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Por: Italo Wolff

No documento VÁRIOS AUTORES 1 (páginas 167-185)

O Hospital Psiquiátrico Eólio sempre esteve à minha espera, foi assim que eu decidi começar a entrevista. O doutor Haytham, diretor do hospital, achou que a defesa da instituição por um paciente persuadiria a população da cidadezinha que pedia a interdição do sanatório. Eu discordei desde o princípio. Disse a ele que seria melhor fazer uma maquiagem nos prédios, uma ação de marketing, um acordo com a prefeitura. Mas o doutor Haytham é um gringo, nascido no Egito e formado no Reino Unido, que tem a racionalidade como primeira língua e não entende como nosso povo pode ignorar fatos apenas para provar a força de sua convicção. Ele acrescentou ainda, em seu português quebrado, que mesmo que eu não convencesse ninguém, falar em público seria parte do meu tratamento. Por fim, sendo ele o médico responsável e eu o paciente, concordei em me encontrar com a equipe do telejornal para uma entrevista no saguão de entrada do Eólio.

Eu os encontrei tingidos pelo pôr do sol, imersos em uma aura de sangue refletida pelas paredes de mármore e rebrilhando com milhares de coágulos vermelhos espelhados pelo lustre centenário. Eles me olharam cruzando o salão sob aquela luz e estendendo uma mão em cumprimento, primeiro a mulher vestindo um blazer e ponto eletrônico no ouvido, que por um momento apenas me olhou com a boca um pouco aberta. Por fim ela apertou minha mão e se apresentou como a repórter que me entrevistaria. Só quando eu já apertava a quarta ou quinta mão, um homem, o operador de áudio, falou o que estava na cabeça de todos.

Ele me perguntou se eu tinha modificado eles de alguma forma, enfiado lentes nas pálpebras ou me submetido à cirurgia. Eu disse que não, que eles mudaram anos atrás sem intervenções oftalmológicas. Naturalmente, eles acharam isso difícil de se acreditar e comentaram e indagaram e conjecturaram como aquilo podia ter acontecido comigo até se lembrarem de onde estavam. Simultaneamente olharam uns para os outros e riram.

Mas, na entrada do hospício, que agora parecia a boca vermelha do inferno, o sorriso morreu aos poucos, acho que por culpa minha, que continuava absolutamente sério, e eles voltaram ao trabalho, ajeitando cabos e testando aparelhos, sussurrando aqui e ali a conclusão a que já tinham chegado de que o manicômio ia tarde. Enquanto isso, a repórter e a produtora me pediram para que eu me sentasse na poltrona no centro do palco improvisado. Ambas se aproximaram, uma de cada lado, papéis nas mãos, e fizeram um briefing do programa, atentas às minhas reações.

Você está medicado, você é tímido, você quer que parte da equipe saia para ficar mais confortável, a entrevista vai ser ao vivo, não podemos parar quando começarmos, você consegue se concentrar por longos períodos, quer água, ir ao banheiro. Internado há anos, eu tentei imaginar como as pessoas interagiam atualmente nas ruas ou em bares. Eu acho que soei como se estivesse parodiando a eles, pessoas normais, mas por fim pensei que se esperavam normalidade não deviam ter vindo ao manicômio e isso me deixou mais seguro.

Elas deixaram de me sondar e entraram nas perguntas cujas respostas que realmente lhes interessavam. Quiseram saber o que eu podia contar sobre maus tratos no hospital; elas haviam recebido uma denúncia formal, era por isso que estavam ali. Você sabe que já falam sobre isso na cidade faz tempo. Se dispõe a falar ou o assunto é sensível para você?

Não há do que falar, eu disse. Não há maus tratos. Mas posso falar sobre o método.

Você nunca sofreu ou viu alguém sofrendo maus tratos aqui dentro?

Não.

Tem também o fato de que nenhum paciente se curou com o tratamento do hospital.

Isso entra na resposta anterior, nos métodos. Posso falar mais com as câmeras ligadas.

Procuramos e não encontramos documentação de imigração do doutor Haytham.

Não sei nada sobre isso, eu disse.

Já reparou em variações em seu sotaque? Ele sempre tem o mesmo sotaque estrangeiro?

