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Mulheres vivendo no contexto de drogas (e violência): papel maternal.

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Academic year: 2017

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MULHERES VI VENDO NO CONTEXTO DE DROGAS ( E VI OLÊNCI A) - PAPEL MATERNAL

1

Sueli Apar ecida Fr ar i Galer a2

Mar ía Car m en Ber nal Roldán3

Bev er ley O’Br ien4

Em bora o problem a das drogas est ej a m ais present e ent re hom ens, as m ulheres const it uem um grupo

cr escen t e e u m su bgr u po v u ln er áv el, j á qu e m u it as est ão en v olv idas com a m at er n idade. O obj et iv o dest e

t rabalho é apresent ar os result ados parciais de um est udo et nográfico sobre as percepções, crenças e at it udes

em relação ao papel m at erno no cont ext o de m ulheres com filhos pequenos que fazem ou fizeram t rat am ent o

para o problem a da dependência de álcool ou drogas. O papel m at erno das ent revist adas desenvolveu- se e se

d esen v olv e em u m con t ex t o f am iliar on d e os f en ôm en os v iolên cia, ex p er iên cias af et iv as e u so d e d r og as

est ão pr esen t es.

DESCRI TORES: t r anst or nos r elacionados ao uso de subst âncias; com por t am ent o m at er no; v iolência

W OMEN LI VI NG I N A DRUG ( AND VI OLENCE) CONTEXT - THE MATERNAL ROLE

Alt h ou gh t h e dr u g pr oblem is m or e pr esen t am on g m en , w om en ar e an in cr easin g an d v u ln er able

subgroup, since m any of t hem are involved in m ot herhood. I n t his paper, t he part ial result s of an et hnographic

st udy on m at ernal role- relat ed percept ions, beliefs and at t it udes are present ed and t he cont ext in w hich t hese

w om en w ho have sm all childr en and ar e under going or under w ent t r eat m ent for alcohol or dr ug addict ion live

w ill also be pr esent ed. Mot her s under going t r eat m ent par t icipat ed in int er v iew s about t heir m at er nal r ole and

how it dev eloped in a fam ily cont ex t m ar k ed by v iolence, affect iv e ex per iences and dr ug use.

DESCRI PTORS: su bst an ce- r elat ed disor der s; m at er n al beh av ior ; v iolen ce

MUJERES VI VI ENDO EN EL CONTEXTO DE DROGAS ( Y VI OLENCI A) – EL PAPEL MATERNAL

A pesar de que el pr oblem a de las dr ogas est á m ás pr esent e ent r e hom br es, las m uj er es const it uyen

un grupo crecient e y un subgrupo vulnerable, ya que m uchas ent re ellas est án involucradas con la m at ernidad.

La finalidad de est e t rabaj o es present ar los result ados parciales de un est udio et nográfico sobre las percepciones,

cr eencias y act it udes r espect o al papel m at er nal en el cont ex t o de m uj er es con hij os pequeños que hacen o

hicieron t rat am ient o para el problem a de la dependencia de alcohol o drogas. El rol m at ernal de las ent revist adas

se desar r olló y se desar r olla en un cont ex t o fam iliar donde los fenóm enos v iolencia, ex per iencias afect iv as y

uso de dr ogas est án pr esent es.

DESCRI PTORES: t r anst or nos r elacionados con subst ancias; conduct a m at er na; v iolencia

1 As opiniões expressadas nest e art igo são de responsabilidade exclusiva dos aut ores e não represent am a posição da organização onde t rabalham ou de sua

adm inist ração; 2 Docent e da Escola de Enferm agem de Ribeirão Pret o, da Universidade de São Paulo, Cent ro Colaborador da OMS para o desenvolvim ent o

da pesquisa em enferm agem , e- m ail: sugalera@eerp.usp.br; 3 Docent e da Universidade Nacional de Colom bia; 4 RN, RM, DNS, Faculdade de Enferm agem

