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132 Presença trentina no Brasil

No documento 1 2 1 2 (páginas 132-138)

O Brasil, principalmente a partir da metade do século XIX, recebeu grande contingente de imigrantes europeus, dentre eles, relevante parcela provinha da Província de Trento: em torno de 4.500 a 5.000 trentinos emigraram para Santa Catarina, 4.500 em direção ao Rio Grande do Sul, de 2.400 a 2.600 para Espírito Santo, 500 para o Paraná e de 200 a 250 para São Paulo3

Atualmente estima-se que residam no Brasil em torno de 22 milhões de descendentes de imigrantes italianos4, e destes ao menos 3 milhões são descendentes de imigrantes trentinos, o que totaliza 10% do total de descendentes de imigrantes italianos no país5.

Todavia até recentemente não se reconhecia a essas pessoas o direito de solicitar a nacionalidade italiana via o princípio do jus sanguinis, direito esse que se estendia a todos os demais descendentes de imigrantes italianos. As razões disso, bem como os motivos que posteriormente levaram a uma mudança legislativa por parte do parlamento italiano, requerem uma prévia análise histórica.

Aspectos importantes da história de Trento

O desenvolvimento da cidade de Trento remonta aos tempos do Império Romano. Na época, denominada

Tridentum6, a nova cidade passou a contar com toda a infra-estrutura típica de uma cidade romana, até a queda definitiva do Império. A partir de então, Trento passou a ser administrada por um bispo, que detinha também as funções de príncipe (governador), ou seja, passou a ser uma cidade fortificada católica.

A partir do ano 1200, os condes do Tirol foram se encarregando do controle militar da região trentina. Seu poderio militar era tão grande que passaram a dominar a região que abrangia toda a atual Regione italiana do Trentino Alto Adige até o atual Estado austríaco do Tirol. Todo esse território foi então batizado com o nome de Tirol. O domínio tirolês marca o período que vai do início século XIII ao inicio do século XX. Em 1867 ocorre, porém, a fusão das casas reais austríaca e húngara, surgindo o famoso Império Austro-Húngaro, do qual Trento passou a fazer parte. Durante os anos seguinte, diversos partidos de caráter nacionalista italiano começam a surgir nas classes burguesas e políticas trentinas. Em 1871, por exemplo, surge o Partido Liberal Burguês, cuja plataforma apoiava a união com a Itália7.

Em 1914 teve inicio na Europa a primeira Guerra Mundial. Com o inicio das ofensivas, mais de 60.000 trentinos foram convocados pelo exército austro-húngaro (ano de 1915) para os campos de batalha. Nos anos decorrentes da guerra, diversos trentinos foram presos por irredentismo (traição ao império austríaco em favor do reino itálico). A região trentina tornou-se campo de batalha e diversos de seus moradores tiveram que evacuar os vales, muitos dos quais migraram para o território italiano. Em 1918 o exército italiano domina o território trentino. A partir de então Trento foi governada por uma junta militar provisória até 1919, período em que foi formalizada sua anexação ao reino da Itália. Nesse mesmo ano foi assinado na França o tratado de paz – Tratado de Saint-Germain – o qual concedeu ao reino italiano a região trentina o Alto-Ádige (Bolzano), a Istria e a alta bacia do Isonzo. Nos anos de 1921 e 1922, o trentino foi governado por uma Junta Provincial. Em outubro de 1922, partidários fascistas marcham sobre Trento e Bolzano antecipando a grande marcha sobre Roma de 1924, que instaurou definitivamente o regime fascista em todo o reino da Itália8.

Percebe-se então, que apenas a partir de 1919 é que Trento passou efetivamente a ser território italiano. Na época das emigrações para o Brasil (por volta de 1875), era território do Império Austro-Húngaro, motivo pelo qual os emigrantes ao chegarem ao continente americano eram portadores de passaporte austríaco.

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GROSSELLI, Renzo Maria. Noi tirolesi, sudditi felici di Dom Pedro II. Ed. Anast. Trento: Provincia Autonoma di Trento (Itália), 2008, p. 118-120.

4 Progetto ITENES. Gli Italiani in Brasile. 2003. Disponível em <www.consultanazionaleemigrazione.it>, acesso em 30 dez. 2010.

5

ALTMAYER, Everton. A Imigração Trentina. Disponível em <www.trentini.com.br>, acesso em 30 dez. 2010. 6

ZIEGER, Antonio. Storia della regione tridentina. 2 ed. Casa Editrice Dolomia: Trento (Itália), 1991, p. 14. 7 COLLANA DI MONOGRAFIE ―LA PATRIA D´ORIGINE‖ – Gli ultimi duecento anni. Casa Editrice Panorama: Trento (Itália), 1994, p. 67.

