REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
ARTIGO
CIENTÍFICO
Perfil
epidemiológico
de
pacientes
atendidos
no
ambulatório
de
avaliac
¸ão
pré-anestésica
de
um
hospital
universitário
Monica
Loureiro
Santos
a,b,∗,
Cristiane
de
Oliveira
Novaes
ce
Antonio
Carlos
Iglesias
d,eaUniversidadeFederaldoEstadodoRiodeJaneiro(Unirio),SaúdeeTecnologianoEspac¸oHospitalar,RiodeJaneiro,RJ,Brasil bUniversidadeFederaldoEstadodoRiodeJaneiro(Unirio),HospitalUniversitárioGaffréeeGuinle,Servic¸odeAnestesiologia,
RiodeJaneiro,RJ,Brasil
cUniversidadeFederaldoEstadodoRiodeJaneiro(Unirio),InstitutodeSaúdeColetiva,RiodeJaneiro,RJ,Brasil
dUniversidadeFederaldoEstadodoRiodeJaneiro(Unirio),EscoladeMedicinaeCirurgia,DepartamentodeCirurgiaGerale
Especializada,RiodeJaneiro,RJ,Brasil
eUniversidadeFederaldoEstadodoRiodeJaneiro(Unirio),HospitalUniversitárioGaffréeeGuinle,Servic¸odeCirurgiaGerale
CirurgiadoAparelhoDigestivo,RiodeJaneiro,RJ,Brasil
Recebidoem7denovembrode2015;aceitoem27dejunhode2016 DisponívelnaInternetem27deagostode2016
PALAVRAS-CHAVE
Avaliac¸ão pré-anestésica; Cirurgia; Cuidados pré-operatórios
Resumo
Objetivo: Verificar as características demográficas e clínicas dos pacientescirúrgicos
aten-didosnoAmbulatóriodeAvaliac¸ãoPré-AnestésicadoHospital UniversitárioGaffrée eGuinle (APA/HUGG),comoobjetivodeauxiliarnabuscadequalidade,efetividadeeracionalizac¸ão derecursosdagestãohospitalar.
Método: Estudodescritivotransversal,feitocom491pacientesdeoperac¸ãoeletiva,atendidos
noAmbulatóriodeAPA/HUGGdemarc¸oadezembrode2014.Foramestudadasasvariáveis: sexo,faixaetária,índicedemassacorporal(IMC),tabagismo,doenc¸asassociadas,classificac¸ão dacapacidadefuncional(METs),(ASA),doenc¸adescompensada,interconsultas,especialidadee portecirúrgicos,históriadeprocedimentoanestésico-cirúrgicoprévioepossíveiscomplicac¸ões.
Resultados: Predominarampacientesdosexofeminino(64,8%),nafaixade18a59anos(55,9%)
e comsobrepeso(38,3%). A prevalênciade doenc¸as associadas foi elevada(71,3%)sendo a hipertensão arteriala principal(50,1%). A maior parcela dospacientes apresentava morbi-dadeclinicamentecompensada(96,3%)eusocontínuodemedicamento(77,4%).Emrelac¸ãoàs característicascirúrgicas,aespecialidademaisfrequentefoiacirurgiageraleoportemédio. Aanálisedascaracterísticasporfaixaetáriamostrouqueosidososapresentarammaisdoenc¸as associadaseusocontínuodemedicac¸ãoalémdepredomíniodeASAIIeIII.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:monicaregloureiro@yahoo.com.br(M.L.Santos). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2016.06.002
Conclusão:OperfilepidemiológicodospacientescirúrgicosatendidosnaAPA/HUGGfoi:sexo feminino,faixaetáriade18a59anos,sobrepeso,comdoenc¸asassociadas,emusodemedicac¸ão contínua,semdescompensac¸ãoclínica,ASAIIeMETs≥ 4.Oconhecimentodascaracterísticas clínicasdospacientescirúrgicoséfundamentalparaoplanejamentodoscuidados periopera-tóriosepermiteavanc¸arnaqualidadeeseguranc¸aemanestesiaecirurgia.
©2016SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eum artigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
KEYWORDS
Preanesthetic evaluation; Surgery;
Preoperativecare
Epidemiologicalprofileofpatientsseeninthepre-anestheticassessmentclinicofa universityhospital
Abstract
Objective:Assessthedemographicandclinicalcharacteristicsofsurgicalpatientsseeninthe
Pre-anestheticAssessmentClinicoftheHospitalUniversitárioGaffréeeGuinle(APA/HUGG),in ordertoassistinthepursuitforquality,effectiveness,andresourcerationalizationofhospital management.
Method: Cross-sectionaldescriptivestudywith491patientsundergoingelectivesurgery,
trea-tedatAPA/HUGGClinicfromMarchtoDecember2014.Thefollowingvariableswereassessed: sex,age,BMI,smokingstatus,associateddiseases,classificationofMET’sandASA,presence ofdecompensateddisease,medicalassociatedappointmentsinterconsultation,specialtyand surgicalrisk,historyofprioranesthetic-surgicalprocedure,andcomplications.
Results:Therewasapredominanceoffemale(64.8%)andoverweightpatients(55.9%),aged
18-59years.Theprevalenceofassociateddiseaseswashigh(71.3%),withhypertensionpressure prevailing(50.1%).Mostpatientshadclinicallycompensatedmorbidity(96.3%)andlong-term useofmedication(77.4%).Regardingthesurgicalcharacteristics,themostfrequentspecialty wasgeneralandmediumrisksurgeries.Theanalysisofthecharacteristicsbyageshowedthat theelderly havemore associated diseasesandlong-term use ofmedication, inadditionto predominanceofASAII-III.
Conclusion:TheepidemiologicalprofileofsurgicalpatientsseenattheAPA/HUGGwasfemale,
age18-59years,overweight,withassociateddiseases,long-termuseofmedication,without clinical decompensation, ASA II andMET’s ≥4. Knowledge of theclinical characteristicsof surgicalpatientsiscriticaltoscheduletheperioperativecare,allowingtheimprovementof qualityandsafetyinanesthesiaandsurgery.
