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Uma síntese preliminar a partir dos casos Maria Joel da Costa e Sétimo Garibald

CAPÍTULO III ANALISANDO OS DADOS

3.4 Uma síntese preliminar a partir dos casos Maria Joel da Costa e Sétimo Garibald

Os casos Maria Joel da Costa e Sétimo Garibaldi serviram de fio condutor para a análise da relação entre o Poder Executivo e o Sistema de Justiça sobre graves violações de Direitos Humanos. Neste capítulo, desenvolvi as unidades de análise e apliquei-as ao banco de dados em sentindo amplo, sem apontar as especificidades dos casos em estudo. Mas é fundamental concluir a análise dos dados nessa etapa retomando o estudo específico dos casos, para também elaborar uma síntese preliminar das conclusões obtidas até então.

As ações realizadas pelo Poder Executivo em relação às violações sofridas por Maria Joel desenvolvem-se em dois campos: no âmbito do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos e Ouvidoria Agrária Nacional para cumprimento do acordo de solução amistosa do caso Dezinho, firmado pelo Estado brasileiro e pela família da vítima junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. As medidas protetivas implementadas pelo programa garantem o fornecimento de escolta policial à defensora, incluindo veículo apropriado para deslocamento, instalação de equipamentos de segurança na residência da defensora e na sede do sindicato, articulações com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará para elaboração de mapeamento de risco da defensora, atendimento psicológico, articulações com órgãos de regularização fundiária no âmbito federal e estadual para regularização dos pré-assentamentos na região de militância da defensora e do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará e acompanhamento das ações judiciais relativas ao homicídio de Dezinho e inquéritos relacionados às ameaças sofridas por Maria Joel.95

Quanto ao acordo de solução amistosa, Eliane (integrante de ONG, 2016) avaliou negativamente o cumprimento pelo Estado brasileiro:

Então, vai indo muito devagar. A gente conseguiu, foi feito o júri, por exemplo, a questão da responsabilização, houve o júri do caso do Dezinho, né, com a condenação do principal mandante, mas também uma investigação falha desde sempre, com muitos problemas que não conseguimos responsabilizar o consórcio como um todo, né? [...] Agora, todas as outras questões que a gente precisava avançar, como avançar nos assentamentos, avançar a criação de um centro

95 Essas medidas protetivas foram mencionadas pelas entrevistadas Fabiana (gestora pública, 2016), Carla (integrante de ET/PPDDH, 2016), Lara (integrante de ET/PPDDH) e Maria (integrante de ET/PPDDH, 2016) e no Relatório Técnico de Acompanhamento 021/2013 (PPDDH, 2013).

144 tecnológico, as próprias sede do sindicato, né, todas essas questões nós, infelizmente, não avançamos. (informação verbal)96

Mas há um consenso sobre a influência da solução amistosa na proteção à Maria Joel. Eliane (integrante de ONG, 2016) expôs:

Com certeza, acho que, como a gente teve a retirada de proteção em tantos casos de defensores, inclusive do deputado Luís Couto, a gente acha que o trâmite no Sistema Interamericano, ele é um reforço para isso. Com certeza, sim, né. Agora, é aquilo que a gente fala também, a proteção, ela está inserida no programa e a proteção dela ainda é muito frágil. A gente está falando de uma pessoa que já sofreu atentados, né, e que sobreviveu graças a um próprio jogo de cintura que ela mesmo teve em negociar a sua vida, praticamente, né? (informação verbal) 97

Carla (integrante de ET/PPDDH) afirmou:

E também porque a gente sempre citou o acordo quando a gente quer, por exemplo, tem problemas na escolta, tem problemas no carro, a gente cita o acordo. Olha existe um acordo em que o governo do estado do Pará também é responsável, principalmente nessa questão do carro. Que eu acompanhei de perto, olha, existiu esse acordo de solução amistosa, com tais obrigações para o governo federal, tais obrigações para o governo do estado do Pará e a caminhonete está quebrada e ela está impossibilitada de se deslocar, quem vai se responsabilizar por isso? [...] Então tem esses probleminhas, né, mas a gente nunca escutou de nenhum representante da secretaria, que eu me lembre, pelo menos eu, pode ser que a coordenação geral talvez até tenha tido uma conversa, ‘ah, a gente quer tirar sim’, eu me lembro que houve um compromisso da Secretaria de Segurança Pública do Pará e eles estão fazendo isso, nos casos que a gente acompanha, de fazer uma análise de risco em todos os casos e dando prioridade para os casos que têm escolta, porque hoje a gente só tem escolta no Pará, policial, e é Policial Militar. (informação verbal)98