(2)

I NTRODUÇÃO

N

as ú lt im as décadas obser v am os qu e as

m udanças aceleraram o cenário m undial. O processo de globalização abr iu as fr on t eir as m u lt in at ion ais, i n t e n si f i co u a i n t r o d u çã o d a t e cn o l o g i a , a b r i u m e r ca d o s e l i b e r o u a s e co n o m i a s n a ci o n a i s. O m ov im en t o cr escen t e d e p essoas, p r op r ied ad es e serviços t am bém acelerou a t ransferência dos riscos d e sa ú d e p a r a t o d o s. Ao m e sm o t e m p o , o r elacionam ent o ent r e a saúde e o desenv olv im ent o sócio- econôm ico t or nou- se im ensam ent e com plex o. Est e pr ocesso possui int er fer ências for t es na saúde da população e na polít ica dos serviços nacionais e internacionais. Conceitos essenciais são com o a saúde est á definida e os det erm inant es da saúde nos m ais diversos cont ext os sociais e cult urais.

A inclusão do tem a saúde m ental na lista de pr ior idades da saú de in t er n acion al foi r ecen t e. As doenças m ent ais são caract erizadas com o t endo um fort e im pact o na vida do doent e e de sua fam ília. O i m p a ct o d a a d v er si d a d e m en t a l é a v a l i a d o p el a ruptura que causa na vida do indivíduo, da sua fam ília

e, t am bém , no sist em a público de saúde( 1).

Pr oblem as r elacionados ao uso e abuso de á l co o l e d r o g a s sã o f o n t e s d a m o r b i d a d e e d a m ortalidade globais. Um a pesquisa relatada pela OMS v er ificou que doenças e per das neur o- psiquiát r icas representam 12 por cento da dificuldade da doença a nív el global. A dependência do álcool e das dr ogas cont ribuiu para 6 por cent o dos casos de doenças e per das neur o- psiquiát r icas, assim r epr esent ando o t er ceir o m aior d iag n óst ico n a d ist r ib u ição d os 1 0

principais grupos de doenças ( 1).

A dependência de subst âncias psico- at iv as ainda é um t abu em m uit os países, especialm ent e q u an d o se r ef er e à d ep en d ên cia f em in in a. Desd e m eados do século XVI I I o álcool era conhecido com o um a doença e a dependência de drogas foi definida no século XI X. Em bora durante o período entre 1970 e 1 9 8 4 som en t e 8 por cen t o dos par t icipan t es n a pesquisa cient ífica que r elat ar am a dependência do álcool, eram m ulheres, e, som ent e 25 est udos sobre dependência se apoiaram nas diferenças de gêneros

no período entre 1984 e 1989( 2).

Em u m e st u d o co n d u zi d o p e l o Ce n t r o Br asileir o d e I n f or m ação sob r e Dr og as ( CEBRI D) durant e o ano de 1999 em 24 cidades do Est ado de São Paulo, foi revelado que a t axa de alcoolism o era de 77% entre hom ens e 60 por cento entre m ulheres.

O con su m o d e m acon h a, cocaín a e solv en t es f oi tam bém m aior entre os hom ens. Quando com parados a estudos anteriores, estes dados revelam um a queda n a d i f er en ça d o u so d e d r o g a s en t r e h o m en s e m ulheres j ovens. Na m édia, há um a relação 1: 2 de m u l h e r e s p a r a h o m e n s n o co n su m o d e st a s subst âncias( 3).

Em u m e st u d o co n d u zi d o n a ci d a d e d e Ca m p i n a s, n a a p r een sã o p el a p o l íci a d u r a n t e o p e r ío d o e n t r e 1 9 9 3 e 1 9 9 7 , f o i r e l a t a d o q u e o per cent ual de m ulher es env olv idas nas apr eensões policiais aum ent ou de 10 par a 16 por cent o. Est as d e sco b e r t a s m o st r a r a m q u e a s m u l h e r e s e st ã o au m en t an do seu con su m o de dr ogas, assim com o

seu envolvim ent o no t ráfico de drogas( 4).

