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Organização do período

1.3 Frases nominais

1.5.0 Organização do período

1.5.1 Relevância da oração principal: o ponto de vista

Em face do exposto em tópicos precedentes, a respeito da coordenação e da subordinação, pode-se afirmar que, em tese, a oração principal encerra quase sempre a idéia principal, seja porque constitui o núcleo da comunicação seja porque, simplesmente, desencadeia as demais do período. Muitas vezes, entretanto, a idéia mais importante está ou parece estar numa oração subordinada, especialmente quando substantiva ou adjetiva.

Ora, como a subordinada substantiva exerce a função de sujeito ou de complemento de outra, e a adjetiva, de adjunto adnominal de termo de outra, se essa outra for a oração principal, a idéia mais importante estará no conjunto das duas, e não exclusivamente numa delas.

No seguinte trecho de Carlos Drummond de Andrade:

Pediram-me que definisse o Arpoador

(In: Quadrante 2, p. 129)

há duas orações que se completam mutuamente. Não se pode dizer que a idéia mais importante — a de definir o Arpoador — esteja apenas na subordinada substantiva: está em ambas, pois, na realidade, o que existe aí é, como queria Said Ali, uma oração composta, equivalente a "pediram-me a definição do Arpoador". No entanto, a primeira é que desencadeia a segunda: sem o "pedido" não existiria nem o período nem... a crônica. Continuando, diz ainda o Autor:

É aquele lugar, dentro da Guanabara e fora do mundo, aonde não vamos quase nunca, e onde desejaríamos (obscuramente) viver.

17 Em 5. Ord., 1.2.1, "Pondo ordem no caos", estudam-se ainda outros aspectos da

coordenação e do paralelismo, mas já não do ponto de vista gramatical e sim apenas lógico. Ninguém dirá que qualquer das duas orações iniciadas por (cQonde encerra a idéia mais importante do período, a qual está, realmente, na principal: (O Arpoador) é aquele lugar dentro da Guanabara e fora do mundo...

Mais adiante, diz o Cronista:

Há os namorados, que querem dar a seu namoro moldura atlântica, céu e onda por testemunhas.

Aqui também pode parecer que o mais importante é querer dar ao namoro moldura atlântica. Na verdade, essa oração adjetiva constitui simples adjunto de "os namorados", objeto direto de "há". Corresponde a um adjetivo: há os namorados desejosos de dar... Ainda assim, o fato mais importante, o fato que se quer comunicar, que desencadeia os demais, é mesmo a existência de namorados no Arpoador; querer ou não dar moldura atlântica ao namoro é dele conseqüência.

Se, no caso da oração substantiva, a definição do Arpoador representa a idéia de maior valia, embora esteja numa subordinada, no caso da adjetiva, a existência dos namorados é, de fato, mais importante do que estarem eles desejosos de moldura atlântica para seu namoro. Aqui, portanto, a oração subordinada adjetiva encerra idéia secundária. Exatamente por isso é que está entre vírgulas, como oração explicativa que é, praticamente desnecessária à essência do pensamento contido na principal.

Mas às vezes a oração adjetiva não é nem mais nem menos importante do que a principal:

Há os que seguem o rito pequeno-burguês de domingo e feriado...

Legitimamente, a oração deveria ser — e assim muitos a consideram — todo o trecho transcrito, como se se dissesse (na verdade assim se pensa mas se escreve outra coisa): há os seguidores do rito pequeno-burguês...

Neste caso, a situação é diferente: na oração adjetiva anterior, o substantivo "namorados" é suficiente por si mesmo, transmite uma idéia bastante definida, tornando-se "desejosos de dar moldura..." fato acessório; na que estamos agora comentando, o pronome "os" é por demais indefinido, impreciso, para traduzir ou comunicar seja o que for, se não vier devidamente expandido, quer dizer, acompanhado de um adjunto especifi-cador. Por isso, a oração "que seguem o rito...", dita restritiva, é indispensável, encerra uma idéia relevante. Dada, entretanto, a sua função de adjunto, ela pode ser considerada como parte da outra, a principal. De forma que a idéia mais importante não está numa só oração, mas nas duas, como no caso da substantiva.

