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Modernismo e Romantismo são, portanto, dois estilos de época, que representam duas etapas distintas da história da literatura e da arte no mundo ocidental. con- forme registra o Aurélio, o estilo é “o modo de expressar-se de um escritor ou período literário”, a “feição especial típica de um artista, de um gênero, de uma escola, de uma época, de um tipo de cultura”. Ao definir o estilo individual, por exemplo, o crítico helmut hatzfeld considerou-o “o aspecto particular de um artefato verbal que revela a atitude do autor na escolha de sinônimos, vocabulário, ênfase no material abstrato ou concreto, preferências verbais ou nominais, propensões metafóricas ou metonímicas”, dentre outros itens.7 em última instância, a técnica de um artista no

manejo das palavras. quanto ao estilo de época, hatzfeld o entende como “atividade de uma cultura que surge com tendências análogas nas manifestações artísticas, na religião, na psicologia, na sociologia, nas formas de polidez, nos costumes, vestuários, gestos, etc.” em suma, um conjunto de princípios perceptíveis na literatura e nas demais artes, que aparece em diferentes autores e obras da mesma era.8

os conceitos acima propostos nos impõem, obrigatoriamente, algumas reflexões sobre questões que inquietam os especialistas desde o século xx:

•฀que critérios e métodos orientam o crítico literário na seleção dos “grandes” autores, cuja obra seria digna de apreciação e julgamento?

•฀por que o critério cronológico prevalece sobre os demais (o geográfico, o estético ou o de gênero) na determinação dos estilos literários?

•฀por que a crítica privilegia as formas da “alta cultura” letrada e ignora siste- maticamente as manifestações da cultura popular oral?

1. AS correnteS de críticA literáriA

o conhecimento humano desenvolve-se em estreita sintonia com a organização social da nossa espécie. As ciências naturais e as próprias ciências “humanas” são

7 hAtzFeld, helmut Anthony. A critical bibliography of the new stylistics – 1900/1912. chapel hill,

1953. in: coutinho, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. 3ª ed. civilização brasileira, rio de Janeiro, 1976, p. 24.

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ferramentas que servem à transformação da realidade exterior e de nós próprios, visando à sobrevivência do homem sobre a face da terra. Assim, a pluralidade de idéias e doutrinas que tratam de descrever e explicar as obras artísticas e culturais também reproduz, sob certa medida, o profundo conflito ideológico engendrado por uma sociedade de classes, na qual não apenas os bens materiais, mas o próprio universo simbólico das pessoas torna-se objeto de uma acirrada disputa entre os segmentos sociais mais privilegiados (os patrícios romanos, o alto clero, a nobreza feudal, a corte vitoriana, a alta burguesia industrial e financeira, a intelligentsia a elas associada, etc.) e aqueles ditos excluídos (os escravos romanos, os camponeses e servos da idade média, os trabalhadores fabris da europa industrial, os lavradores sem-terra do brasil contemporâneo, etc.).

cada estágio desse embate tem favorecido a expansão desta ou daquela ciência. A geografia, por exemplo, serviu aos projetos de ocupação neocolonial da áfrica pelas potências européias ainda no século xix; a biotecnologia e a cibernética são duas áreas essenciais da mais recente revolução tecnológica, um processo inerente à atual fase de acumulação capitalista – o neoliberalismo “pós-moderno”. da mesma forma, no conturbado terreno das idéias, temos observado a eclosão de diversas matrizes filosóficas e ideológicas. o Iluminismo burguês do século xViii é um caso exemplar: as promessas de progresso infinito que a razão emancipadora do

Esclarecimento9nos sugere inspiram diversas correntes do pensamento ocidental, em

especial os filósofos do idealismo alemão (Kant, Fichte e até mesmo hegel), ao qual marx e engels responderão com o materialismo dialético, filosofia que busca superar as concepções ideológicas burguesas sob o ponto de vista do proletariado.