Em bor a os pr oblem as com dr ogas est ej am m ais presentes entre hom ens, certam ente não explica, nem j ustifica o pouco conhecim ento que persistiu por m u i t o t em p o so b r e o r esu l t a d o d a d ep en d ên ci a f e m i n i n a d e d r o g a s. I d é i a s p r é - co n ce b i d a s sã o p r o v av el m en t e a m ai o r ex p l i cação p ar a i st o . As m u l h er es q u e u sam d r o g as são f r eq u en t em en t e r o t u l ad as co m o n eg l i g en t es e est ão l i g ad as ao s est er iót ipos de m ulher es que são m ais agr essiv as, t endendo à prom iscuidade e que falharam ao t ent ar

desem penhar o papel dom ést ico( 2,5).

Apesar de num ericam ent e m enos envolvidas com o consum o de drogas, as m ulheres são um sub-grupo vulnerável crescente, com o m uitas tam bém são m ães de crianças pequenas. O relacionam ent o ent re as cr i an ças e su as m ães m o st r a u m sen t i d o d e in d iv id u alid ad e e su as h ab ilid ad es d e est ab elecer r elacionam ent os posit iv os. I st o t am bém afet a seus sen t i m en t o s so b r e a ssu m i r o p a p el m a t er n o o u paterno delas m esm as algum dia e sobre as m ulheres e m g e r a l . Na s so ci e d a d e s o n d e a s m ã e s t ê m obrigação com o bem –estar de seus filhos, as crianças d e se n v o l v e m se u se n t i d o d e i n d i v i d u a l i d a d e

basicam ent e em relação às suas m ães( 6).

OBJETI VO

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MÉTODO

Os d a d o s f o r a m co l e t a d o s a t r a v é s d e ent r ev ist as indiv iduais com m ulher es que est av am e m se g m e n t o o u t r a t a m e n t o e m u m se r v i ço com unit ár io par a dependent es de álcool e dr ogas. De um a list a com 20 m ulher es, fom os capazes de estabelecer contato com som ente duas que atenderam ao cr it ér io selecion ad o p ar a est e est u d o. Par a a par t icipant e ser elegív el, a m ulher pr ecisav a est ar entre 18 anos ou m ais e ter crianças pequenas, até 5 anos de idade. Muit as das m ulheres abandonaram o t r at am en t o e v olt ar am a con su m ir dr ogas. Ou t r as m u d a r a m d e e n d e r e ço e n ã o p o ssu ía m f i l h o s pequenos. Est e result ado m ost rou- nos a necessidade de rever nosso critério de seleção e procedim ento de recrut am ent o de volunt árias.

Às p ar t icip an t es f oi p ed id o p ar a f or n ecer dados dem ogr áficos com o idade, sex o e est r u t u r a f am iliar, e p ar a d escr ev er su as ex p er iên cias com dr ogas em r elação à m at er n idade. As en t r ev ist as for am gr av adas e dur ar am cer ca de 2 hor as cada um a. Duas pergunt as gerais foram feit as. A prim eira foi, “ Você poder ia m e cont ar com o é ser m ãe?” A segunda foi, “ O que você precisa para ser um a m ãe para seus filhos?” Algum as perguntas com plem entares foram ut ilizadas para auxiliar o desenvolvim ent o da en t r ev ist a. Ob ser v ações d e n ão- p ar t icip an t es e o diário de cam po tam bém utilizados na coleta de dados. At r av és da leit u r a da t r an scr ição de cada ent revist a e da escut a sim ult anea da fit a, correções apropriadas foram feitas e os pequisadores tornaram -se m ais fam iliarizados com os dados Toda inform ação de ident ificação foi rem ovida.

