificar a vocação para migração, porém, quer-se deixar claro que houve, na história, vários motivos que incentivaram a circulação de pessoas pelo mundo. Aos poucos, no entanto, o indivíduo começa a se vincular a soberanos. Tal vinculação altera, aparentemente, as razões pelas quais as pessoas passam a singrar o globo.

Na pré-história, é fácil encontrar informações6 que dão conta de que o ser humano era nômade e, certamente, ainda guarda alguns elementos que afloram essa característica até hoje. De forma a evidenciar

4 Mestre em Direito Internacional pela Universidade Metodista de Piracicaba, professor de Direito Internacional da Universidade Paulista (UNIP), dos campi de Campinas e Limeira e professor de Direito Internacional da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), advogado e consultor de empresas pela A.R. Boaretto Advogados Associados. E-mail: iatarola@hotmail.com

5Mestre e Doutorando em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo 6 Entre os vários autores sobre história da humanidade, pode ser citado McNall Burns (BURNS, 1968, p 39).

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mais a sua característica nômade, no início, os seres humanos migraram e se uniram uns com os outros. A primeira grande atividade de migração que se tem notícia aconteceu há cerca de cem mil anos. Tal movimentação levou seres humanos da África para o oriente próximo, época em que se espalharam pela Europa e Ásia (POMEROY et al., 2007, p 55).

As fronteiras, portanto, foram criadas, aparentemente, contra a natureza humana que, desde os primórdios, testemunhou pessoas errando por todo o planeta (BOMMES; GEDDES, 2001, p 39). Nesse sentido, a era do gelo contribuiu com a facilidade de circulação, tendo em vista a criação de passagens antes inexistentes pelos rios, mares e oceanos, permitindo que as massas de pessoas singrassem os continentes, fazendo com que elas chegassem à Oceania, por volta do ano de 60.000 a.C., e à América do Norte, aproximadamente no ano 14.000 a.C (ACKERMANN et al., 2008, p 98).

O ancestral comum, identificado na África por análise de rastreamento de DNA, demonstra que os seres humanos surgiram com a vocação de migração pelo globo, o que não acaba com a pré-história (GREENWOOD; HUNT, 2003). A sede por conhecer e viajar pelo mundo acompanha a humanidade também nos primórdios da civilização, o que permite a troca de experiências entre as várias tribos, percebendo-se a existência de soluções parecidas para problemas parecidos em regiões diferentes.

Em adição à troca de mercadorias entre as cidades antigas da Mesopotâmia, do Egito, da Índia e da China, havia circulação de pessoas e tribos que impactaram a distribuição de poder e desenvolvimento dessas regiões. Por volta de 1600 a.C, uma importante movimentação migratória, que levou à expansão indo-europeia, é merecedora de destaque, pois, por razões desconhecidas, pessoas se deslocaram por várias direções, talvez por conta da vocação humana para circular pelo mundo, trocando suas regiões de origem para viverem em outras partes do planeta (GOZZI, 2007).

Além do comércio, as migrações trouxeram melhoras na produção de alimentos e introduziram novas formas de relacionamento com a alimentação pela Europa, Ásia e África. A banana chegou, vinda da Indonésia, à África subsaariana, incrementando a produção alimentícia na região, o que permitiu o surgimento de cidades-Estado, por volta de 350 a.C, na Nigéria. Em geral, como dito, a disseminação dos alimentos e de novas formas de cultivo está ligada à movimentação de pessoas pelo mundo.

Na Grécia Antiga, a expansão econômica levou os gregos a se movimentarem por todo o Mediterrâneo, chegando ao Mar Negro. A migração também é identificada como fator determinante para a disseminação da religião Hindu, até 1700 a.C. Na China, a partir da dinastia Han, nos anos 200 d.C., é possível verificar grandes fluxos migratórios internos (GOZZI, 2007).