Coisa muito diversa ocorre quando se trata de orações adverbiais, que encerram ou devem encerrar idéias secundárias em relação à da principal. Quando tal não acontece, é porque o período está indevidamente estruturado ou o ponto de vista do autor não coincide com o do leitor no

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que se refere à relevância das idéias. Em certos casos, é verdade, a oração subordinada constitui condição ou circunstância indispensável à eficácia comunicativa da principal. Examinemos o seguinte trecho de Rui Barbosa:

Quando as leis cessam de proteger os nossos adversários, virtualmente cessam de proteger-nos.

A oração principal, se isolada num só período, encerraria um enunciado aparentemente descabido: "as leis virtualmente cessam de proteger-nos". Só a condição expressa na subordinada temporal, de valor restritivo, torna aceitável o enunciado contido na principal. Trata-se de uma situação global, de uma estrutura, em que o sentido não está numa das partes mas no conjunto.

Não obstante, o teste da relevância da oração principal pode estar num dos seus termos apenas. Se invertermos a relação entre as duas orações, transformando a principal em subordinada e vice-versa, com mudança do ponto de vista, alterar-se-á também substancialmente o teor da declaração:

Quando as leis cessam de proteger-nos, cessam virtualmente de proteger nossos adversários.

Aqui, a idéia posta em foco, por ser considerada a mais importante, deixa de ser "nós" para ser "nossos adversários". E o que se poderia chamar de nova perspectiva semântica do texto; o ponto de vista em que o autor se coloca é que vai determinar a escolha da oração principal, inclusive a sua posição no período. Ora, esse ponto de vista decorre do próprio contexto ou situação e da conclusão a que se queira chegar.

No seguinte período de Rebelo da Silva:

Quando o nobre mancebo passou a galope por baixo do camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o cavalo, a mão alva e breve de uma dama deixou cair uma rosa, e o conde, curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou a flor do chão sem afrouxar a carreira, levou-a aos lábios e meteu-a no peito.

as idéias mais importantes, as que realmente condensam o teor da comunicação, estão nas quatro orações independentes (deixou cair..., apanhou..., levou-a..., meteu-a...), constituindo as demais, isto é, as subordinadas, fatos secundários, se bem que não desprezíveis. Mas, ao contrário do que ocorre no trecho de Rui Barbosa, a eliminação dessas subordinadas não subverteria, em sua essência, o pensamento do Autor.

Se, entretanto, se fizesse uma troca de funções, transformando em subordinadas as quatro orações coordenadas independentes, o sentido do trecho assumiria outra configuração, como resultado da mudança do pon

to de vista. Apresentemos, à guisa de ilustração, uma das versões possíveis, fazendo as adaptações necessárias:

Quando a mão alva e breve de uma dama deixou cair uma rosa, que o conde, curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou sem afrouxar a carreira, levando-a aos lábios e metendo-a no peito, ele (conde) passava por baixo do camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o cavalo.

A narrativa é conhecida (aparece em quase todas as antologias): trata-se de a "Última corrida de touros em Salvaterra", em que o marquês de Marialva assiste à morte do filho, o conde dos Arcos. O período citado precede de pouco aquele em que o jovem conde cai ferido de morte pelo touro. Mas o nobre fidalgo estava apaixonado, e foi a mulher amada que deixou cair a rosa. A breve cena idílica tem assim importância especial, muito mais do que a simples passagem "por baixo do camarote".

Entretanto, com a nova estrutura do período, o fato que se focaliza mais de perto aquele para o qual se quer chamar a atenção, é a passagem do conde por baixo do camarote. O que era, na versão original, fator secundário, apenas uma circunstância de tempo a que se juntava a indicação do local da cena, ficou, por assim dizer, em primeiro plano, em close-up, como se fosse o incidente mais importante. Mas o ponto de vista que permitiu essa nova perspectiva da cena seria o mais adequado? Passar a galope por baixo do camarote ou no meio do picadeiro deve ser coisa normal numa tourada; no entanto, a queda de uma rosa que o toureiro apanha, leva aos lábios e mete no peito não deve ser incidente corriqueiro nesse esporte ibérico. Dar-lhe ênfase é que seria normal. Ora, na versão original, a ênfase não decorre senão da condição de orações independentes, que não seria descabido dizer principais, se bem que em desacordo com a ortodoxia da nossa nomenclatura gramatical mais renitente. Nesse período — como em outros similares — há realmente quatro orações principais em relação às subordinadas restantes. E nessas orações principais é que estão as idéias principais.

