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LISTA DE SIGLAS

CAPÍTULO 1 24 INTRODUÇÃO

2.2 Projeto piloto de implementação da ENEF em escolas

considerando os salários acumulados ao longo do ano, o comprometimento de seus rendimentos 34 atinge 50%, ou seja, 6,5 salários comprometidos com pagamentos de dívidas.

1.045,00 × 13 × 0,50,26 = 6.827,82 ( 6.827,82 ÷ 1.045,00) = 6,5

Tal evidência mostra que apesar da ENEF existir, ela ainda não se impõe no cenário nacional de forma a conscientizar o cidadão sobre o funcionamento do mercado e o modo como os juros influenciam sua vida financeira (a favor e contra), ou seja, a consumir de forma consciente, evitando o consumismo compulsivo, evitar o superendividamento e, por fim, planejar e acompanhar o orçamento pessoal e familiar.

A educação financeira é o meio de prover esses conhecimentos e informações sobre condutas básicas que ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas e do seu entorno. Este alcance passa pela formação dos educadores em Matemática, os quais estão em exercício e em formação (propósito dessa pesquisa), de se apropriarem das habilidades e competências que consolidem o seu letramento financeiro, possibilitando disseminar conhecimentos no contexto escolar e, consequentemente, sua propagação em diferentes lugares. A seguir, destacamos os desdobramentos da política de implementação da ENEF no Brasil.

32 32 64 1.112 1.105 2.217 35

Minas Gerais 15 14 29 371 360 731

Rio de Janeiro 136 134 270 3.752 3.513 7.265

São Paulo 192 180 372 6.037 5.741 11.778

Tocantins 17 17 34 514 505 1.019

Total 452 439 891 13.745 13.236 26.981

Fonte: Brasil (2013, p. 17).

Desta forma, a educação financeira dos estudantes do ensino médio foi avaliada antes e depois da aplicação do material. A avaliação de impacto foi realizada em parceria com o Banco Mundial e conduzida pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd) no âmbito “Russia/World Bank/OECD Trust Fund on Financial Literacy and Education” (Fundo Rússia/Banco Mundial/OCDE para o Letramento e Educação Financeira).

A avaliação do impacto do uso do material didático produzido, com resultados satisfatórios, mostrou que antes do programa os professores tinham pouco interesse e consciência sobre a educação financeira, desconfiavam que o programa seria imposto pelo governo, receavam sobrecarga de trabalho e ausência de capacitação técnica. Já os estudantes tinham pouco interesse no assunto, pequeno ou nenhum controle de despesas, não viam importância em assuntos financeiros e tinham pressa para consumir imediatamente.

O projeto destaca, ainda, que depois do estudo do Módulo I do programa:

Os professores mostraram-se conscientes da importância e da necessidade urgente do tema, disputaram para fazer parte do programa, e traziam múltiplas ideias para trabalhar com as famílias [...] os estudantes, mostraram-se bastante interessados e participaram ativamente das aulas; guardaram dinheiro; desenvolveram maior consideração por pequenas quantias; e trocaram experiências financeiras com seus pares (BRASIL, 2013, p. 18).

Apesar da eficácia nos resultados, o programa de educação financeira nas escolas não se prolongou e a capacitação de professores não foi multiplicada para trabalhar com o material didático preparado para o ensino médio. O que se viu foi a distribuição do material impresso para as escolas públicas dos estados que participaram do projeto piloto e, consequentemente, sua inutilização, já que os professores não foram incentivados e preparados para trabalhar com o tema no contexto escolar e continuaram dando preferência apenas ao conteúdo do livro didático adotado.

Em 2015, o projeto piloto desenvolvido nos estados citados foi levado às escolas públicas do ensino fundamental das redes municipais de ensino de Joinville (SC) e de Manaus,

capacitando os professores que aderiram ao programa de educação financeira da ENEF, sob 36 responsabilidade da Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil).

