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RESULTADOS PISA 2018

6.3 O Campo e os sujeitos de pesquisa

6.3.2 Caracterização dos sujeitos

A escolha dos estudantes se deu mediante adesão voluntária ao convite disponibilizado no sistema acadêmico da referida IES, feito pelo vice coordenador de curso.

Nosso primeiro contato com os estudantes foi realizado em 01 de setembro de 2020, por meio de e-mail, através do qual encaminhamos o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE)20, com as devidas orientações, para ser assinado em duas vias: uma ficaria com o participante da pesquisa e a outra via seria escaneada, salva em arquivo PDF e devolvida para o e-mail do pesquisador.

No segundo contato, realizado em 14 de setembro de 2020, encaminhamos para os estudantes o link de um questionário elaborado no Google forms, cujo objetivo era traçar o perfil destes. Optamos por apresentar as respostas dos voluntários neste capítulo, para que o leitor possa conhecer os sujeitos de pesquisa. Esse instrumento de coleta de dados constava de onze questões e foi respondido por oito dentre os nove voluntários inscritos nas oficinas de educação financeira, das quais as três primeiras eram:

Quadro 14 – Três primeiras questões do questionário aplicado aos estudantes

Questão 1 Questão 2 Questão 3

20 O projeto que deu origem a esta tese foi aprovado pelo comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, por meio do sistema Plataforma Brasil sob CAAE 38954120.2.0000.5482 e comitê de Ética da Instituição de Ensino Superior coparticipante, por meio do Sistema Plataforma Brasil sob CAAE 38954120.2.3001.5147, cujo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido consta nos apêndices deste trabalho.

Atualmente sou estudante de 160 licenciatura em Matemática no modelo:

( ) Presencial diurno ( ) Presencial noturno ( ) EaD

Qual o período que você está cursando?

A licenciatura em Matemática será sua primeira formação superior?

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Nosso interesse com a primeira questão era identificar os estudantes que cursavam o modelo presencial, já que na elaboração do projeto de pesquisa, antes do período pandêmico, a intenção era ir à IES coletar os dados presencialmente. Já as questões sobre o período em curso e se a licenciatura em Matemática era sua primeira formação superior, foram pensadas com o propósito de planejar as fases de experimentação. No quadro, apresentamos uma síntese das respostas dos estudantes sobre a experiência acadêmica e, para garantir o anonimato dos participantes, utilizaremos pseudônimos.

Quadro 15 – Experiência acadêmica dos estudantes sujeitos da pesquisa

Nome Modalidade de

ensino

Período Já possui formação superior

Clarice Presencial diurno Não

Iris Presencial noturno Não

Raquel Mestranda do

PROFMAT21 - Sim

Eva Presencial noturno Não

Hércules Presencial Diurno Não

Júlia EaD 10º Não

Lobato Presencial diurno Não

Elis Presencial diurno Não

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

De acordo com as informações do Quadro 15, observamos que os estudantes em formação inicial já percorreram, pelo menos, um ano de curso, correspondente à primeira graduação. Ao inquirir sobre o período em curso, tivemos a intenção de identificar as disciplinas de conteúdos da Ciência da Educação correlacionadas com a Matemática, disciplinas de prática e a disciplina Matemática Financeira, que já foram cursadas pelos participantes, conforme o recorte apresentado nos quadros a seguir da matriz curricular da IES (2018).

