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81 2.3.3 As sexualidades e seus reflexos corporais nas várias fases da vida humana: algumas

3 A NOMENCLATURA JURÍDICA A RESPEITO DAS SEXUALIDADES HUMANAS NA ATUALIDADE

3.1 A NECESSIDADE DE UM SISTEMA CONCEITUAL JURÍDICO AO REDOR DAS SEXUALIDADES HUMANAS

3.1.2 A orientação sexual dos seres humanos

A orientação sexual, conforme a definição proposta pelos PY, indica a classificação dos seres humanos quanto ao próprio desejo. Assim, a atração emocional, afetiva ou sexual quando dirigir-se para indivíduos do chamado mesmo sexo biológico se chamará homossexualidade, quando voltar-se para pessoas do chamado sexo biológico diverso se denominará de heterossexualidade e, finalmente, quando houver a atração para ambos os sexos biológicos indistintamente se definirá como bissexualidade.199 Não há uma nomenclatura para pessoas intersexuais que somente se atraem por outras pessoas intersexuadas.

Apesar da presente tese não se fundamentar, especificamente, nos estudos a respeito da orientação sexual dos indivíduos, há uma necessidade de debruçamento perante a temática pois há vulnerabização social do homossexual com reflexos vários no mundo jurídico. Existe, assim, uma necessidade de preocupação sobre os conceitos para um perfeito entendimento do quando vivenciado pela sociedade atual.

Toda a classificação perde sentido em um mundo pós-gênero no qual as sexualidades sejam fluidas e não haja marcos binários200 a serem seguidos. Assim, o sexo biológico será idêntico ao gênero e, portanto, macho/homem/masculino e fêmea/mulher/feminino são formações culturais em/na vida humana, conforme já se ventilou e ainda verá em capítulo próprio da presente tese. No entanto, na área jurídica, há uma importância em conceituar e em definir as orientações sexuais para haver a proteção dos vulnerados através de normatizações e medidas coercitivas ao impedimento dos violadores da solidariedade.

Por isso, há uma demanda nacional pela criminalização da homofobia. Porém, por outro lado, inúmeros países do globo ainda criminalizam a homossexualidade - até com pena de morte -

199

A pessoa assexual seria aquela na qual não há desejo sexual por nenhum ser humano. A presente tese não abrangerá tal nomenclatura pela situação de inatividade na orientação sexual.

200 Guacira Louro (2008, p. 22), no artigo Gênero e sexualidade, assim assevera: ―Se, hoje, as classificações binárias

dos gêneros e da sexualidade não mais dão conta das possibilidades de práticas e de identidades, isso não significa que os sujeitos transitem livremente entre esses territórios, isso não significa que eles e elas sejam igualmente considerados.‖

gerando uma imensa sensação de impotência diante de quadros criminalizatórios de comportamentos circunscritos à esfera da autonomia privada e intimidade pessoal. A homossexualidade é plúrima em suas características e aspectos definitórios. Há enorme celeuma a respeito de como o conceito deve ser formulado.

Dessa forma, Enézio Silva Júnior (2011, p. 98), no texto Diversidade sexual e suas nomenclaturas, define a homossexualidade da seguinte maneira: ―As (os) homossexuais, sejam do sexo masculino (gays), sejam do sexo feminino (lésbicas), são as pessoas que se atraem emocional, sexual e afetivamente por outras do mesmo sexo biológico.‖ Na mesma página do mesmo texto o autor define a bissexualidade da seguinte forma: ―As (os) bissexuais (sejam homens, sejam mulheres), são pessoas que se atraem emocional, sexual e/ou afetivamente por ambos o sexos, [...].‖ O sistema jurídico, através da facticidade cotidiana já verificou que há uma hetenormatividade patente. Dessa forma, qualquer fuga de um ser humano à dita heteronormatividade torna-o vulnerado e, portanto, digno de proteção normativa pois há violência, melindre, menoscabo e vilipêndio das pessoas não seguidoras dos padrões heteronormativos impostos - difusamente - pela sociedade atual.

