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Capítulo 5 O Grupo de Matemática

5.4 Síntese final

O departamento de Matemática é constituído por catorze professores, sendo a sua maioria professores do quadro de escola, a lecionar há mais de dez anos na escola. O grupo de professores é dinâmico usando os projetos como estratégia fundamental para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem e para enfrentar as dificuldades que emergem da prática. Fora da escola, a maioria dos professores participa em ações de formação e encontros profissionais. Na escola organiza atividades para alunos e profes- sores que integram o plano anual de atividades.

O trabalho que o grupo desenvolve é reconhecido pelo conselho executivo e pe- dagógico, e pela comunidade escolar, em particular os alunos e os encarregados de edu- cação. O conselho executivo procura criar condições para que os professores possam desenvolver o seu trabalho. Em particular, organizam os horários dos professores de modo a gerar espaços comuns sem componente letiva para que seja possível trabalhar colaborativamente. A comunidade escolar parece confiar no trabalho que os professores desenvolvem e, para isso, contribuem os resultados que os alunos obtêm na avaliação externa, em particular, no exame nacional de Matemática, e o número de alunos que consegue prosseguir estudos no ensino superior.

A Gestão curricular no contexto do departamento de Matemática. A gestão do currículo no contexto do departamento de Matemática tem uma dimensão macro, que se centra na elaboração da planificação anual e das unidades temáticas. Os professores começam por planificar o ano letivo delineando o percurso pelas unidades temáticas, para cada nível de ensino. Numa segunda fase, cada unidade é planeada tendo em conta o número de aulas por semana e os diferentes tópicos. Como ponto de partida para este trabalho cada subgrupo de professores tem como referência o currículo prescrito pelos documentos oficiais, o currículo mediado pelo manual escolar adotado para cada ano de escolaridade e os materiais produzidos pelos professores no ano letivo anterior. Numa terceira fase, o foco de trabalho do projeto do PM e das Tarefas de investigação, de-

monstrações e problemas nos manuais e na gestão do currículo para o ano letivo 2007/2008, orienta a seleção dos materiais curriculares a usar na sala de aula, em parti- cular a natureza das tarefas que propõem aos alunos e os recursos.

A discussão em plenária das orientações curriculares para o ensino da Matemáti- ca, preconizadas no PMEB, é uma estratégia que foi usada com o propósito dos profes- sores do departamento conhecerem e refletirem sobre os objetivos e finalidades do ensi- no da Matemática, e as aprendizagens que os alunos devem adquirir em cada ciclo do ensino básico. Posteriormente, este conhecimento sobre o currículo de Matemática pa- rece ter orientado as decisões dos professores, na seleção das tarefas e dos materiais curriculares, e na definição de metodologias e estratégias de ensino-aprendizagem. No entanto, percebe-se que esta não foi uma discussão inédita, uma vez que estes temas já foram o foco de estudo de alguns dos professores do departamento, pelo menos, num projeto anterior.

Em todas as reuniões do grupo, os manuais escolares adotados e o programa de Matemática dos diferentes níveis de ensino, são materiais que têm presença constante. Para além destes materiais, estão presentes, outros que são trazidos pelos professores e outros que foram produzidos e usados em anos anteriores, e recursos como calculadoras, computadores e programas didáticos, e jogos. A presença de uma diversidade de materi- ais curriculares e a sua utilização refletem a preocupação do grupo em desenvolver prá- ticas diversificadas e inovadoras. No entanto, é possível perceber que nem todos os elementos estão familiarizados com alguns dos materiais já utilizados, assumindo uma postura de observadores atentos e esclarecendo as suas dúvidas.

As tarefas têm um papel central na natureza das propostas de trabalho que os professores desenvolvem com os seus alunos. Para além das tarefas do manual, o grupo procurou construir tarefas desafiantes para os alunos e que lhes permitisse refletir sobre as dificuldades e aprendizagens dos alunos nos diferentes tópicos. Assim, ao longo das sessões de trabalho foram discutidos problemas, investigações e demonstrações. Numa primeira fase, os professores construíram as tarefas e discutiram possíveis estratégias para a sua realização em sala de aula. Numa segunda fase, os professores procuraram olhar para as produções dos alunos e refletir sobre o modo como os alunos se envolve- ram na realização da tarefa, salientando as dificuldades e a forma como ajudaram os alunos a superar as suas dificuldades.

O manual escolar é o recurso mais utilizado pelos professores quer na planifica- ção do trabalho que pretendem desenvolver com os seus alunos, quer na sala de aula.

