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Capítulo 4 Metodologia

4.2 Recolha de dados

4.2.1 Técnicas de recolha de dados

Como técnicas de recolha de dados pretendo usar a observação participante, a entrevista e a recolha documental. Os dados resultam das sessões de trabalho do grupo, das aulas e dos professores e com recurso a três instrumentos, o diário de campo, o guião da entrevista, e os relatórios, reflexões, registos e tarefas escritos dos professores (Tabela 4.1).

Tabela 4.1 – Recolha de material empírico: Técnicas, fontes e formas de registo.

Técnicas Fontes Formas de registo

Observação partici- pante

Sessões de trabalho Aulas

Gravação áudio e vídeo / transcrição Diário de campo

Entrevista Professores Gravação áudio / Transcrição

Recolha documental Professores

Registos de avaliação elaborados pelos professores

Reflexões escritas de episódios das aulas Relatório individual final do projeto.

No primeiro contacto exploratório que estabeleci com os participantes entre no- vembro de 2006 e maio de 2007, com o objetivo de averiguar o seu interesse pelo de- senvolvimento da investigação, recolhi alguns dados que me permitiram aprofundar os objetivos e as questões do estudo e as opções metodológicas. Efetivamente e de forma sistemática, a recolha de dados para este estudo decorreu entre 11 de setembro de 2007 e 15 de julho de 2008 e foi feita por mim. A recolha de informação decorreu na escola dos professores participantes. Observei dez sessões de trabalho do grupo e cinco aulas, duas do Simão, duas da Ana e uma da Matilde (Tabela 4.2). Inicialmente estava previsto assistir a duas aulas de cada professor que constituem os casos, mas no caso de Matilde só foi possível assistir a uma aula e de Estudo acompanhado, em que estavam presentes dois professores na sala de aula.

Tabela 4.2 – Calendário de recolha de dados

Como em qualquer investigação a recolha de dados é muito importante, devendo ser consistente com o objetivo e questões do estudo, pois dele depende a viabilidade das conclusões. Os métodos de recolha de dados e as fontes são diversificados assim como os momentos em que os dados são recolhidos, pelo que torna possível fazer a triangula- ção dos dados, provenientes da observação participante, das entrevistas e dos vários documentos (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2008).

4.2.2 Observação participante

Segundo Ludke e André (1986), a observação possibilita um contacto pessoal e próximo entre o investigador e o fenómeno estudado, sendo a melhor forma para verifi- car a ocorrência de um determinado facto. Permite que o observador chegue mais pró- ximo das perspetivas dos sujeitos, na medida em que ele acompanha as suas experiên- cias, no local, tentado apreender a sua visão do mundo, ou seja, o significado que atri- buem à realidade que os rodeia e às suas próprias ações. Por outro lado, sendo o obser-

1 Entrevista a um elemento do Conselho Executivo da escola, neste caso foi a Vice-Presidente que se disponibilizou.

2 Esta aula não se realizou porque Matilde faltou e não consegui agendar outra observação de aula.

Data Sessões de Trabalho Aulas Reflexões Pós-aula Entrevistas Relatório Final 11/09/07 ST 1 25/09/07 ST 2 AM 1 AS 1 R1 E1 A 16/10/07 ST 3 R2 E1 S 20/11/07 ST 4 RM 1 RS 1 E CE1 08/01/08 ST 5 15/01/08 ST 6 R5 E1 M 19/02/08 ST 7 AM 2AA 1 2 R6 08/04/08 ST 8 AS 2 RM 2 RA 1 E2 S 06/05/08 ST 9 AA 2 R8 E2 M E2 A 03/07/08 ST 10 14/07/08 RF M RF A RF S

vador principal instrumento da investigação, ele pode recorrer aos seus conhecimentos e às suas experiências anteriores como auxiliares no processo de compreensão e interpre- tação do fenómeno em estudo, tendo um papel importante no desenvolvimento da pes- quisa (Jorgensen, 1989; Ludke & André, 1986; Yin, 1989).