Assim, impõ-se um ajuste perfeito na correspondência: homens devem atrair-se por mulheres e mulheres devem desejar homens – início do entendimento a respeito do sistema heteronormativo. Todas as vezes nas quais há quebra da correspondência citada haverá, às claras, uma vulneração do indivíduo diante do corpo social. As pessoas homossexuais e bissexuais, dessarte, tornam-se transviadas da imposição organizatória da sociedade.

Apesar da enorme dificuldade conceitual a respeito da chamada orientação sexual dos seres humanos,201 a sexualidade humana, no tangente ao desejo de com quem se relacionar, amar, desamar, odiar, detestar e fazer sexo é definida, até os dias atuais, como uma orientação bissexual,202 heterossexual e homossexual. Assim, os seres humanos, segundo tal definição, teriam

201 A conceituação da homossexualidade é deveras complexa. Neste sentido, Charles Gueboguo (2006, p. 35), no livro A questão homossexual na África (Tradução nossa), no original La question homosexuelle em afrique, assim indica: ―O conceito de homossexual em primeiro lugar é de dificil definição." (Tradução nossa) No original está da seguinte maneira: ―Le concept d´homessexuel de prime abord est difficile à definir.‖ Alguns países do oriente ainda não possuem os termos tido como corriqueiros no mundo ocidental. Assim, Brian Whitaker (2008, p. 12), na obra Parias, indica que: ―A língua árabe não possui termos largamente aceitos que seriam o equivalente da palavra 'gay'.‖

(Tradução nossa) Na versão de origem da tradução esta grafado da forma seguinte: ―La langue árabe ne possède pas de terme largemente accepté qui soit l´equivalent du mot ‗gay‘.‖ Nesse sentido, Geóvana Novaes (1999, p. 131), no livro Glossário de termos biológicos, define, através de um viés médico: ―Relativo a homossexualidade. Indivíduo sexualmente atraído por outro do mesmo sexo.‖ Alain Touraine (2010, p. 61), na obra O mundo das mulheres, assim ensina: ―E a oposição tão frequentemente sublinhada entre homo- e heterossexual aparece, do ponto de vista da sexualidade, muito mais limitada do que o gênero que repousa sobre imagens ‗socialmente construídas‘.‖

202 Para quem antinaturaliza a bissexualidade humana, Anchyses Jobim Lopes (p. 03), no texto O primata perverso polimorfo, expressa a seguinte informação a respeito dos bonobos: ―Não se pode falar de homossexualidade na acepção de uma opção exclusiva, por que todos os bonobos são completamente bissexuais.‖ (Grifo nosso) Dessa maneira, há seres vivos, bem próximos em termos evolutivos ao espécime humano, com comportamento sexual

atração por ambos os sexos/gêneros, somente o sexo/gênero oposto ou apenas o mesmo sexo/gênero.

O primeiro equívoco de tal categorização está na essencialização da sexualidade das pessoas, como se o conceito de homossexualidade e homossexual não fosse histórico e marcado por uma imensa paleta de cores diversas e alternadas por revezes sociais e culturais. O conceito de homossexualidade também é plural. O segundo pensamento problemático é que não existem somente dois sexos/gêneros, homens/masculino e mulheres/feminino, perfeitos e acabados, conforme se notou e verá algures no presente texto.

Dessa forma, um homem/mulher que se atrai por outro homem/mulher não está sendo perfeitamente heterossexual/homossexual por que cada homem/mulher é, em si mesmo, diferente, sexualmente falando. Além de tudo, indivíduos que não praticam atividades sexuais com outras pessoas ou que não sentem desejos sexuais por nenhum dos sexos ou que somente praticam atividades com objetos inanimados – como dildos – não encontram lugar nas classificações postas.