Mesmo com a implementação de projetos-piloto de educação financeira em escolas voluntárias dos estados mencionados, o tema continua sendo tratado de forma bastante incipiente nos espaços escolares, conforme afirmação esclarecedora de Kistemann Jr. (2020),

[..] esse tema constituirá num dos grandes desafios da implantação da Educação Financeira Escolar, qual seja o de capacitar milhões de professores em todo o território brasileiro, visto que até 2019, somente projetos-piloto e desenvolvimento de material pedagógico ocorreu na ENEF (KISTEMANN JR., 2020, p. 41).

Por isso, as pesquisas realizadas nos diversos programas de pós-graduação em Educação Matemática no Brasil e os estudos independentes de pesquisadores em educação financeira, são fundamentais para nortear a educação financeira nos espaços escolares. As orientações fornecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que instituiu a educação financeira, como um dos temas transversais nas ações curriculares de matemática contribuem para articular o ensino de matemática em contextos que envolvam o planejamento individual financeiro e planejamento doméstico, para que o estudante possa aprender a usar o dinheiro com estabilidade, sem colocar em risco suas finanças. Além disso, perceber que as escolhas do presente refletem no futuro e, também conscientizá-lo sobre o consumo ético e sustentável.

Além das atividades de implementação da ENEF, os reguladores do SFN, instituíram anualmente a Semana Nacional de Educação Financeira direcionado para diversos contextos sociais e escolares, para que educadores e profissionais ligados com o tema, venham potencializar ações que colaborem com o desenvolvimento de habilidades de literacia financeira, tais como:

✓ Exercer direitos e deveres de forma ética e responsável;

✓ Tomar decisões financeiras social e ambientalmente responsáveis;

✓ Aplicar compreensão de receitas e despesas na manutenção do balanço financeiro;

✓ Harmonizar desejos e necessidades, refletindo sobre os próprios hábitos de consumo e poupança;

✓ Valer-se do sistema financeiro formal para a utilização de serviços e produtos financeiros;

✓ Avaliar ofertas e tomar decisões financeiras autônomas de acordo com as reais necessidades;

✓ Atuar como disseminador dos conhecimentos e práticas de educação financeira;

✓ Valer-se de mecanismos de prevenção e proteção de curto, médio e longo prazos;

✓ Elaborar planejamento financeiro no curto, médio e longo prazos; e 37

✓ Analisar alternativas para superar dificuldades econômicas.

Percebemos que essas ações contribuem para aumentar o conhecimento financeiro dos cidadãos, colaborando com mudanças de comportamento e atitudes financeiras, visto que, possibilitam pensar em atividades e metodologias de ensino alinhadas ao currículo da Educação Básica e, em conexão com as habilidades e competências previstas na BNCC.

Logo, o que precisamos evitar nos espaços escolares é a educação financeira com o viés de mercado financeiro, capacitando estudantes para usufruírem do cardápio oferecido pelas instituições financeiras, orientando-os a consumirem crédito e investimentos que influenciarão sua vida ao longo do tempo.

Na avaliação de Kistemann Jr. (2020), com a qual concordamos,

[...] a educação nos moldes da OCDE, Banco Mundial e Fórum Econômico Mundial constitui-se como um ativo financeiro em uma economia de mercado globalizada, promovendo a gênese de um indivíduo-consumidor capaz de tomar decisões financeiras que agradem ao mercado econômico e promovam lucros para o sistema financeiro (KISTEMANN JR., 2020, P. 31).

Desta forma, propomos a definição de educação financeira como meio de gerar conhecimentos e informações para o cidadão-consumidor compreender comportamentos básicos que contribuem para melhorar a sua qualidade de vida, da família e das pessoas que vivem em seu entorno. É, portanto, o aparelhamento humano para promover o bem-estar em relação ao gerenciamento financeiro sustentável, valorizando atitudes éticas que inibem o desperdício, a ganância, a criminalidade e o desrespeito ambiental.

A seguir, abordaremos de forma breve as diretrizes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para educação financeira, a fim de conhecer suas intenções.