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Redução do excedente do consumidor e peso morto

2. O SISTEMA BRASILEIRO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA SBDC

3.1. O PODER ECONÔMICO NO MERCADO

3.1.3 Exercício do poder de mercado

3.1.3.2 Redução do excedente do consumidor e peso morto

Na ocorrência de monopólio, os consumidores sujeitam-se a uma escassez artificial levada a cabo pelo agente monopolista, o qual tem o controle da oferta, para a maximização dos seus lucros208. A restrição da oferta é um das formas do exercício do poder econômico como visto no tópico anterior. Além disso, outro efeito prejudicial do abuso de poder econômico consiste na redução do excedente do consumidor.

Em um mercado competitivo, a estrutura de incentivos impele as empresas a almejar a eficiência produtiva, uma vez que quanto maior os custos menores os lucros auferidos pelo fornecedor, pois este é um tomador de preço e isoladamente não tem o condão de alterar as condições de mercado. O esforço competitivo dos players gera resultados que beneficiam o

205 BRUNA, Sérgio Varella. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu exercício. 1.ed. 2.tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 31.

206 RODRIGUES, Bruno Leal. Direito da concorrência, concentração de empresas e eficiência econômica, a aprovação de atos de concentração horizontal por eficiências compensatórias. 2006. 323f. Dissertação (Pós- Graduação Stricto Sensu em Direito) – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. p. 42.

207 HOVENKAMP, Herbert. Federal antitrust policy: the law of competition and its Practice. St.Paul: West Publishing Co., 1994. p.14.

208 BRUNA, Sérgio Varella. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu exercício. 1.ed. 2.tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. p. 34.

consumidor, tais como redução preço, inovações tecnológicas e melhorias qualitativas dos produtos209.

Feitas essas considerações, a análise comparativa indica que as transações entre indivíduos e determinadas configurações de mercado podem produzir benefícios sociais ou perdas sociais210. Sendo interessante que a sociedade procure aproximar as estruturas de mercados mais eficientes.

Nos mercado perfeitamente competitivo, o preço de equilíbrio representa o ponto de convergência entre o desejo do consumidor em adquirir determinado produto e a disponibilidade do produtor para ofertá-lo. A medida de bem estar desses agentes de mercado revela-se por meio dos excedentes do consumidor e do produtor.

Conforme Cláudia Viegas e Bernardo Macedo, o excedente do consumidor retrata a mensuração da satisfação calculada pela diferença entre o preço que o consumidor dispõe-se a remunerar por uma mercadoria ou serviço e a quantia efetivamente paga por ele pelo bem. É importante salientar que essa medida guarda um forte componente subjetivo, tendo em vista que o preço atribuído a um bem qualquer é influenciado pelas preferências do consumidor211. Diferentes pessoas possuem diferentes anseios e gostos e, portanto, a relevância que essas conferem a determinados bens e serviços varia conforme essas variadas aspirações212.

O grau de satisfação dos fornecedores é indicado pelo excedente do produtor. O cálculo dessa medida obtém-se pela diferença entre o preço pelo qual o produtor já seria capaz de ofertar o produto ou serviço e o valor, com efeito, que ele recebe pelo bem transacionado213.

209 VIEGAS, Cláudia; MACEDO, Bernado. Falhas de mercado: causas, efeitos e controles. In: SCHAPIRA, Maria Gomes (coord.). Direito econômico: direito econômico regulatório. São Paulo: Saraiva, 2010. Série GV- law. p. 81-82.

210 Os conceitos de benefício social e perda social é dado por Hebert Hovenkamp: “A social cost is a net loss that society suffers as a result of a particular transaction. A social benefit is a net gain. If A gives B $ 100, B is $100 richer and A is $100 poorer. Disregarding the costs of the transaction itself, such “transfer payments” produce neither a social cost nor a social benefit. By contrast, if A produces for $100 a widget that B values at $150, society may become $50 richer. B might pay $150 for the widget. In that case B will be neither better nor worse off, for he valued the widget just what he paid for it. But A will be $50 richer, for his costs were only $100. Alternatively, if A sells the widget at $100, A will be neither nor worse off, but B will be $50 better off.” (HOVENKAMP, Herbert. Federal antitrust policy: the law of competition and its Practice. St.Paul: West Publishing Co., 1994. p.17).

211 VIEGAS, Cláudia; MACEDO, Bernado. Falhas de mercado: causas, efeitos e controles. In: SCHAPIRA, Maria Gomes (coord.). Direito econômico: direito econômico regulatório. São Paulo: Saraiva, 2010. Série GV- law. p. 85.