A dialética nos ensina que, para cada processo superado, deve-se rechaçar os seus aspectos negativos e incorporar aqueles mais positivos. Assim deverá proceder qualquer leitor em relação aos esquemas que regem a análise e crítica de uma obra artística ou literária. cada uma delas aporta uma contribuição aos estudos estéticos, abrindo-nos múltiplas trilhas de aproximação à literatura e à arte. há, por exemplo, a crítica formalista, que vê a palavra não apenas no seu significado, mas sobretudo em seus significantes, analisando todos os elementos formais de uma obra literária (o ritmo de um texto poético, ou os componentes básicos – narrador, personagens,

9 como assinalou o filósofo alemão immanuel Kant, o progresso do homem seria obra de um

sujeito cognoscente (o ser humano) que define as condições de conhecimento dos objetos ao seu

redor (a natureza, da qual ele não participa), libertando-o das trevas seculares da ignorância a que fora submetido durante a sua “minoridade”. As crises capitalistas ao longo do século xix, porém, transformam a razão emancipadora em razão instrumental, ou seja, uma racionalidade “fria”, cuja única meta é o poder e que está a serviço do mundo do cálculo, da economia de meios e fins, no qual tudo e todos já não são mais objetos, mas sim coisas (o triste processo de alienação / reificação do ser humano, ditado pela fetichização da mercadoria, conforme já advertira marx). Ver, a respeito: KAnt, immanuel. “resposta à pergunta: que é esclarecimento?” [“beantwortung der Frage: was ist Aufklãrung?”] in: Textos seletos. 2ª ed. editora Vozes, petrópolis, 1985; luKácS, georg. História e consciência de classe: estudos de dialéctica marxista. publicações escorpião, porto, 1974 (v. o capítulo “A reificação e a consciência do proletariado”).

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enredo, espaço e tempo – de uma narrativa). é o caso do formalismo russo, de tzvetan todorov e do lingüista roman Jakobson, cujos estudos sobre as funções da linguagem até hoje são difundidos entre nós. Ao seu lado, encontra-se o estrutura- lismo, que considera a criação literária muito mais uma construção verbal do que a representação de uma realidade, reservando sua atenção ao universo de signos que constitui um texto dito literário e preocupando-se em “descobrir formas invariantes no

interior de conteúdos diferentes” (ao invés de buscar conteúdos recorrentes sob as formas

variáveis), segundo preconizava o antropólogo francês claude lévi-Strauss.10

essa concepção de que a estrutura é, sobretudo, um modelo invariável tem sido considerada por muitos estudiosos uma apreensão bastante limitada da obra literá- ria. o crítico brasileiro Antonio candido, em especial, inspirado nos antropólogos ingleses e no New criticism estadunidense, a conceitua como “a forma orgânica, o equilíbrio dinâmico dos elementos de um todo”, sendo necessário recorrer a vários casos para explicar-se uma totalidade: “o importante na escritura é a singularidade, não

a generalidade”; o crítico deve descobrir o variável, em lugar de buscar conceitos ge- néricos mais abrangentes. em suma, não lhe cabe submeter-se a outras disciplinas, como a lingüística ou a Antropologia, como ocorreu durante a voga estruturalista: ele deve buscar um equilíbrio, ou seja, ser um crítico literário que não desconheça a Sociologia, a história e outras ciências afins.11

Aos formalistas irá contrapor-se em larga medida a crítica sociológica. dentre os seus maiores expoentes estão os autores marxistas, que, por vezes, são acusados de conceder total primazia aos fatores estruturais – sobretudo os econômicos – na análise de uma obra de arte. uma leitura mais atenta dos Manuscritos filosóficos de marx, no entanto, nos advertirá que os fenômenos que nos rodeiam, inclusive os eventos sociais e culturais, são “sínteses de múltiplas determinações”, ou seja, obedecem a uma relação bastante dialética entre a infra-estrutura econômica e a superestrutura ideológica dos sucessivos modos de produção que organizam as relações sociais no seio das nossas comunidades. os críticos de filiação marxista têm prestado uma valiosa contribuição à análise e interpretação das obras artísticas e literárias, como o faz Arnold hauser em sua História social da literatura e da arte, ou o estadunidense Fredric Jameson (que descreve a pós-modernidade como um movimento próprio da

10 léVY-StrAuSS, claude. “estruturalismo e crítica”. in: coelho, e. prado (org.). Estruturalismo:

antologia de textos teóricos. portugália, lisboa, 1968, p. 393.