21 Sendo a IES coparticipante uma instituição pública, acolhemos o interesse da voluntária.

Quadro 16 – Disciplinas da Ciência da Educação e de prática da matriz curricular da IES 161 coparticipante para o ensino presencial

Ciência da Educação

Disciplinas Período CH

Metodologia para o Ensino da Matemática 60

Processo Ensino Aprendizagem 60

Ensino de Matemática na Educação Básica I 30 Ensino de Matemática na Educação Básica II 30

Prática em ensino

Prática Escolar em Saberes Matemáticos na Escola 30 Prática Escolar em Ensino de Matemática na

Educação Básica I

60

Prática Escolar em Ensino de Matemática na Educação Básica II

60

Matemática Escolar I 60

Matemática Escolar II 60

Matemática Escolar III 60

Estágio Supervisionado

Reflexões sobre a Atuação no Espaço Escolar – Ensino de Matemática I – Diurno

60

Estágio Supervisionado em Ensino de Matemática I – Diurno

140

Reflexões sobre a Atuação no Espaço Escolar – Ensino de Matemática II – Diurno

60

Estágio Supervisionado em Ensino de Matemática II – Diurno

140

Científico-cultural Matemática Financeira 60

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

O Projeto Pedagógico de Curso (PPC) disponível para o curso presencial diurno era o mesmo para o curso presencial noturno, retirado do portal de graduação em Matemática da IES.

Por isso, não apresentaremos a organização curricular das disciplinas listadas no quadro anterior para o curso noturno.

Quadro 17 – Disciplinas da Ciência da Educação e de prática da matriz curricular da IES coparticipante para o ensino EaD.

Disciplinas Período CH

Saberes Matemáticos Escolares 60

N A T U R E Z A

Ciência da 162 Educação

Processos de Ensino Aprendizagem 60

Prática em ensino A matemática do Ensino Básico I 90

A Matemática do Ensino Básico II 90

Estágio Supervisionado

Estágio Supervisionado I 200

Estágio Supervisionado II 200

Científico-cultural Matemática Financeira 60

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

O arranjo, em que as disciplinas são ofertadas ao longo dos períodos nos cursos presencial e EaD, possibilitou observar a vivência dos estudantes com os conteúdos curriculares expostos na BNCC dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, do ensino médio e se já haviam estudado a disciplina de Matemática Financeira, para que pudéssemos elaborar as sequências didáticas das oficinas de educação financeira, envolvendo situações que tivessem relação com os conhecimentos que são suscetíveis do domínio dos participantes da pesquisa e com contextos para discussão crítica. Pois

[...] a resolução de um exercício sem uma discussão crítica dos temas presentes, com uma mediação docente preparada para fomentar discussões, questionamentos e novas pesquisas sobre o tema, acaba por impedir a gênese de ambientes de aprendizagem e pesquisa que proporcionam o desenvolvimento da Literacia Financeira. Em outros termos, resolve-se uma tarefa, mas, meramente, para, a partir de alguns dados, encontrar-se uma resposta desconectada da realidade econômica daquelas que solucionaram (certo ou não) a tarefa (PESSOA; MUNIZ JUNIOR; KISTEMANN JR., 2018, p. 9).

Os autores Pessoa, Muniz Junior e Kistemann Jr. (2018) destacam possibilidades para que a educação financeira se desenvolva no ambiente escolar, a mediação do professor em conduzir os estudantes agirem em um ambiente de investigação com atividades que promovam a discussão de temas pertinentes e o uso de materiais didáticos que auxiliarão no desenvolvimento da criticidade dos estudantes, mediante argumentação e validação.

N A T U R E Z A

Complementando sobre a formação do estudante em relação à educação financeira, 163 perguntamos:

Quadro 18 – Respostas dos estudantes sobre disciplinas cursadas relacionadas ao tema educação financeira

Questão 4: Qual(is) a(s) disciplina(s) relacionada(s) ao tema Educação Financeira que você já cursou na graduação?