Neste estudo, a investigadora assume o papel de observador participante. A pe- dido do grupo de professores assumi disponibilizar bibliografia que me fosse solicitada e ajudar na formalização da documentação necessária para a acreditação do projeto. Igualmente, assumi uma atitude ativa nas sessões de trabalho, unicamente com o objeti- vo de recolher dados, procurando sempre respeitar o grupo tal como ele é e as suas deci- sões. Por exemplo, colocando, se necessário, questões que ajudem a clarificar o ponto de vista de cada um dos professores sobre os temas em estudo, e neste caso, pode falar- se da investigadora como uma “participante completa” (Adler & Adler, 1994, p. 379), uma vez que vou estudar as situações em cenários. A observação é o método a partir do qual eu pretendo obter o material empírico proveniente das sessões de trabalho conjunto com os professores e das suas aulas. Segundo Patton (2002), numa pesquisa colaborati- va “a recolha de dados envolve mais um diálogo do que uma entrevista” (p. 412). As- sim, a observação do trabalho dos professores e a discussão sobre os diferentes temas são um elemento fundamental para a interpretação do material empírico. Nestas sessões de trabalho, para além, da gravação em áudio e vídeo, pretendo recolher, também, notas de campo que serão registadas em diário de campo.

A observação informal do professor nos contextos escolares, tal como a sala de professores, a biblioteca, o conselho executivo ou o bar, permitirá ter alguma perceção da integração do professor na escola, bem como do ambiente que se vive entre professo- res, entre os alunos e entre os professores e alunos. No caso da observação informal, o registo será feito no diário de campo após o acontecimento, devendo existir o cuidado de o fazer o mais próximo possível do acontecimento (Jorgensen, 1989).

O diário de campo serve para registar as reflexões semanais sobre a minha in- vestigação, os episódios mais significativos das sessões de trabalho e das aulas que vou assistir e as dificuldades sentidas no decorrer da recolha de dados. Segundo Evertson e Green (1986), o registo em diário de campo consiste num sistema narrativo de registo de dados de observação, uma vez que contemplam o registo escrito de acontecimentos que ocorrem durante o trabalho de campo no papel de observador participante. Estes registos podem ser realizados no local onde decorre a observação participante ou poste-

riormente, tendo como ponto de partida pequenos registos ou notas feitas pelo investi- gador (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2008).

O diário de campo obriga-me a um registo sistemático de observações que, de outro modo, ficariam apenas na minha memória e com o decorrer do tempo perderiam nitidez. Mas, mais importante, este registo serve para refletir, seguindo o princípio que o ensino não é uma realidade imutável, mas sim algo que se vai consolidando e adaptan- do.

Para a elaboração do diário de campo, no final de cada sessão de trabalho to- marei um conjunto de notas do meu discurso e do discurso dos professores para mais tarde desenvolver quando organizar os registos áudio e as minhas reflexões. Em qual- quer das situações, procurarei que o diário de campo descreva, da forma mais fiel possí- vel, os episódios das sessões de trabalho mais significativos, as dificuldades sentidas no decorrer do projeto e as reflexões. Na sala de aula, os registos devem centrar-se no tipo de tarefas propostas, na organização da sala e no tipo de interações entre os professores e alunos e/ou entre alunos. Nos outros espaços da escola, como a sala de professores, a biblioteca, o bar, o recreio, o centro de formação, etc., os registos resultam da observa- ção de comportamentos, em particular no tipo de interações entre professores, entre pro- fessores e alunos, entre alunos ou outros. Adler e Adler (1994) sugerem que, os registos, tal como foram descritos anteriormente, devem conter referência a vários elementos como, por exemplo os participante, as rotinas, os rituais, o tempo, o espaço, ou a orga- nização social. Neste sentido, como preparação para a observação de aulas e posterior análise, elaborei um guião contendo uma lista de itens (Anexo 4.4) e um memorando de observação de aula (Anexo 4.5).

4.2.3 Entrevista

Dois princípios subjacentes ao uso do design de estudo de caso são: obter a des- crição e a interpretação dos outros. A investigação qualitativa orgulha-se de descrever e retratar as múltiplas faces de um caso. A entrevista é o principal método para múltiplas realidades e permite obter informação em relação aos aspetos não diretamente observá- veis de uma dada situação (Stake, 1995) e para compreender a atividade humana (Fon- tana & Fey, 1994). No entanto, o êxito da recolha de informação de uma entrevista de- pende de vários fatores, entre os quais: (i) a sua preparação e estruturação; (ii) a quali- dade de quem realiza a entrevista; e (iii) a personalidade do entrevistado (Stake, 1995).