Sobre o Oriente Médio, embora a região tenha passado por muitos momentos diferentes durante sua evolução, foram as migrações, em última análise, que definiram o cenário da grande rivalidade da Mesopotâmia por 1.500 anos, travada entre a Assíria e a Babilônia, que foram grandes centros de comércio. As migrações permitiram a troca de informações e o acirramento das disputas entre os dois lados (ACKERMANN et al., 2008, p 150).

Outras evidências indicam que houve migrações do sul da Ásia, do sul da África e da Europa, possivelmente, em direção às Américas, no período que antecedeu a ascensão dos Francos, no continente europeu. Houve também possivelmente migrações de europeus para as Américas na era pré-Clovis. Existindo indícios, como o caso do Kennewick Man, nos EUA, datados desse período, que não foram identificados como de índios, mas de caucasianos (GREENWOOD; HUNT, 2003).

Menos estudado, fora do Brasil, o caso referente ao esqueleto apelidado de ―Luzia‖, que data de cerca de 10.000 a.C., encontrado no país, carrega elementos que demonstram a existência de fluxos migratórios pelo mundo. Nele são identificáveis traços de pessoas que viviam na África ou no sul da Ásia. Outros estudos respeitáveis fornecem provas da estreita afinidade anatômica entre os ameríndios na península da baixa Califórnia e as populações do sul do Pacífico (GREENWOOD; HUNT, 2003).

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Os obstáculos mais significativos para novos avanços neste campo incluem dificuldades em analisar os fósseis, pois, segundo muitos, há uma longa história de maus-tratos na rotina de desenterrar restos humanos por antropólogos e arqueólogos, bem como ao bem-estar espiritual das comunidades indígenas.

No outro lado do Atlântico, até o final da Idade Média, as migrações, em especial dos dórios, tinham mudado o panorama demográfico da Grécia. A partir da população de um grande império até o menor número de indivíduos, habitantes de pequenas unidades políticas, os dórios não vieram como uma migração em massa, mas em pequenos grupos.

Outro caso interessante é o do povo Yuezhi. Formado por nômades de pele clara de origem caucasiana que viviam no noroeste da China. Pode-se dizer que eles eram parte de uma grande migração de povos indo-europeus, que se instalou no noroeste da China (BENJAMIN, 2007, p 34).

Segundo Colin Renfrew (RENFREW, 2008, p 75), os povos indo-europeus da Anatólia central e oriental, em meados do oitavo milênio a.C., passaram a se distribuir em dez linhas de difusão de indo-europeus para territórios próximos ou remotos, o que inclui a região de estepes do Mar Negro. Tais dispersões foram necessárias para que fossem garantidos recursos para o modo de vida agrícola existente à época.

Segundo Igor Diakonov (DIAKONOV, 1986, p 147) (DIAKONOV, 1984, p 130), as terras de origem dos indo-europeus são as regiões dos Balcãs e Cárpatos, e seus ancestrais poderiam ter vindo da Ásia Menor com animais domésticos e plantas, por volta de 5000 a 4000 a.C.

A vocação humana pela migração está presente, inclusive, na cultura Jomon do Japão, que foi desenvolvida por uma sociedade que utilizava a cerâmica durante o período Neolítico ou Mesolítico e que floresceu no período de 10.500 a 10.300 a.C. A cerâmica Jomons foi, provavelmente, a primeira produzida no mundo, possuindo um estilo particularmente inovador e vibrante (HOBSON, 1914, p 210).

Algumas das tribos indígenas das Américas possuem, sobre a sua criação, histórias que dizem que teriam nascido diretamente da sua terra natal. Porém, muitos deles falam de um longo movimento de migração. Nas histórias, as pessoas surgem e viajam uma grande distância até a sua pátria. Algumas tribos misturam viagens ou criações. As lendas da tribo de San Juan Tewa, do Novo México, dizem sobre seres humanos que vivem na primeira Sipofene, um mundo escuro debaixo de um lago distante para o norte, havendo indicação de que um homem foi guiado e veio a viajar para o mundo acima do lago, onde finalmente obtém os dons que lhe permitem viver no mundo terrestre (ACKERMANN et al., 2008, p 440).