Estudantes Disciplinas relacionadas ao tema educação financeira Clarice Matemática Financeira

Iris Matemática Financeira

Raquel Matemática Financeira

Eva Nenhuma

Hércules Nenhuma

Júlia Participei de seminários, palestras e eventos. Disciplina da grade do curso só matemática financeira

Lobato Nenhuma

Elis Nenhuma

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

O Quadro 18 mostra uma predominância, na maioria das vezes, em relação à aproximação dos estudantes com o tema educação financeira na licenciatura em Matemática, a qual ocorre por intermédio da disciplina Matemática Financeira. Sobre essa correlação, compartilhamos com Coutinho e Almouloud (2020, p.77) a importância da concepção de: “[...]

educação financeira segundo uma vertente de educação financeira escolar, que não visa produtos bancários, mas sim a formação do jovem para um consumo consciente e com olhar para a sustentabilidade” (COUTINHO; ALMOULOUD, 2020, p.77). A Educação financeira não é simplesmente ensinar conteúdos de Matemática Financeira, mas discutir no contexto escolar temas que tratam de sustentabilidade, responsabilidade social e empoderamento do consumidor.

Quadro 19 – Respostas dos estudantes sobre curso de extensão realizado na graduação com o tema educação financeira

Questão 5: Você já fez algum curso de extensão na graduação com o tema Educação Financeira?

Estudantes Cursos realizados pelos estudantes

Clarice Nenhum

Iris Nenhum

Raquel Nenhum

Eva Nenhum

Hércules Sim. Curso de educação financeira e finanças pessoais

Júlia Sim. Curso de educação financeira e finanças pessoais 164

Lobato Nenhum

Elis Nenhum

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Percebemos nas respostas dos estudantes que apenas dois já participaram de algum curso de extensão na IES com o tema educação financeira. A resolução nº 7 de 18 de dezembro de 2018 do Conselho Nacional de Educação (CNE), estabelece que “as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de graduação, as quais deverão fazer parte da matriz curricular dos cursos”

(BRASIL, 2018, p. 2). Essa nova instrução possibilita um alinhamento do ensino de Matemática praticado pela instituição com práticas pedagógicas para o estudante experimentar o exercício profissional em contextos que abordem temáticas de formação cidadã, como por exemplo Educação das Relações Étnico-Raciais, Diversidade de Gênero, Sociedade e Sustentabilidade e Inclusão de pessoas com deficiências. Abre-se, então, oportunidades para ações extensionistas que coloquem o estudante em contato com a educação financeira em contextos escolares. O artigo 8º da resolução do CNE prevê que “as atividades extensionistas, segundo sua caracterização nos projetos políticos pedagógicos dos cursos, se inserem nas seguintes modalidades: I - programas; II - projetos; III - cursos e oficinas; IV - eventos; e, V - prestação de serviços” (BRASIL, ibid.). O artigo 9º acrescenta que:

Nos cursos superiores, na modalidade a distância, as atividades de extensão devem ser realizadas, presencialmente, em região compatível com o polo de apoio presencial, no qual o estudante esteja matriculado, observando-se, no que couber, as demais regulamentações, previstas no ordenamento próprio para oferta de educação a distância (BRASIL, 2018, p. 3).

Essas modalidades constituem um dos caminhos que podem ser explorados para incorporar a educação financeira na formação inicial do professor de Matemática, promovendo ações pedagógicas que conduzam os estudantes a desenvolverem seu letramento financeiro.

Nas três próximas questões, inquerimos os participantes sobre as discussões financeiras no âmbito familiar, conforme quadro a seguir.

Quadro 20 – Respostas dos estudantes sobre discussão de assuntos financeiros com a família Questão 6: Você discute assuntos financeiros com sua família?

Estudantes Respostas

Clarice Sim

Iris Não

Raquel Sim 165

Eva Sim

Hércules Sim

Júlia Sim

Lobato Sim

Elis Não

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

De acordo com as respostas dos estudantes, verificamos que apenas dois estudantes não conversam assuntos ligados à educação financeira com seus familiares. A intenção foi inferir se os participantes tratam o tema em suas discussões fora do ambiente acadêmico, mais precisamente no seio familiar, onde acontece várias situações envolvendo despesas fixas, despesas variáveis, consumo, necessidades, desejos, sustentabilidade e comportamento envolvendo os membros que compõem a família. Pois para Bauman (2010, p. 62-63):

A partir do advento da modernidade e em todo o seu percurso, as gerações que vêm ao mundo em fases diferentes da sua contínua transformação tendem a divergir nitidamente na avaliação das condições de vida que partilham. Os filhos em geral enfrentam um mundo drasticamente diferente daquele que seus pais, guiados pelos educadores, aprenderam a considerar um padrão de “normalidade”. Além disso, nunca poderão conhecer esse mundo já desaparecido em que os pais viveram quando eram jovens (BAUMAN, 2010, p. 62-63).