©2016SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc
¸ão
Desde as últimas décadas do século XX a qualidade em
servic¸os e sistemas de saúde tornou-se tema central e frequente nas discussões em todo o mundo. Qualidade e seguranc¸a formam um binômio que deveorientar melho-rias em estruturas, resultados e processos.1 A avaliac¸ão
pré-anestésica (APA) está inserida nesse contexto como aspectofundamentalparaaumentaraseguranc¸a anestésico--cirúrgicaeaqualidadedoatendimento.AAPAinadequada e/ou insuficiente está associada ao aumento da morbi-dadee mortalidadecirúrgicas.2Em contrapartida,quando
feitaem caráterambulatorial,apresenta inúmeras vanta-gens,comomelhoriadoestadoclínicodopaciente,reduc¸ão da ansiedade, acelerac¸ão da recuperac¸ão pós-cirúrgica, alémdemaiorcontatoeconhecimentodopacientecomo anestesiologista.3---5OConselhoFederaldeMedicina(CFM),
pormeiodaResoluc¸ãon◦
1.802/06.1,tornouindispensávela avaliac¸ãopré-anestésicaerecomendouquesejafeitaantes daadmissãohospitalar.6
A APA é definida como um conjunto de medidas que precedemoscuidadosanestésicosnecessáriosàrealizac¸ão da operac¸ão e consiste na coleta e no registro de informac¸ões por meio de entrevista, histórico médico, examefísico,exameslaboratoriaiseavaliac¸õesde especi-alistas. Seus objetivos são identificar doenc¸as associadas, avaliaraterapiamedicamentosa,definiranecessidadede intervenc¸ões perioperatórias, formular o plano anestésico (escolha de agentes,monitorac¸ão intraoperatória ou pós--operatória) e estabelecer medidas paranortear decisões intraoperatorias.7,8 Além disso, é o momento de obter o
consentimento,informareorientaropaciente.9,10
ambulatorialfeitapeloanestesiologistaéummodelo relati-vamentenovo,demodoqueoconceitodeumambulatório deavaliac¸ãopré-anestésicafoi inicialmenteformuladohá poucomaisde 50 anos11 e tem sidoimplantado deforma
gradativanoBrasil.
Oconhecimentodascaracterísticasdemográficase clíni-casdapopulac¸ãocandidataa procedimentoscirúrgicosde umestabelecimento hospitalaré fundamental parao pla-nejamento administrativo e o dimensionamento físico do blocooperatórioedossistemasdeacolhimento,taiscomo internac¸ão/altaehospital-dia.Auxiliatambémnaatuac¸ão daequipemultiprofissional,naformac¸ãoetreinamentode recursoshumanosenofuncionamentodesetoresdeapoio, comolaboratório,agênciatransfusionalefarmácia.Éuma ferramentadegrandeutilidadenabuscadeseguranc¸a, qua-lidade,efetividadeeracionalizac¸ãoderecursosdegestão hospitalar. O objetivo deste estudo foi verificar as carac-terísticas demográficas e clínicas dos pacientescirúrgicos atendidosnoAmbulatóriodeAvaliac¸ãoPré-Anestésica(APA) doHospitalUniversitárioGaffréeeGuinle(HUGG).
Métodos
Estudodescritivo,transversal,feitodemarc¸o adezembro de2014.FoiaprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisasob o n◦ 27505514.4.0000.5258,e todosos pacientes que
con-cordaram em participar o fizeram por meio do Termo de ConsentimentoLivreeEsclarecido(TCLE).
A populac¸ão estudada foi composta de pacientes com doenc¸as cirúrgicas de tratamento eletivo, encaminhados paraavaliac¸ãopré-operatóriapelasseguintesclínicas: cirur-giageral, cirurgiadoaparelhodigestivo e coloproctologia (especialidadesquenesteestudo compreenderamo grupo denominadocirurgiageral), urologia,ginecologia, cirurgia torácica,cirurgiavascular,otorrinolaringologia,ortopedia, neurocirurgia,cirurgiaplásticaeoftalmologia.Foram con-sideradoscritériosdeexclusão:pacientesabaixode18anos eausênciaoufalhadepreenchimentodafichadeavaliac¸ão. Aconsultapré-anestésicaseguiuasrecomendac¸õesdo Gui-deline paraambulatório de anestesia e cirurgia aprovado pela Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA).12 Os
dadosforamcoletadospelo pesquisador pormeiodeuma ficha de obtenc¸ão de dados, que coletou informac¸ões de entrevistaeexamefísicoregistradasemfichasdeavaliac¸ão pré-anestésicasindividuais(fichadesenvolvidaeusadapelo Servic¸o de Anestesiologia [SANE/HUGG]). As consultas de APAforamfeitasportrêsanestesiologistasdoSANE-HUGG.
Foramconsideradososseguintesgruposdevariáveis:
1. Variáveis demográficas e antropométricas: sexo;idade estratificadaem duasfaixas (18-59anos e ≥60 anos); peso e altura usados para cálculo do índice de massa corporal(IMC).13
2. Variáveis clínicas: presenc¸a de doenc¸a(s) associada(s) identificada(s) por história e/ou exame físico e seu quantitativo;históriadetabagismo;usodemedicac¸ões; classificac¸ão funcional segundo equivalentes metabóli-cos - MET (índice de atividade de Duke), índice de atividadedeDuke,14classificac¸ãodeestadofísicoASA,15
necessidadedeinterconsulta comespecialista segundo
critériosclínicoseaocorrênciadedoenc¸aassociada cli-nicamentedescompensada.
3. Variáveis relacionadas ao procedimento cirúrgico: especialidade cirúrgica, porte cirúrgico segundo a classificac¸ão proposta por Eagle16 e histórico de
pro-cedimento cirúrgicoe/ou anestesia préviose possíveis complicac¸ões.