A tribo Potawatomi, do sul dos Grandes Lagos, é um outro exemplo da presença da migração na formação do povo americano. Os Potawatomis são culturalmente, politicamente e linguisticamente ligados às tribos Ojibwa e Odawa, grupos de pessoas que se fixaram no norte dos Grandes Lagos. Além disso, é possível encontrar muitas histórias dos Potawatomis relativas à grande migração dos Ojibwa do litoral do Atlântico até os Grandes Lagos (EVANS, 2007).

As histórias da criação do povo Potawatomi também relatam a existência do povo que teria surgido do Rio St. Joseph, a sudoeste do Lago Michigan. Histórias da criação indicam uma jornada de grande distância para chegar até a terra que depois passou a ser chamada de terra natal dessa tribo. O objetivo era sempre chegar a uma chamada pátria diferente. Alguns imigrantes europeus e colonos especulavam que os nativos americanos eram as tribos perdidas de Israel, citadas na Bíblia. O missionário jesuíta José de Acosta (ACOSTA, 2002, p 279), no final do Século XVI, propôs a teoria de que os nativos americanos viajaram da Ásia, perseguindo as grandes manadas de animais que caçavam.

Evidências mais contemporâneas apontam para uma migração dos povos americanos nativos a partir da Ásia, vindos do nordeste da Sibéria para o Alasca em período entre 25.000 a 11.000 anos atrás. Havendo ainda dúvidas se houve apenas uma migração por um único grupo de pessoas ou migrações diferentes por grupos diferentes. O registro geológico aponta para uma idade de gelo que ocorreu a partir de 40.000 a 11.000 anos atrás. Dessa forma, o congelamento da água teria resultado em uma queda do nível dos oceanos, o que propiciou a passagem entre o Alasca e a Sibéria atualmente separados. Estudos de registros

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fósseis indicam que este tipo de migração ocorreu também entre os animais de pastoreio grande (EVANS, 2007).

A cultura dos americanos nativos não era estática e foi alvo de mudanças culturais, mesmo antes do contato europeu. Mas, por volta de 1500, uma transformação radical começou resultante da imigração a partir do Velho Mundo.

O declínio do império tardio deve ser creditado, em grande medida, às lutas internas dos militares, enquanto as instituições civis (como a do Senado e a do cônsul) perdiam suas funções e sua influência. Ao mesmo tempo, os hunos, nômades cuja existência nunca tinha sido identificada antes na história romana, empurraram os godos assustados para o sul, fazendo com que milhares de refugiados famintos, fugindo de um inimigo, alcançassem as margens do Danúbio e fossem buscar sua aceitação dentro das fronteiras romanas. Como se vê, pouco há de diferença para o que acontece hoje com pessoas vindas de locais de conflito, como o Curdistão7 ou a Palestina.

Na época, os líderes romanos, na tentativa de conter os avanços inimigos, viram que a aceitação dos godos poderia ser uma saída interessante. A eles, que entrariam desesperadamente no território romano, seriam distribuídas terras menos férteis, além disso, muitos deles serviriam ao Exército, o que permitira dispensar um número igual de cidadãos romanos do serviço militar. Dessa forma, segundo relatos (ACKERMANN et al., 2008, p. 460), eles foram transportados pelo rio e os oficiais de imigração tentaram listar seus nomes a fim de planejar a sua reinstalação. Mas o grande número de refugiados e da confusão era tão grande que os romanos perceberam a inutilidade de tal operação.

