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Parte I – Investigação Teórica

1.2. A Internet como meio de comunicação

1.2.6. Spam

As mensagens de correio electrónico recebidas com publicidade que não foi solicitada pelo destinatário e que provoca entupimento das respectivas caixas de correio é

normalmente definida por “correio lixo”, “lixo electrónico13”, junk-mail ou mais

vulgarmente spam.

A palavra spam foi imortalizada pelos Monty Python num dos seus episódios. “É oriunda do termo inglês spiced ham, nome de umas latas de carne condimentada. Como não precisavam de refrigeração, estavam presentes em todas as prateleiras de todas as lojas, literalmente inundando-as, tal como acontece hoje com o lixo electrónico” (Vieites et al, 2008, p. 167).

Neste episódio da série Monty Python's Flying Circus (BBC, 1969), o Sr. e a Sra. Bun entram no café Green Midget cheio de Vikings e tentam pedir algo para comer. Enquanto a empregada lista todas as ementas, repete consecutivamente spam, pois quase todos os pratos o contêm. Os Vikings à medida que ouvem a palavra repetem também sucessivamente o nome do enlatado de forma entoada e musical.

As origens do relacionamento do termo spam com o envio de massa de correio electrónico é endossada pelo RFC 2635 (Hambridge et al, 1999) e remonta a Abril de 1994 quando dois advogados norte-americanos do Green Card14 inundaram com publicidade

diversos grupos de notícias da Usenet15. Este infeliz episódio de disseminação massiva teve

uma grave resposta, os advogados foram vítimas de uma serie de ataques de “mail bombing” e a sua presença foi interdita nesses fóruns (Vieites et al, 2008).

Actualmente o “lixo electrónico” é visto como um grande problema que se espalha dia a dia pela Internet. Parte dele, provem da facilidade de aquisição de bases de dados com milhares de registos contendo endereços electrónicos, a preço muito reduzido. Estes endereços são muitas vezes capturados por bots, pequenos “robôs” em forma de software programados para rastrear a Internet à procura de endereços de correio electrónico. Os bots podem rever milhares de páginas por dia, bem como grupos de notícias, fóruns, listas de distribuição, etc., como se de um vírus de tratasse. Apesar de ser prática ilegal, é corrente, pois os custos de angariação são mínimos ou nulos, enquanto que os resultados são numerosos, tornando a prática muito vantajosa (Krishnamurthy, 2000).

13 Denominação normalmente utilizada em software de recepção de correio electrónico como o Microsoft Outlook ou o Mozilla Thunderbird.

14 [Ing.] (Cartão verde) O green card é oficialmente o United States Permanent Resident Card ("Carta de Residência Permanente nos Estados Unidos") é um visto permanente de imigração concedido pelas autoridades daquele país.

15 [Ing.] Rede mundial de computadores, que reúne milhares de grupos de discussão, nomeados e classificados hierarquicamente por temas.

O envio em massa realizado pelos spammers cria por vezes um risco de colapso dos servidores de correio electrónico e obriga a reduzir o desempenho e os tempos de resposta. Todos os dias são enviadas milhares e milhares de mensagens que saturam redes e servidores e entopem caixas de correio, provocando por sua vez, perdas de milhões de euros (ou dólares) a empresas, operadores de telecomunicações e aos próprios utilizadores (Hambridge et al, 1999).

A perda económica não se apõe apenas ao tempo e recursos gastos, relacionado com tempos de ligação, filtragem e leitura de “lixo”, mas também aos consumos energéticos. Não é difícil pensar que o envio e recepção de milhares e milhares de e-mails não solicitados por parte dos servidores, tem um consumo acumulado gigantesco, o que não contribui para a redução da emissão de gases de efeito de estufa.

Outro problema, especialmente para o receptor, é que muitas das vezes não é possível a remoção do respectivo endereço electrónico das listas de distribuição ilegais. O receptor fica então condenado a ser bombardeado por mensagens indesejadas, acabando por ter como último recurso em muitas situações, mudar de endereço de correio electrónico. Obviamente isto acarreta um grande transtorno para o utilizador, a mudança de contacto, mudança de cartões-de-visita, etc.. Do ponto de vista de Roberts et al (2001), o spammer acaba por forçar o utilizador pagar um custo elevadíssimo pela sua publicidade.

A problemática do spam não afecta só servidores e clientes. O overmarketing não é apenas pernicioso do ponto de vista da afectação de recursos, mas também no que concerne à eficácia dos esforços de marketing. Existe também uma larga perda do lado dos marketeers que mantém escrupulosamente a ética e o profissionalismo. Estes, que tentam manter a qualidade e racionalidade no envio das newsletter, acabam por ver os seus esforços muitas vezes desperdiçados por um clique, uma tecla, ou uma nova regra no filtro de spam. Este fenómeno, usualmente conhecido por “marketing-clutter”, leva o consumidor a ignorar a maioria das mensagens, o que no caso em análise, se consubstancia na remoção dos e-mails comerciais não solicitados, sem sequer serem lidos.

De acordo com um estudo conduzido por IMT Strategies (2001), foram encontradas um conjunto de conclusões ilustrativas desta situação:

• Mais de 50% dos clientes online referenciaram que recebem mais e-mails do que aqueles que conseguem tratar, em relação ao ano passado;

• 77% dos clientes online apagam e-mails comerciais indesejados sem sequer os lerem.

Segundo a Vector21, “a Comissão Europeia publicou um estudo no qual revela que, anualmente, os internautas gastam cerca de 9.5 biliões de dólares em acessos à Internet, gastos a receber e a ler e-mails que não foram por eles solicitados. Por isso mesmo, a Comissão Europeia pretende criar uma legislação que impeça os publicitários de colocarem os consumidores em listas de spam, sem haver uma autorização prévia” (Pires, 2002. p. 31 ).

“Um relatório da Comissão Europeia revelava que, apenas por este motivo, o spam provocava perdas superiores a 10 mil milhões de euros anualmente em todo o mundo” (Vieites et al, 2008, p. 169).

Por estas razões o spam está a sujeito a regulamentação por parte de governos, ISP16,

associações empresariais, associações de internautas e entidades reguladoras da Internet. Nos EUA foi aprovada a “Lei do Correio Electrónico Não Solicitado” junto com a aprovação pelo Senado do Spam Act de 2001 que estabelecem standards para controlar o envio de e-mails em massa e permitem processos legais contra os spammers. Vários estados europeus bem como a própria União Europeia regulam e penalizam severamente estas técnicas abusivas (Vieites et al, 2008, Roberts et al, 2001). Nos Estados Unidos os infractores podem ser alvo de pesadas multas que podem alcançar 500 000 dólares.