212 COOTER, Robert; Ulen, Thomas.Law & Economics.5.ed. Boston: Pearson Education, Inc., 2008. p. 23. 213 VIEGAS, Cláudia; MACEDO, Bernado. Falhas de mercado: causas, efeitos e controles. In: SCHAPIRA, Maria Gomes (coord.). Direito econômico: direito econômico regulatório. São Paulo: Saraiva, 2010. Série GV- law. p. 86.

Graficamente, os excedentes do consumidor e do fornecedor podem ser representados assim:

Figura 2. Gráfico representativo dos excedentes do consumidor e do produtor214.

O eixo vertical indica os preços, enquanto o eixo horizontal, a quantidade. Pe e Qe correspondem respectivamente ao preço de equilíbrio e à quantidade de equilíbrio, os quais resultam da intersecção das curvas de demanda e oferta. O triângulo “A” ilustra o excedente do consumidor em dado mercado e o cálculo de sua área indica a totalidade do excedente do consumidor. Por sua vez, o triângulo “B” estampa o excedente do produtor e o cálculo de sua área fornece uma estimativa da satisfação do produtor em determinado mercado. A soma dos dois triângulos, por conseguinte, significa a mensuração do bem-estar em um mercado competitivo215. Esse arranjo de mercado é eficiente para sociedade, porque os consumidores que estiverem dispostos a pagar o custo produtivo conseguirão adquiri-lo.

Nos mercados monopolizados, as empresas detentoras de poder econômico restringem a oferta e, como dito anteriormente, impõem uma escassez relativa artificial. Consequentemente, as firmas cobram um preço por produto superior ao que seria estabelecido

214 RODRIGUES, Bruno Leal. Direito da concorrência, concentração de empresas e eficiência econômica, a aprovação de atos de concentração horizontal por eficiências compensatórias. 2006. 323f. Dissertação (Pós- Graduação Stricto Sensu em Direito) – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. P. 45.

215 VIEGAS, Cláudia; MACEDO, Bernado. Falhas de mercado: causas, efeitos e controles. In: SCHAPIRA, Maria Gomes (coord.). Direito econômico: direito econômico regulatório. São Paulo: Saraiva, 2010. Série GV- law. p. 86-87.

em um mercado competitivo. Essa estratégia do monopolista diminui o excedente do consumidor, como elucida o gráfico a seguir.

Figura 3. Gráfico representativo da transferência do excedente do consumidor e surgimento do peso morto 216.

Nessa figura, P1 e Q1 representam preço e a oferta em um mercado competitivo. P2 e Q2 correspondem ao preço e à oferta para o mesmo produto em um mercado monopolizado. Dois efeitos deletérios podem ser observados no Gráfico 3. O primeiro deles é a transferência de renda do consumidor para o produtor. O retângulo A-B-P1-P2 representa a riqueza transferida do consumidor para o monopolista. O triângulo acima deste retângulo, por sua vez, indica o excedente do consumidor neste mercado, cuja área é visivelmente inferior ao do excedente do consumidor no mercado competitivo, ilustrado pelo Gráfico 2.

O segundo efeito prejudicial está retratado pelo triângulo A-B-C. Essa figura representa o peso morto. Os consumidores situados acima da curva de demanda entre os pontos A e C não se dispõem a pagar o preço de monopólio por um bem, ainda que desejem adquiri-lo pelo valor competitivo. Nessa situação, eles irão procurar um produto substituto ou ficarão sem satisfazer suas necessidades217.

216 RODRIGUES, Bruno Leal. Direito da concorrência, concentração de empresas e eficiência econômica, a aprovação de atos de concentração horizontal por eficiências compensatórias. 2006. 323f. Dissertação (Pós- Graduação Stricto Sensu em Direito) – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. p. 46.

217 HOVENKAMP, Herbert, The antitrust enterprise: principles and execution. Cambridge, Harvard University, 2005. p. 20.

Ainda de acordo com Rodrigues, o peso morto significa uma perda de bem estar social, uma vez que ele representa um valor que seria gerado com os recursos e técnicas reservados para aquela atividade econômica e que deixou de ser criado em função da estratégia monopolista para auferir ganhos excessivos. O peso morto é uma ineficiência alocativa dos recursos escassos. O somatório da riqueza transferida do consumidor para o produtor e o peso morto correspondem à redução do consumidor comparativamente a um mercado perfeitamente competitivo218.