Em conclusão, repetimos: na oração principal deve estar a idéia predominante do período, segundo a intenção do autor, segundo o ponto de vista em que ele, e não o leitor, se coloca.

7.5.2 Da coordenação para a subordinação: escolha da oração principal

Em face do que ficou dito no tópico precedente, pode-se concluir que a escolha da oração principal não é ato gratuito, e que o ponto de vista e a situação devem servir de diretrizes para essa escolha.

Vejamos agora, de maneira prática, como uma série de enunciados simples, coordenados e relacionados pelo sentido, pode articular-se para formar um período complexo sob a égide de um deles, que será a oração principal.

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Consideremos esta série de enunciados:

Vieira chegou ao Brasil em 1615.18

Ele não contava ainda oito anos de idade. Ele teve de acompanhar a família.

Após a chegada, matriculou-se logo no colégio dos jesuítas.

A simples coordenação não permite estabelecer a verdadeira relação entre os diferentes fatos enunciados nem realçar o mais relevante, segundo o ponto de vista. Só com a subordinação isso é possível.

I Primeira hipótese — Idéia mais importante: a chegada de Vieira

Admitamos que o fato considerado mais importante seja a chegada de Vieira, escolha natural, evidentemente. A versão do período poderia ser a seguinte:

a) Vieira, que não contava ainda oito anos de idade, chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família, matriculando-se logo no colégio dos jesuítas.

Da oração principal — "Vieira... chegou em 1615 ao Brasil" — dependem as demais. O fato de não contar ainda oito anos de idade relaciona-se ao sujeito — Vieira —, de que é atributo; reveste por isso a forma de oração adjetiva (função de adjunto adnominal), separada por vírgula em virtude de ser um atributo não indispensável à identificação de Vieira, que, como nome próprio, já está suficientemente definido, é inconfundível, salvo se se tratar de outro indivíduo com o mesmo nome, ou se se quiser assinalar características diferentes da mesma pessoa: o Vieira que chegou ao Brasil em 1615 não fazia prever o

Vieira que desafiaria a própria Inquisição.

A terceira oração — "para onde teve de acompanhar a família" —, também adjetiva, tem sentido locativo, que lhe vem da locução "para onde". A simples coordenação entre "chegou ao Brasil" e "teve de acompanhar a família" seria desaconselhável por se tratar de idéias de valor diferente, já que a segunda é uma decorrência da primeira. Coordená-las seria anular essa relação de dependência.

A quarta oração — "matriculando-se logo no colégio dos jesuítas" —, reduzida de gerúndio, constitui também o enunciado de um fato secundário em relação à chegada de Vieira ao Brasil. Se, aqui também, nos servíssemos da coordenação — Vieira chegou ao Brasil e

para essa fragmentação em períodos simples, servimo-nos do trecho de João Francisco

Lisboa, que está na Antologia nacional, onde se diz que Vieira chegou ao Brasil em 1615, e não em 1614, como acreditam muitos.

légio dos jesuítas — estaria atenuada a idéia de subseqüência que relaciona os dois fatos.

