• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 5 O Grupo de Matemática

5.1 Apresentação do grupo de Matemática

5.1.1 Os professores

Formulado o problema e os objetivos deste estudo, foi necessário encontrar um grupo de professores de uma escola que estivesse disponível e interessado em desenvol- ver uma prática de gestão curricular em colaboração com uma abordagem de inovação curricular. Tal como referi no capítulo um decidi estudar o grupo de professores que inclui todos os professores do departamento de Matemática da escola. O departamento

tem catorze professores, onze são do quadro da escola e os restantes do quadro de zona pedagógica. Pode dizer-se que há estabilidade, uma vez que todos os professores do quadro estão há mais de 10 anos na escola, cinco há mais de 15 anos e dos quais quatro há mais de 20 anos (tabela 5.1). A maioria dos professores tem como formação inicial a licenciatura no ramo educacional e um é Engenheiro. Três professores têm mestrado, sendo um em Didática da Matemática. A experiência profissional dos professores varia entre os 5 e os 30 anos de serviço. Dos catorze, quatro têm mais de 25 anos de experiên- cia profissional, seis têm entre 15 e 20 anos e os restantes entre 5 e 15 anos. Neste ano letivo, a função de coordenador é ocupado por um dos cinco professores titulares (PT) do grupo de Matemática, Ana1.

Tabela 5.1 – Distribuição dos professores na escola.

Número de anos na escola

Nome do Professor

Nível de Ensino que lecionam em 2007/2008 Habilitações Literárias Tempo de Serviço  2 anos

Catarina 9.º ano e MACS Licenciatura 5-10 anos Joaquim 7.º e 8.º ano Licenciatura 5-10 anos Matilde 7.º e 8.º ano Licenciatura 11 anos

10 anos

Maria 7.º e 11.º ano Licenciatura 15- 20 anos

Diogo 9.º e 12.º ano Mestrado 15-20 anos

Laura 10.º e CEF Licenciatura 15-20 anos

Filomena 9.º e 10.º ano Licenciatura 15-20 anos

Silvina MACS Licenciatura 15-20 anos

Joana 11.º ano Licenciatura 15-20 anos

Ana (PT) 12.º ano Mestrado 12 anos

 20 anos

Luís (PT) Matemática B Licenciatura  25 anos Francisca (PT) 11.º ano Licenciatura  25 anos Sebastião (PT) 8.º e 10.º ano Licenciatura  25 anos

Simão (PT) 12.º ano Mestrado 27 anos

Na tabela 5.1 apresento a distribuição dos professores por número de anos na es- cola, experiência profissional, níveis de ensino que estão a lecionar, habilitações literá-

1 A alteração no Estatuto da Carreira Docente (DL n.º 15/2007 de 19 de janeiro) obrigou a uma nova eleição para o cargo de coordenador do departamento de Matemática em julho de 2007, entre os professo- res titulares (PT).

rias e o tempo de serviço na carreira.

Quase todos os professores do quadro já estiveram em encontros profissionais, quer nacionais quer regionais, com a exceção de Francisca e Luís. Este modo de estar na profissão parece ter por base uma preocupação latente no grupo de se manter atualizado, quanto à evolução e às mudanças nas orientações curriculares para o ensino da Matemá- tica. Por outro lado, as palavras dos professores revelam que procuram manter ativa a dinâmica do grupo e o desenvolvimento profissional dos professores, opondo-se a um status quo e há estagnação do conhecimento profissional individual e do grupo:

Temos que sair do nosso cantinho [a escola] e ver os que os outros [pro- fessores] andam a fazer. Aprendo sempre coisas novas. [Entrevista (E) Laura]

Nós vamos quase sempre em pequeno grupo [aos encontros ou forma- ção]. (…) É preciso saber as novidades, o que saiu de novo! Percebe-se que as nossas dificuldades e dúvidas, também são as dos outros professo- res. A partilha permite aprender formas de ultrapassar as dificuldades. Fico a saber como os outros fizeram e se organizaram. Nós aqui falamos muito uns com os outros, mas como já trabalhamos juntos há muito tem- po estamos viciados na maneira de pensar, por isso é bom ouvir outros de fora! [E Maria]