Paracálculodaamostra,obteve-seamédiahistóricado númerodepacientesatendidosnoambulatóriodeavaliac¸ão pré-anestésicadoHUGG.Comousodocálculopara amos-tras de populac¸ão finita e procedimentos de amostragem semreposic¸ão,obteve-seumnde329,oquegarante95% deconfianc¸aeníveldesignificânciadep≤0,05.Osdados coletadosforamprocessadospeloprogramaSPSS® (Statistic Package for the Social Sciences,Chicago, IL, USA) versão 17.0 para Windows® e foi feito por meio de estatística descritiva;asvariáveisqualitativasforamdescritasem por-centagenseascontínuascomomédiaedesvio-padrão.Para verificar a distribuic¸ão das características por faixa etá-riaesexofoiusadootestedequi-quadrado(intervalode confianc¸ade95%eníveldesignificânciadep≤0,05).
Resultados
Foramanalisadosdadosde491pacientes.Dos500pacientes consecutivos inicialmenterecrutados, seis serecusarama participaretrêsnãopreencheramoscritériosdapesquisa. Foi observado predomínio do sexo feminino (64,8%); médiade56,12 ±15,3anos (18-90anos);55,9%dos paci-entesforamalocadosnogrupoaté59anos.Dospacientes, 67,2%tinham excessode peso, sendoque38,3% nogrupo sobrepesoe28,9%comoobesos(grauI,II eIII),como pode
servistonatabela1.
Doenc¸as associadas foram identificadasna maioria dos pacientes estudados (71,3%) e a associac¸ão de duas ou maisdessasestevepresenteem32%daamostra.Adoenc¸a associadamaisprevalentefoi ahipertensãoarterial sistê-mica(HAS),queacometeuametadedospacientes(50,1%), seguidapor diabetes melito(11,4%), pneumopatias(9,5%) edislipidemia(7,9%).Quantoaoshábitosdevida,11%dos pacientes eram fumantes. O uso de medicac¸ão de forma contínuafoiobservadoem77,4%.Dentreosfármacosmais usados,osanti-hipertensivosdo tipoinibidoresdaenzima conversoradaangiotensina(IECA)ebloqueadoresdos recep-toresda angiotensina II (BRA) eram usados por 36,9% dos
pacientes,enquanto25,5%usavamdiuréticose11,2%outras classesdeanti-hipertensivos(bloqueadores,inibidoresdo canaldeCa+,etc.).Aessesgruposdefármacosseguiram-se oshipoglicemiantesoraisouinjetáveisem14,9%, corticos-teroidesem5,3%,imunossupressoresequimioterápicosem 1,6%eanticoagulantesem1,4%daamostraestudada(tabela 1).
Tabela 1 Variáveis demográficas, antropométricas e clínicas
Variáveis n %
Sexo
Feminino 316 64,4
Masculino 175 35,6
Idade
18-59anos 275 56
≥ 60anos 216 44
Índicedemassacorporal
Baixopeso 11 2,2
Eutrófico 150 30,5
Sobrepeso 188 38,3
ObesidadegrauI,IIeIII 142 28,9
Doenc¸asassociadas
Sim 350 71,3
Não 141 28,7
Duasoumaisassociadas 157 32
HAS 246 50,1
DM 56 11,4
Tabagismo
Fumante 54 11
Nãofumante 437 89
Usodemedicac¸ão
Sim 380 77,4
Não 111 22,6
Classificac¸ãofuncional(MET)
<4METs 59 12
≥4METs 322 65,6
≥ 10METs 110 22,4
Classificac¸ãoestadofísico(ASA)
ASAI 131 26,7
ASAII 316 64,4
ASAIII 44 9
Necessidadedeinterconsulta
Sim 33 6,7
Não 458 98,3
Doenc¸adescompensada
Sim 18 3,7
Não 473 96,3
Total 491 100
HAS,hipertensãoarterialsistêmica;DM,diabetesmelito.
doenc¸aclinicamentedescompensadaduranteaconsultade APA(tabela1).
Adistribuic¸ãodospacientes pelasespecialidades cirúr-gicasémostrada natabela 2.Ogrupo cirurgiageral foio predominante(36,5%),seguidopelaurologia(17,9%)e gine-cologia(13,8%);cercadametadedasoperac¸õesfoideporte médio(52,5%).Naamostra,amaioriadospacientes(72,7%) tinhahistória de intervenc¸ões cirúrgicas préviase apenas 4,7%relataram aocorrênciadecomplicac¸õesem procedi-mentosanestésicoscirúrgicos.
As tabelas 3 e 4 mostram a distribuic¸ão das caracte-rísticaspor faixaetária feitaà análise por meiodoteste de qui-quadrado e adotou-se um nível de significância
Tabela2 Variáveisrelacionadasaoprocedimentocirúrgico
n %
Especialidade
Cirurgiagerala 183 37,3
Urologia 88 17,9
Ginecologia 68 13,8
Oftalmologia 57 11,6
Outras 95 19,4
Portecirúrgico
Pequenoporte 164 33,4
Médioporte 258 52,5
Grandeporte 69 14,1
Procedimentocirúrgicoprévio
Sim 356 72,5
Não 135 27,5
Complicac¸õesanestésico-cirúrgicasprévias
Sim 23 4,7
Não 468 95,3
Total 491 100
a Cirurgiageral compreendeos procedimentos cirúrgicosda
cirurgiageral,cirurgiadoaparelhodigestivoecoloproctologia.
de p ≤ 0,05. Foram encontradas diferenc¸as significativas para sexo,com maiorconcentrac¸ão demulheres na faixa maisidosa(p<0,001);doenc¸asassociadas,que predomina-ram nafaixadosidosos(p<0,001),assimcomotabagismo (p=0,006), usode medicac¸ão (p<0,001), MET(p<0,001), ASA (p<0,001), especialidade cirúrgica (p<0,001), porte cirúrgico (p=0,016) e procedimento cirúrgico prévio (p=0,022). As tabelas 5 e 6 mostram a distribuic¸ão das características por sexo. Encontrou-se predomínio de mulheresnafaixadeobesidade(p=0,007)enousocontínuo demedicac¸ão(p=0,013);dehomensnogrupodetabagistas (p<0,001)etambémdehomensnaclassificac¸ãofuncional MET≥10(p<0,001).Tambémhouvediferenc¸asignificativa entre ossexos na distribuic¸ão por especialidade cirúrgica (p<0,001),comosexofemininomaisfrequentenas espe-cialidadesdeginecologiaeoftalmologiaeomasculinomais frequentenaurologia,alémdepredomíniodosexofeminino nohistóricodeprocedimentoscirúrgicosprévios(p=0,039) enascomplicac¸õesanestésico-cirúrgicas(p=0,045).