De acordo com o autor acima citado, a transição da sociedade de produtores, na qual os pais construíram valores e firmaram convicções, para sociedade consumista, na qual o modo de ser e de existir foi desestimulado de todas as formas, por não gerar consumo nem lucro, criou um abismo nas relações familiares, em que as gerações tendem a se olhar com certa incompreensão e desconfiança. Para Silva (2014, p. 21), “[...] uma pessoa satisfeita com sua aparência, com seu ofício, com seus afetos e valores éticos não necessita de consumir (de forma abusiva e/ou compulsiva) [...]” (SILVA, 2014, p. 21).

Desta maneira, consideramos importantes para a experimentação situações que valorizem as discussões no seio familiar, para que a educação financeira possa se manifestar como instrumento esclarecedor na organização de gastos, consumo responsável, sustentabilidade do ambiente e compreensão da nova organização de sociedade consumista.

Quadro 21 – Respostas dos estudantes sobre suas memórias de infância associadas a dinheiro Questão 7: Quais são suas memórias de infância associadas a dinheiro?

Estudantes Respostas

Clarice Pagamento de contas e compras no supermercado.

Iris Quando eu recebia algum dinheiro dos meus pais para comprar 166 biscoito.

Raquel Minhas memórias de infância associadas a dinheiro são: meus cofrinhos, o dinheiro que eu levava para gastar na cantina da escola e o dinheiro que recebia ao fazer artesanatos e do programa Bolsa Família.

Eva A falta dele!!!

Hércules Um porquinho onde guardávamos moedas para abrimos no Natal para ajudar a comprar os presentes.

Júlia Poupança e o famoso porquinho de moedas.

Lobato Eu sempre gostei de guardar o dinheiro que eu ganhava no cofrinho quando criança.

Elis Não tenho, quando eu era criança eu não "entendia" o dinheiro e nem tinha contato, no geral não me importava com ele.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Nosso objetivo com tal questão era identificar nos estudantes as lembranças de como foi o primeiro contato com o dinheiro, o que ficou registrado do passado. Percebemos, na maioria dos registros dos estudantes, que em suas memórias de infância, a noção de dinheiro está associada ao cofrinho (porquinho), no qual se guarda moedas. Segundo Bourdieu (2015, p.46):

[...] cada família transmite aos seus filhos, mais por vias indiretas que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sistema de valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para definir, entre coisas, as atitudes face ao capital cultural e à instituição escolar. A herança cultural, que difere, sob os dois aspectos, segundo as classes sociais, é a responsável pela diferença inicial das crianças diante da experiência escolar e, consequentemente pelas taxas de êxito” (BOURDIEU, 2015, p.46).

Logo, percebemos nas respostas dos estudantes a presença de valores transmitidos pela família em relação ao dinheiro. A herança cultural, mencionada pelo autor segundo as classes sociais, sendo o dinheiro para pagar contas e consumir o essencial; a escassez de dinheiro, diante do consumo básico; o estímulo para aprender a poupar com o cofrinho; o consumo de produtos industrializados; o trabalho como fonte de captação de dinheiro; e os recursos sociais como complemento da renda familiar. Certamente, são os contextos sociais que se manifestam da realidade escolar e que, segundo Skovsmose (2014), precisam estar presentes nos milieux de aprendizagem dos estudantes para potencializar a reflexão e a capacidade de agir criticamente em uma sociedade consumista.