Mas por que se adotou a forma reduzida? Ora, como o sentido dessa oração é temporal, a articulação por meio de conectivos exigiria uma conjunção que indicasse tempo posterior (depois que, logo que). Mas, nesse caso, subordinada passaria a ser a idéia que deveria estar na oração principal: "depois que chegou ao Brasil, Vieira matriculou-se no colégio dos jesuítas"—, o que equivaleria a alterar o propósito inicial de atribuir maior relevância à idéia de chegar ao Brasil. O conectivo "quando", também temporal, não permitiria melhor articulação, pois nele não está contida a idéia de subseqüência, mas de concomitância. Além disso, ocorreria um distanciamento entre duas orações intimamente relacionadas, ocasionado pela intercalação da temporal "quando", a qual só poderia ficar após o adjunto adverbial de tempo "em 1615". O resultado seria um período canhestro, em que as idéias não se sucederiam naturalmente, com interpolações prejudiciais à clareza e à fluência da frase.. O período tomaria a seguinte feição, descabida:

b) Vieira, que não contava ainda oito anos de idade, chegou ao Brasil, em 1615, quando se matriculou no colégio dos jesuítas, para onde teve de acompanhar a família.

Ora, o antecedente natural de "para onde" é Brasil, sendo a aproximação entre ambos a melhor maneira de evitar ambigüidade ou contra-senso. Pospondo "para onde" a "colégio dos jesuítas", também referente a lugar, estabelecer-se-ia uma nova relação, não prevista: o colégio seria o lugar para onde Vieira teve de acompanhar a família.

Outra construção poderia ser igualmente tentada, usando-se um conectivo conglomerado "depois do que". Mas ainda assim a relação de dependência seria inadequada:

c) Vieira, que não contava ainda oito anos de idade, chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família, depois do que se matriculou no colé- gio dos jesuítas.

O antecedente natural da oração de "depois do que" não é "acompanhar a família" e sim "chegou ao Brasil", razão por que conviria aproximar tanto quanto possível os dois enunciados; mas aproximá-los seria desencadear outra dissociação, já que nos veríamos forçados a pospor a "colégio dos jesuítas" a oração adjetiva de "para onde". O resultado seria igualmente inaceitável, como está na versão b.

II Segunda hipótese — Idéia mais importante: a idade de Vieira

Suponhamos agora que o mais relevante desse conjunto de enunciados seja não a chegada de Vieira mas a sua idade. Nesse caso, presume-se,

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o desenvolvimento das idéias subseqüentes ao trecho, pelo menos no mesmo parágrafo ou no imediato, teria de continuar ressaltando a imagem do Vieira menino, das peripécias naturais nessa idade ou de fatos daí decorrentes. Assim, o período assumiria a seguinte versão:

d) Vieira, que chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a famí- lia, não contava ainda oito anos de idade, matriculando-se logo no colégio dos jesuítas.

O que era atributo do nome Vieira passou à condição de idéia predominante, configurada como está na oração principal, ao passo que a chegada ao Brasil desceu a segundo plano ao assumir a feição de oração adjetiva. Dada a participação de Vieira na vida política e cultural do Brasil, a sua chegada aqui pode parecer fato mais importante num período em que se inicie a narrativa dessa fase de sua biografia. Tudo depende, entretanto, do ponto de vista do autor. No caso presente, o que se pretende é focalizar de perto o Vieira menino. De forma que "chegar ao Brasil" deixa de ser um atributo dele, para indicar apenas uma circunstância episódica: chegar ao Brasil é muito menos característica de Vieira do que ter

oito anos de idade. Por isso, seria melhor negar-lhe a feição de atributo, i.e., de adjunto

adnominal sob a forma de oração adjetiva, para frisar-lhe o sentido de circunstância sob a forma de uma oração adverbial, preferivelmente reduzida:

e) Vieira, ao chegar em 1615 ao Brasil (ou "chegando", "quando chegou"), para onde teve de acompanhar a família, não contava ainda oito anos de idade, ma- triculando-se (apesar disso) logo depois no colégio dos jesuítas.

Se, entretanto, se deseja dar um pouco mais de ênfase à idéia de chegar ao Brasil, deve-se iniciar o período com a oração que lhe corresponda: Ao chegar ao Brasil..., Vieira não

contava..., pois é sabido que, de modo geral, as posições mais enfáticas num período são

quase sempre os seus extremos: no meio ficam as idéias que não parecem merecer o necessário realce. Segundo esse critério, a melhor versão seria:

f) Ao chegar em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família, matri- culando-se logo depois no colégio dos jesuítas, Vieira não contava ainda oito

anos de idade.