Discussão
Os objetivos primários da avaliac¸ão pré-anestésica são promover a seguranc¸a em cirurgia e anestesia por meio da reduc¸ão da morbidade e da mortalidade cirúrgicas, além de melhorar a qualidade de atendimento e redu-zircustosdoscuidadosperioperatórios.Estudosconduzidos na Austrália2,17 mostraram que 14% das complicac¸ões
anestésico-cirúrgicas e 39% das mortesatribuídas à anes-tesia estavam inequivocamente associados à avaliac¸ão pré-operatóriainsuficientee/ouinadequada.
Tabela3 Distribuic¸ãodascaracterísticasantropométricaseclínicasporfaixaetária
Características Faixaetária Totaln(%) p-valor
18-59anos n(%)
≥ 60anos n(%)
Sexo <0,001
Feminino 195(70,9) 121(56,0) 316(64,4)
Masculino 80(29,1) 95(44,0) 175(35,6)
IMC 0,285
Baixopeso 6(2,2) 5(2,3) 11(2,2)
Eutrófico 82(29,8) 68(31,5) 150(30,5)
Sobrepeso 98(35,6) 90(41,7) 188(38,3)
ObesidadegrauI,II,III 89(32,4) 56(24,6) 142(28,9)
Doenc¸asassociadas <0,001
Não 113(41,1) 28(13,0) 141(28,7)
Uma 103(37,5) 90(41,7) 193(39,3)
Duasoumais 59(21,5) 98(45,4) 157(32,0)
HAS 95(34,5) 151(69,4) 246(50,1) <0,001
DM 18(6,5) 38(17,6) 56(11,4) <0,001
Tabagismo 0,006
Fumante 33(12,0) 21(9,7) 54(11)
Nãofumante 242(88,0) 195(90,2) 437(89)
Usodemedicac¸ão <0,001
Sim 193(70,2) 187(86,6) 380(77,4)
Não 82(29,8) 29(13,4) 111(22,6)
Classificac¸ãofuncional(MET) <0,001
<4METs 10(3,6) 49(22,7) 59(12,0)
≥ 4METs 165(60,0) 157(72,7) 322(65,6)
≥ 10METs 100(36,4) 10(4,6) 110(22,4)
Classificac¸ãoestadofísico(ASA) <0,001
ASAI 105(38,2) 26(12,0) 131(26,7)
ASAII 154(56,0) 162(75,0) 316(64,4)
ASAIII 16(5,8) 28(13,0) 44(9)
Necessidadedeinterconsulta 0,182
Sim 14(5,1) 19(8,9) 33(6,7)
Não 261(94,9) 197(91,2) 458(98,3)
Doenc¸adescompensada 0,576
Sim 10(3,6) 8(3,7) 18(3,7)
Não 265(96,4) 208(96,3) 473(96,3)
Total 275(100) 216(100) 491(100)
HAS,hipertensãoarterialsistêmica;DM,diabetesmelito. Emnegrito,resultadoestatisticamentesignificativo.
desempenho.18---20 No HUGG,a APA ambulatorial tem sido
feitahá20anospeloSANE.Pesquisassobreavaliac¸ão pré--anestésicadopontodevistadoperfilepidemiológicodos pacientescirúrgicossãoescassastantonaliteraturamédica brasileiraquantonainternacional, demodoqueamaioria dosestudosenfocaaanálisederesultadosdaimplantac¸ão declínicasdeavaliac¸õespré-operatóriasambulatoriais.19,20
A predominância do sexo feminino (65%) na presente amostra é semelhante à observada no país conforme o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)de2010.21Aexplicac¸ãoresidenomaiorquantitativo
dapopulac¸ão feminina brasileira, além dapredominância de mulheres na faixa etária mais elevada. Essa caracte-rística representa aquilo que é chamado de processo de feminizac¸ão do envelhecimento,22 comportamento
expli-cado pelofatode amortalidade masculina sersuperior à feminina,assimcomopelamaiordemandaemaiorusodos servic¸osdesaúdepelasmulheres.23
Emboraafaixade18-59anostenharepresentadoa maio-riadospacientes(55,9%),semelhantementeaoidentificado noestudo deGusman18 em hospitaluniversitáriode
Tabela4 Variáveisrelacionadasaoprocedimentocirúrgicoclassificadodeacordocomafaixaetária
Variáveisrelacionadasao procedimentocirúrgico
Faixaetária Total
n(%)
p-valor
18-59anos n(%)
≥ 60anos n(%)
Especialidade <0,001
Cirurgiagerala 108(39,3) 71(32,9) 183(37,3)
Urologia 33(12,0) 55(25,5) 88(17,9)
Ginecologia 56(20,4) 12(5,6) 68(13,8)
OftalmologiaOutras 8(2,9) 49(22,7) 57(11,6)
Outras 66(24,0) 29(13,4) 95(19,4)
Portecirúrgico 0,016
Pequenoporte 77(28,0) 87(40,3) 164(33,4)
Médioporte 157(57,1) 101(46,8) 258(52,5)
Grandeporte 41(14,9) 28(13,0) 69(14,1)
Procedimentocirúrgicoprévio 0,022
Sim 189(68,7) 167(77,3) 356(72,5)
Não 86(31,3) 49(22,7) 135(27,5)
Complicac¸õesanestésico-cirúrgicasprévias 0,275
Sim 11(4) 12(5,6) 23(4,7)
Não 264(96) 204(94,4) 468(95,3)
Total 275(100) 216(100) 491(100)
aCirurgiageralcompreendeosprocedimentoscirúrgicosdacirurgiageral,cirurgiadoaparelhodigestivoecoloproctologia.