Olhando através das imensas portas de entrada, vi o sol terminar de se pôr atrás da montanha. Na janela oposta, além do balcão onde geralmente ficam as recepcionistas, uma meia lua se ergueu acima da cidade no fundo da serra, e subiu inchada sobre pátio dos fundos do hospital com seu labirinto de cerca viva e jardim de flores e chafariz e bancos de concreto. Elas continuavam a perguntar, alguma explicação foi dada às famílias dos internos acerca da mudança na administração do hospital, anos atrás? Com três andares, o Eólio era um edifício colonial em forma de H maiúsculo, sendo que estávamos na haste do meio, que ligava a ala masculina à feminina e que servia como administração e recepção. Logo ao nosso lado, um salão servia para receber visitas nas quintas-feiras, e logo abaixo, um calabouço onde já trancaram escravos;

eu não sei para que servia agora. Provavelmente nada, eu pensei, olhando as portas inutilmente gigantes, uns três metros de altura, e o pé direito altíssimo que apenas dificultava a vida dos faxineiros, e os janelões ornamentados que davam para o pátio e as colunas em arco e as antigas pinturas nas paredes — provavelmente nada, além de carregar a forma como vivia a humanidade no passado. Ouvi a equipe sussurrar ao redor, o que ele está procurando lá fora? Ele não pisca nunca? Nuvens correram

em frente a meia lua como tinta aguada e a cidade no horizonte pareceu outro mundo, abandonado. Quão mais real esse lugar, quão mais bonito, eu pensei, e quão incomunicável são as coisas fugazes que nós conhecemos.

Me virando para a equipe que sussurrava, fechei os olhos pela primeira vez desde que tinha entrado na sala, apenas para mostrar que conseguia, e os abri novamente antes que as vozes que me sussurravam segredos se tornassem altas demais. Isso pareceu funcionar, pois eles se calaram. As perguntas das duas mulheres ao meu lado também cessaram.

A produtora se levantou e andou até uma porta atrás de mim, mão direita esticada em cumprimento aos médicos e enfermeiros do Eólio que entravam no saguão, todos usando jalecos e estetoscópios no pescoço, menos o dr. Haytham, que vestia o paletó, colete e suspensórios, como sempre.

Haytham veio até mim e pôs uma mão em meu ombro, sorrindo para os membros da equipe do telejornal. Neste momento, os técnicos da iluminação acionaram os holofotes. O mundo se reduziu à cadeira da entrevistadora e à minha, no centro daquele palco. Haytham não queria que eu decorasse mensagem alguma e nem fez questão de me explicar o funcionamento administrativo ou a linha teórica adotada pelo hospital.

Tapei as luzes e apertei os olhos sem os fechar. Senti minha pele escaldar e ficar úmida, desconfortável. Os dentes alinhados e brancos demais de Haytham sorrindo refletiam o spot de luz. Ele me perguntou se eu estava tranquilo. Mais ou menos, eu disse. Agora que não enxergo nada fiquei

um pouco nervoso. Ele se abaixou e falou próximo a minha orelha algumas palavras que em nossa terapia havíamos associado a estados de espírito positivos; palavras em árabe, segundo ele, que eu não compreendia o significado e exatamente por isso funcionavam. Sigilos, palavras mágicas, hocus pocus.

Eu ouvi a voz da produtora em algum lugar no escuro ao redor com o tom de animadora de auditório infantil, ela disse que queria os médicos e enfermeiros atrás de mim dando um sorrisão quando começássemos a gravar. A entrevistadora ocupou sua cadeira à minha frente. A produtora começou uma contagem regressiva. Pontos vermelhos das câmeras se acenderam no escuro. Haytham tirou a mão do meu ombro e começou a recuar para o escuro. Eu sussurrei para ele que estava me sentindo estranho. Ele saiu debaixo dos holofotes e se uniu aos demais, sorrindo lado a lado, como se estivessem posando para uma foto. Na marca do sexto segundo regressivo, a repórter me disse para tirar a mão da frente do rosto. Eu abaixei as mãos desajeitadamente, sem saber onde colocá-las, e tive de fazer uma força enorme para manter as pálpebras abertas. A produtora chegou no zero. Um silêncio espesso caiu no saguão e eu fui isolado de meus pensamentos.