Neste sentido, quando planificam o seu trabalho os professores procuram conhecer as propostas de tarefas que o manual oferece, em particular a natureza das tarefas. Este é um material que todos os alunos têm, sendo por isso maximizada a sua utilização quer na sala de aula, quer no estudo autónomo dos alunos.

O trabalho que os professores desenvolvem com os seus alunos, permite-lhes re- colher informações sobre as aprendizagens, nomeadamente através da análise das pro- duções escritas dos alunos e da observação do trabalho em sala de aula. A informação que recolhem serve essencialmente para regular as práticas e reajustando as planifica- ções iniciais. Da análise das discussões dos professores sobre esta temática, percebe-se que a tarefa de interpretar os raciocínios dos alunos nas respostas às tarefas e a sua clas- sificação é uma complexa. Porém, ao longo das várias sessões os professores foram procurando superar as suas dificuldades, partilhando dúvidas e questionando a sua prá- tica. Neste sentido, o grupo decidiu melhorar o feedback que dá aos seus alunos, procu- rando salientar os pontos fortes e menos conseguidos dos seus trabalhos. Esta é uma medida que parece ser bem acolhida pelos alunos, e no final do estudo os professores salientam que produziu resultados na melhoria das aprendizagens dos alunos.

O trabalho colaborativo dos professores. O trabalho do grupo tem como ponto de partida os objetivos definidos nos projetos do departamento de Matemática. Neste sentido as sessões de trabalho organizam-se em torno da discussão de temas como, as orientações curriculares para o ensino da Matemática, as tarefas, os materiais curricula- res, análise e classificação das produções escritas pelos alunos, balanço dos resultados dos alunos na avaliação interna, estratégias de ensino-aprendizagem, dificuldades que emergem das práticas, entre outros. Igualmente importante são os momentos de partilha de experiências de sala de aula, que permitem refletir sobre a prática e a aprendizagem dos alunos. O ambiente de trabalho evidencia as boas relações pessoais que existem no departamento. É possível perceber que há elementos mais integrados do que outros na dinâmica do grupo, mas também que o ambiente reflete uma postura de partilha e aco- lhimento. Há espaço para troca de ideias, sugestões, críticas e reflexão sobre as experi- ências individuais vividas em anos anteriores. No contexto de trabalho em subgrupos, os professores vão trocando ideias sobre as atividades que fizeram em anos anteriores, refletindo sobre a potencialidade da sua utilização nas suas turmas, adaptando-as e aju- dando-se uns aos outros. A cultura do grupo e de trabalho colaborativo parece ajudar no processo de socialização dos novos elementos, ao mesmo tempo que fomenta um clima de confiança propício à partilha de experiências e dificuldades, elementos essenciais

para a construção da identidade profissional e ao desenvolvimento profissional do pro- fessor.

A sustentabilidade da dinâmica de trabalho colaborativo e da cultura profissional do grupo parece estar relacionada com os processos de liderança que os professores desenvolvem. O grupo é coordenado por Ana, mas a coordenação dos projetos foi atri- buída a Simão, uma pela liderança da escola (PM) a outra por solicitação dos professo- res do grupo. Por outro lado, dentro do grupo, há lideranças intermédias de natureza informal que determinam a dinâmica de trabalho nos subgrupos de professores por nível de escolaridade. Estas lideranças revelam-se elementos essenciais para a regulação do processo de ensino-aprendizagem por nível de escolaridade. É também uma estratégia que emerge do grupo para ajudar a integrar os professores recém-chegados ao grupo e também para evitar problemas, em particular com a aprendizagem dos alunos e com os encarregados de educação. No grupo há vários elementos catalisadores da dinâmica de trabalho, salientando-se no entanto o papel de Simão e Sebastião. São dois professores com muitos anos de experiência profissional, com uma visão sobre a profissão e o pro- cesso de ensino-aprendizagem, que facilita o seu envolvimento em práticas inovadores e em aceitar desafios.

Finalmente, a cultura de trabalho colaborativo e o desenvolvimento dos projetos constituem elementos essenciais para os professores aceitar desafios, experimentarem práticas inovadoras, partilharem experiências e com isso desenvolver o seu conhecimen- to e identidade profissional. Esta é uma cultura que caracteriza a identidade do grupo e define uma estratégia fundamental para o desenvolvimento de um processo de ensino- aprendizagem de qualidade visando o sucesso das aprendizagens dos alunos em Mate- mática.