Emnegrito,resultadoestatisticamentesignificativo.
umíndiceexpressivonaamostraestudada(44,1%).Talfato exprimeoverificadonasúltimasdécadasnopaís,ouseja,a reduc¸ãoprogressivanataxadecrescimentopopulacionale alterac¸õesnaestruturaetáriademonstrada,dentreoutros fatos,peloaumentodapopulac¸ãode pessoasidosas. Esse processodeenvelhecimentopopulacionalidentificadopelo estreitamentodabaseepeloalargamentodotopoda pirâ-mideetáriaéconfirmadopeloúltimocensopopulacionalde 2010.21Essaobservac¸ãoimplicanecessidadedepreparodos
profissionaisdesaúdeedasinstituic¸õesparaoatendimento cadavezmaiordessegrupodepacientes.
O processo de envelhecimento dapopulac¸ão brasileira temmodificadooseuperfilepidemiológico,demodoa pas-sara existirelevac¸ão dataxa demortalidade pordoenc¸as crônicas não transmissíveis em detrimento das doenc¸as infecto-parasitárias.Oaumentodaprevalênciadasdoenc¸as crônicas traz consigo a necessidade de tratamentos con-tínuos e aumento da ocorrência de graus variáveis de disfunc¸õesedependências,o quetrazimplicac¸õesdiretas noatendimentodopacientecirúrgico.Talfatoéde relevân-ciasignificativaparaasdemandassociaiseosgastospúblicos comsaúde,seguindoassimastendênciasverificadasem paí-sesemestágios maisavanc¸ados datransic¸ão demográfica. Portanto,umaagendadepesquisanaáreadecuidado hos-pitalar,qualidadedeatendimentoegastosemsaúdedeve buscarencontrarainfraestruturahospitalaradequadapara absorveressamudanc¸a populacional,temdeconsiderara necessidadedeinstalac¸õesfísicaseconsiderandoformac¸ão ealocac¸ãoderecursoshumanosbaseadosnacomplexidade dosproblemasedogrupoetárioquetendeaprevalecernas próximasdécadas.
A avaliac¸ão doIMC permitiuidentificar umpredomínio dosgruposclassificadoscomosobrepeso(35%)eobesidade
(28,9%),compredomíniodemulheresnessesgrupos,oque seassemelhaemparte aoreferidonaavaliac¸ãofeitapelo IBGE,24 na qual o excesso de peso (IMC ≥ 25 kg.m−2) foi
diagnosticado em 50% dos homens e 48% das mulheres e o diagnóstico de obesidade (IMC ≥ 30 kg.m−2) foi
encon-trado em 12,5% dos homens e em 16,9% das mulheres. Tantooexcessodepesocomoaobesidadeaumentaramde frequênciacoma idadeatéafaixade45-54 anosparaos homens e 55-64 anos para mulheres, declinando a partir daí,diferentementedoobservadonesteestudo,noqualnão houve diferenc¸a estatísticaao seanalisar o IMC porfaixa etária. Achados semelhantes foram descritos pelo Vigitel Brasil2013 (Vigilânciadefatoresderisco eprotec¸ãopara doenc¸ascrônicasporinquéritotelefônico),25 deformaque
nacomparac¸ãodosúltimosinquéritosdoIBGE24a
frequên-ciadepessoascomexcessodepesoaumentouemmaisde um pontopercentual ao ano,o que apontapara a possi-bilidade de que em cerca de 10 anos o excesso de peso poderá alcanc¸ar dois terc¸os dapopulac¸ão adulta do Bra-sil.
A obesidade é um dos principais problemas de saúde públicaem âmbito mundial,com tendênciacrescentenos últimosanos.Essacondic¸ãoestáassociadaaumaumentoda mortalidadeeéumdosprincipaiscomplicadoresnocontrole dasdoenc¸ascrônicasnãotransmissíveis(DCNT),emespecial asdoenc¸as cardiovascularese o diabetes, situac¸ões essas muito prevalentes nos pacientescirúrgicos. Além disso, é sabidoque é a obesidadeé umimportante fator derisco paracomplicac¸õespós-operatórias,principalmente respira-tóriaseinfecciosas.26Esseachadoimplica,paraessegrupo
Tabela5 Distribuic¸ãodascaracterísticasantropométricaseclínicasporsexo
Características Sexo Totaln(%) p-valor
Feminino n(%)
Masculino n(%)
Faixaetária <0,001
18a59anos 195(70,9) 80(29,1) 275(56)
≥ 60anos 121(56,0) 95(44) 216(44)
IMC 0,007
Baixopeso 8(2,5) 3(1,7) 11(2,2)
Eutrófico 82(25,9) 68(38,9) 150(30,5)
Sobrepeso 118(37,3) 70(40,0) 188(38,3)
ObesidadegrauI,II,III 108(34,2) 34(19,5) 142(28,9)
Doenc¸asassociadas 0,692
Não 87(27,5) 54(30,9) 141(28,7)
Uma 123(38,9) 70(40) 193(39,3)
Duasoumais 106(33,6) 51(29,2) 157(32)
HAS 162(51,3) 834(47,4) 246(50,1) 0,236
DM 34(10,8) 22(12,6) 56(11,4) 0,321
Tabagismo <0,001
Fumante 29(9,2) 25(14,3) 54(11,0)
Nãofumante 287(90,8) 150(85,7) 437(89,0)
Usodemedicac¸ão 0,013
Sim 255(80,7) 125(71,4) 380(77,4)
Não 61(19,3) 50(28,6) 111(22,6)
Classificac¸ãofuncional(MET) <0,001
<4METs 31(9,8) 28(16) 59(12)
≥ 4METs 231(73,1) 91(52) 322(65,6)
≥ 10METs 54(17) 56(32) 110(22,4)
Classificac¸ãoestadofísico-ASA 0,151
ASAI 82(25,9) 49(28) 131(26,7)
ASAII 211(66,8) 105(60) 316(64,4)
ASAIII 23(7,3) 21(12,0) 44(9)
Necessidadedeinterconsulta 0,633
Sim 20(6,3) 13(7,4) 33(6,7)
Não 296(94,9) 153(91,2) 458(98,3)
Doenc¸adescompensada 0,474
Sim 11(3,5) 7(4,2) 18(3,7)
Não 305(96,5) 168(95,8) 473(96,3)
Total 316(100) 175(100) 491(100)
HAS,hipertensãoarterialsistêmica;DM,diabetesmelito. Emnegrito,resultadoestatisticamentesignificativo.