A repórter pôs o microfone no queixo e disse, estou no Instituto Eólio com um paciente mental de trinta e dois anos para fornecer um relato das atividades da primeira instituição psiquiátrica do estado. Com duzentos e dez anos de história, o hospital tem tido sua carga de histórias,

estigmas e polêmicas reavivada por boatos acerca da ética profissional praticada aqui. Em seguida, alguma pergunta foi lançada para mim, mas eu não entendi o que ela queria que eu dissesse, porque tinha me distraído com a ardência em minhas retinas e, quando o microfone pousou em frente a minha boca, eu titubeei. Alguém limpou a garganta no silêncio.

Então eu falei o que havia decorado:

O Hospital Psiquiátrico Eólio sempre esteve a minha espera.

Durante toda minha vida eu entrei e saí de instituições: casa de crianças e adolescentes, escola, centro de internação, escola, penitenciária. Eu conversei com assistentes sociais, psicólogos, professores, e um sociólogo até fez a tese de doutorado dele sobre mim. Eu fiquei paralisado num estado infantilizado, me recusando a assumir responsabilidades e cometendo delitos para permanecer sob a tutela do Estado porque queria que me apontassem uma direção, tinha medo da vida em sociedade, foi o que o sociólogo falou. Mas eu acho que ele estava errado. Eu acho que a vida em sociedade foi extremamente danosa para mim.

Você não quer viver em sociedade, prefere ficar nesta instituição psiquiátrica?

A vida em sociedade é mais uma instituição. Tem guarda, tem hora da refeição, tem uma cadeia de comando que luta contra você caso você a confronte e que te recompensa por sua obediência. Não sou sociólogo, mas fui treinado para reconhecer esses padrões desde cedo.

A entrevistadora interpôs a próxima pergunta um pouco rápido demais e eu percebi que ela teve medo de que eu engatasse na defesa de uma visão de mundo delirante. Ela disse, então funcionar em sociedade não é uma coisa estimulada aqui? Trabalhar, voltar à família...

Não. Acredito que o foco seja funcionar consigo mesmo. O mundo interno é maior do que a comunidade e a dor da incompreensão de si próprio é maior do que o desconforto da inadequação social.

Qual você acredita ser o objetivo do tratamento então, se não a cura?

Primeiro fornecer um ambiente onde o doente esteja seguro.

Depois, fazê-lo entender suas particularidades, eu disse, e olhei para trás, por cima do ombro, porque queria verificar se o rosto do Dr. Haytham daria alguma instrução para minha resposta, mas o holofote de contraluz me cegava e ao redor de mim tudo era escuro. Eu notei com a visão periférica que, nas sombras, algo começou a aparecer, brilhando, tênue a princípio e só quando não olhava diretamente para a coisa, mas depois ficou mais largo e claro, e logo pude ver que eram os dentes perfeitos do doutor Haytham, flutuando em um sorriso sem corpo ou rosto. Eu me voltei para a repórter e disse, o doutor Haytham não é um apaziguador que nos vê como almas possuídas por demônios ou como baldes de químicos com neurotransmissores em desproporção, mas um ourives que pole e dá forma a algo que só pode se tornar tangível com trabalho árduo

— uma série de provações — que nos ensina a delimitar em palavras o

conhecimento que possuímos, impedindo seu ir e vir prejudicial pela cabeça em forma de humores estranhos.

Como isso é feito, esse “trabalho árduo” e essa série de provações?

Nós recebemos denúncias de maus tratos e, mesmo se não tivéssemos recebido, esse assunto é corrente na cidade.

Não há maus tratos. A maioria dos hospícios usa tratamentos a base de drogas, choques elétricos, e ainda hoje, lobotomias. Em alguns manicômios, os internos se encontram em condições lastimáveis de abandono e descaso. O Hospital Psiquiátrico Eólio não é assim. Aqui, todo o tratamento tem como base a ampliação da condição do paciente.