Uma norma protetiva ou regulamentária da presente categoria, pois não há nenhuma dúvida da necessidade protetiva diante de um universo social marcado pelo falocentrismo e heteronormatividade, teria tantas celeumas concretas na sua criação que, possivelmente, não abrangeria a todos que se identificam na categoria – e que são identificados - e não seria melíflua no intento organizador.

Neste sentido, o Diário Oficial da União (2014, p. 01-02), do dia 17 de abril de 2014, publicou a resolução n. 01, conjunta do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária203 (CNPCP) e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD/LGBT), em que há uma tentativa de conceituação jurídica das categorias aqui discutidas. Dessa forma, o artigo 1º., nos incisos I e II definem – segundo a normatização citada – o que seriam lésbicas e gays, respectivamente, da seguinte maneira: ―I - Lésbicas: denominação específica para mulheres que se relacionam afetiva e sexualmente com outras mulheres; II - Gays: denominação específica para homens que se relacionam afetiva e sexualmente com outros homens;‖

No entanto, apesar da conceituação normativa, acima citada, levando-se em consideração –

circunscrito à bissexualidade. Nem se afirme, por outro lado, da inoperância científica de comparações da maneira de viver dos seres humanos com a vida dos demais animais não-humanos. Nesse sentido, Friedrich Engels (1964, p. 30), na obra A origem da família, da propriedade privada e do Estado, assim afirma: ―Como vemos, as sociedades animais têm certo valor para tirarmos conclusões concernentes às sociedades humanas, mas somente num sentido negativo.‖

203 Há uma importância fulcral de recomendar algumas regulações a respeito do aprisionamento humano, outrora

invisíveis. Inúmeras questões a respeito das sexualidades são circunscritas ao cárcere. Pessoas, quando presas, são visitadas por outras como um exercício doloroso de sacrifício para a mantença do enlace. O filme Visita íntima (2005) narra diversas histórias reais a respeito da alta complexidade – angústias, anseios, alegrias - do acontecimento do amor entre elas.

por suposição - a existência de homens e mulheres somente, ter-se-ia novos problemas conceituais não açambarcados pelo comando. A definição da orientação sexual corresponderia à prática sexual – com pessoas do mesmo sexo–, seria algo do desejo humano - , ou se relacionaria às características físicas efeminadas ou masculinizadas, o comando normativo não deixou claro o pilar definitório do conceito.

Para Gabrielle Houbre (2004, p. 141-142), em entrevista a Marlon Salomon intitulada A propósito da história das mulheres e do gênero, ―Há, sem dúvida, práticas sexuais, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, e outras, mas como defini-las?‖ Portanto, segundo a autora francesa, a definição do conceito é deveras obscura. A indefinição clara, no Brasil, causa embaraço na aplicação da norma de proteção às pessoas não imiscuídas nas definições categoriais explanadas porém vulneradas pela sociedade.

Fácil seria se os conceitos de bissexual, heterossexual e homossexual fossem somente ligados às práticas sexuais efetivas e não a uma complexa questão identitária. Apesar disso, bem marca Leandro Colling (2007, p. 218), no texto Personagens homossexuais nas telenovelas da rede globo, versando a respeito dos personagens televisivos, que incide a perspectiva crucial de conceituar o homossexual pelas práticas realizadas das atividades sexuais, assim escrito: ―Ou seja, a televisão não mostra exatamente o principal aspecto que nos diferencia dos heterossexuais: com quem fazemos sexo.‖ (Grifos nossos)

Assim, um homem que só praticasse sexo com uma mulher pensando/imaginando homens seria homossexual? Ou, ao inverso, uma pessoa que só praticasse sexo com pessoas do mesmo sexo pensando no outro sexo seria heterossexual? O que vale mais na conceituação, o desejo – interno - ou a efetiva prática – exterioridade? Uma pessoa que nunca tenha feito sexo com nenhuma outra pessoa, mas tenha desejos pelo sexo/gênero oposto pode ser conceituado como heterossexual, mesmo sem prática alguma?