atentarminimizarasconsequênciasadversaspassíveis de ocorrer.
Nopresenteestudo,71,3%dospacientesavaliados apre-sentavam doenc¸a associada, sendo que 32% do total da amostratinhamduas oumais.Dentre asmaisprevalentes estão aHAS, presente nametade doscasos, e odiabetes melito, de modo que apenasessas duas são responsáveis por 61,5% das doenc¸as crônicas associadas. A prevalência dedoenc¸asassociadasfoimaiornosidosos,conforme discu-tidoanteriormente,massemdiferenc¸aestatísticaporsexo. AsDCNTsãoumdosmaioresproblemasdesaúdepúblicada atualidadeeestimativasdaOrganizac¸ãoMundialdeSaúde (OMS) indicam que elas são responsáveis por 63% de 36
milhões de mortesocorridas nomundo em 2008.29 Séries
históricasdeestatísticasdemortalidadedisponíveisparaas capitaisdosestadosbrasileirosindicamqueaproporc¸ãode mortespor DCNT aumentou em maisde três vezes entre 1930e2006.24
APesquisaNacionaldeSaúde201327indicaqueasDCNT
Tabela6 Variáveisrelacionadasaoprocedimentocirúrgicoclassificadasdeacordocomosexo
Variáveisrelacionadasao procedimentocirúrgico
Sexo Total
n(%)
p-valor
Femininon(%) Masculinon(%)
Especialidade <0,001
Cirurgiagerala 115(36,4) 68(38,8) 183(37,3)
Urologia 26(8,2) 62(35,4) 88(17,9)
Ginecologia 68(21,5) 0(0) 68(13,8)
Oftalmologia 44(13,9) 13(7,4) 57(11,6)
Outras 63(25,4) 32(13,3) 95(19,4)
Portecirúrgico 0,101
Pequenoporte 112(35,4) 52(29,7) 164(33,4)
Médioporte 167(52,8) 91(52) 258(52,5)
Grandeporte 37(11,7) 32(18,3) 69(14,1)
Procedimentocirúrgicoprévio 0,039
Sim 189(68,7) 167(77,3) 356(72,5)
Não 78(24,7) 57(32,6) 135(27,5)
Complicac¸õesanestésicascirúrgicasprévias 0,045
Sim 19(6) 4(3,3) 23(4,7)
Não 297(94) 171(97,7) 468(95,3)
aCirurgiageralcompreendeosprocedimentoscirúrgicosdacirurgiageral,cirurgiadoaparelhodigestivoecoloproctologia.
Emnegrito,resultadoestatisticamentesignificativo.
graudelimitac¸ãodaspessoasdoentesemsuasatividadesde trabalhoedelazer.
Ainda segundo a PNS 2013, a proporc¸ão de indivíduos de18 anosou maisque referemdiagnóstico de hiperten-são arterial no Brasil foi de 21,4%, o que corresponde a 31,3milhõesdepessoas,commaiorproporc¸ãodemulheres (24,2%)relativamenteahomens(18,3%).27Nesseinquérito,
dototaldepessoasentre60e64anos,44,4%referiram diag-nósticodehipertensão,proporc¸ãoqueerade52,7%entreas pessoasde65-74anosede55%entreaspessoasde75anos oumais,dadosmuitosemelhantesaosencontradosno Vigi-tel2013.25 Napresentepesquisafoiencontradoque50,1%
dospacientesapresentavamHAS,semdiferenc¸aestatística naanáliseporsexo.Possivelmenteissoéreflexodonúmero deidososnapopulac¸ãoestudada,naqualataxadeDCNTe, dentreelasaHAS,ésuperioràdapopulac¸ãogeral.
