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Rev Lat ino- am Enferm agem 2006 set em bro- out ubro; 14( 5)w w w .eer p.usp.br / r lae
ASPECTOS HI STÓRI COS E SOCI AI S DA HALI TOSE
Marina Sá Elias1
Mar ia das Gr aças Car v alho Fer r iani2
O pr oblem a r efer ent e aos odor es bucais sem pr e foi fat or de pr eocupação par a a sociedade e ainda
hoj e se m ost r a pr esent e. O obj et iv o do pr esent e est udo foi r ealizar um em basam ent o hist ór ico e social sobr e
a h alit ose. Par a t an t o, f oi f eit a bu sca sist em at izada, selecion an do ar t igos por m eio da base de dados BVS
( Bibliot eca Vir t ual em Saúde) e t am bém pesquisa em livr os. O desconhecim ent o sobr e com o pr evenir halit ose
per m it e a sua ocor r ência, lim it ando a qualidade de v ida. Sendo os r elacionam ent os sociais um dos pilar es do
const r uct o qualidade de vida, é pr eciso consider ar a halit ose com o fat or de int er fer ência negat iva. A educação
em saúde dev e ser r ealizada v isando o equilíbr io dinâm ico, env olv endo aspect os físicos e psicológicos do ser
hum ano, assim com o suas int er ações sociais, par a que os indivíduos não se t or nem quebr a- cabeças de par t es
d oen t es.
DESCRI TORES: halit ose; hist ór ia; educação em saúde
HI STORI CAL AND SOCI AL ASPECTS OF HALI TOSI S
Bu ccal odor s h av e alw ay s been a f act or of con cer n f or societ y . Th is st u dy aim s t o in v est igat e t h e
hist orical and social base of halit osis, t hrough syst em at ized research in t he dat abase BVS ( bibliot eca virt ual em
saúde - virt ual library in healt h) and also in books. Lack of knowledge on how t o prevent halit osis allows for it s
occur r ence, lim it ing qualit y of life. As social r elat ionships ar e one of t he pillar s of t he qualit y of life concept ,
halit osis needs t o be consider ed a fact or of negat ive int er fer ence. Educat ion in healt h should be accom plished
wit h a view t o a dynam ic balance, involving hum an beings’ physical and psychological aspect s, as well as t heir
social int er act ions, so t hat individuals do not becom e j igsaw puzzles of sick par t s.
DESCRI PTORS: halit osis; hist or y ; healt h educat ion
LOS ASPECTOS HI STÓRI COS Y SOCI ALES DE HALI TOSI S
Los olor es bucales siem pr e han sido un fact or de pr eocupación par a la sociedad, y ellos t odav ía son
ah or a. El obj et iv o de est e est u dio es h acer u n a base h ist ór ica y social en la h alit osis. Fu e ef ect u ada u n a
invest igación sist em at izada en la base de dat os BVS ( bibliot eca virt ual em saúde - la bibliot eca virt ual en salud)
y t am bién en los libros. La ignorancia en cóm o prevenir la halit osis perm it e su ocurrencia, que lim it a la calidad
de vida. Siendo las relaciones sociales uno de los pilares del concept o de calidad de vida, es necesario considerar
la h alit osis u n f act or de in t er f er en cia n egat iv a. La edu cación en salu d se debe llev ar a cabo bu scan do u n
equilibrio dinám ico, involucrando los aspect os físicos y psicológicos del ser hum ano, así com o sus int eracciones
sociales, par a que los indiv iduos no se v uelv an r om pecabezas de par t es enfer m as.
DESCRI PTORES: halit osis; hist or ia; educación en salud
1
Cir ur giã- Dent ist a, Dout oranda em Enfer m agem e Saúde Pública; 2 Dout or em Enfer m agem , Pr of. Tit ular, e- m ail: car oline@eer p. usp. br. Escola de Enferm agem de Ribeirão Pret o, da Universidade de São Paulo, Cent ro Colaborador da OMS para o desenvolvim ent o da pesquisa em enferm agem
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I NTRODUÇÃO
O
m au hálit o ou halit ose é o odor ofensiv oem an ado pela boca, ou pelas cav idades n asais, ou ain d a p elos seios d a f ace e f ar in g e. A et iolog ia d a
halit ose é localizada na boca, em t or no de 90% dos casos, e p od e ser at r ib u íd a a cár ie d en t al, d oen ça
per iodont al, infecções or ais e pr incipalm ent e sabur r a
lingual( 1- 2). E, pelo fat o da saburra não ser cont agiosa,
t o r n a - s e c o m u m q u e a p e n a s u m d o s p a r c e i r o s apresent e hálit o desagradável, a pont o de incom odar
o out r o.
