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RESULTADOS PISA 2018

3.6 Justificativa e relevância do estudo

Para dar direcionamento à pesquisa, decidimos realizar uma primeira investigação com um grupo de estudantes de licenciatura em Matemática de uma instituição pública federal de Minas Gerais, utilizando o formato remoto, devido à pandemia do coronavírus, com a finalidade de fazer um estudo preliminar acerca das concepções dos estudantes sobre o tema educação financeira. Para tanto, usamos como referência a definição de letramento financeiro da OCDE

de 2014 (PISA BRASIL, 2021) com as adequações sugeridas no item (1.4.3), como pode ser 104 visto no quadro 4.

Quadro 4 – Letramento financeiro OCDE (2014) com adequações do autor em negrito

OCDE (2014) Destaques nosso

[...] é o conhecimento e a compreensão de comportamentos, conceitos e riscos financeiros [...] bem como as habilidades [...] e atitudes para aplicar esse conhecimento e essa compreensão [...] a fim de tomar decisões eficazes em uma variedade de contextos financeiros [...] melhorar o bem-estar financeiro dos indivíduos e da família [...] e participar com consciência da vida em sociedade (PISA BRASIL, 2020, p. 24 apud OCDE, 2014)

Conhecimento e compreensão do regime de capitalização para os cálculos financeiros;

Comportamento crítico para gastos pessoais e domésticos – não gastar mais do que ganha;

Conhecimento sobre responsabilidade social em discussões que envolvam taxa e índices de natureza socioeconômica.

Atitude de consumidor consciente – preocupação com os impactos sociais e ambientais da produção do consumo e pós- consumo;

Comportamento ético para denunciar práticas contra o meio ambiente, contra as relações de consumo e de exploração do trabalho infantil às autoridades competentes.

Fonte: elaborado pelo autor.

O grupo investigado constava de nove estudantes, os quais cursavam a licenciatura em Matemática. Apresentamos no quadro a seguir, uma síntese da análise em relação a três atividades aplicadas ao grupo, relacionando-as às variáveis didáticas enumeradas com as concepções por nós observadas.

Quadro 5 - Síntese dos resultados de uma investigação preliminar

Variáveis didáticas Síntese de nossa análise

Contexto social Percebemos que situações vindas do contexto real estimulam a discussão sobre contrastes sociais e desigualdade, revelando as concepções que consideram importantes para que um país tenha qualidade de vida, enquanto usar a

Matemática para ler e interpretar os contextos 105 sociais gera dúvidas e dificuldades para os nove estudantes.

Tipo de atividade e gráfico Identificamos que o tipo de atividade correlacionando dados (explícitos e implícitos) em um gráfico estatístico de pesquisas, que retrata o contexto social, contribuem para evidenciar a presença da Matemática como instrumento de intervenção para compreensão da realidade, visto que os estudantes não concordaram com a notícia e foram estimulados a pensar numa possibilidade de cálculo para chegar aos valores mostrados no gráfico.

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Com relação ao IDH, não houve dificuldades para os estudantes manifestarem suas concepções sobre os critérios que indicam qualidade de vida e compreender que não é possível medir o desenvolvimento de um país considerando apenas a renda. Conseguiram perceber as restrições da média aritmética para representar o IDH e compreenderam que a média geométrica representa melhor esse índice.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os resultados dessa investigação preliminar reforçam aqueles apresentados por Kistemann Jr. (2020), quando afirma que

[...] é preciso compreender a importância da Matemática na tomada de decisões econômicas, transcendendo a mera manipulação de fórmulas nos conteúdos financeiros, de modo que os problemas matemáticos abordados tenham significado para o indivíduo-consumidor e os temas problematizados carecem estar alinhavados em práticas sociais, articulados a dimensões da cultura individual e social (KISTEMANN JR., 2020, p.48).

Esses resultados preliminares nos forneceram perspectivas que dizem respeito às concepções de estudantes de licenciatura em Matemática sobre a educação financeira, na busca de compreender que variáveis didáticas postas em um cenário para investigação favorecem o desenvolvimento de potencialidades para o letramento financeiro dos estudantes.

No próximo capítulo, realizaremos um estudo sobre a educação financeira à luz da 106 ecologia do didático, com o propósito de conhecer alguns elementos da realidade que se fazem presentes nas atividades escolares relacionadas à educação financeira.

CAPÍTULO 4 107

UM ESTUDO SOBRE A EDUCAÇÃO FINANCEIRA À LUZ DA ECOLOGIA DO DIDÁTICO

Neste capítulo, descrevemos a noção de Ecologia do Didático para fazer um estudo das condições e restrições sobre a educação financeira, com a finalidade de compreender se o tema é ou não proposto na formação inicial do professor de Matemática e como ele se configura no sistema de ensino brasileiro. Para desenvolver esse estudo, analisamos os referenciais curriculares da educação básica e da licenciatura em Matemática, a ENEF, a BNC-Formação e, por conseguinte, suas efetivas presenças em livros didáticos.

4. 1 A Educação Financeira do ponto de vista da problemática ecológica

As recentes reformas curriculares da educação básica (ensino fundamental em 2017 e ensino médio em 2018) e a BNCC implementada pelo MEC confirmam a presença da educação financeira no currículo escolar de Matemática. Portanto, surge a necessidade de estudar os processos de transposição didática que pode ser considerado sobre esse saber no ambiente da sala de aula pelo professor.

A noção de transposição didática, introduzida por Yves Chevallard, coloca o saber matemático no centro de toda problematização didática, ou seja, a transformação do saber científico para o saber ensinar, tornar-se escolarizável. Para Chevallard (1994), o questionamento em torno da transposição didática abre caminho para a investigação a partir de um ponto de partida de inserção da problemática ecológica, um meio de produzir questionamentos sobre a cultura existente, sobretudo, sobre o sistema de ensino da Matemática e novos objetos de conhecimento. Nesta perspectiva, o autor nos esclarece que:

Os ecologistas distinguem, em termos de um organismo, seu habitat e seu nicho. Para dizer isso em uma linguagem premeditadamente antropomórfica, o habitat é em certo sentido o endereço, o lugar de residência do organismo. No nicho estão as funções que o organismo preenche, isto é, alguma forma de profissão que ele exerce.

(CHEVALLARD, 1994, p. 4, tradução nossa).

Esta simples observação fundamenta a área de pesquisa intitulada pelo autor com o nome Ecologia Didática do Conhecimento. Segundo Almouloud (2007), o autor supracitado, busca inspiração na ecologia biológica, adotando a noção de habitat de um objeto matemático para indicar em qual instituição se faz presente o saber relacionado ao objeto de estudo e, por conseguinte, estabelecer a função desse saber, seu nicho.

De acordo com Artaud (1998, p. 101), a problemática ecológica possibilita ao 108 pesquisador “um meio de questionar o real. O que existe, e por quê? Mas também, o que não existe e por quê? Poderia existir? Sobre quais condições?” Isso nos inspira a propor os seguintes questionamentos:

• A Educação Financeira faz parte das recomendações curriculares para a educação básica e formação inicial do professor de Matemática?

• Está presente nos livros didáticos? Como é retratada e com qual orientação?

• Esse tema é contemplado no ambiente escolar? Se sim, em quais condições? Se não, quais são os motivos dessa restrição?

Estas questões servem de direção na perspectiva orientada por Artaud (1998), permitindo pesquisar na escola, documentos e livro didático a forma de estabelecer a transposição didática do tema educação financeira.