AHASéosegundofatorderiscomaiscomumassociado àmorbidadecirúrgica.Apráticaclínicadeadiaraoperac¸ão pormotivodehipertensãogravenãocontroladaéligadaa umestudoclássicoquemostrouqueahipertensãoestá asso-ciadaacomplicac¸õescardiovascularesnoperioperatório.30
Numa revisão sistemática com metanálise de 30 estudos observacionais,31 foiidentificado queexistepouca
evidên-cia de que pressão sistólica menor do que 180 mmHg e diastólica menor do que 110 mmHg estejamassociadas a complicac¸ões perioperatórias. Portanto,é consenso entre a maioria dos autores que graus moderados de hiperten-são(até180×110mmHg),semlesãopréviaemórgãoalvo, nãodevamsercausadeadiamentooususpensãocirúrgicas. Para hipertensãograve, os benefícios de adiaro procedi-mentopara controlepressórico devemser pesadoscontra osriscosdoadiamentodaoperac¸ãocurativa.Deve-se sem-preteremvistaqueotempodeaprimoramentodapressão arterialdeveserrespeitado,deve-seevitarcorrec¸ões súbi-tase assegurarumacompanhamento clínicoadequado no
pós-operatório.32 Outro desafioqueessamorbidade impõe
éacorretaidentificac¸ãoemensurac¸ãodepossíveislesões emórgãosalvoemorbidadesassociadas,comodoenc¸a coro-narianaoculta,insuficiênciacardíacacongestiva,hipertrofia e/ousobrecargaventricularesquerda,doenc¸a ateroscleró-ticacerebralecomprometimentodafunc¸ãorenal.Enquanto queaHASisolada,nãocontrolada,éconsideradafatorde riscomenor,16quandoacompanhadadehipertrofiaou
sobre-cargaventricularesquerdaésabidamenteumfatorderisco cardiovascularindependente.33
Nestaamostraaocorrênciadepacientescomquadrode hipertensãodescompensada(acimade180×110mmHg)foi muito baixa, mas, em vista do acima exposto, acredita--sequeé naavaliac¸ãopré-operatóriaambulatorialquese deve identificar e tratar o paciente nessa condic¸ão por meio de interconsultas de clínica médica e/ou cardiolo-gia e orientac¸ão adequada quanto à obediência estrita à prescric¸ão medicamentosa. Além disso, é nesse momento queumaavaliac¸ãocriteriosadepossíveislesõesemórgãos alvo permite uma correta estratificac¸ão do risco cardio-vascular e planejamento da conduta anestésica cirúrgica perioperatória.
Segundo Sartorelli,34 a prevalência do diabetes melito
tipo 2 tem aumentado de forma exponencial, par-ticularmente nos países em desenvolvimento. Já nas nac¸õesdesenvolvidas,oaumentoocorreprincipalmentena populac¸ão de maior faixa etária, de modo que no grupo populacionalde45-64 anosa prevalênciadeverátriplicar, enquantoquenasfaixasetáriasde20-44e65emaisanos há expectativadeduplicar. DeacordocomaVigitelBrasil 2013,25 afrequênciadodiagnóstico médicopréviode
dia-betes foide6,9%, de6,5% entrehomense de 7,2%entre mulheres.SegundoaPNS2013,27 6,2%dapopulac¸ão
resultados obtidos na nossapopulac¸ão mostramuma pre-valênciade11,5%,tambémcompercentuaismaisaltosna faixadosidosos(17,6%)esemdiferenc¸aestatísticaentreos sexos.ComooDMéumpreditorimportantedemorte pós--operatóriaeadoenc¸aisquêmicadocorac¸ãoacausamais comum de morbidade pós-operatória nesses pacientes,35
é necessária uma rigorosa avaliac¸ão pré-operatória, que envolvesemprequenecessárioainterconsultacomo espe-cialista.
Os dados obtidos nesta pesquisa, quando comparados comosencontradospelaPNS2013referentesà hipercoleste-rolemia(8,1%vs.12,5%),ocorrênciadeasma(5,1%vs.4,4%) ecardiopatias(5,2%vs.5,0%),mostram-sesimilares.
Amaioriadospacientes(77,4%)fazusodemedicac¸õesde formacontínua.Essacircunstânciatrazimplicac¸õesdiversas noperíodoperioperatório,como, porexemplo, a necessi-dade deexames complementares, que deoutra feitanão seriamsolicitados.Alémdisso,ousodealgumasmedicac¸ões poderepresentarriscodeinterac¸ãocomosfármacos anesté-sicos.Aocorrênciadessetipodeeventodependedefatores comootempodeusodomedicamento,aidadeeopesodo pacienteeaconcomitânciacominduc¸ãoenzimática,entre outros.36
Durante a APA, identificado o uso continuado de qual-quer medicac¸ão,a condutademanter, retirar outrocaro medicamentodeveráserpautadanaavaliac¸ãocasoacaso, oque, porvezes,requera interac¸ãocomoutra especiali-dade médica. Faz-se necessário chamara atenc¸ão parao fatodequenesteestudo,porseraHASadoenc¸aassociada maisfrequente,tambémofoiousodeanti-hipertensivos. Entreesses,osinibidoresdaenzimaconversorada angioten-sina(IECA)eosbloqueadoresdosreceptoresdaangiotensina II (BRA) foram os mais usados (36,8%), seguidos pelos diuréticos (25,5%). Tais medicac¸ões são alvo de recentes controvérsiasquantoàsuamanutenc¸ãonoperioperatório.37
Issosedeveaofatodeseremaindainsuficientesas evidên-ciasque permitamdefinirque grupos depacientesouem quaisoperac¸õeshaveriabenefícioounãodainterrupc¸ãodo usodeinibidoresdaIECAeBRAnoperíodoperioperatório.
Dentre ospacientesestudados,11% disseramfazer uso detabaco,oshomenscomumpercentualmaiordoqueas mulheres(14,3%vs.9,2%).SegundoaPNS2013,27 a
preva-lênciadeusuáriosatuaisdeprodutosderivadosdetabaco, fumado ou não fumado, de uso diário ou ocasional, foi de15%,tambémcompercentualmaiselevadodeusuários entreoshomens(19,2%)doqueentreasmulheres(11,25%), resultadopróximoaorelatadonesteestudo.Outrosestudos comresultadossimilares sãooVigitel2013,27 que no
con-juntodas27cidades pesquisadasencontroufrequênciade fumoemadultosde11,3%;eaindaumapesquisaconduzida noHospitalUniversitáriodaUniversidadeFederaldeSanta Catarinaqueencontrouprevalênciadetabagismode18,7% dapopulac¸ão estudada.28 Dado o fatodeo tabagismo ser
umimportantefatorderiscoparaoaparecimentode diver-sas doenc¸as de natureza crônica, esse hábito se mantém comolíderglobal entreascausasdemortesevitáveis.29 É
inconteste que acircunstância descrita acima é demaior relevância entre os pacientes candidatos ao tratamento cirúrgico.
