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CONtRIbUtOS DA AVAlIAÇãO DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS NA CONStRUÇãO DA PAz

PSICOSSOCIAIS DO(A) OPERADOR(A) DE CAIxA: RESULTADOS E DISCUSSÃO

CARACTERIzAÇÃO DA PROBLEmáTICA E QUESTõES DE INVESTIGAÇÃO

Na prática profissional das operadoras de caixa não é muito notório que existam riscos subjacentes. Contudo, é importan- te compreender qual a percepção que os trabalhadores têm da relação entre os riscos da sua profissão e o conhecimento sobre o impacto que estes causam na sua saúde e bem-estar. No âmbito desta problemática procurou-se responder a duas questões de investigação. (i) Na actividade de operadora de caixa, quais são os principais riscos psicossociais? (ii) Os tra- balhadores estão conscientes do impacto dos riscos psicosso- ciais na sua saúde e bem-estar?

CARACTERIzAÇÃO DA AmOSTRA

Os dados sócio-demográficos têm a importante função de des- crever a amostra, através da qual se conclui que o estudo foi predominantemente marcado por indivíduos do sexo femini- no (74,6%), com média de idades de 26 anos, com o 12.º nível de escolaridade e com horário de trabalho a tempo inteiro.

1. Caracterização da amostra

Sexo 18 masculino (25,4 %) 53 Feminino (74,6%) Nível Escolaridade Inferior ao 9.º ano, n=19 12.º ano, n= 44 Licenciatura,n= 8 Idade mínima, 18 anos Máxima, 41 anos 26,01 anosmédia,

Analisando a nossa amostra com algumas das cinco grandes categorias dos riscos psicossociais indicados pela Agência Eu- ropeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (2007), pode- mos constatar o seguinte:

2. Formas de contrato de trabalho e insegurança no emprego (situação laboral)

Efectivo ou contrato sem termo (60,6 %) Contrato a prazo ou contrato a termo (33,8 %)

Trabalhador-estudante (21,1 %)

A recibo verde ou factura (4,2 %)

Trabalho temporário (1,4 %)

Relativamente às novas formas de contrato de trabalho e insegurança no emprego podemos verificar que a maioria dos inquiridos são efectivos ou tem um contrato sem termo (60,6 %), mas ainda assim existe uma elevada percentagem que não se encontra numa situação de emprego segura.

3. Intensificação do trabalho

Tenho que me apressar (71,8 %)

Tenho que resolver situações ou

problemas imprevistos sem ajuda (56,3 %) Tenho que fazer várias coisas ao mesmo tempo (47,9 %) Sou frequentemente interrompido (45,1 %) (45,1 %) Tenho que manter o olhar fixo sobre

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CONSTRUIR A PAZ: VISõES INTERDISCIPLINARES E

INTERNACIONAIS SOBRE CONHECImENTOS E PRáTICAS

Em relação à categoria da intensificação do trabalho pode- mos verificar que o facto de os operadores de caixa se terem de apressar no atendimento ao cliente é o mais salientado, mas também podemos encontrar situações como a resolução de problemas imprevistos e o terem de fazer várias coisas ao mesmo tempo também é identificado.

Quanto a conciliação entre a vida profissional e a vida privada 44% dos operadores de caixa consideram que frequentemente conseguem conciliar a vida de trabalho com a vida fora de tra- balho, da qual 14% consideram que esta conciliação lhes causa bastante incómodo.

4. Na actividade de operadora de caixa, quais são os principais riscos?

Exposição a calor/frio ou a variações da temperatura (70,4%) Exposição a iluminação inadequada (25,4%) Exposição a ruído nocivo ou incómodo (22,5%) Obrigado a fazer gestos repetitivos (70,4%) Obrigado a permanecer muito tempo

de pé na mesma posição (50,7%)

Obrigado a adoptar posturas penosas (45,1%)

No que se refere as condições e características do trabalho e mais especificamente ao ambiente e constrangimentos físicos os trabalhadores destacaram com maior percentagem o facto de estarem expostos a calor/frio ou a variações de temperatura (70,4%), a iluminação inadequada (25,4%) e a ruído nocivo ou incómodo (22,5%), assim como, o fazerem gestos repetitivos (70,4%), permanecerem muito tempo de pé na mesma posição (50,7%) e adoptarem posturas penosas (45,1%).

5. quais os principais riscos psicossociais das operadoras de caixa?