Fabiana (gestora pública, 2016) também mencionou a influência da solução amistosa na proteção a Maria Joel:

Eu acho que sim. Eu acho que influenciou sim. Eu não sei dizer se a inclusão dela se deu depois da solução amistosa ou se foi antes, mas, por ter solução amistosa, a gente trabalha no caso dela principalmente com a escolta dela, que está lá. Então eu acho que isso interfere diretamente na possibilidade de ela fazer as ações como uma defensora de Direitos Humanos ali na região de Marabá, dá a ela essa

96 Entrevista concedida por Eliane. Entrevista VI. [abr. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (37 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

97 Ibid.

98 Entrevista concedida por Carla. Entrevista I. [abr. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (72 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

145 sensação de segurança, embora a gente não tenha ameaças registradas recentemente contra ela. São poucos episódios de ameaça registrados para o programa e para a segurança pública muito menos. E são todas ameaças indiretas, tipo, o vizinho ouviu dizer no bar que tal pessoa queria matar a dona Maria Joel, queria pegar a dona Maria Joel. Então eu acho que essa presença na vida dela, instalando câmeras de segurança na casa dela, no sindicato, escolta, manutenção do carro da escolta dela, tem diárias dos policiais que fazem a escolta, que a segurança pública do Pará que paga, tudo isso interfere na possibilidade de ela atuar, na sensação de segurança, na continuidade do trabalho que ela faz. Além das outras ações que tiveram da solução amistosa. (informação verbal)99

Coube ao PPDDH acompanhar o andamento da ação penal sobre o assassinato de Dezinho, tendo em vista a relação entre o crime com as ameaças sofridas por Maria Joel. Segundo Fabiana (gestora pública, 2016:)

Teve uma atuação junto ao juiz, então o programa se fez presente dias antes do júri, acompanhamos todo o júri e fizemos despacho com o juiz, a equipe federal fez isso. E depois, por alguns fatos que aconteceram dentro do julgamento, que foi uma intimidação dos advogados, a gente fez uma articulação com o CNJ, onde a gente enviou o vídeo do julgamento para que o CNJ avaliasse essa intimidação que foi feita ao advogado, foi o juiz que deu uma intimidada no advogado, então nós enviamos para o CNJ, na pessoa do Herivaldo, e não obtivemos resposta. (informação verbal)100

A Ouvidoria Agrária Nacional também acompanhou o caso Dezinho e as ações de proteção à Maria Joel. Como expôs Cristiane (gestora pública, 2016):

Todas as vezes que nós recebemos a demanda, porque a gente precisa sempre cuidar da demanda e, no ano de 2015, a gente veio bastante cuidando da demanda, então todas as vezes que nós recebíamos a dona Maria Joel, nós fazíamos as gestões necessárias dentro das nossas atribuições. Muitas daquilo que foi acordado já foi cumprido, e, todas as vezes que tínhamos as respostas, encaminhávamos. Algumas coisas que ainda padecem, mas assim, nesse ano especificamente, nós não recebemos nenhum pedido, então a gente acha que deve ter sido solucionado. E acompanhamos o caso também do processo. [...] O desembargador encaminhou também os assessores para acompanhar, inclusive no dia do julgamento e após o julgamento, todos os passos estamos acompanhando. Fazendo a atribuição da Ouvidoria, pedindo preferência no julgamento, muitas vezes o deslocamento da competência, lembra que a gente precisou desaforamento do Tribunal do Júri... [...] Isso, interferimos. Em todos os passos do processo, interferimos. (informação verbal)101

99 Entrevista concedida por Fabiana. Entrevista VIII . [maio. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (42 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B. 100 Ibid.