11 Ao receber o título de doutor Honoris Causa, a ele outorgado pela universidade da república,

em 2006, no uruguai, Antonio candido concedeu uma entrevista bastante elucidativa acerca do tema: “Para los estructuralistas, el sistema es el interno. Para mí es al contrario. Si uno mira el conjunto de una literatura, las obras tienen una vida recíproca, pero también pueden existir aisladamente. En el siglo XVII brasileño, por ejemplo, hay obras literarias excelentes, pero están aisladas, no hay un universo cultural. Eran hombres de genio, pero no había público, ni periódicos, ni vida intelectual. Esto es um concepto básico de sociología de la literatura: existe el tríptico autor-obra-público. Lo que yo digo es que esta tríada origina un novedad, que es la tradición. Entonces el escritor del siglo XVII no tiene una tradición local, tiene la de Por- tugal; él pertenece al sistema literario portugués.” in: La diaria, montevidéu, 25 de setembro de 2006.

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hipertrofia da sociedade de consumo no capitalismo tardio, em que o mundo não cessa de desaparecer em proveito das imagens), assim como os autores dedicados ao estudo das formas narrativas, dentre eles o húngaro georg lukács (cuja Teoria do

romance identifica no herói problemático um agudo conflito entre as forças da alie- nação e do humanismo, tensão típica da sociedade capitalista) e o francês lucien goldmann (que, além de realçar o caráter coletivo da obra literária, relaciona suas estruturas com as estruturas mentais dos grupos sociais e trata de investigar como a criação cultural, “se bem que cada vez mais ameaçada pela sociedade coisificada”, nem por isso deixa de existir sob o capitalismo12).

há ainda outras escolas de apreciação estética, hoje de menor prestígio, mas que obtiveram larga projeção em certas etapas da história literária, como a crítica determinista, proposta pelo francês hippolyte taine, que advogava a tese de que a literatura é um produto do meio, da raça e do momento histórico. tal concepção, aliás, orientou, na segunda metade do século xix, os escritores ditos naturalistas, como o romancista émile zola, autor de Germinal (obra de 1885, cujo grande mérito, além da narrativa primorosa, é conceder ao proletariado o raro papel de protagonista de uma trama literária), que desejava aplicar à descrição dos fatos sociais o rigor das doutrinas científicas, em uma época marcada pelas conquistas da ii revolução tecnológica. As personagens de Aluísio Azevedo, autor de O mulato (1881), O cortiço (1890) e maior expoente do Naturalismo brasileiro, também são condicionadas por sua fisiologia, pela herança genética e pela ação do meio ambiente. o determinismo acolheu ainda visível influência do Positivismo de Auguste comte, segundo o qual a ciência “é o único conhecimento possível e o método da ciência é o único válido”.13

em franca reação à hegemonia dos conceitos racionalistas e positivistas ao final do século xix, merece igualmente menção a crítica impressionista, que surge em sincronia com a filosofia do francês henri bergson, para quem a intuição era o único instrumento de conhecimento da duração e da vida. ela se pauta nas impressões que a obra de arte desperta no ânimo de quem a aprecia; ou, como diria o célebre escritor Anatole France: “O bom crítico é o que narra as aventuras de sua alma através das obras-

primas.”14 por fim, conviria consignar a existência de uma crítica psicológica, advinda

das idéias do pensador grego longino, que procura vincular a criação literária ao estado de espírito do autor, às suas motivações psíquicas. A ela se poderia associar naturalmente a crítica biográfica, do ensaísta francês Saint-beuve, que pretende analisar a obra a partir de certos fatos relevantes na vida do autor (a velha tese de que “a vida explica a obra”, que ainda hoje possui seus adeptos).

12 goldmAnn, lucien. A sociologia do romance. 2ª ed. paz e terra, rio de Janeiro, 1976, p. 20. 13 AbbAgnAno, nicola. Dicionário de Filosofia. 2ª ed. mestre Jou, São paulo, 1982, p. 746. 14 transcrito de proençA Filho, domício. Estilos de época em Literatura. 7ªa ed. editora ática,