Exposição ao risco de agressão verbal do público (56,3%) Exposição ao risco de agressão verbal (40,8%) Exposição ao risco de agressão física (12,7%) Exposição ao risco de assédio sexual (16,9%) Exposição ao risco de intimidação (19,7%)

Relativamente aos riscos psicossociais, enumerados pelas operadoras de caixa, e que mais se salientam são o estar expos- to à agressão verbal do público (56,3%), sendo uma percen- tagem elevada e que interfere no bem-estar das operadoras. Verifica-se que as questões relacionadas com as agressões verbais (40,8%); física (12,7%) e sexual (16,9%) também são factores psicossociais que interferem na saúde e bem-estar das operadoras.

Outros factores como a intimidação (19,7%) ou a discrimina- ção sexual (4,2%) ou de nacionalidade (9,9%) são outros fac- tores enunciados.

6. Os trabalhadores estão conscientes do impacto dos riscos na sua saúde e bem-estar?

Dores de Costas (53,5%)

Dores de Cabeça (39,4%)

Problemas de Sono (22,5%)

Dores de Estômago (15,5%)

Problemas músculo-esqueléticos (e articulações) (11,3%)

No que diz respeito à saúde e trabalho, com uma percentagem significativa, 53,5% diz ter dores de costas, associando esse problema ao seu trabalho, o que vem provar os riscos físicos das operadoras de caixa, nomeadamente os gestos repetiti- vos (70,4%); permanecer muito tempo em de pé e na mesma posição (50,7%) e posturas penosas (45,1%). Relativamente a dores de cabeça, 39,4% dos trabalhadores afirma já ter sido vítima e, 43,7 desses indica que o problema foi agravado ou acelerado pelo trabalho, podendo estar associado ao risco de estarem expostas à iluminação inadequada. Quanto aos pro- blemas de sono, 22,5% afirma sofrer e, 5,6% desses relacio- na que esses problemas foram agravados ou acelerados pelo trabalho.

Porém, e de uma maneira geral, apenas 7% da amostra con- sidera que a sua saúde e segurança estão ou foram afectados devido ao trabalho que realiza, revelando assim uma necessi- dade urgente do processo de avaliação de riscos.

7. Tenho ou tinha que suportar as exigências, queixas ou reclamações com o público e confrontar-me com situações de tensão na relação com o público

No trabalho actual (46,5%)

Nunca (15,5%)

No trabalho actual e passado (38%)

Relativamente ao item da relação com o público, foi possível constatar que 46, 5 % da população inquirida tem que supor- tar exigências, queixas ou reclamações com o publico, assim como confrontar-se com situações de tensão nesta relação no trabalho actual em que se encontra. Seguido de 38% dos in- quiridos que responde sentiu isso, tanto no passado como no trabalho actual.

8. O meu trabalho é um trabalho que gostava que os meus filhos não realizassem

No trabalho actual (19,7%)

No trabalho passado (1,4%)

Nunca (59,2%)

No trabalho actual e passado (16,9%)

Quando questionados se o trabalho exercido era um trabalho que gostavam que os filhos realizassem, mais de metade da população inquirida responde que “Nunca”, com 59,2%, reve- lando níveis de satisfação com o trabalho baixos.

CONCLUSÕES

Pela análise destes resultados pode-se confirmar o que é re- ferido no quinto inquérito sobre as Condições de Trabalho de que os riscos físicos continuam a aumentar e os riscos psicos- sociais estão afirmar-se cada vez mais nos postos de trabalho, apesar das operadoras de caixa ainda não se terem conscien- cializado com este facto, dai apenas 7% ter considerado que a sua saúde e bem-estar estão ou foram afectados.

Neste sentido, pode-se falar de um aumento de riscos psicos- sociais a par de uma necessidade cada vez maior de uma pre- venção dos mesmos. A própria lei, implícita ou explicitamente, remete para a doutrina e a normalização técnica a definição de uma grande quantidade de metodologias necessárias para concretizar os objectivos propostos ao empregador: “assegu-

VOL 2. TRABALHO, SAÚDE

E MEDIAÇÃO AMBIENTAL

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rar a segurança e saúde dos trabalhadores em todos os aspec- tos relacionados com o trabalho”. (Roxo, 2004, p. 16).

No entanto, escasseiam os instrumentos para avaliar os riscos psicossociais no nosso país. É fundamental que as empresas por- tuguesas tenham à sua disposição instrumentos que permitam estimar e valorar os riscos psicossociais, o que é possível com a obtenção de valores parametrizados através de investigação a nível nacional, de forma a poderem ser utilizados enquanto referências. (Monteiro & Barros-Duarte, 2010). Para que deste modo, as empresas desenvolvam estratégias para compreender as necessidades dos trabalhadores e tentar manter o equilíbrio entre a eficácia, a segurança e a saúde e o bem-estar.

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CONStRUIR A PAz:

VISÕES INtERDISCIPlINARES

E INtERNACIONAIS SObRE

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