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Diagrama 2 – As esferas de preservação da ordem pública

2.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2.6 Policiamento de multidão: controle e gestão

A gestão de multidão na preservação da ordem pública está associada à atuação proativa do policiamento, que requer planejamento e supervisão da ocupação e movimentação de pessoas no uso adequado de um determinado espaço. Os princípios formulados estão de acordo com o tipo, tamanho e densidade da multidão. Assim, o controle de multidão consiste no embate direto da unidade intervencionista, tendo como arma o uso tático e estratégico da força.

A análise do perfil de atuação do policiamento de multidão tem se apoiado em princípios basilares para a manutenção da ordem. A contribuição da literatura internacional reside nos princípios para a manutenção da ordem em grandes manifestações, em protestos e nas partidas de futebol.

Ao considerar a manutenção da ordem em protesto, Mcphail; Schweingruber; Mccarthy (1998) descreve cinco dimensões que envolvem as práticas do policiamento

público: direitos dos manifestantes, tolerância à perturbação, comunicação entre policiais e manifestantes, detenções, prisões e modo do uso da força.

Adang (2010), estudando o policiamento definido para a Eurocopa 2000, percebeu que o perfil de atuação ajustava-se bem aos quatros princípios formulados por Reicher et al. (2004). O ponto de partida para estes princípios é o “modelo elaborado de identidade social”, que defende a ideia de que a desordem coletiva é possível graças à supremacia psicológica compartilhada de uma identidade social comum entre os participantes do grupo.

Las dimensiones definitorias de esta identidad sirven para explicar los límites normativos de la acción colectiva (lo que la gente hace), y el grado de participación (quiénes participan y quiénes no) en un evento grupal. Este análisis de la ‘identidad social’ sostiene que la dinámica de la interacción entre grupos es un componente esencial de la psicologia del ‘desorden’ generalizado (ADANG, 2010).

Para ajudar a impedir a desordem generalizada, Reicher et al. (2004 apud Adang, 2010) identificam quatro princípios básicos para o policiamento de grandes manifestações: educação, facilitação, comunicação e diferenciação.

A educação diz respeito ao devido conhecimento sobre as identidades sociais dos diversos grupos que compõem a multidão. Os grupos atuam tendo como base a identidade social, e as multidões são comumente compostas por vários grupos. Assim, é de fundamental importância a prática de obter informações acerca das identidades sociais dos vários grupos que integram a multidão:

sus valores y estándares, sus fines y objetivos, su sentido de lo que es correcto y está bien, sus estereotipos y expectativas de otros grupos, su historia de interacción con estos grupos y cualquier otra cosa (fechas, lugares, objetos, formas de acción) que tenga particular importancia en términos simbólicos (ADANG, 2010).

Adang avalia que as atividades de inteligência voltadas para o policiamento de multidão não devem apenas visar os integrantes violentos e as suas intenções. Elas precisam também ter por objetivo compreender as identidades sociais dos demais que integram a multidão, para saber quais são seus objetivos e se for cabível, decidir como apoiá-los. Desse modo, inteligência é saber quais as formas de policiamento poderia contrariar os grupos não violentos e torná-los simpáticos com os integrantes violentos no meio da multidão. O mesmo esforço que se realiza para identificar indivíduos violentos deve ser feito para compreender a identidade do grupo (ADANG, 2010).

Em vez de impedir as pessoas de fazerem o que desejam e, por isso, frustrar, em todas as etapas de intervenção policial, a ênfase deve estar na facilitação. Ao planejar um evento, a

organização policial deve identificar as finalidades legítimas dos membros da multidão, para que se possa organizar a intervenção de uma forma que atinja estes objetivos.