O olfat o, assim com o a visão, é suscet ível a grande adapt ação. Na prim eira exposição a um cheiro
m uit o fort e, a sensação pode ser m uit o int ensa, m as dent r o de um m inut o, quase não ser á m ais sent ido.
D e s s a f o r m a , o s i n d i v íd u o s s ã o i n c a p a z e s d e
m ensur ar sua pr ópr ia halit ose( 3).
O present e est udo t em com o obj et ivo realizar em basam ent o hist ór ico e social sobr e a halit ose. E,
par a t ant o, foi or ganizada busca sist em at izada, onde foram selecionados art igos nacionais e int ernacionais,
por m eio da base de dados BVS ( Bibliot eca Vir t u al
em Saúde) e t am bém de livros que t rat am do t em a. A r elevância dada a esse assunt o se apr esent a, um a
vez que a presença de halit ose pode afet ar a qualidade de v ida em sua plenit ude.
HI STÓRI CO
Os odor es são pist as essenciais na cr iação e
c o n s e r v a ç ã o d e v ín c u l o s s o c i a i s , p o i s e s t ã o im pr egn ados de v alor es cu lt u r ais.
O problem a da halit ose é relat ado há m uit os anos, hav endo r efer ências que dat am de 1550 a. C.,
ainda em papiros, e t am bém de Hipócrat es que dizia que t oda m oça dev ia t er um hálit o agr adáv el, t endo
o cuidado de sem pre lavar sua boca com vinho,
erva-doce e sem ent es de endr o( 4).
Os r o m a n o s u t i l i za v a m m e ca n i sm o s p a r a m a sca r a r o p r o b l e m a d a h a l i t o se co m o p a st i l h a s
p er f u m ad as, m ascar f olh as e t alos d e p lan t as. Ter
u m h á l i t o f r a g r a n t e n a An t i g ü i d a d e e r a e x a l a r a doçur a da v ida e at est ar a pur eza de alm a de um a
pessoa. Já no cr ist ianism o, o supr em o odor m aligno em it ido pelo diabo possuía cheiro de enxofre e, ainda,
presum ia- se que os pecados em it iam m au cheiro, em
m enor ou m aior gr au( 5 ). Associação com plex a, pois,
m u it as v ezes, o odor pr edom in an t e n a h alit ose é o
de en x of r e.
Nas escav ações ar queológicas r ealizadas em
depósit os de lix o pr ov enient es do século XI X, for am
en con t r ad os p ot es em f aian ça d e p ós d en t if r ícios.
An ú n cios de época v eicu lav am as pr opr iedades dos
“ p ó s d e n t i f r íci o s ch i n e se s”, “ e l i x i r e s d e n t i f r íci o s”,
“ opiat os dent ifrícios”, confirm ando o especial int eresse
pela elim inação do m au hálit o e pelo asseio da boca( 6).
No d ecor r er d o sécu lo XI X, as em an ações
r esu lt an t es d a at iv id ad e in t er n a d o cor p o q u e, em
m om ent os ant er ior es for am r elat iv am ent e t oler adas,
t ornaram - se insuport áveis. A ideologia de higienização
f o r ç o u a c o m p l e t a d o m e s t i c a ç ã o d o s o d o r e s e
p r o d u t o s d eco r r en t es d o s p r o cesso s m et a b ó l i co s.
Su r giu u m a n ov a et iqu et a cor por al cu j a palav r a de
or dem passou a ser a discr ição( 6).
Um out ro exem plo vem do Talm ude, dat ando
de m ais de dois m il anos at rás, ao relat ar que, diant e
d e alg u m as con d ições com o, p or ex em p lo, o m au
odor de um dos par ceir os, há a possibilidade de se
q u e b r a r l e g a l m e n t e a l i c e n ç a d e m a t r i m ô n i o , o
Ket uba( 2 ).
Um t rat ado da lit erat ura islâm ica do ano 850
discor r e sobr e a odont ologia, fazendo r efer ências ao
t r at am en t o de h álit o f ét ido. Com o a r ecom en dação
do uso do siw ak* , quando o hálit o est ivesse m udado
ou em qualquer m om ent o ao se levant ar da cam a( 7).
Re c o m e n d a ç ã o p r o v a v e l m e n t e d i r e c i o n a d a p a r a
m inim izar o odor da halit ose m at inal ou fisiológica.