Um homem com andrajos e rosto tidos como femininos pode ser caracterizado como homossexual? Uma mulher masculinizada pode ser tida como lésbica? Os conceitos de lesbianidade e masculinização da mulher são idênticos? Dessa forma, o próprio conceito do que seria uma orientação sexual pode ser problematizado a ponto de causar indisposição nas afirmações encontradas nos livros acadêmicos e conceitos normativos citados a respeito do assunto.

Além disso, a vivência do desejo humano não é a mesma em todas as bandas do mundo. Algumas regiões da África,204 por exemplo, e em muitos países no restante do planeta, a

204 Segundo Charles Gueboguo (2006, p. 39), no livro específico a respeito da temática intitulado A questão

homossexual na África (Tradução nossa), em francês La question homosexuelle em afrique, muitos países africanos tratam a homossexualidade com o martelo do direito penal, senão se veja: ―São 24 a ter uma legislação homofóbica

homossexualidade é um ato ilegal, passível de prisão e quiçá de pena de morte, tendo de permanecer em segredo,205 silenciosamente. Assim, é plenamente plausível o temor do desejo homossexual com a sua sublimação ou mesmo com a convivência do problema de não poder vivenciar concretamente os próprios desejos para não ser punido pelo Estado.

No Irã, segundo o documentário Os transexuais no Irã (2008), a homossexualidade é crime tendo a pena de morte por apedrejamento como medida jurídica. Porém, pode haver a cirurgia para redesignar o sexo biológico. Assim, uma pessoa humana, tida ao nascimento como homem, desejosa em ter uma relação amorosa com outro homem poderá, após a cirurgia, viver a experiência.

Segundo a obra As 100 palavras da sexualidade (Tradução nossa), em francês Les 100 mots de la sexualité, organizada por Jacques André (2011, p. 66), fazendo um resumo das colocações do presente tópico, tem-se:

É a Inglaterra de Oscar Wilde que coloca em voga pela primeira vez a palavra homossexualidade – ‗heterossexualidade‘ virá vinte anos mais tarde. Quanto à ‗bissexualidade‘, ela instalou-se realmente na língua a partir do diálogo entre Fliess e Freud, os quais constataram a presença de duas identidades sexuais em cada um de nós e a impossibilidade de confiar na anatomia para determinar o sexo psíquico prevalente. (Grifos nossos e tradução nossa)206

entre os 44 países que mencionam a homossexualidade em seu código de leis penais na África.‖ (Tradução nossa) No original: ―Ils sont 24 à avoir une législation homophobe parmi les 44 pays qui mentonnent l´homesexualité dans leur code de lois pénales en Afrique.‖ William Naphy (2006, p. 277), na obra Born to be gay, assim indica: ―Todos os sete países onde a homossexualidade é punida com a morte são islâmicos e dos 82 onde é considerada crime, 36 são predominantemente muçulmanos.‖ Judith MacKay, (2000, p. 105), no livro Atlas da sexualidade no mundo (Tradução nossa), em francês Atlas de la sexualité dans le monde, assim afirma: "A legislação muda lentamente, mas, em geral, a homossexualidade ainda é ilegal em quase 50 países, e a homossexualidade masculina em 50 outros países." (Tradução nossa) Assim está grafado no original: ―La legislation change lentement, mais l´homosexualité en général est toujours illégale dans près 50 pays, et l´homosexualité masculine dans 50 autres pays.‖ Segundo Colin Spencer (1999, p. 442), no livro publicado ainda no final do século XX, chamado História da homossexualidade (Tradução nossa), no original está assim grafado Histoire de l´Homossexualité: "Dos duzentos e dois países do mundo, a homossexualidade é ilegal em setenta e quatro." (Tradução nossa) Na lingua de origem da obra tem-se: ―Sur les deux cent deux pays du monde, l´homosexualité est illégale dans soixante-quatorze.‖ O inicio do século XXI ainda é tonitruante para os ditos homossexuais em muitos países do globo. Neste sentido, Vincenzo Patanè (2006, p. 283), no texto A homossexualidade no Oriente-médio e na África do Norte (Tradução nossa), em francês

