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Diagrama 2 – As esferas de preservação da ordem pública

7 AS OPORTUNIDADES CARNAVALESCAS E A ORDEM PÚBLICA FESTIVA NA

7.4 DESVANTAGEM SITUACIONAL, RISCOS DE PREDAÇÃO E REDES DE

7.4.2 Redes plurais de segurança

A ordem pública festiva permite aos atores plurais o mapeamento de situações e potenciais de riscos de predação. Essa ordem, construída pelos foliões, torna previsível os comportamentos, as interações e os riscos na multidão carnavalesca. Dessa maneira, para que possam mapear os riscos e realizar as suas expectativas de curtição, os foliões têm que assumir a responsabilidade de produzir e manter essa ordem. Essa dupla responsabilização os obriga a realizar uma autogestão de risco e um autopoliciamento, que consistem em garantir as possibilidades da fruição das oportunidades festivas e restringir o aproveitamento das oportunidades predatórias.

Juntamente com os foliões, os artistas, os seguranças e as forças policiais atuam de forma efetiva na preservação da ordem pública festiva. Os múltiplos atores formam redes nodulares de governança da segurança (DUPONT, 2004; 2006; SHEARING, 2005; PAES- MACHADO; NASCIMENTO, 2014). As redes são sistemas de nós interligados e descentralizados e cada um dos atores múltiplos representa um nó, um nódulo, um ponto de intercessão da rede (CASTELLS, 1999). Por essa vertente, existem redes formais e informais de múltiplos atores nodulares. Dessa maneira, a provisão da segurança e a manutenção da ordem resultam das articulações dinâmicas entre os múltiplos atores nodulares, onde as estratégias definidas e efetuadas pelas agências estatais de segurança formam apenas uma parte do processo (PAES-MACHADO; NASCIMENTO, 2014).

As redes plurais de governança da segurança estão concentradas em esferas: identitária, artística, segurança privada, policiamento estatal e saúde. Essas consistem em esferas de preservação da ordem pública festiva na multidão carnavalesca que se ocupa por

um nível de gestão da segurança. Cada esfera se distingue pela racionalidade e seletividade das práticas de segurança.

Diagrama 2 – As esferas de preservação da ordem pública

A esfera identitária concentra redes plurais de parentesco, vizinhaça, vendedores ambulantes, torcidas organizadas, minorias, apoio etc. As redes plurais identitárias são

Rede identitária Rede de saúde Rede identitária Rede privada de segurança Rede estatal de segurança Rede artística Rede

identitária identitáriaa Rede

expectativas recíprocas estabilizadas de fruição das oportunidades carnavalescas, isto é, são configurações de estilo de vida ou culturais. Essa esfera responde às demandas de preservação da ordem no nível de gestão do corpo plural simples e ampliado. Ela opera restrita às configurações de estilo de vida mediante interações dos foliões entre si e com os demais atores plurais. No entanto, é nesse nível que se encontra as bases para a preservação da ordem pública festiva, pois, a fruição das oportunidades festivas está condicionada à disposição corporal e a organização de redes identitárias dos foliões e, dessa forma, as interações em rede tornam os seus antecedentes e consequentes previsíveis.

A esfera artística atua no nível da folia corporal. O artista é o nódulo central dessa rede e o gerenciador da concentração de foliões em torno dos trios. Eles embalam a expressividade corporal, podendo prevenir excessos e intervir em brigas, tumultos e roubos.

A esfera privada de segurança é formada pelos agentes e auxiliares de segurança. Os blocos de trio são as principais redes de segurança privada. Com a corda erguida, os blocos dividem a multidão e concentram no lado de dentro uma fração de foliões associados. Com o policiamento privado, os blocos pretendem controlar as condutas dentro e fora do espaço delimitado pela corda.

A esfera estatal de segurança abrange a gestão e o controle de multidão. Essa esfera não orienta a organização da multidão e nem controla a expressividade corporal dos foliões. As suas ações preventivas e repressivas estão voltadas para a gestão e controle dos eventos que escapam da gestão feita pelos foliões.

A rede de saúde dá suporte médico de emergência aos foliões e aos trabalhadores do Carnaval. Por meio dessa assistência e a depender da gravidade da demanda médica, esses atores podem ser atendidos e transferidos para outra unidade de saúde, ir para casa ou voltar para festa.

Enquanto que nos três primeiros níveis, a preservação da ordem pública festiva tem como estratégia predominante a prevenção situacional, o quarto nível ou o nível macro tem a ameaça e o uso da força como recurso preventivo e proativo.

As gestões de risco das redes plurais são complementares. Cada uma das gestões assume responsabilidades específicas de neutralização dos riscos predatórios. Assim, a preservação da ordem e a efetivação da segurança dependem da confluência das gestões de riscos múltiplos dos atores.

Para o folião, o risco mais eminente é de sofrer uma covardia. A escolha do folião de curtir uma determinada atração e da maneira de curti-la é influenciada por esse risco predatório. Para a atração artística, o risco está na possível associação da sua performance aos

eventos negativos ocorridos na folia corporal, podendo resultar no risco de vinculação do artista à imagem de provocador de danos e perturbação da ordem. Para o policiamento estatal existe o risco da desordem pública que envolve o trafico e consumo de drogas e a ocorrência de homicídios. A gestão do risco realizada pelo policiamento estatal passa pela gestão de multidão, mas é feita basicamente por meio do controle repressivo. Elas consistem em monitorar e patrulhar a folia e custodiar os envolvidos em atos infracionais. Por fim, a rede de saúde, através da assistência médica, gera e gerencia as informações acerca dos atendimentos nos Módulos Assistenciais ou postos de saúde. As informações geradas fornecem subsídios para o planejamento estratégico de outras áreas, como a segurança estatal e os observatórios da violência.

8 PRODUÇÃO DA ORDEM PÚBLICA FESTIVA E REDES INFORMAIS DE