Os hindus consideram a boca com o port a de
ent r ada do cor po e, por t ant o, insist em em m ant ê- la
lim pa, principalm ent e ant es das suas orações. O rit ual
não se lim it a a escov ar os dent es, m as t am bém há
r aspagem da língua com um inst r um ent o especial e
o uso de bochechos. Os m onges budist as no Japão
t am bém pr econ izav am a escov ação dos den t es e a
r asp ag em d a l ín g u a, an t es d as p r i m ei r as o r açõ es
m at inais( 7). I nt er essant e r essalt ar que a higiene or al
co m p l e m e n t a d a p e l a r a sp a g e m d a l ín g u a j á e r a
r ealizada há m uit os anos e, no ent ant o, essa pr át ica
de raspagem , apesar de eficaz, raram ent e é prescrit a
e ensinada pelos dent ist as.
O ú n ico t r at ado sobr e a h alit ose foi escr it o
em 1874, por Howe, onde afirm a que o hálit o ofensivo
d er iv a su a im p or t ân cia d o f at o d e se t or n ar f on t e
const ant e de infelicidade par a o pacient e, e é ainda
pior qu an do dest r ói a com u n icação en t r e am igos e
os pr azer es dos cont at os sociais( 1).
At ualm ent e j á se sabe da m ult iplicidade dos
f at or es et iológ icos q u e p od em p r od u zir a h alit ose,
dessa form a, não é possível a indicação de t rat am ent o
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ún ico; após o diagn óst ico, a r em oção das possív eis
causas se t or na a condut a inicial.
ASPECTOS SOCI AI S
A h alit ose p od e ser con sid er ad a com o u m
i m p e d i m e n t o s o c i a l( 1 ), a l g o q u e i n t e r f e r e n o s
r elacionam ent os pessoais. Em vár ias t r ibos de países
d i st a n t es, a p a l a v r a “ b ei j o ” n a r ea l i d a d e d esi g n a
ch ei r o , u m a a sp i r a çã o p r o l o n g a d a d o s o d o r es d a
pessoa am ada, de um par ent e ou am igo( 8).
O beij o é u m a dem on st r ação de af et o, u m
gest o sim bólico de afirm ação e vínculo com o out ro( 9).
O m au odor bucal se t or na im por t ant e fat or
nas r elações sociais, podendo or iginar pr eocupação,
não só em relação ao aspect o de saúde, m as t am bém
a alt erações psicológicas que conduzem ao isolam ent o
social e pessoal( 2 ). Pessoas qu e sof r em de h alit ose
cr i a m b a r r e i r a so ci a l e n t r e e l a s e se u s a m i g o s,
fam iliar es, cônj uge ou colegas de t r abalho( 4).
Pela definição da qualidade de v ida com o a
per cepção do in div ídu o de su a posição n a v ida, n o
con t ex t o da cu lt u r a e sist em a de v alor es n os qu ais
ele v iv e, e t am bém em r elação aos seu s obj et iv os,
ex p ect at iv as, p ad r ões e p r eocu p ações( 1 0 ), t or n a- se
r elev ant e av aliar que a plenit ude dessa qualidade de
v i d a se r á i n f l u e n ci a d a se o i n d i v íd u o a p r e se n t a r
r est r ições físicas e psicológicas que podem int er fer ir
sobre aspectos da fala, convívio social e auto-estim a(11).
CONSI DERAÇÕES FI NAI S
A relação dos odores bucais com os aspect os so ci a i s se m p r e f o i f a t o r d e p r e o cu p a çã o p a r a a sociedade que, pr ocur ando m ascar á- los, se ut ilizav a de diversos art ifícios e subst âncias. O m au odor bucal sem pre foi e, ainda, é um obst áculo para a plenit ude da v iv ên cia con j u gal.
Sendo a halit ose dist úr bio que acom panha a sociedade há m uit os anos, r ev ela- se inaceit áv el que, com o av anço dos conhecim ent os, esses não sej am t r ansm it idos de for m a adequada par a a população.
O d e sco n h e ci m e n t o so b r e co m o p r e v e n i r h a l i t o s e p e r m i t e a s u a o c o r r ê n c i a , l i m i t a n d o a q u a l i d a d e d e v i d a . Ta i s p r o b l e m a s p o d e r i a m se r sanados facilm ent e por m eio da educação em saúde, pois a et iologia da halit ose concent ra- se basicam ent e na boca.
Sen d o o s r el aci o n am en t o s so ci ai s u m d o s dom ínios do const r uct o qualidade de v ida, é pr eciso consider ar a halit ose fat or de int er fer ência negat iv a. E, d e ssa f o r m a , a e d u ca çã o e m sa ú d e d e v e se r r ealizada v isan do o equ ilíbr io din âm ico, en v olv en do os aspect os físicos e os psicológicos do ser hum ano, a ssi m co m o su a s i n t er a çõ es so ci a i s, p a r a q u e o s indiv íduos não se t or nem quebr a- cabeças de par t es d oen t es.
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Recebido em : 28.1.2005 Aprovado em : 11.5.2006
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