L‟homosexualité au Moyen-Orient et en Afrique du Nord: ―Em 2001, um grupo de homens homossexuais foi preso em uma casa noturna, vinte e três deles foram condenados a até cinco anos de trabalhos forçados por ‗deboche repetido‘ e ‗violação da religião muçulmana‘.‖ (Tradução nossa) No original esta assim escrito: ―En 2001, un groupe d‘hommes gays fut arrete dans une boite de nuit; vingt-trois d‘entre eux furent condamnés à des peines allant jusqu‘à cinq ans de travaux forcés pour ‗dévergondage répété‘ et ‗atteinte portée à la religion musulmane‘.‖ Conforme a leitura de Débora Brandão (2002, p. 60), no livro Parcerias homossexuais, versando a respeito dos Estados Unidos da América: ―Finalizando, mais de vinte estados americanos consideram a sodomia crime.‖ (Grifos nossos)

205 Falando a respeito da Costa do Marfim, Jérôme Palazzolo e Christian Mésenge (2013, p. 32), no opúsculo

denominado A homossexualidade na África da antropologia e psicologia (Tradução nossa), em francês L´homosexualité em Afrique regard anthropologie et psychologique, assim versam: "A prática de relações homossexuais é complexa na Costa do Marfim. Ela é frequentemente clandestina, e marcada pelo segredo." (Tradução nossa) No original está escrito da seguinte maneira: ―La pratique des relations homosexuelles est complexe en Côte d´Ivoire. Elle est le plus solvent clandestine, et marqué par le secret.‖

O Dicionário de psicanálise (Tradução nossa) de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon (2000, p. 468), em francês Dictionnaire de la psychanalyse, assim define o termo homossexualidade: ―Termo derivado do grego (homos: semelhante) e criado por volta de 1869 pela médica húngara Karoly Maria Kertbeny (anagrama de Benkert) para se referir a todas as formas de amor carnal entre pessoas pertencentes ao mesmo sexo biológico.‖(Tradução nossa)207 O conceito, no entanto, não bastou em si na restrição elencada. Dessa forma, houve, ao longo do tempo, uma dinamização semântica no sentido de incluir diversas cores outrora invisíveis a respeito das sexualidades.

No sentir de Brian Whitaker (2008, p. 12), no livro Parias, de uma forma quase dicionarística e sem um sentido crítico mais afirmativo, o termo homossexualidade significa: ―Atos e sentimentos de natureza sexual entre pessoas do mesmo sexo (masculino ou feminino), considerando que as pessoas se consideram gays ou não, lésbicas, etc.‖208 Para Charles Gueboguo (2006, p. 172), no livro A questão homossexual na África (Tradução nossa), em francês La question homosexuelle em afrique, a homossexualidade pode assim ser definida:

Designa-se como a orientação sexual em um determinado indivíduo, que já tem em si de forma explícita ou não atração por pessoas de seu sexo e que, depois de uma série de etapas pelas quais passou, chegou ao reconhecimento, à aceitação e, finalmente, à integração gradual da identidade homossexual. (Grifo nosso e tradução nossa)209

No pensar de Frédéric Martel (2013, p. 344), no livro Global gay, a palavra gay significa:

A palavra 'gay' é doravante usada como um padrão usado em todo o mundo, como sinônimo de ‗homossexual‘. A maioria dos gays a preferem porque eles não se limitam a questões sexuais, mas estende-se a aspectos sociais e culturais. (Frequentemente refere-se aos dois sexos, homossexuais masculinos e lésbicas, e eu a empreguei, assim, neste livro). (Tradução nossa)210

homosexuality – „hétérosexualité‟ suivra vingt ans plus tard. Quant à ‗bisexualité‘, il s´installe véritablement dans la langue à partir du dialogue entre Fliess et Freud, lesquels constatent à la fois la présence des deux identités sexuelles chez chacun d´entre nous et l´impossibilité de se fier à l´anatomie pour déterminer le sexe psychique prévalent.‖