Isto é, uma modernização do mesmerismo em que o louco encontra uma cura paradoxal dentro de si mesmo. Isso responderá, eu espero, à pergunta do porquê de os pacientes do Eólio nunca ficarem bons. Somos amputados e nunca recobramos nossas pernas. Tentar andar como os demais é que seria a loucura.

Não são ministrados remédios?

Alguns, para tratar sintomas. Mas eu, por exemplo, sou o carregador de uma mensagem e não há cura para isso além da entrega da mensagem. Acredito que esse mundo é profundamente doente; acordar cedo para trabalhar é loucura; não adianta tomar café da manhã se sua casa amanheceu em chamas, a resposta adequada é gritar e correr e se molhar de roupa no chuveiro, coisas consideradas de louco, está entendendo?

Certo, ela disse enquanto virava as folhas de sua pauta. Esse é outro assunto que gostaria de abordar porque, pelo que sei, o senhor teve uma evolução notável desde que chegou aqui, doze anos atrás, certo? Agora o senhor me diz que o tratamento te deixou mais doente do que quando você entrou pela primeira vez. Pode contar para a gente um pouco sobre a sua história?

Quando saí da prisão, com vinte anos, estava pobre. Alguns conhecidos meus foram trabalhar como carregadores de caixa, pedreiros, pintores de parede; mas esses eram tidos como idiotas por outros conhecidos meus, que já estão quase todos mortos. Eu precisava de dinheiro e não queria que achassem que eu pertencia ao grupo dos idiotas, então concordei em assaltar um supermercado. Para encurtar a história, deu tudo errado. Todos morreram no assalto e eu tive de fugir com o carro pela estrada e depois para uma fazenda e para a serra e depois para a reserva do pico do meteoro, logo adiante deste edifício. Eu abandonei o carro e me embrenhei o mais fundo pude consegui na mata.

Caminhei montanha acima, me enterrando em folhas para me esconder de helicópteros e entrando em rios para despistar os cães, e logo me perdi, pois na primeira noite um raio incendiou a floresta e eu tive de fugir do fogo ladeira acima até o dia seguinte e, quando amanheceu, eu simplesmente caminhei para o lado que parecia me chamar. Eu não tinha como ferver água, tomei direto de uma poça esverdeada que me desidratou e me fez rastejar como um verme. Eu comi frutas e insetos e fugi de gente como um bicho por semanas. Eu vi um índio que estava

sempre a minha frente mas que eu nunca conseguia alcançar, não importava quanto eu corresse atrás de seu andar tranquilo. À margem de um rio que corria para as duas direções eu vi um galeão enfiado no alto dos galhos de uma árvore. Eu vi um homem a cavalo usando uma armadura enferrujada e um colar feito de orelhas ressecadas, e ele apontou seu mosquete para mim e imitou o impacto da arma enquanto fez “bum” com a boca e sorriu beliscando a própria orelha e deu as costas e se perdeu na selva, a espada estalando contra o lombo do cavalo. Eu não sei quanto tempo se passou. Até que, em uma noite clara de lua, eu desisti de fugir; caminhei até o topo da montanha, e me deitei ao lado do lago negro que há no pico, dentro da cratera onde o meteoro atingiu a terra milhões de anos atrás, observando a via láctea e sentindo o lento girar do planeta em seu eixo etéreo. Como uma antena humana, eu comecei a reverberar em meus ossos as ondas de rádio que a terra sob minhas costas emitia e, quando fechei os olhos ouvi, distante à princípio, a baixa vibração do sangue em meus ouvidos formando palavras. A ressonância desse rumor grave formando harmônicos mais agudos em ondas cerebrais, que por sua vez fizeram eu me lembrar de coisas que tinha esquecido e algumas que ainda não tinham acontecido. Uma das coisas que me lembrei para frente, que ainda não haviam acontecido mas que aconteceriam, foi a minha internação no Hospital Eólio. Outra, uma visita que receberei aqui. Outra, que ainda não aconteceu, é o que devo dizer a esse visitante, palavras impronunciáveis de verdades indizíveis que o doutor Haytham me ensinou a articular. Quando abri os olhos, já

amanhecia. Eu vi no reflexo do lago a beleza sem vida do universo silencioso que começava a nascer em meus olhos. Vi aquilo me encarando de volta, e vi também que a cratera estava cercada por vinte ou trinta pessoas, todas dormindo. Pode procurar nos jornais, foi noticiada a grande conferência dos sonâmbulos que se dirigiram e subiram desajeitados até o topo daquela montanha sem razão aparente. A razão, é claro, era me salvar. Eu estava fraco, próximo da morte, mas agora eu era um mensageiro com um aviso importante que precisava ser cuidado e nutrido, e foi isso que aquelas pessoas foram ordenadas a fazer pela montanha ou pelo que há debaixo dela: salvar a mim e a minha mensagem.