8 COLLANA DI MONOGRAFIE ―LA PATRIA D´ORIGINE‖ – Gli ultimi duecento anni. Casa Editrice Panorama: Trento (Itália), 1994, p. 123.

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Posteriormente, tanto a Província de Trento, quanto a de Bolzano, foram seriamente abaladas pela eclosão da segunda guerra mundial, mas permaneceram sob o domínio italiano, até os dias de hoje. Na década de 1970 foi concedida às duas províncias uma autonomia especial, de auto-gestão política e financeira, o que as colocou em uma situação de grande independência perante Roma. Tal autonomia proporcionou um grande desenvolvimento às duas províncias, que hoje em dia são consideradas as mais desenvolvidas da Itália.

Nacionalidade italiana para os habitantes da Provincia Autonoma di Trento

Conforme o exposto, com o término da primeira grande guerra, a Província de Trento foi formalmente anexada ao reino da Itália, através do Tratado de paz de Saint German. Ainda segundo esse tratado9, todos os habitantes da antiga monarquia austro-húngara teriam direito à nacionalidade do país que dominava o respectivo território antes pertencente ao império. Em outras palavras, os habitantes das províncias de Trento e Bolzano teriam direito à nacionalidade italiana, pois a partir de então esses territórios estavam anexados ao reino italiano. O prazo para requerer a nacionalidade do país em que se encontrasse o território anexado era de um ano10, a partir da entrada em vigor do Tratado de Saint-Germain. Dessa forma, como o Tratado entrou em vigor em 16/07/1920, os trentinos tinham até julho de 1921 para requer a nacionalidade italiana. Todavia, nesse período, os emigrantes que haviam deixado Trento (então pertencente ao Império Austro-Húngaro) e seus descendentes, não puderam realizar a escolha, pois encontravam-se, literalmente, em meio a floresta, em seus lotes coloniais. Era simplesmente impossível para eles realizar a viagem até a representação diplomático-consular do reino da Itália no Brasil, que naquele período localizava-se no Rio de Janeiro (ex-capital brasileira).

Dessa forma, por todo um período após o término da primeira guerra, os descendentes de imigrantes trentinos ficaram sem o referencial nacional europeu, afinal, o Império austro-húngaro, de onde eles haviam emigrado já não mais existia, e tampouco puderam optar pela nacionalidade italiana.

Cumpre também registrar o fato de que o império Austro-Húngaro exigia que, os súditos que decidissem emigrar deveriam renunciar a cidadania austríaca11. As motivações para tal atitude daquele império eram tanto políticas, visando barrar o crescente número de pessoas que decidiam partir para a América, como de ordem econômica, visando retirar do império toda a responsabilidade pelos súditos emigrantes.

Essa situação perdurou por longo tempo, até que se iniciou uma forte intervenção por parte de órgãos representativos destes descendentes, que ora passa-se a analisar.

O trabalho da associação Trentini nel Mondo

Em 1958 a Província de Trento já dispunha de autonomia política, que posteriormente seria ampliada também em uma autonomia econômica, conforme exposto no resumo histórico anterior. Por conta disso, iniciou-se um movimento com o objetivo de agregar os milhares de descendentes de imigrantes trentinos existentes em diversos países. Dessa forma, em 10 de novembro de 1957, foi fundada a Associazione Trentini nel Mondo12.

Com o surgimento dessa associação, logo começaram a surgir os chamados Círculos Trentinos nos países onde a presença de imigrantes fosse relevante. No Brasil esses clubes surgiram inicialmente nas cidades de Rio dos Cedros, Rodeio e Nova Trento (Santa Catarina), em 1975, ano no qual foi comemorado o centenário da imigração trentina no Brasil.

O trabalho dos vários Círculos Trentinos no mundo, e principalmente da associação Trentini nel Mondo na Itália, começou a pressionar politicamente o parlamento italiano para que disponibilizasse também aos

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Staatsvertrag von Saint-Germain-en-Laye , Artikel 70. (Tratado de Saint-Germain, art. 70). Disponível em: < http://www.versailler-vertrag.de/svsg.htm>, acesso em: 18 jan. 2011.

10

Staatsvertrag von Saint-Germain-en-Laye , Artikel 78. (Tratado de Saint-Germain, art. 78). Disponível em: < http://www.versailler-vertrag.de/svsg.htm>, acesso em: 18 jan. 2011.