As ent revist as se suj eit aram a um a análise de conteúdo oculto. As análises do conteúdo oculto é u m pr ocesso u t ilizado para iden t if icar, codif icar e cat egor izar os m odelos pr im ár ios encont r ados nos

dados( 7). O pesquisador vê a significância específica

dos dados e define cat egorias m ais apropriadas para organizá- los. A análise oculta aum enta o rigor de com o a pesquisa deve ser feit a quando o pesquisador est á sem pre codificando sua int erpret ação das int enções dos part icipant es, assim com o suas palavras.

A pr im eir a fase n a an álise foi codificar os dados após ler, reler e ouvir as ent revist as. Codificar é d ef in id o com o u m p r ocesso p ar a id en t if icar as palav r as, fr ases, t em as ou conceit os nos dados de m o d o q u e o m o d e l o p o ssa se r i d e n t i f i ca d o e

analisado( 8). Nest e est udo, nós procuram os palavras,

f r a ses e sen t en ça s q u e r ep r esen t a v a m cr en ça s, at it u d es, com p or t am en t os e p er cep ções d o p ap el m at erno do pont o de vist a das m ulheres envolvidas com droga. O processo de codificação acont eceu em época diferent e de quando form at am os as seções do t e x t o e co l o ca m o s o s co m e n t á r i o s n a m a r g e m e sq u e r d a d a t r a n scr i çã o . A p r ó x i m a f a se f o i a cat egorização dos dados. Ret ornando aos dados, as se çõ e s d e st a ca d a s n o t e x t o f o r a m r e t i r a d a s e a g r u p a d a s e m ca t e g o r i a s. As ca t e g o r i a s f o r a m colocadas em arquivos separados para que t odos os dados fossem incluídos por im portância e de fácil uso. Fi n a l m en t e, t en t a m o s i n t eg r a r a s ca t eg o r i a s o u r econ st r u í- las d e m od o q u e r ep r esen t assem u m a e st r u t u r a g e r a l d a s e n t r e v i st a s co m a s m ã e s envolvidas com dr oga.

RESULTADOS E DI SCUSSÃO

A prim eira repondente tinha 23 anos, um filho de 8 m eses e vivia com sua m ãe. O pai de seu filho m orreu quando ela estava no quarto m ês de gravidez. Ela estudou até a 8ª série do ensino fundam ental. Ela não t inha renda, nem nunca t rabalhou fora de casa. A fam ília vivia na pobreza. Seu pai m orreu quando ela e seus 2 irm ãos eram crianças e sua m ãe sem pre trabalhou. Um dos irm ãos m orreu quando ela tinha 7 an os e o ou t r o q u e er a d ep en d en t e d e cr ack f oi assassinado por t raficant es de drogas um ano ant es da ent revist a.

A segunda respondente tinha 34 anos, casada e m ãe de 2 filhas, idades de 4 e 6 anos. Ela é form ada na univ er sidade, m as nunca t r abalhou na sua ár ea de est udo. Seu m ar ido pr efer ia que ela ficasse em casa cuidando da casa e das crianças. O t rabalho de seu m arido perm it ia que a fam ília t ivesse um a vida confortável. Ela estava vivendo um a situação perigosa com seu m ar ido e j á t inha se env olv ido em v ár ios aciden t es de car r os. O ú lt im o acon t eceu h á du as sem anas ant es da ent revist a.

ANÁLI SE DAS ENTREVI STAS

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O cont ex t o fam iliar influencia, de m aneir a significante, as crenças, atitudes e os com portam entos de saúde e doença de seus m em bros. Os hábitos que in f lu en ciam o est ad o d a saú d e com o u m a d iet a, ex er cícios físicos e m odos de encar ar sit uações de est resse são fort em ent e influenciados pelo cont ext o f am iliar. O abu so de álcool e t abaco t am bém são influenciados pelo contexto, no qual aum entaram , são considerados por alguns com o um m eio de lidar com o est resse( 9).