Na Europa, as invasões e o caos que contribuíram para o fim do Império Romano continuaram nas tribos germânicas, magiares e vikings que invadiram, conquistaram e se estabeleceram. A maior parte da população era formada por servos, que eram obrigados a permanecer na terra em que trabalhavam, vivendo em aldeias em torno de um sobrado. Nesse período, a migração foi dificultada, ficando restrita àqueles que eram expulsos de seus feudos originais. De toda sorte, ainda é possível identificar a presença de elementos comuns nos vários feudos, o que denota a existência de alguma forma de troca de informações.

A partir desse momento, é possível identificar uma forte ligação do indivíduo com a terra, o que pode ser tido como o início da vinculação ao soberano ((DAVENPORT, 2007, p 49). Conforme Bloch (BLOCH, 1989, p 28), o direito costumeiro que acompanhava o indivíduo por todos os lugares, além de demonstrar o surgimento de rudimentos do estatuto pessoal – do direito internacional privado –, também pode denotar a imposição de limites de circulação aos indivíduos, de uma maneira mais clara, pois esses limites já tiveram sua construção iniciada em Roma, como se viu nos problemas nascidos da tentativa de cruzar as fronteiras pelos godos.

Ou, ainda, pela diferenciação de normas postas, nos casos de presença de estrangeiros na relação jurídica8. Também nas cidades-Estado gregas9 a ligação do indivíduo com limites espaciais é identificada, segundo Pomeroy et al. (POMEROY et al., 2007, p 85), porém, a rigidez é identificada com maior clareza no período feudal. Com a Paz de Westphalia10, já se concretizavam as relações modernas entre indivíduos e Estados, o que foi depois objeto de estudo para, principalmente, os contratualistas.

2 Os grandes movimentos migratórios a partir do século XIX e a vinculação com o Estado

7 Sobre o tema migração, é intrigante a visão trazida pelo filme francês Welcome (LIORET, 2010). 8 É o que se percebe com a diferenciação entre jus civile e jus gentium.

9 Vale conferir (PINSKY, 2003, p 31), que demonstra se tratar de ―uma história localizada, regional. Entre os séculos IX e VII a. C. às costas do Mediterrâneo eram apenas o que poderíamos definir como uma área periférica, pouco desenvolvida, que sofria a influência dos grandes Impérios estabelecidos nos vales fluviais de sua porção oriental, o chamado Oriente Médio.‖

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A aversão ao outro, identificado como aquele que não defende os mesmos ideais do povo que o julga, pode ser interpretada como repúdio à cultura, à religião e ao modo de vida de um grupo de indivíduos por outro. As Cruzadas, que, no Medievo, buscaram libertar a Terra Santa da ocupação por outra cultura, mostram o afloramento da incompatibilidade entre as pessoas de religiões diferentes. Nada muito diferente do que se pode verificar no embate travado em 2009 nas urnas da Suíça sobre os minaretes islâmicos que tiveram sua instalação proibida no país.

Em alguns países, essa repulsa é identificada como direcionada aos próprios nacionais, porém vindos de regiões diferentes ou difusores de outras religiões. É o que se identifica no Brasil, quando da vinda de pessoas do nordeste para os centros mais desenvolvidos do sudeste e do sul ou, no mundo ocidental como um todo, quando se passa a visualizar o fluxo de pessoas do campo para as cidades, como sucede na Europa11, e que também acontece no Brasil.

Citando a obra de Luchino Visconti (Rocco e seus Irmãos, de 1960), Judt (2006, p. 324) sintetiza a sensação que se tem sobre esse outro que passa a fazer parte do dia a dia dos indivíduos, da seguinte forma:

Look at these people! Primitives! Where do they come from? Lucania.

Where‟s that?

Down at the bottom! (VISCONTI apud JUDT, 2006, p. 324).

É nesse cenário que se pode perceber a construção da relação do nacional com o estrangeiro, ou simplesmente a que se ergue com o vindo de outra parte. É, em suma, a nova configuração da construção do outro (BENHABIB, 2004, p 71).