Dependendo do problema formulado e do objetivo da entrevista, esta pode ser mais ou menos estruturada. No início de um estudo pode utilizar-se uma entrevista mais explora- tória para ter uma perceção mais geral sobre um determinado tema e mais tarde, quando o objetivo é conhecer aspetos mais específicos, recorrer a uma entrevista mais estrutu- rada (Bogdan & Biklen, 1994).

Um outro aspeto importante a ter em conta na preparação das entrevistas é a re- lação que se estabelece entre o entrevistador e o entrevistado. Pretende-se que os profes- sores falem de si como pessoas e profissionais, por isso é necessário criar um ambiente natural e de espontaneidade, com atitudes de empatia e abertura por parte do entrevista- dor (Fontana & Fey, 1994).

O local para a realização das entrevistas é a escola, uma vez que este é o contex- to natural de trabalho dos professores envolvidos. As entrevistas serão agendadas com cada um dos professores participantes, gravadas em áudio e vídeo e mais tarde inte- gralmente transcritas. Prevejo a realização de pelo menos três entrevistas semiestrutura- das por professor (Fontana & Fey, 1994; Patton, 2002) com a duração média de uma hora cada. Uma no início do trabalho do grupo (setembro de 2007), outra a meio (feve- reiro de 2008) e uma no fim (julho de 2008). Estas entrevistas pressupõem a elaboração de um guião prévio (Anexos 4.6 e 4.7) e são caracterizadas por permitirem flexibilidade na ordem das questões e o surgimento de novas questões, durante a entrevista.

O objetivo das entrevistas é perceber aspetos relacionados com o professor de matemática, nomeadamente, o seu percurso biográfico e profissional do professor; a sua visão sobre a escola; a sua relação com o currículo de matemática; a forma como gere o currículo; o papel dos materiais curriculares; como encara a avaliação; e por fim perce- ber como é a relação do professor com o grupo e as práticas de colaboração. Para além das entrevistas aos três professores que constituem os três estudos de caso, foram são realizadas entrevistas a alguns dos professores do grupo que manifestem disponibilidade para partilhar a sua visão sobre o grupo e a natureza do trabalho que desenvolvem. Igualmente está prevista a realização de uma entrevista a um dos elementos da direção da escola, para recolher dados sobre a forma como a liderança da escola encara o traba- lho desenvolvido pelo grupo de matemática e qual o planeamento e estratégia da escola.

4.2.4 Recolha documental

A recolha e análise documental serão sobretudo utilizadas como uma técnica complementar de recolha de dados. Yin (1989) refere a importância de recolher infor- mação a partir da análise de documentos que possam estar disponíveis. Há documentos que existem ou são produzidos independentemente dos propósitos do estudo que se está a realizar, e constituem uma fonte de recolha de dados que permite legitimar e confir- mar a evidência sugerida por outro tipo de fontes de dados.

A recolha de documentos será efetuada, essencialmente, pelos professores parti- cipantes. Serão recolhidos diferentes tipos de documentos:

(i) Materiais de apoio às aulas, reflexões escritas dos professores re- lativas a aspetos da sua atividade e desenvolvimento profissional (Anexo 4.3).

(ii) Relatórios das tarefas propostas ao longo do ano letivo, trabalhos dos alunos, os testes, os diferentes registos de avaliação, as autoa- valiações e reflexões escritas dos alunos.

(iii) Notas escritas das sessões de trabalho realizada pelo coordenador do projeto.

(iv) Documentos estruturantes da escola, nomeadamente Proposta de Projeto Educativo da escola e Relatório da Avaliação Externa 2007.

(v) Formulário da ação de formação (AN2) e Relatório Final da for- mação (RFF).

(vi) Relatórios finais da ação de formação produzidas pelos professo- res do grupo (RF).

A recolha destes documentos serve de complemento aos dados recolhidos atra- vés das entrevistas e da observação participante (Bogdan & Biklen,1994).