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diante de tantas tendências de crítica literária, não será difícil entender por que, mesmo entre aqueles escritores sobre cujos méritos artísticos já não cabe qualquer argüição, determinados autores tenham sido preteridos em favor de outros mais representativos dos cânones estéticos hegemônicos em seu campo intelectual. Aqui mesmo no brasil, são inúmeros os casos de esquecimento em vida ou mero reconhe- cimento póstumo de artistas cujo talento e domínio de seu ofício foram insuperáveis. o notável contista e romancista carioca lima barreto só foi redescoberto pela crítica trinta anos após sua morte, graças aos esforços da historiadora lúcia miguel-pereira, que não se deteve diante das restrições que certos “puristas” haviam feito à prosa do autor, cujos livros eram tidos como “vulgares e descuidados” pelos acadêmicos do seu tempo. ninguém supôs que o aparente “desleixo” dos textos de lima nada mais fosse que um recurso deliberado e consciente para afrontar a pompa e solenidade excessiva dos medalhões de sua época. Assim, os críticos da Belle Époque, obcecados pelo rigor formal do texto literário, praticamente sepultaram um dos maiores escri- tores que nosso país já conheceu.

2. o monopólio do critério cronológico

A maioria dos manuais escolares acostumou-se a apresentar os eventos artís- ticos e literários segundo uma cadeia linear e cronológica, que em geral abrange apenas as correntes estéticas do Velho mundo e ignora solenemente os movimentos ocorridos fora da órbita européia ou estadunidense. tal concepção reproduz, em última instância, a velha noção de causalidade mecânica que permeia a nossa inter- pretação da história, a qual se desdobraria em “períodos” que todos prontamente reconhecem:

--- *--- *--- *--- *--- *---

Idade Antiga Idade Média Era Moderna I Era Moderna II Era Contemporânea Grécia, Roma Feudalismo Mercantilismo Rev. Industrial

convém advertir, de antemão, que essa tendência a estabelecer uma seqüência histórica da literatura é um conceito moderno, que se impôs a partir do século xix sob o crivo dos críticos românticos. otto maria carpeaux assinala, com muita pertinência, que os antigos, embora interessados na reunião e interpretação dos fatos literários, “nunca pensaram em organizar panoramas históricos das suas literatu- ras”.15 Jamais ocorreu aos grandes escritores gregos ou romanos a idéia de consignar

os eventos literários de épocas anteriores, fato que só se manifesta no período de decadência das letras e da civilização clássica, devido ao interesse “puramente prag-

15 cArpeAux, otto maria. História da Literatura Ocidental. 2ª ed. Vol. i. editorial Alhambra, rio

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mático” dos professores de retórica ou dos bibliófilos em relacionar as obras mais úteis “para o ensino, para melhorar o gosto decaído”, ou para salvar da destruição pelos povos ditos bárbaros os tesouros literários do passado.

em contrapartida, não é comum que se adote um critério geográfico para des- crever uma literatura nacional, ainda que, em um país de proporções continentais como o brasil, não seja inconcebível propor-se um estudo da literatura amazônica,

nordestina, gaúcha, pantaneira e outras, assim como os lingüistas costumam identificar um falar carioca, baiano, mineiro, caipira, etc. darcy ribeiro, por exemplo, quando estudou a formação e o sentido do brasil, não hesitou em identificar cinco matrizes culturais para o país: a crioula, desenvolvida nas comunidades das terras férteis do nordeste; a caipira, das áreas desbravadas pelos bandeirantes em São paulo e minas, com a escravização dos indígenas, e mais tarde ocupadas pela mineração e cultivo do café; a sertaneja, que se espraia com os currais de gado desde o nordeste até o cerrado; a cultura cabocla da Amazônia, pautada no extrativismo vegetal; e a cultura

gaúcha do pastoreio nos pampas, com suas duas variantes (a matuto-açoriana e a gringo-caipira das áreas de imigração italiana e alemã).16

Seria bastante oportuno, em um país cuja evolução capitalista, apesar das raízes agrárias de suas classes dominantes, sempre discriminou a cultura rural, que se propusesse o estudo de uma literatura sertaneja, em contraponto com a literatura urbana que se difunde de norte a Sul do brasil. As faculdades de letras, de certa maneira, já iniciaram esse reconhecimento, quando incluíram em suas disciplinas eletivas, desde o final dos anos 70, tópicos dedicados à literatura de cordel nordes- tina e a outras formas poéticas mais afeitas à oralidade do nosso povo. Já na música, a coexistência entre os gêneros urbanos e rurais, embora comporte atritos, é um fenômeno que há muito se instalou no imaginário coletivo nacional, seja em âmbito estritamente popular, seja nos espaços do público de maior poder aquisitivo: assim como os batuques dos negros nos terreiros se espalharam por todo o território, desde o samba de roda baiano até o urbaníssimo samba-enredo carioca, o forró nordestino hoje é coqueluche entre os universitários do eixo rio–São paulo.