11

GROSSELLI, Renzo Maria. Vincere o Morire. Parte I. Ed. Litografia Effe e Erre: Trento: Provincia Autonoma di Trento (Itália), 1986, p. 182.

12

PISONI, Ferruccio. Un sulco lungo 50 anni: L´Associazione Trentini nel Mondo dal 1957 al 2007. Grafiche Dalpiaz: Trento (Itália), 2007, p. 44.

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descendentes de imigrantes trentinos a possibilidade de obter o reconhecimento da nacionalidade italiana. Todavia, esse reconhecimento seria realizado de uma forma diferenciada em relação aos demais descendentes de imigrantes italianos, pelo fato já abordado de que os imigrantes oriundos de Trento nunca foram nacionais italianos.

Como na Itália prevalece o direito à nacionalidade pelo critério jus sanguinis, ou seja, a nacionalidade italiana é transmitida pelos italianos à seus descendentes (diferentemente do continente americano, onde a nacionalidade é obtida pelo critério jus soli, ou seja, para os nascidos dentro do solo americano), seria necessário que os imigrantes fossem reconhecidamente nacionais italianos para que seus descendentes pudessem pleitear o reconhecimento de tal status também para si. Todavia, não era o que ocorria, pelo fato de que os imigrantes de Trento possuíam a nacionalidade austro-húngara, ou seja, de um império que deixou de existir ao fim da primeira guerra13.

Mudança na legislação italiana

A legislação italiana que trata do tema nacionalidade está sintetizada na Lei no 91, de 5 de fevereiro de 1992, que substituiu a lei anterior de 1912. Segundo essa lei, a nacionalidade italiana pode ser adquirida automaticamente, ou de forma subordinada. A forma automática de adquirir a nacionalidade italiana é restrita àqueles que são filhos de italianos legítimos ou os apátridas natos em território italiano. A forma subordinada refere-se à nacionalidade concedida por autoridade italiana competente, aos descendentes em linha reta até o segundo grau de nacional italiano que residam na Itália por determinado tempo, ou que venham a integrar as forças armadas ou qualquer cargo público14. Como se percebe, os descendentes de imigrantes trentinos, pelo fato de que seus ancestrais não eram nacionais italianos, ficavam impossibilitados de requerê-la.

Após anos de articulação política das associações representativas dos descendentes de imigrantes trentinos, surgiu, em 1998, o projeto de lei do parlamentar Sandro Schmid, denominado Disposizioni per il riconoscimento della cittadinaza italiana alle persone nate e già residenti nei territori appartenuti all´Imperio austro-ungarico e ai loro discendenti. O significado era bastante claro – um projeto de lei que reconhecia a nacionalidade italiana das pessoas natas nos territórios pertencentes ao antigo império austro-húngaro e seus descendentes. No ano 2000 o projeto foi homologado, transformando-se no Decreto-Lei no

379/2000 (publicado no Diário Oficial italiano – Gazzetta Ufficiale – no 295 de 19/12/2000). O texto da lei aplica-se às pessoas natas (e seus descendentes) nos territórios pertencentes ao extinto império austro-húngaro anexados pela Itália com o fim da primeira guerra mundial (Província de Trento e de Bolzano), bem como os territórios cedidos pela Itália à antiga Iugoslávia, em razão do Tratado de Paz de Paris de 10/02/1947 e o Tratado de Osimo de 16/11/1975. Também se delimitava que deveriam ser natas entre 25/12/1867 (data de criação do império austro-húngaro) até 16/07/1920 (data em que o Tratado de Saint-Germain, que concedeu os respectivos territórios à Itália, passou a ter eficácia).

Outro ponto importante do Decreto-Lei era o prazo concedido para a requisição: 5 anos para que os descendentes de pessoas natas nos referidos territórios pudessem optar pela nacionalidade italiana. Posteriormente, em 30 de dezembro 2005, foi aprovado pelo parlamento italiano a conversão em Lei do Decreto-Lei no 273 (que posteriormente denominou-se Lei no 51/2006, publicada no Diário Oficial italiano – Gazzetta Ufficiale – no 49 de 28/02/2006), que prorrogava diversos prazos legais italianos, dentre eles, o estabelecido pelo Decreto-Lei no 379/2000, que passou a ter vigência até 20 de dezembro de 2010.

Atuação dos Círculos Trentinos do Brasil

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PISONI, Ferruccio. Un sulco lungo 50 anni: L´Associazione Trentini nel Mondo dal 1957 al 2007. Grafiche Dalpiaz: Trento (Itália), 2007, p. 141.