Quadro 22 – Respostas dos estudantes sobre coisas positivas e negativas que aprenderam 167 sobre dinheiro com a família

Questão 8: Quais são as coisas positivas e negativas que você aprendeu sobre dinheiro com sua família?

Estudantes Respostas

Clarice Dinheiro é bom até certo ponto, pois tem coisas mais importantes na vida

Iris Um ponto positivo sobre o dinheiro que fui bastante incentivado desde criança, é economizar e guardar pelo menos uma parte do que eu ganho. Como principal ponto negativo, tem o uso excessivo do cartão de crédito. Não sou de usar tanto o cartão de crédito assim, mas em minha família, vejo comprarem tudo no cartão de crédito.

Raquel Aprendi muito pouco, que o dinheiro não importa, mas precisamos dele para tudo, e para conseguir precisamos dar duro.

Eva Coisas positivas: Economizar. Coisas negativas: Não guardar dinheiro.

Hércules Economizar, planejar e só comprar o essencial.

Júlia Positivas: ele resolve muitos problemas se, bem administrado.

negativas: ele gera muitos problemas, se mal administrado.

Lobato O principal ponto positivo que aprendi com minha família sobre dinheiro foi poupar e economizar. Durante minha infância, meus pais me davam o dinheiro que recebiam do programa Bolsa Escola (acho que era uns 30 reais) e recebia mais alguns trocados de alguns artesanatos que fazia. Meus pais sempre falavam que não era para gastar todo o dinheiro na cantina da escola e dessa forma fui aprendendo a poupar. Na adolescência comecei a anotar todas minhas despesas e receitas e projetar os gastos dos próximos meses (hoje descobri que na verdade eu estava fazendo um orçamento financeiro). E, também, minha família sempre me ensinou a dar valor aos bens que eu já possuía, e a não gastar mais do que eu recebia.

Não aprendi nada de negativo sobre dinheiro com minha família.

Positivo que aprendi com minha família sobre dinheiro foi poupar e economizar. Quando criança meus pais me davam o dinheiro que recebia.

Elis Que precisamos sempre ter noção de como que estamos gastando ou investindo e que precisamos batalhar e trabalhar para ter dinheiro.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Na Questão 8, o objetivo era identificar a herança cultural familiar em relação ao uso do dinheiro. É possível perceber, em relação aos aspectos positivos, a preocupação dos estudantes em poupar, guardar, economizar, planejar, consumir o necessário e que dinheiro é imprescindível, mas existem coisas mais importantes para se preocupar. Já em relação aos aspectos negativos, notamos a preocupação com o uso frequente do cartão de crédito para consumir, ausência de uma referência em relação ao significado do dinheiro na vida e a falta de

planejamento financeiro visando o futuro. Tais preocupações são mais imediatas e comuns na 168 vida de muitas famílias, buscar na relação com o dinheiro um vínculo de sobrevivência na aquisição do consumo necessário. Contudo, nem sempre essa busca é alcançada de forma equilibrada. Segundo Bauman (2008, p. 26), como consumidores,

[...] fomos adequadamente preparados pelos agentes de marketing e redatores publicitários a desempenhar o papel de sujeito – um faz-de-conta que se experimenta como verdade viva, um desempenhado como “vida real”, mas que com o passar do tempo afasta essa vida real, despindo-a, nesse percurso, de todas as chances de retorno. E à medida que mais e mais necessidades da vida, antes obtidas com dificuldades, sem luxo do serviço de intermediação proporcionado pelas redes de compras, tornam-se “comodizados” (a privatização do fornecimento de água, por exemplo, levando invariavelmente à água engarrafada nas prateleiras das lojas) as fundações do “fetichismo da subjetividade” são ampliadas e consolidadas”

(BAUMAN, 2008, p. 26).