Se há uma razão pela qual objetivos não possam ser alcançados, não se trata simplesmente de dar uma resposta negativa, mas de ser criativo e encontrar modos alternativos para alcançar (e ser visto para ser alcançado) tais fins. Se o perigo de que exista violência ou a efetiva ocorrência de fatos violentos forçam a polícia a impor limites sobre a multidão, é fundamental deixar claro por que foi necessário impor tais limites e fornecer meios alternativos pelos quais os fins possam ser alcançados (ADANG, 2010).

A tentação de controlar e ser duros podem ser maiores especialmente quando a violência irrompe. É neste ponto, que uma explícita indicação de que a polícia está a apoiar os objetivos coletivos – e que eles estão sendo colocados em risco pela violência – pode fazer a diferença entre a escalada e o recuo de violência. Certamente, para que isso aconteça, não só é necessário que a polícia esteja tentando facilitar a realização dos objetivos da multidão, mas também que a multidão a note. Tudo isso, faz com que a comunicação seja importante (ADANG, 2010).

Um dos paradoxos da intervenção da polícia em uma grande multidão de pessoas é que a importância da comunicação com o público é diretamente proporcional à necessidade de evitar relações potencialmente conflituosas. No entanto, em situações onde as relações são potencialmente conflitantes, a multidão é menos propensa a confiar no que a polícia tem a dizer. A mera tentativa de informar à multidão como estar desenhada a intervenção policial destinada a facilitar a manifestação pode ser vista como desonesta e incrementar a hostilidade, especialmente quando há uma longa história de conflitos. Por isso, também é importante, como é feita comunicação. O melhor é recorrer às pessoas respeitadas pelos grupos que integram a multidão (ADANG, 2010).

Certamente, poderia ser impossível encontrar figuras que são aceitas por todos os grupos que compõem a multidão. Entretanto, é fundamental que elas não sejam "autoconvocadas", ou seja, escolhidas por suas ligações com as autoridades,

sino que sean consideradas representativas por sectores significativos de la multitud (una vez más, el conocimiento cultural de los grupos es crítico en este sentido). Para ser realmente efectivos, estos comunicadores o mediadores deben estar disponibles y activos en momentos de violencia incipiente, bien desde el comienzo (o incluso antes de su ocurrencia) (ADANG, 2010).

Para Adang (2010) é uma observação reveladora do equilíbrio entre as estratégias repressivas e facilitadoras da intervenção policial em grandes concentrações. O destaque para

as grandes reservas de veículos blindados, filas de policiais com cacetetes e demais itens que raramente são usados, mostra que se presta muito menos atenção às tecnologias de comunicação.

É importante estar ciente das diferentes identidades dos grupos que se reúnem e de suas diferentes maneiras de agir e reagir. É ainda mais importante atuar nessa base e não tratar todos os membros da multidão, como se fossem iguais. Uma distinção básica que deve ser feita é a diferenciação entre os integrantes com base no que estão realmente fazendo, em vez de uma distinção com base nas categorias a que (supostamente ou não) pertencem. É precisamente quando alguns membros da multidão começam a ficar hostis, que se torna importante tratá-los de forma amigável.

Assim, é para conter a violência de alguns que o policiamento deve ser mais permissivo. É difícil, porque a tendência é tratar todos na multidão como um grupo homogêneo, sendo que, se alguns deles agir negativamente, todo mundo é visto de forma negativa. Também é difícil porque os custos que implica para a polícia (que é na primeira linha) tratar alguém com confiança quando este é realmente hostil são maiores do que os custos de tratá-los com hostilidade quando eles realmente são confiáveis. Para ser capaz de distinguir, a polícia precisa desenvolver táticas diferenciadas das que usualmente são aplicadas, e a diferenciação é uma consideração que se deve ter em qualquer decisão tática ou estratégica, no treinamento, planejamento, equipamento e na operação em grandes concentrações de pessoas (ADANG, 2010).

3 METODOLOGIA

A abordagem qualitativa norteou a investigação, coleta e análise dos dados dessa pesquisa. Os dados coletados são provenientes de fontes primárias e secundárias, seguindo a técnica da triangulação de dados.