é claro que essa apropriação não pode se dar sob a lógica monopolista do mer- cado, da forma pasteurizada e grotesca que caracteriza as famosas duplas “sertanejas” do interior paulista e outras ricas regiões de produtores rurais. Sertanejo que grava versões estilizadas de Frank Sinatra não merece tal rótulo. Até porque a verdadeira música caipira esconde jóias preciosas da cultura nacional, como o são as modas de viola, cuja riqueza de harmonias, na mão de um exímio violeiro, impressiona os ouvidos de qualquer procedência. Assim, a fecunda cultura camponesa que o mSt e outros movimentos sociais têm procurado divulgar merece amplo apoio e difusão, como é o

16 ribeiro, darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2ª ed. companhia das letras, São



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caso do Festival Nacional da Reforma Agrária, que desde 1999 reúne poetas, músicos e artistas plásticos organizados nos acampamentos e assentamentos dos sem-terra.

Apesar dos outros critérios mencionados, é a periodização cronológica que prevalece na historiografia vigente. no percurso da literatura ocidental, contudo, os estilos de época não são concebidos em um plano estritamente linear. Face à configuração de matrizes opostas na gênese dos movimentos literários, os manuais preferem representá-los em uma espiral ascendente (conforme nos ilustra a figura anexa), cujas vertentes indiciam duas tendências opostas, porém complementares, que influenciam, em maior ou menor grau e de forma alternada, as sucessivas escolas literárias.

como veremos mais adiante, o Classicismo greco-romano, com sua propen- são ao racionalismo, ao paganismo, à harmonia e equilíbrio das formas estéticas e à fixação de normas e convenções para a criação artística, será a referência inicial de movimentos como o Renascimento, o Neoclassicismo e o Parnasianismo. por sua vez, o Medievalismo europeu, ao qual se costuma associar, de modo bastante esquemático, os conceitos de religiosidade, subjetividade e teocentrismo, além dos valores de heroísmo e nobreza que povoam as novelas de cavalaria, é a fonte primária de escolas como o Barroco, o Romantismo e, em certa medida, o Simbolismo ao final do século xix.

em nossos meios acadêmicos, a periodização cronológica das escolas literárias sempre dispôs de larga aceitação entre os estudiosos da matéria. em sua História

concisa da Literatura Brasileira, o professor Alfredo bosi, um dos mais respeitados do país, segmentou em oito fases o nosso percurso literário, cujas origens remontariam às primeiras crônicas dos viajantes sobre o novo mundo aqui avistado: “A Condição

Colonial”, “Ecos do Barroco”, “Arcádia e Ilustração”, “O Romantismo”, “O Realismo”, “O

Simbolismo”, “Pré-Modernismo e Modernismo” e “Tendências Contemporâneas”. Já domí- oS eStiloS de épocA nA literAturA ocidentAl

TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS MODERNISMO/VANGUARDAS (1920-1930) SIMBOLISMO (FINAL DO SÉC. XIX) REALISMO / NATURALISMO PARNASIANISMO (SEGUNDA METADE DO SÉC. XIX) ROMANTISMO (INÍCIO SÉC. XIX) NEOCLASSICISMO (SÈC. XVIII)

RENASCIMENTO (SÈC. XV-XVI) BARROCO (SÉC. XIX)

MEDIEVALISMO (SÉC. XII A XV) ANTIGÜIDADE CLÁSSICA (SÉC. VI A.N.E. - SÉC. II)



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cio proença Filho, autor de um estudo bastante didático sobre o tema, consagrou a divisão que até hoje prevalece nos programas do ensino médio nacional:

•฀Barroco (séc. xVii);

•฀Neoclassicismo ou Arcadismo (séc. xViii); •฀Romantismo (meados do séc. xix);

•฀Realismo, Naturalismo e Parnasianismo (segunda metade do século xix); •฀Simbolismo (final do século xix);

•฀Impressionismo (início do século xx); •฀Modernismo (século xx, a partir de 1922).

é possível ainda encontrar, em autores como Antonio candido e nelson Werneck Sodré, uma combinação do fator cronológico com o tópico sempre relevante da formação de um sistema literário próprio, cuja produção deixa de ser mero reflexo dos modelos