O desafio que se impõe diante dessa descrição é como se transformar em um consumidor consciente. Não se trata apenas de pensar em como gastar o dinheiro e poupar uma parte, mas consumir exercendo a responsabilidade de viver em uma sociedade sustentável e, neste caso, a academia e a escola básica têm um papel fundamental, qual seja direcionar ações pedagógicas para formação do cidadão, que se preocupa com as fontes de água potável e de energia, com o lixo produzido e com a alimentação saudável. A educação financeira precisa se incumbir dessas questões para promover mudanças na vida das futuras gerações, as quais somadas farão diferença significativa na sociedade.

Percebemos também o quão importante é o papel das políticas públicas para apoiar e oportunizar chances de ascensão social às pessoas com menor poder aquisitivo. A fala de Lobato, retirada do Quadro 22, revela que o programa Bolsa Família contribuiu para equilibrar as finanças de sua família e valorizar esse recurso com boas escolhas, direcionadas para gastos essenciais e desenvolver habilidades para lidar com o dinheiro no cenário da sociedade de consumo. Ações governamentais como a referida, entre outras, que isentam as pessoas de pagamento de taxa de inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e em concursos públicos, vem contribuindo para ajudar os sujeitos, principalmente os jovens que estão em busca de uma melhora profissional, a mudar de vida e, talvez, melhorar a história de vida de sua família.

As três últimas questões foram direcionadas para explorar as habilidades que os estudantes possuem em relação à educação financeira, levando-se em consideração os aspectos atuais da sociedade consumista.

Quadro 23 – Respostas dos estudantes sobre o que classificariam como despesas supérfluas e 169 como desperdícios

Questão 9: Das suas despesas, quais você classificaria como “supérfluas” e como

“desperdícios”?

Estudantes Respostas

Clarice Com roupas e fast food.

Iris Uso do cartão de crédito.

Raquel Não tenho costume de gastar com coisas supérfluas. Mas classifico minhas despesas com lanches em lanchonetes, cantinas, bares ou padarias como sendo supérfluas, mesmo sendo muito raras. Eu tive uma assinatura na Netflix e nunca usei, tinha um carro e só usava uma vez por mês, classifico minha despesa com a assinatura e com os custos/manutenção do carro como desperdício.

Eva Comida.

Hércules Conta de telefone: Plano de telefone com muitos "benefícios" que não usamos.

Júlia Almoçar 2 x na semana em um restaurante preferido.

Lobato Em geral, os gastos mais supérfluos que tenho são relacionados a fast-food.

Elis Objetos que tem boa aparência, mas não são úteis no dia a dia.

Fonte: Elaborado pelo autor (2022).

Percebemos nas respostas dos estudantes no Quadro 23, os contrastes quando classificam suas despesas como supérfluas e como desperdícios. O consumo é uma atividade que faz parte da rotina humana e todos precisam estar preparados para ser bons consumidores.

Segundo Silva (2014), “o bom consumidor satisfaz suas necessidades essenciais, permite-se a prazeres eventuais e, com um mínimo de planejamento, ainda consegue, dentro de suas possibilidades, fazer algum nível de poupança para os tempos mais difíceis” (SILVA, 2014, p.

44). Acrescentamos a essa colocação questões consequentes do consumo dito como essencial:

o pós-consumo.

Neste sentido, destacamos o fast-food e comida como uma resposta de despesa supérflua de alguns estudantes, mas não é somente isso, os hábitos alimentares têm relação direta também com a saúde. Diversas pesquisas envolvendo saúde pública apontam que os hábitos alimentares, com predominância da comida industrializada, contribuem diretamente para o desenvolvimento da obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, por exemplo. Esta é uma situação que faz parte da realidade do estudante e precisa ser inserida no contexto da educação financeira.

Em relação ao uso do cartão de crédito, as pessoas se tornaram empoderadas para o consumo devido à facilidade de gastar sem ter dinheiro e, com as múltiplas opções de