III Terceira hipótese — Idéia mais importante: matricular-se no colégio dos jesuítas

Nas versões seguintes, o que se considera como idéia predominante é a de se ter Vieira matriculado no colégio dos jesuítas:

g) Vieira, que não contava ainda oito anos de idade quando chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família, matriculou-se logo no colégio

dos jesuítas.

ou

g') Não contando ainda oito anos de idade (ou "apesar de não contar"), quando chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família, Vieira matriculou-se logo no

colégio dos jesuítas.

ou

g") Vieira matriculou-se no colégio dos jesuítas, apesar de não contar ("embora não contasse") ainda oito anos de idade, quando chegou em 1615 ao Brasil, para onde teve de acompanhar a família. 9

Seria possível tentar ainda outras estruturas, invertendo-se apenas a ordem das orações; mas as melhores seriam sempre aquelas em que as duas idéias postas em relevo (a da oração principal e a outra que lhe ficasse em segundo plano) ocupassem as extremidades do período, caso em que g e g' seriam as preferíveis.

IV Quarta hipótese — Idéia mais importante: acompanhar a família

Se o autor pretendesse apresentar, em períodos subseqüentes, as razões de ordem doméstica pelas quais Vieira chegou ao Brasil, poderia adotar a seguinte estrutura:

h) Vieira, que não contava oito anos de idade, teve de acompanhar a família para

o Brasil, aonde chegou em 1615, matriculando-se logo depois no colégio dos

jesuítas.

ou esta, em que a idade de Vieira deixa de ser atributo, sob a forma de oração adjetiva, para expressar uma oposição à idéia de acompanhar a família, sob a forma de subordinada concessiva:

h') Não contando (embora não contasse, apesar de não contar) ainda oito anos de idade, Vieira teve de acompanhar a família para o Brasil em 1615, matriculando-se logo depois no colégio dos jesuítas.

9 Em g" omite-se o advérbio "logo", porque a referência à chegada ao Brasil vem posposta.

OT H O N M . 71

Aqui, "ter menos de oito anos" constitui uma condição que se opõe à idéia de ter de vir para o Brasil, de fazer uma viagem tão longa, nessa idade tão curta.

Mas, se se admite que, exatamente por ter menos de oito anos é que Vieira teve de acompanhar a família, da qual certamente não se poderia separar, a idéia de oposição deve ser substituída pela de causa ou de explicação:

h") Como não contava (ou não contasse) ainda oito anos de idade, Vieira teve de acompanhar a família para o Brasil... etc.

ou

Vieira teve de acompanhar... porque não contava ainda... (ou... "pois não contava ainda...")

Como se vê, a organização sintática de um período complexo não é tarefa gratuita. A articulação das orações (ou enunciados) exige faculdades de análise, de discriminação, de raciocínio lógico, enfim. O autor deve ter presente ao espírito a concorrência de fatores e elementos diversos (termos, agrupamentos de termos, orações, ordem de uns e outras, grau de relevância das idéias segundo o ponto de vista, etc). Deve procurar dar a cada um desses elementos e fatores, assim como ao seu conjunto, uma estrutura e disposição que estejam de acordo não apenas com as normas sintáticas mas também com a hierarquia entre eles, combinando-os de maneira que expressem o pensamento com a necessária clareza, objetividade, precisão e relevo.

1.5.3 Posição da oração principal: período "tenso" e período "frouxo"

Se a escolha da oração principal parece não ser, como vimos, tarefa gratuita, sua posição dentro do período tampouco deve resultar apenas do puro acaso, a menos que as idéias se encadeiem a esmo, niveladas no seu valor. Sabemos como na língua falada a situação

impõe a ordem dos termos e das orações. Na língua escrita, mesmo no estilo narrativo, em

que a sucessão dos fatos serve como diretriz para o escalonamento das orações, mesmo aí se devem levar em conta certos princípios de ordem geral. JVão se trata, evidentemente, de

regras inflexíveis, mas de normas ou tendências inspiradas pela lógica do raciocínio e pelo