A repórter pôs o microfone na própria boca e moveu os lábios sem fazer som enquanto olhava os membros da equipe. A produtora lhe deu a pista, falando no pequeno microfone preso à sua lapela, e a entrevistadora despertou. Disse, acerca do Dr. Haytham, em nosso contato por cartas, ele nos afirmou que foi o seu caso que despertou a atenção dele para essa instituição no interior do país. Ele já chegou a te revelar como o seu caso contribuiu com o trabalho dele?

O Dr. Haytham, eu disse e olhei para trás rapidamente, apenas pelo tempo necessário para verificar o sorriso na escuridão, mais largo do que nunca, o Dr. Haytham estuda há muito tempo mensagens coletivas, acessadas por esquizofrênicos em pontos isolados do globo, mas que formam um mesmo texto. Eu acredito que a minha parte foi a peça central no quebra-cabeças que fez as demais se articularem.

A produtora, atrás das câmeras, bateu com dois dedos no relógio e disse algo em na lapela.

Dr. Haytham, agora diretor desse hospital, tinha uma carreira acadêmica proeminente na Inglaterra e, desde que chegou aqui, não escreveu mais. A documentação acerca da mudança de administração é nebulosa e...

Eu tentei interrompê-la, dizendo que não sabia nada sobre aquilo, e que ela podia perguntar diretamente para o doutor, mas fui ignorado;

ela concluiu com uma pergunta tão fútil que eu entendi que sua intenção era a exposição de sua investigação, e não um diálogo comigo. Ela tinha me perguntado ao final de sua fala como eu me sentia em relação a ele.

Eu respondi que Haytham tinha me ensinado a pronunciar o que eu ouvia, e depois a proferir a mensagem por inteiro, mesmo que eu não a compreendesse, já que ela tinha sido montada a partir de vozes ouvidas por esquizofrênicos em locais sagrados do Egito, China, Inglaterra, Congo. E ainda me ajudou a descobrir o nome do receptor da minha mensagem. Então eu me sentia em débito com ele, que me fez entender meu propósito.

A produtora sussurrou para a repórter que o tempo tinha estourado.

A repórter se inclinou para frente para ignorá-la e perguntou, pode nos contar quem é esse receptor?

Eu… eu me esqueci agora, eu não consigo lembrar. Mas vou me lembrar, assim que ouvir o nome dele.

A produtora sussurrou nervosa detrás da repórter, Salma, chega, estouramos o tempo.

O doutor Haytham também sussurrou detrás de mim. Do escuro, sua voz sibilante veio me dizer que, Salma, esse era o nome.

Como a repórter, eu me inclinei para frente e falei, fora do microfone, que tinha me lembrado do nome do receptor. Era Salma, eu agora me lembrava. Agora eu podia lhe contar. O microfone pousou em frente à minha boca novamente e eu fechei os olhos. Uma profusão de vozes redemoinhou ao meu redor, segredos de gargantas novas e antigas.

Eu inspirei fundo e, do início comecei a dizer as palavras que não compreendia o significado e exatamente por isso funcionavam. As palavras que tinham sido plantadas em mim pela montanha ou pelo que há enterrado debaixo dela e que Haytham tinha ajudado a lapidar e

Eu inspirei fundo e, do início comecei a dizer as palavras que não compreendia o significado e exatamente por isso funcionavam. As palavras que tinham sido plantadas em mim pela montanha ou pelo que há enterrado debaixo dela e que Haytham tinha ajudado a lapidar e

No documento VÁRIOS AUTORES 1 (páginas 167-185)