101 Entrevista concedida por Cristiane. Entrevista XIV. [jun. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (63 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

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Já no caso Sétimo Garibaldi, as ações realizadas pelo Poder Executivo deram-se, majoritariamente, a partir da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 2009, que condenou o Estado brasileiro a: i) a publicar a sentença no Diário Oficial, em outro jornal de ampla circulação nacional, e em um jornal de ampla circulação no Estado do Paraná e a publicação de forma íntegra, por no mínimo um ano, em uma página web oficial da União e do Estado do Paraná; ii) a conduzir, eficazmente e dentro de um prazo razoável, o inquérito e qualquer processo que chegar a abrir, como consequência deste, para identificar, julgar e, eventualmente, sancionar os autores da morte do senhor Garibaldi; iii) a investigar e, se for o caso, a sancionar as eventuais faltas funcionais nas quais poderiam ter incorrido os funcionários públicos a cargo do inquérito; iv) a pagar aos familiares os montantes fixados na sentença a título de dano material e imaterial, dentro do prazo de um ano (CORTE IDH, 2009).

A Corte IDH, ao supervisionar o cumprimento da sentença, declarou, em 2012, que o Estado brasileiro havia cumprido a obrigação de reparar os familiares de Sétimo Garibaldie a investigar as falhas funcionais dos funcionários públicos a cargo do inquérito policial, mas não cumpriu, até então, com a obrigação de conduzir, eficazmente e em prazo razoável, o inquérito e processos judiciais relativos ao homicídio do trabalhador rural. Decidiu por manter aberto o procedimento de supervisão de cumprimento da sentença em relação a esse ponto (CORTE IDH, 2012).

A partir da obrigação determinada pela Corte IDH, o Poder Executivo, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Ouvidoria Agrária Nacional, atuou junto ao Sistema de Justiça para garantir o andamento do processo que apura os responsáveis pela morte de Sétimo Garibaldi. A importância da atuação conjunta dos dois órgãos para impulsionar os casos em trâmite no SIDH que tratem de violência no campo foi pontuada por Lúcia (gestora pública, 2016):

Então qual que era a ação da SDH, a tentativa de ação da SDH, via Ouvidoria Agrária Nacional, e isso porque, porque o desembargador Gercino tem uma reputação muito boa e abre muitas portas, então, no âmbito da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, que é da Ouvidoria Agrária Nacional, cujo desembargador Gercino é o ouvidor agrário e o presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, nós impulsionamos vários dos casos do Sistema Interamericano relacionados a conflito agrário. Esse tem sido o mote, porque a Secretaria de Direitos Humanos, sozinha, não tem conseguido avançar nos termos de conflito agrário só como ente federal único, para tentar avançar não só nos estados como também em alguns casos, em quase todos eles, o que a gente faz, a gente leva o caso para o âmbito da Comissão Nacional de Combate à Violência no

147 Campo e discute o caso e algumas ações possíveis que podem ser feitas no âmbito da Comissão.(informação verbal)102

Lúcia fez uma análise acerca da capacidade da SDH em atuar nos conflitos no campo e sobre a importância da figura do ouvidor agrário nacional:

Ela não tem legitimidade no tema agrário tanto quanto a Ouvidoria Agrária tem hoje. Não só legitimidade, mas também a Ouvidoria Agrária, ela passa em todos os estados federados. O desembargador Gercino está viajando sempre com a Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, atendendo demandas, e eles atendem demandas de vítimas diretamente, então sempre foi uma via melhor de cumprimento, porque também eles têm uma demanda dentro da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo de criar varas agrárias estaduais, defensorias agrárias, varas especializadas, enfim, órgãos públicos especializados em temas agrários. [...] Então, para a gente, é bem interessante ter essa via pela Ouvidoria Agrária Nacional porque nos traz mais legitimidade e também nos traz o nosso pleito porque ele é embasado pelo desembargador. [...] A figura do desembargador é essencial. A figura do desembargador em si. (informação verbal)103

Cristiana (gestora pública, 2016) expôs que, em 2012, a Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, presidida pelo ouvidor agrário nacional, reuniu-se com o então procurador-geral de Justiça do Paraná para tratar do caso Sétimo Garibaldi:

Por parte do estado brasileiro, a falta de cumprir o item referente à condução do inquérito policial que investiga a morte do trabalhador do Sétimo Garibaldi. Em 2004, o inquérito policial que apurou o homicídio, ele foi arquivado na Comarca de Luanda sob a alegação de falta de provas para embasar uma ação penal. Em 2009, por requerimento do Ministério Público do Estado do Paraná, o inquérito foi reaberto. Em 2011, foi oferecida denúncia pelo Ministério Público, a qual foi recebida pelo juiz da Comarca de Luanda. Em dezembro de 2011, ainda, a primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, infelizmente, decidiu conceder habeas corpus ao acusado para trancar a ação penal. Em maio de 2012, foi realizada reunião da Comissão de Combate à Violência no Campo, no gabinete do procurador-geral de Justiça do Estado do Paraná. [...] Visando discutir possíveis providências por parte do Ministério Público com a finalidade de dar andamento à ação penal, resultando no compromisso do dito procurador-geral em determinar providências visando destrancar a ação penal. (informação verbal)104

102 Entrevista concedida por Lúcia. Entrevista III. [abril. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (32 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

103 Ibid.

104 Entrevista concedida por Cristiane. Entrevista XIV. [jun. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (63 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

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Com a interposição de recurso especial pelo Ministério Público em 2012, o ouvidor agrário nacional requereu preferência no julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça:

Em junho de 2012, o Ministério Público do Estado do Paraná apresentou recurso especial, o qual foi admitido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e remetido ao Superior Tribunal de Justiça, onde foi autuado em outubro de 2012, recebendo esse RESPE o número 13.51177, e, após a atuação da Ouvidoria Agrária Nacional, o desembargador Gercino pedindo a preferência no julgamento do caso, ele foi incluído numa pauta de julgamento desse ano. [...] Depois que ele foi incluído na pauta do julgamento, nós ainda fomos despachar para pedir que ele realmente tivesse carinho ao avaliar a questão. Mas, infelizmente, não foi provido. (informação verbal)105

E avalia negativamente a atuação do Poder Judiciário e a resolutividade da sentença da Corte IDH:

No caso Sétimo Garibaldi, não funcionou. Não funcionou porque nós fizemos tudo o possível e, infelizmente, o Poder Judiciário, nós fundamentamos em tudo o que a gente pode fundamentar, infelizmente, não se tratava de [inaudível], nós estávamos pedindo que fosse realmente feita a ação penal, o devido processo legal, que não houve o devido processo legal, mas infelizmente não houve. (informação verbal)106

Álvaro (gestor público, 2016) também demarcou a atuação da Ouvidoria Agrária Nacional e da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo para reabertura do inquérito policial sobre a morte de Sétimo Garibaldi, com base nas decisões do SIDH:

[...] porque, como a gente solicitou ao Ministério Público pela própria denúncia na OEA, né, para que Estado brasileiro tomasse as providências legais necessárias porque a impunidade nesse país é muito grande. Então, nesse caso, nós sentimos, e o Ministério Público aceitou, assim, muito bem nossa pressão. Lógico que a pressão do Poder Executivo referente à denúncia na OEA [...] A Comissão Nacional acompanhou. [...] A pedido da Secretaria, porque nós que solicitamos a Comissão que fizesse esse acesso. Normalmente, o que a gente faz, todos os casos de julgamento que a Comissão é solicitada, a gente vai junto com o desembargador, a Comissão, como eu faço parte, a gente vai [...] então nós sempre acompanhamos e solicitamos aos juízes, aos desembargadores, aos ministros, inclusive STF também a gente vai, agilidade no julgamento. Porque são casos de violência muito graves, muito graves e que demora muito e, quanto mais

105 Ibid.

149 demora, mais acirra o conflito e mais violência tem. (informação verbal)107

Fábio (integrante de ONG, 2016) abordou a importância da atuação do Poder Executivo em relação ao Sistema de Justiça para as organizações que atuam no caso e para os familiares:

Mas eu acho que, por exemplo, para nós que estávamos acompanhando a ação penal e tudo, para nós é importante, porque dava uma certa guarida para atuação, sabe? Inclusive, às vezes, nas comarcas dos interiores, você tem certa dificuldade de manejar e a presença de um órgão federal é importante, dá uma certa blindada para poder, para poder... e eu lembro os familiares estavam na audiência, foi bom também porque pode conversar com os familiares. Eu acho que, de certa forma, a presença é uma medida reparadora, porque conversa com a família, conversa com a viúva, conversa com os filhos, mostra que está tendo atenção. Acho que foi importante, aí já no caso do Sétimo Garibaldi, que foram feitos os pagamentos, mas, em outros casos que têm recomendações, como o do Sebastião Camargo e do Antônio Tavares, que foi admitido, mas não foi julgado ainda, abriu um procedimento interno aqui no governo do estado para pagamento das indenizações, que não era obrigatório no caso do Sebastião Camargo, que é recomendação, e do Antônio Tavares ainda não tem decisão da corte, mas está tramitando, está demorando, mas parece que vai firmar acordo mesmo. (informação verbal)108

A atuação específica do Conselho Nacional de Justiça nos dois casos deu-se por meio do Programa Justiça Plena. O relatório publicado em 2012 indica que as ações judiciais relativas aos casos Sétimo Garibaldi e José Dutra da Costa foram apresentadas pela então Secretaria Especial de Direitos Humanos para serem acompanhadas pelo programa. Ao consultar o sistema de informações do Justiça Plena109, verifiquei que o programa acompanha o andamento da ação penal referente ao caso Sétimo Garibaldi desde 2011 (a pedido da Secretaria de Direitos Humanos), sendo a última movimentação de outubro de 2015, quando a Corregedoria Nacional de Justiça registra a interposição de recurso especial pelo Ministério Público do Estado do Paraná. Ressalto que o recurso teve julgamento finalizado em março de 2016 e a decisão foi transitada em julgado em agosto de 2016, como expus no segundo capítulo.

107 Entrevista concedida por Álvaro. Entrevista X. [maio. 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (54 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

108 Entrevista concedida por Fábio. Entrevista IX. [maio 2016]. Entrevistadora: Luciana Silva Garcia. Brasília, 2016. (27 minutos). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice B.

109 O caso Sétimo Garibaldi está registrado pelo número 046619988160105 e o caso José Dutra da Costa

pelo número 046200020000044. Disponível na página eletrônica:

<http://www.cnj.jus.br/corregedoria/saprs/?a=consultaPublica&d=consultaPublica&f=formPesquisar>. Acesso em: 4 fev. 2017.

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Já sobre o caso Dezinho, o programa acompanha, igualmente, a ação penal desde 2011, também a pedido da Secretaria de Direitos Humanos, sendo a última movimentação de janeiro de 2014, quando o Tribunal de Justiça de Belém, em resposta a ofício do CNJ, encaminhou informações sobre o andamento da ação penal. Entretanto, semelhante ao caso Sétimo Garibaldi, em abril de 2014, houve julgamento do fazendeiro Delsão, indicado como mandante do crime, com sua condenação e decisão do Tribunal de Justiça do Pará anulando a condenação pelo júri popular em 25 de outubro de 2016, como expus no capítulo segundo.

Não distintamente do que verifiquei ao longo da análise dos documentos e das entrevistas, em ambos os casos as ações do Poder Executivo sobre as violações sofridas por Maria Joel da Costa estão delimitadas pela atuação do Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos e, no caso Sétimo Garibaldi, pelo trabalho de órgãos específicos, como a Secretaria de Direitos Humanos e a Ouvidoria Agrária Nacional, para cumprimento das decisões do SIDH. Ressalto, pela análise das entrevistas, a importância do trabalho da Ouvidoria Agrária, com grande capacidade de interlocução com o Sistema de Justiça, muito em função da pessoa do ouvidor Gercino José da Silva Filho, desembargador do Tribunal de Justiça do Acre, fenômeno que avaliarei mais detidamente no próximo capítulo.

A relação entre o Poder Executivo e o Sistema de Justiça, em ambos os casos, mostrou-se precária, frágil. No caso Maria Joel da Costa, a despeito da importância do julgamento do fazendeiro acusado pelo homicídio de Dezinho para a proteção da defensora e o seguimento das investigações sobre outras ameaças, não há uma atuação definida no âmbito do PDDH quanto à interlocução com o Ministério Público e o Poder Judiciário. Por sua vez, mesmo com o acordo de solução amistosa (que contou,