USO DE DROGAS NO CONTEXTO FAMI LI AR

A hist ór ia do uso de dr ogas est á pr esent e em am bas as entrevistas. Um a inform ante acreditava

que her edit ar iedade er a um fat or do alcoolism o.

m eu pai disse que havia heredit ariedade em relação à bebida,

com o os irm ãos e irm ãs de m eus avós, a m aioria m orreu com o

m iserável…

A outra inform ante contou- nos que ela passou a m aior part e de sua infância vivendo com a fam ília de seu t io ( por ex em plo, o m ar ido da ir m ã de sua m ãe) onde todo m undo fum ava m aconha; seu tio era

t raficant e de drogas. As ir m ãs de m inha m ãe, t odas elas

t am bém fum avam m aconha…

Am bas as m ães com eçar am a usar dr ogas q u a n d o e l a s e r a m a d o l e sce n t e s. Em u m a d a s en t r ev ist as, u m a delas obser v ou a pr essão social

com o um m ot ivador para o uso do álcool, quando eu

com ecei ( a nam orar) , eu t inha quinze anos e ele dezenove. Ent ão

t ínham os um grupo pequeno de am igos. Cost um ávam os ir a um

bar pequeno e eles riam de m im porque eu só bebia suco de

laranj a. Eu acho que não sei , para t ent ar e ser aceit a pelo grupo,

eu acho que é engraçado, eu não sei, legal, eu com eçei a beber,

m as eu acho que beber é horrível. Para a outra inform ante,

o at o de ex per im ent ar foi a r azão dela com eçar a

usar drogas, eu com ecei fum ando quando eu t inha dezesseis

anos. Eu queria t ent ar, eu t ent ei, eu gost ei e com ecei a fum ar.

VI OLÊNCI A NO CONTEXTO FAMI LI AR

D e sd e a i n f â n ci a a m b a s a s i n f o r m a n t e s v iv er am a ex per iência de obser v ar ou ser a v ít im a de algum t ipo de ação violent a. Par a um a delas, a v iolência env olv eu sua m ãe, ela m esm a e seu pai/ padrast o. Post eriorm ent e, ela foi vít im a da violência

de seu m arido. Ela disse, … ele cost um ava ofender a m inha

m ãe, que gost ava disso, ent ende? Apesar de t udo, um padrast o

cost um ava reprim ir m inha m ãe e cost um ávam os a discut ir …

A ou t r a in f or m an t e t am b ém f oi v ít im a d e

violência. Ela observou, … m eu pai er a m uit o r epr essivo,

sabe. Toda a m inha vida eu t ive m edo do m eu pai, sabe. Meu pai

sem pre foi um a pessoa com o est a, com o est a aqui, você deve sair

daqui. Se você quebrasse, se você esbarrasse e quebrasse o

vidro… ent ão m eu pai m e m achucava. Ele m e chut ava, m e bat ia

com um cint o. Quando eu era pequena, um vez, m inha m ãe m e

bat eu t ant o que eu fiquei t oda verm elha, na bat ida … Meu pai

sem pre hum ilhava m inha m ãe, sabe.

A violência na fam ília é diferenciada de outros t ip os d e v iolên cia en con t r ad a n a socied ad e p elo ca r á t e r ín t i m o d o “ co n t a t o ” q u e e x i st e e n t r e o ag r esso r e a v ít i m a e p el a n at u r eza p r i v ad a d o

relacionam ento( 10). Este tipo de violência é encontrada

em várias categorias na qual a violência dos pais em relação aos seus filhos e a violência ent re os casais são descrit as. Out ros t ipos de violência que ocorrem no am bient e fam iliar são v iolências ent r e ir m ãos e ir m ãs, a v iolência ent r e os j ov ens na r elação com seus pais e finalm ent e, a violência dos filhos adult os com seus pais idosos.