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GRENCI, Rosario. O conceito jurídico de cidadania no direito internacional e no interno. Parte III. In Revista Insieme. No. 144. Dezembro/2010. Curitiba: Sommo Editora LTDA, 2010, p. 29

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Conforme exposto, atualmente o Brasil é um dos países com maior concentração de descendentes de imigrantes trentinos em todo o mundo: aproximadamente 3 milhões de pessoas. Tal número é consideravelmente maior do que a própria população da Província de Trento: 524.826 pessoas15.

De acordo com a Convenção de Viena de 1963, que tratou das relações consulares e que foi recepcionada pelo ordenamento jurídico brasileiro pela promulgação do Decreto 61.078 de 26/07/196716, os consulados passaram a cumular as funções assistenciais, de proteção, culturais, comerciais, notariais e administrativas. A função administrativa de reconhecimento de nacionalidade para descendentes em solo estrangeiro ficou ao encargo do funcionário consular.

Todavia, com a publicação do Decreto-Lei no 379/2000, um grande desafio surgiu aos consulados italianos no Brasil: administrar a nova demanda de pedidos de reconhecimento de nacionalidade italiana que surgiriam, considerando-se a precária e insuficiente infra-estrutura que possuíam e também o grande volume de processos de descendentes de italianos já existentes.

Ocorre que os descendentes trentinos possuíam uma grande rede de agremiação espalhada pelo mundo, que são os Círculos Trentinos. Todas essas entidades, ligadas à associação Trentini nel Mondo (com sede em Trento-Itália) possuíam vários anos de fundação e tinham um cunho fortemente cultural e representativo. Dessa forma, longo após a publicação do Decreto-Lei no 379/2000, o Embaixador da Itália no Brasil convocou uma ―riunione di coordinamento consolare‖, em Brasilia/DF, com a presença de diversas lideranças italianas e trentinas no Brasil para debater a atuação dos Círculos Trentinos frente à nova lei especial17. Assim sendo, acabou surgindo um acordo não-escrito entre a rede consular da Itália no Brasil e os Círculos Trentinos do Brasil da seguinte forma: os Círculos Trentinos ficariam responsáveis pela coleta dos documentos necessários para a obtenção da nacionalidade italiana e também da assinatura dos requerentes. Em seguida repassariam esse material já organizado ao consulado italiano. Essa negociação é, sem dúvida, inédita, pois nunca antes um órgão da administração italiana havia repassado funções suas para terceiros (ainda por cima em solo estrangeiro).

Procedimentos especiais para reconhecimento de nacionalidade italiana aos descendentes de imigrantes trentinos

O reconhecimento de nacionalidade italiana para os descendentes de imigrantes trentinos segue uma tramitação diferenciada em relação aos demais pedidos de reconhecimento de nacionalidade italiana. Tal fato, pelo já exposto, é decorrente da situação histórica da Província de Trento, pertencente à Áustria na época das grandes imigrações. O que se reconhece, na verdade, é o direito de os descendentes de imigrantes trentinos optarem pela nacionalidade italiana, ou seja, exercerem o direito ao qual seus ancestrais não tiveram acesso à época da anexação do território trentino pelo então reino da Itália.

O reconhecimento é concedido aos descendentes por linha paterna e materna, sendo nesse último caso ressalvada a condição de que os filhos da mulher descendente de imigrantes trentinos devem ser nascidos após 01/01/1948, pois até esta data, a mulher italiana, casada com estrangeiro, adquiria automaticamente a nacionalidade do marido.

Alguns procedimentos são comuns e necessários ao reconhecimento de qualquer nacionalidade, como comprovar a ascendência e a relação familiar pela certidão de nascimento e casamento do imigrante dante causa, as certidões de nascimento e casamento de seus descendentes, formando a genealogia completa da família. Também é necessário apresentar o passaporte, certidão de desembarque, ou qualquer outro documento que comprove que a emigração realmente ocorreu na época do Império Austro-Húngaro.

15 Servizio Statistica della Provincia Autonoma di Trento 2010 – Disponível em www.provincia.tn.it. Acesso em: 2 nov. 2010

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BOLIVA, Analluza Bravo. Relação entre direito internacional público e o ordenamento jurídico-penal interno – a Convenção de Viena sobre relações consulares de 1963. In: Estudos de Direito Internacional: anais do 7º Congresso Brasileiro de Direito Internacional. Wagner Menezes (coord.). Curitiba: Juruá, 2009, p. 71.

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STOLF, Elton Diego. A concessão do reconhecimento da nacionalidade italiana e a inércia burocrática consular: uma solução ao problema. In: O Direito Internacional privado perante os processos de integração regional: Desafios e Dilemas entre União Européia e Mercosul, 2009, Florianopolis. O Direito Internacional privado perante os processos de integração regional: Anais do congresso, 2009.