207 No original esta grafado da seguinte maneira: ―Terme dérivé du grec (homos: semblable) et créé vers 1869 par le

médecin hongrois Karoly Maria Kertbeny (anagramme de Benkert) pour désigner toutes les formes d‘amour charnel entre des personnes appartenant biologiquement au meme sexe.‖

208 Originalmente está escrito da seguinte maneira: ―Actes et sentiments à caractere sexuel entre des personnes du même

sexe (masculin ou féminin), les personnes concernées se considérant ou non comme gays, lesbiennes, etc.‖

209

No texto de origem: ―Il a été désigné comme l´orientation sexuelle chez um individu donné, lequel a déjà lui-même une attirance explicite ou non pour les personnes de son sexe et qui, après une série d´étapes par lesquelles il est passé, est parvenu à la reconnaissance, à l´acceptation et enfin à l´integration progressive de son identité homosexuelle.‖

210

No original está assim marcado: ―Le mot ‗gay‘ est désormais d´un usage standard à travers le monde, comme synonyme d´‗homosexuel‘. La plupart des gays le privilégient parce qu´ils ne se limite pas au domaine sexuel, mais

Conforme já foi visto, existem inúmeras dificuldades na afirmação do conceito pois quem faz sexo ativamente - efetuando a penetração - , em muitos países do planeta, é tido com nomes diferentes, em cada localidade, e acreditado, muitas vezes, como heterossexual. Dessa forma, difícil se torna compreender o conceito de pessoa bi, hétero ou homossexual diante de tamanhas perspectivas diferentes.

Importante afirmar, em viés teorético calcado nas proposições queer, que mesmo não se crendo na existência de uma pessoa naturalmente, na essência, bi, hétero ou homossexual, existem reflexos sociais importantes para o Direito contidos nas ilusões já ventiladas pois o silêncio jurídico diante da matéria poderá - e fará - recrudescer comportamentos nos quais seres humanos findarão por acachapar outros indivíduos sob o manto de um ódio calcado na imposição da naturalidade das relações conceituais de uma única natural, normal e saudável sexualidade.

A resolução n. 01, conjunta do CNPCP do CNCD/LGBT assim define a bissexualidade, no art. 1º: ―III - Bissexuais: pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com ambos os sexos;‖ Dessa forma, a norma não leva em consideração as diversas nuances aqui esposadas a respeito do conceito. Abrange da mesma maneira uma relação afetiva e sexual, olvidando as questões da cultura, do desejo e da identidade.

Apesar de a bissexualidade, no mundo grego antigo211 ter sido uma forma normalizada pela sociedade de vivenciar a própria sexualidade, a atualidade elenca um novo modelo de conduta sexual do qual o não seguidor poderá ser vulnerado em âmbito social. Assim, mesmo não havendo elucidação plena a respeito de um conceito de homossexualidade – ou mesmo se crendo na sua inexistência, sob o referente teorético queer – o Direito deve ventilar a criação de normas protetoras do que se chamam de bissexuais e homossexuais,212 pois são seres humanos vulnerados diante da vida social da atualidade.

Assim, percebe-se, in claris, uma vulnerabilização social do bissexual e do homossexual perante o heterossexual, sendo este último o modelo de regra de conduta social da atualidade.

s´étend aux aspects sociaux et culturels. (Il concerne fréquemment les deux sexes, homosexuels masculins e lesbiennes, et je l´emploie ainsi dans ce livre).‖

211 Neste sentido, falando a respeito do período citado, Colin Spencer (1999, p. 52), na obra História da

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