Alguns estudos apoiaram - se na teoria de que m u it as m u lh er es qu e u sam e abu sam das dr ogas foram vít im as de violência física e sexual durant e a sua infância. Das 24 m ulher es que par t icipar am de um a pesquisa am ericana, 21 sofreram violência física

ou sexual durant e a infância( 11). Dest as, 7 m ulheres

foram violentadas pelos seus pais ou outro parente e um a pelo vizinho. Três foram exploradas sexualm ente p el o s p ai s p o r d i n h ei r o o u d r o g as. As m u l h er es ex pr essar am um sent im ent o pr ofundo de per da, a elas não foi dada a chance de dar ou receber am or ou desenvolver um sent im ent o de aut o- valorização, aut o- confiança e confiança das out ras pessoas.

AFETI VI DADE E O CONTEXTO FAMI LI AR

A a u sê n ci a d e a f e t o n o r e l a ci o n a m e n t o fam iliar durant e a infância t orna o desenvolvim ent o d a i d e n t i d a d e m a t e r n a u m a “ a u t o ” d i f i cu l d a d e , lim it ando a possibilidade de experiências posit ivas de contato físico, cuidado e socialização. Pouca estrutura psicológica para assum ir a responsabilidade m at erna r epr esent a a or igem dos conflit os, lev ando a um a

falha no sent im ent o do papel pat erno( 12).

(5)

diferent e. A inform ant e ident ificou um padrão na sua f am íl i a q u e r est r i n g i u o d esen v ol v i m en t o d e u m cont ext o m ais posit ivo de afet o fam iliar. Est e padrão cont inuou par a a filha, no seu r elacionam ent o com seu m arido e ela tam bém reconheceu que isto afetou

negat iv am ent e suas filhas. Ela disse, … in f elizm en t e,

m inha m ãe não passou segurança para m im , sabe, carregar o

bebê, dar banho a ela, ver a sua pequena “ perereca” ( um a gíria

para a part e ínt im a fem inina) , porque m inha m ãe não recebeu

carinho…m inha m ãe foi criada por sua t ia, ela nunca recebeu am or

m at erno, ent ão ela não sabia com dar am or m at erno ... houve um

erro, houve um erro, isso m esm o! Na sua infância e eu acho que

er a alg o q u e est av a acon t ecen d o p or m u it o t em p o. Sim ,

infelizm ent e eu acho que foi o cuidado que foi pouco, sua at enção,

você sabe, volt ar a ser um a criança, brincar. Ent ão eu passei ist o

às m inhas filhas, não de propósit o, você sabe.

Por outro lado, a outra inform ante descreveu um relacionam ent o fam iliar posit ivo no cont ext o em que ela cresceu, apesar das dificuldades que ela viveu. Em bora um a observou que com o sua m ãe, ela criou suas filhas sem um pai, que m orreu quando ela ainda est av a g r áv id a, ela v iu em su a m ãe u m a m u lh er bat alhadora e seus t ios e t ias com o apoio social se

fosse preciso. Ela relatou que, m inha m ãe é um a lut adora,

ela criou m eu irm ão e eu sozinha, e m eu out ro irm ão m orreu

quando t inha 7 anos. Ela nos criou sozinha, m eu pai m orreu, nós

éram os m uit o pequenos … Ela nos criou sozinha… eu m orei com

eles ( t ios e t ias) . Ant es de vir m orar aqui. Agora que est ou m ais

com ela … Ela t eve um m arido e nós não nos dávam os bem . Ent ão

eu não gost ava de ficar com ela por causa dist o.

Em um est udo de r epr esent ação social de m ães j ov ens br asileir as, r ev elou- se que em bor a as ci r cu n st â n ci a s d a s n ecessi d a d es f i n a n cei r a s, d e m o r ad i a e af et i v i d ad e, as j o v en s p r o j et ar am n a m at er n i d ad e u m a esp er an ça d e v i d a, ap esar d a expressão cuidado m at erno ser idealizada e dist ant e

da realidade pscio- social das j ovens( 13).