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Outro documento significativo que deve ser juntado é o atestado de participação em atividades de cunho cultural italiano. Em outras palavras, é exigido pelo governo italiano que os descendentes de imigrantes trentinos que desejem ter reconhecida a nacionalidade italiana, comprovem que preservam o legado cultural italiano em solo estrangeiro. Por intervenção da associação Trentini nel Mondo, o governo italiano passou a aceitar uma declaração dos Círculos Trentinos, que comprovem que o requerente é regularmente associado e participa das atividades desenvolvidas.

Tais documentos, traduzidos para o idioma italiano por tradutor público juramentado, são entregues no Círculo Trentino da cidade de residência do interessado na circunscrição do consulado italiano. Também no Círculo Trentino é colhida a assinatura dos requerentes, o que significa que eles estão expressamente requerendo o reconhecimento da nacionalidade italiana. Tais documentos são encaminhados ao consulado italiano e por fim para Roma, onde um Conselho Interministerial faz a análise de admissibilidade do pedido. Tal conselho é composto por Ministros dos mais diversos ramos do poder administrativo italiano, assim sendo, o grupo realiza poucas reuniões mensais, o que acaba por atrasar o andamento das requisições. A análise a qual esse grupo se propõe busca verificar se, historicamente, trata-se realmente de família descendente de imigrante que na época da emigração residia em território do extinto império Austro-Húngaro. Destaca-se que, essa análise procedimental em comissão especial em Roma, é requisito apenas para os destinatários nominados no Decreto-Lei no 379/2000, sendo que para os requerentes de ascendência italiana das demais províncias, toda a analise e deferimento do pedido ocorre no âmbito de competência do consulado italiano. Outra peculiaridade que ocorre é a requisição de preenchimento da ―Ficha de cadastro para descendentes de pessoas nascidas em territórios pertencentes ao império austro-húngaro‖ para controle interno dos Consulados.

Após a aprovação do Conselho Interministerial, o que significa que de fato os requerentes são descendentes de pessoas natas nos territórios englobados pelo Decreto-Lei no 379/2000, a documentação é devolvida com parecer positivo (ou negativo) para o respectivo consulado italiano de origem da solicitação. Nesse momento os requerentes são chamados a assinar o livro consular, a partir do qual são considerados cidadãos italianos, com todos os benefícios e obrigações derivadas.

Por derradeiro, ressalta-se que em dezembro de 2010 decaiu o prazo da lei que conferia aos descendentes de imigrantes trentinos o direito de optar pela nacionalidade italiana. Entidades e órgãos apresentaram diversos manifestos para que os parlamentares italianos tornem tal direito definitivo, ou, quanto menos, prorroguem a citada lei. Todavia, por ora, não existe nenhuma previsão para que isso aconteça.

Conclusões

O reconhecimento da nacionalidade italiana para os descentes de imigrantes trentinos segue ditames e normativas diferenciadas. Isso se deve ao fato histórico da Província de Trento não pertencer ao reino da Itália na época das imigrações (segunda metade do século XIX). Quando Trento passou a integrar o reino italiano e o império Austro-Húngaro deixou de existir, foi concedida aos residentes nos territórios ocupados a opção pela nacionalidade italiana. Tal opção, no entanto, não pode ser exercida pelos imigrantes, que por motivos de logística, não foram noticiados adequadamente, e sequer tinham acesso à rede diplomático-consular italiana no Brasil. Assim sendo, por não mais existir o referencial nacional europeu de onde eles vieram e por não terem tido acesso à nacionalidade italiana, a maioria dos imigrantes, os quais não adotaram a nacionalidade brasileira, ficaram na situação de apátridas e seus descendentes não tinham nenhuma possibilidade de requisitar a nacionalidade italiana.

Com a promulgação do Decreto-Lei no 379/2000 foi reconhecido aos descendentes de imigrantes trentinos o direito de requerer a nacionalidade italiana, fazendo uma opção à qual seus antepassados não tiveram acesso. Os meios de requer a nacionalidade italiana são bastante diferenciados, levando em conta todos os fatores históricos. Os trentinos contam com uma grande representatividade por meio dos círculos trentinos, que, de forma pioneira, assumiram responsabilidades do âmbito exclusivo da administração italiana, proporcionando assim, efetividade ao referido Decreto-Lei.

Com o termino do prazo legal para solicitação da nacionalidade italiana para os descendentes de imigrantes

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