Construção que ganha o elemento econômico como fundamental, pois, ao contrário do que acontecia até a Revolução Industrial, período em que as ligações culturais e religiosas podiam ser tidas como essenciais para a identificação daquele que não poderia ser tido como igual, com o advento da produção industrial, com sério aprofundamento a partir da década de 70 do século XX e reforço no pós Guerra Fria12, a configuração do outro é feita pela variante econômica. Pode-se perguntar se isso não acontecia em períodos anteriores. E a resposta seria positiva, pois, aliás, aconteceu sempre, porém, a proximidade entre os povos e as facilidades de circulação, incrementadas a partir do século XVIII, aprofundaram tal sentimento.

No período da história do mundo compreendido entre 1750 e 1900, são identificadas revoluções militares e sociais. Embora mais facilmente identificadas no mundo ocidental, outras grandes sociedades também enfrentaram mudanças importantes, levando a alterações nas relações entre governantes e indivíduos. É sensível, também, um processo de globalização, encabeçada pelo imperialismo e as migrações que se sucederam dentro e entre os vários Estados, desencadeando novas interações políticas e sociais13.

Os movimentos que levaram à Independência Americana ajudaram a trazer o início do fim à fase do colonialismo europeu que começou com a expansão da Espanha do século XVI para o Novo Mundo. Os EUA inspiraram os movimentos de independência na América Central e do Sul, levando também a autonomia para o Canadá. Na Europa, as ideias republicanas expostas nos Estados Unidos ajudaram na Revolução de 1789, desencadeando a Constituição, que iria produzir o liberalismo, o socialismo e, até mesmo, indícios do comunismo no século XIX. A Revolução Francesa marcou o começo do fim do poder

11 Vale a leitura de (JUDT, 2006, p 327), que descreve esse fluxo nos seguintes termos: ―In the course of next thirty years vast numbers of Europeans abandoned the land and took up work in towns and cities, with the greatest changes taking place during the 1960s. By 1977, just 16 percent of employed Italians worked on the land; in the Emilia-Romagna region of the northeast, the share of the active population engaged in agriculture dropped precipitately, from 52 percent in 1951 to just 20 percent in 1971.

12 Para uma interessante e profunda análise da Guerra Fria (GADDIS, 2006, p 5).

13 Relevante a contribuição de Eric Hobsbawm (J.HOBSBAWM, 1979, p 37) e de suas ―Eras‖ para o entendimento do período.

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monárquico na França, Grã-Bretanha, e em muitos outros países ocidentais, embora a diminuição de sua grande importância só tenha acontecido ao final da Primeira Guerra Mundial.

Alexis de Tocqueville visitou os Estados Unidos em 1831, sendo surpreendido pela igualdade relativa entre as pessoas, porém, demonstra sua preocupação com o fato de que, mesmo nesta nova democracia, pode haver a dominação por um pequeno grupo de capitalistas que poderia fixar os salários como quiser, e, assim, oprimir os numerosos trabalhadores, o que justifica o surgimento de pensamentos socialistas e embasa os argumentos de Karl Marx.

Marx e Engels publicaram seu Manifesto do Partido Comunista em 1848. As novas fábricas, retratadas por William Blake14, passaram a condensar em seus interiores os trabalhadores que foram, segundo os autores do Manifesto, os verdadeiros produtores de riqueza do mundo. Esses proletários, insistiram eles, deveriam receber mais benefícios advindos dos seus trabalhos. Em vez disso, de acordo com Marx e Engels, os capitalistas emergentes, assistidos por uma nova classe burguesa, foram se enriquecendo às custas do proletariado.

Nesse momento, se é possível se falar em construção do outro, o proletário era o outro. Aquele que saiu do seu lugar de origem para, como migrante, alcançar outras plagas, porém, ao contrário daqueles que saíam para conquistar territórios, o proletário migrava para conseguir se sustentar.

Na verdade, como as pessoas saíram do campo em direção às cidades industriais, passaram a surgir

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