Do discurso de Maria, também se percebe que é um professora preocupada em acompanhar o modo como outras escolas estão a trabalhar e qual a natureza dos pro- blemas com que se debatem. Após os encontros profissionais há uma troca de experiên- cias entre os elementos do grupo. Em particular, quando um elemento frequenta uma ação de formação, depois fica responsável por dinamizar um pequeno seminário para os colegas do grupo, partilhando as aprendizagens realizadas durante a formação:

Isto foi uma coisa que nós instituímos há uns anos atrás. Nem sempre é possível irmos todos, ou há ações de formação fora [que não são oferta do Centro de Formação a que a escola pertence] que um frequenta (…) Quando volta tem que fazer uma sessão para todos do grupo. É uma for- ma de nos mantermos atualizados. Quando sabemos que há novidades [orientações curriculares, tecnologias, materiais, projetos] arranjamos maneira de um do grupo ir conhecer. (…) Aqui à volta somos conhecidos por estar sempre na crista da onda. Os colegas das outras escolas pergun- tam-nos a nós, quais são as novidades?! [ri-se] Já sabem que nós anda- mos sempre à procura! [E Sebastião]

O Diogo traz coisas, bastantes! Às vezes a Maria e o Joaquim, (…) e a Catarina, mas é porque vêm de outras escolas, nós é de coisas onde va-

mos. Por exemplo, eu vou a um PROFMAT2, vou a um encontro e se aprendo lá uma coisa tenho de mostrar senão rebento e os outros a mes- ma coisa. O Diogo vai a muita coisa. Ainda agora foi a um seminário so- bre jogos, para aprender a matemática dos jogos. Portanto, é uma pessoa que vai e traz: “Olha esta coisa tão gira e se a gente fizesse”. Do ponto de vista de criatividade o Sebastião ultrapassa qualquer um. [E1 Simão (S)]

No discurso de Sebastião e Simão percebe-se a forma como eles valorizam o seu desenvolvimento profissional e consideram fundamental o desenvolvimento do grupo. Por outro lado, revelam a estratégia que encontraram para se manterem atualizados e parece haver algum reconhecimento por parte de outras escolas da região de que estes professores são ativos e atentos à evolução das orientações curriculares. Igualmente se percebe que, a norma que o grupo estabeleceu, de haver sempre alguém responsável por trazer novidades para as sessões de trabalho colaborativo, revela-se um elemento impor- tante para a dinâmica do trabalho colaborativo e do desenvolvimento do conhecimento profissional. Particularmente, esta estratégia permite que o saber que cada professor individualmente pode adquirir, ao estabelecer contactos e redes de trabalho fora da es- cola é, posteriormente, facilitado aos restantes colegas de Matemática. Igualmente mos- tra, a visão que o grupo procura cultivar sobre a forma de estar na profissão, assumindo, a maioria dos professores, uma atitude de predisposição para aprender e desenvolver o conhecimento profissional, acompanhando as mudanças que ocorrem na educação ma- temática, nomeadamente em projetos e em investigação. Por outro lado, o facto de haver alguns elementos novos do grupo é também um elemento importante para o conheci- mento do grupo, com a partilha de experiências de professores que já passaram por ou- tros contextos escolares, como é o caso de Joaquim, que já deu aulas no ensino superior, Catarina, que se revela uma profissional dinâmica e empenhada nas suas funções, e Ma- tilde que já passou por várias escolas da região.

Igualmente importante, parece ser o facto de Sebastião e Simão integrarem o grupo de trabalho T3da APM3, o que pode justificar a frequência com que a maioria dos professores do departamento utiliza a calculadora gráfica na sua prática letiva, indepen- dentemente do nível de ensino. Para além disso, na escola está sediado o centro de for-

2 PROFMAT – Encontro Nacional de Professores de Matemática da Associação de Professores de Mate- mática de Portugal.

3 O grupo de trabalho T3 da Associação de Professores de Matemática (APM) pretende desenvolver a capacidade de utilização da tecnologia gráfica no ensino da Matemática. Experimentar e criar atividades utilizáveis na sala de aula. Dinamizar a discussão e o intercâmbio de atividades ligadas ao ensino da Ma- temática. Ver em http://www.esb.ucp.pt/t3/

mação de escolas da região, do qual são formadores quatro professores deste grupo, o que representa um número significativo de professores envolvidos com dinâmicas de formação contínua. Esta realidade tem-se revelado um elemento facilitador para a reali- zação dos projetos de formação com creditação que o grupo tem desenvolvido nos últi- mos anos e que caracteriza a cultura de trabalho destes professores.