O emprego do índice de atividade de Duke14 revelou
que a minoria dos pacientes (12,6%) apresentava capaci-dadefuncionalruim(MET<4).Particularmentenessegrupo
é descrito o aumento do risco cardíaco perioperatório.32
Em estudo com 600 pacientes submetidos a cirurgias não cardíacas, a isquemia miocárdica perioperatória e outras complicac¸õescardiovascularesforammaiscomunsnaqueles pacientescomcapacidadefuncionalabaixode4MET,mesmo apósajustedeoutrosfatoresderisco.32Acategorizac¸ãoda
capacidadefuncionalfeitaparatodosospacientesdurante aAPAtemporobjetivonortearaescolhadoregime cirúr-gico, a opc¸ão da técnica e agente anestésicos, o tipo de monitorac¸ão intraoperatória e nível de vigilância pós--operatória.
Nesta pesquisa, o estado físico mais frequente foi o ASA II, o que significa que a maioria dos pacientes
apresentavadoenc¸asistêmicamoderada,semlimitac¸ão fun-cional.OpredomíniodepacientescomestadofísicoASAII tambémfoiobservadoemoutrosestudosdeavaliac¸ão pré--operatória.18-20Aoseanalisaressavariávelporfaixaetária
vê-seumpredomíniodosidosostanto naclassificac¸ãoASA IIcomona ASAIII.Issoconfirmaser essegrupoo mais
pre-valentenodiagnósticodedoenc¸asassociadasmoderadasou graves,compensadasounão.
Nossoresultadodeapenas6,7%depacientesdaamostra que necessitavamde interconsultas com outras especiali-dadesmédicas difere dos dadosdo estudo conduzido por Bisinotto,20 o qual evidenciou que 11,9% da populac¸ão
estudadaapresentavamdescompensac¸ãoclínicae,por con-seguinte, necessitavam de interconsultas, principalmente noâmbito dacardiologia. Acreditamosqueessa diferenc¸a sedeva à baixa frequência(3,7%) de pacientes com esse quadronanossaamostra.
Nos EUA, a populac¸ão idosa representa 20%-40% dos procedimentoscirúrgicos,50%das operac¸õesde emergên-cia e 75% da mortalidade cirúrgica.38 A morbidade do
idoso em cirurgia eletiva varia de10%-58%; essa variac¸ão decorre da ausência de definic¸ões uniformes quanto ao conceito de complicac¸ão, variabilidade dos procedimen-tos operatórios efetuados e na não divisão proporcional dos indivíduos por faixa acima de 60 anos.38 A
mortali-dade e a morbidade em operac¸ão eletiva tem declinado nasúltimasdécadasemrazão demelhoriasna seguranc¸a, nas técnicasanestésicas e cirúrgicas e na avaliac¸ão e no cuidado pré-operatórios.38 Existe consenso de que nessa
populac¸ãoamortalidadeeamorbidadecirúrgicasnãoestão relacionadas à idade, e sim aos aspectos fisiológicos do envelhecimento e à sua resposta à agressão cirúrgica. A presenc¸adedoenc¸asassociadaspreexistenteseagravidade da afecc¸ão cirúrgica básica tornam a avaliac¸ão e o cui-dadopré-operatóriosachaveparaosucessonaatenc¸ãoao idosocirúrgicoenaprevenc¸ãoenotratamentodepossíveis complicac¸ões.
Napopulac¸ãodesteestudo,ogrupopredominantefoio denominadocirurgiageral,seguidodaurologia,ginecologia e oftalmologia. Ao analisarmos asvariáveis cirúrgicas em relac¸ãoàfaixaetáriaesexo,foiencontradopredomíniodos idososnasoperac¸õesdepequenoporteenasespecialidades deoftalmologia e urologia; demulheres na ginecologia e oftalmologiaedehomensnaurologia.Essesachadosestão deacordo com o encontrado na literatura, qualseja que asdoenc¸ascirúrgicasmaiscomunsnosidosossãoas oftal-mológicas,urológicas,ortopédicaseafecc¸õescirúrgicasdo aparelhodigestivo.38 Em relac¸ãoa procedimentocirúrgico
numeroso,oqueconfirmaoaumentocrescentedessegrupo nototaldeprocedimentoscirúrgicosnomundo.38
Por nãoser obrigatório o encaminhamentodos pacien-tes candidatos a tratamento cirúrgico eletivo à avaliac¸ão pré-anestésicanoHUGGeporseracapacidadede atendi-mentodoAmbulatóriodeAPAinferioràdemandacirúrgica dessehospital,acreditamosqueaprincipallimitac¸ãodeste estudosedeva aofatodequepodeexistirumatendência deencaminhamentopeloscirurgiõesdepacientesmais ido-soscomdoenc¸ascrônicasassociadasecandidatosacirurgia demaiorporteao ambulatóriodeAPA,em detrimentode pacientesmaisjovens,deoperac¸õesdemenorporteesem históriade doenc¸asassociadas. Nessesentido,cabe refle-tirsobreapossibilidadedefuturamenteserpadronizadoo procedimentodeAPAtambémnesseaspecto,comtodosos pacientescirúrgicosdohospitalavaliadosinloco.
Conclusão
Amaioriados pacientesencaminhadosàAPA ambulatorial doHUGG/UNIRIO foi do sexofeminino, na faixa de18-59 anos,comsobrepeso, comgrandeprevalência dedoenc¸as associadas,emusodemedicac¸ãodeformacontínuaesem descompensac¸ão clínica. Em relac¸ão ao estado físico e à capacidadefuncional,amaioriadapopulac¸ãoestudadafoi classificadacomoASAIIeMET≥4.Aanálisedas caraterís-ticasporfaixaetáriamostrouque osidososapresentaram maisdoenc¸asassociadaseusocontínuodemedicac¸ão,além de predomínio de classificac¸ão de estado físico ASA II e III.Essesresultadospoderãosubsidiar oplanejamentodos cuidadosperioperatórioseaatuac¸ãodaequipe multidisci-plinar,permitindo melhorara qualidadee a seguranc¸a no atendimentoaospacientessubmetidos acirurgiaseletivas nohospitaldoestudo.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse
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