O P A P EL M A T ER N O E O CO N T EX T O

FAMI LI AR

Em b o r a se j a p o ssív e l a p r e se n t a r a m a t e r n i d a d e co m o u m p a p e l e sse n ci a l p a r a o desenv olv im ent o hum ano, dev e- se dest acar que o cont ext o cult ur al da fam ília det er m ina os valor es e papéis de seu s m em br os. Com pr een der o aspect o cult ur al da fam ília é essencial par a com pr eender a vida de seus m em bros e o desenvolvim ent o de cada

pessoa especificam ent e( 14).

A inform ante que identificou o uso das drogas e o am bient e afet iv o negat iv o no cont ex t o da sua vida fam iliar, com event os ligados à heredit ariedade, d e scr e v e u se u d e se m p e n h o m a t e r n o co m o e x ce ssi v a m e n t e o cu p a d o co m cu i d a d o f ísi co , alim entação e satisfação de seu plano. Ela reconheceu que t inha pouca habilidade par a br incar com suas filhas e que o r elacionam ent o conflit ant e com seu m a r i d o t e v e i m p l i ca çõ e s n e g a t i v a s p a r a o

desenvolvim ent o das suas filhas. Elas disse, a ú n ica

coisa ruim que eu sint o em relação às crianças, ele e eu, é que

discut íam os na frent e das crianças, havia um a grande t olerância

com a de 9 anos, com o se ela não quisesse que nos separássem os,

t ant o que ela am eaçava se m at ar e ist o m e preocupou m uit o, por

t er problem as psicológicos com ela, sabe. A de 4 anos ainda não

ent endia, m as repet e o que a m ais velha disse, por m eu m arido

m e ofender na frent e delas...

A out r a infor m ant e t am bém descr ev eu que seu papel m at er no com o for necer cuidado físico e nut rição ao seu filho. Ela incluiu brincar e sair com se u f i l h o co m o a t i v i d a d e s i m p o r t a n t e s. Su r pr eeden t em en t e, ela con sider ou qu e o u so de drogas não interferiu no seu desem penho com o m ãe.

Ao contrário, ela disse, parece que eu cuidei m elhor, sabe!

Eu era grande, ent ão coloquei em m inha cabeça que eu t inha que

cuidar do bebê, ent ão eu fiz t udo corret am ent e. Eu o olhei m ais,

sendo grande. Saí com ele, o t ransform ei. Parece que quando eu

est ava lim pa, o abandonei, que vergonha … com o fum ávam os,

parece que com o t em po, parece que, a coisa dom ina você. Parece

que você faz coisas quando usa droga, no ent ant o, quando você

não fum a, você se t orna t rist e, você não se sent e com o fazendo

nada, se sent e ent ediada, não sent e fom e.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

As descobert as nos forneceram im port ant es sen t id os d o p ap el m at er n o q u e se ex ist e em u m cont ext o fam iliar onde o uso da droga e a violência est ão pr esen t es. As f am ílias do in f or m an t e f or am descrit as com o conducent es para o desenvolvim ent o de conflitos e a produção de sofrim ento, m as tam bém , com o font e possív el de apoio. Am bas as m ulher es tinham acesso às drogas na sua fam ília, um a porque seu m ar ido t r azia álcool par a casa e out r a por que seu t io era t raficant e.

(6)

AGRADECI MENTOS

Ag r ad ecem os à Com issão I n t er am er ican a p ar a o Con t r ole d o Ab u so d e Dr og as / CI CAD, ao Program a de Fom ento da OEA, ao Governo do Japão,

a todos da Faculdade da Universidade Alberta/ Canadá, e aos on ze r ep r esen t an t es dos set e países lat in o a m e r i ca n o s q u e p a r t i ci p a r a m n o “ I Pr o g r a m a I n t e r n a ci o n a l d e Pe sq u i sa ”, i m p l e m e n t a d o n a Universidade de Albert a/ Canadá em 2003- 2004.

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