UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA
FABÍOLA PEREIRA RODRIGUES FIGUEIRA
A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA
FABÍOLA PEREIRA RODRIGUES FIGUEIRA
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).
Orientadora: Profa. Dra. Annita Gullo
A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UM ESTUDO DE VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA
Fabíola Pereira Rodrigues Figueira
Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).
Examinada por:
_________________________________________________
Presidente, Profa. Doutora Annita Gullo
_________________________________________________
Profa. Doutora Maria Franca Zuccarello - UERJ
_________________________________________________
Profa. Doutora Maria Lizete dos Santos - UFRJ
_________________________________________________
Profa. Doutora. – Jaci Correia Fernandes - FE/UFRJ, Suplente
_________________________________________________
Prof. Doutor – Carlos da Silva Sobral – UFRJ,Suplente
FICHA CATALOGRÁFICA
FIGUEIRA, Fabíola Pereira Rodrigues
A língua da malavita em Certi Bambini de Diego de Silva: um estudo de variação e usos da língua italiana. / Fabíola Pereira Rodrigues Figueira – Rio de Janeiro: UFRJ / FL 2011.
137 f. :30cm
Orientadora: Annita Gullo
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011.
Referências Bibliográficas: f. 134-137
RESUMO
A LÍNGUA DA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UM ESTUDO DA VARIAÇÃO E USOS DA LÍNGUA ITALIANA
Fabíola Pereira Rodrigues Figueira
Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguisticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).
A presente pesquisa tem como objetivo um estudo de variação e usos da língua italiana, com foco especial na língua da malavita, no romance Certi Bambini do escritor italiano contemporâneo Diego De Silva. A obra, ambientada na periferia de Nápoles tendo como protagonista principal Rosario, um menino de onze anos, envolvido com a camorra (a máfia napolitana ), propicia um estudo do mosaico linguístico e cultural da Itália atual. O autor passa do italiano culto/standard ao dialeto napolitano e à língua da malavita, refletindo assim a relação diglóssica da língua. Para tratar a questão da evolução e situação linguística italiana nos apoiamos em Tullio de Mauro; os conceitos de Língua, língua standard, variação linguística e dialeto à Gaetano Berruto e no tocante aos usos do italiano contemporâneo recorremos aos estudos de Sobrero e Coveri.
PALAVRAS - CHAVE : Língua Italiana. Variação e Uso. Dialeto Napolitano. Diglossia. Certi Bambini de Diego de Silva
RIASSUNTO
LA LINGUA DELLA MALAVITA EM CERTI BAMBINI DE DIEGO DE SILVA: UNO STUDIO DI VARIAZIONI E USI DELLA LINGUA ITALIANA.
Fabíola Pereira Rodrigues Figueira
Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo
Riassunto da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguisticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).
La presente ricerca ha come obbietivo uno studio di variazione e usi della lingua italiana, con una particolare attenzione alla lingua della malavita, nel romanzo Certi Bambini dello scrittore italiano contemporaneo Diego de Silva. L’opera, ambientata nella periferia di Napoli ha come protagonista principale Rosario, um bambino di undici anni, fa parte della camorra (la mafia napoletana), offre al lettore un mosaico linguistico e culturale dell’Italia attuale. L’autore passa dall’italiano standard al dialetto napoletano e alla lingua della malavita, riflettendo così la relazione diglossica della lingua. Per lo studio della questione dell’evoluzione della situazione linguistica italiana ci sosteniamo su Tullio de Mauro; i concetti di lingua, lingua standard, variazione linguistica e dialetto a Gaetano Berruto e per quanto riguarda le variazioni e .gli usi dell’italiano contemporaneo ci appoggiamo agli studi di Sobrero e Coveri.
PAROLE CHIAVI: Lingua italiana. Variazione e uso. Dialetto napoletano. Diglossia. Certi Bambini de Diego de Silva.
ABSTRACT
THE MALAVITA LANGUAGE IN CERTI BAMBINI OF DIEGO DE SILVA: A STUDY OF VARIATION AND USAGES OF THE ITALIAN LANGUAGE.
Fabíola Pereira Rodrigues Figueira
Orientadora: Professora Doutora Annita Gullo
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguisticos Neolatinos, opção: Língua Italiana).
This paper has as objective a study of variation and usage of Italian language, specially focused on the malavita language, in Certi Bambini novel of the contemporaneous Italian writer Diego da Silva. The work, placed in Napolitano outskirts has as its main character Rosario, an eleven year old boy, involved with Camorra (the Napolitan mafia), permits a study of the linguistic mosaic and cultural of the actual Italy. The author goes from the Italian formal/standard to the Napolitan dialect and to the malavita language, reflecting this way the diglossic relation of the language. To deal with the question of the evolution and the Italian linguistic situation we have based on Tullio de Mauro; Language, language standard, linguistic variation, and dialect by Gaetano Berruto and in the use of contemporaneous Italian we got the studies of Sobrero and Coveri.
KEY WORDS: Italian Language, Variation and Use. Napolitano dialect. Double meaning. Certi Bambini of Diego de Silva
Agradecimentos
A Deus, porque sem Ele nada disso.
A minha mãe, pela sua ternura e bravura.
Ao meu pai, por ter lutado e trabalhado com honestidade e dedicação para criar a mim e meus irmãos.
Ao Elton Rodrigues, por ser irmão. E porque de interlocutor de textos adolescentes, passou a interlocutor intelectual.
Ao Felipe Rodrigues, por ser irmão. E por ter sido meu primeiro aluno de italiano.
A minha saudosa avó Elza Machinez, que não pôde ver meu ingresso no mestrado, mas que sempre me apoiou nas coisas mais importantes da minha vida, dentre as quais meus estudos.
A Cristiane Menezes, Lucia Tailine e Viviane Fernandes. As irmãs que eu escolhi.
A Pierfausta Portella, pela amizade e pela disposição em ajudar sempre.
A Janaina Castro e Lorena Neri pelo carinho e pelo apoio.
Ao Carmine Cassino, por ter me apresentado o romance Certi Bambini, que se tornaria o corpus da minha pesquisa. Agradeço ainda pela ajuda nas traduções dos diálogos apresentados em napolitano na obra de De Silva.
E ainda:
A Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A Professora Doutora Annita Gullo, por ter sido uma orientadora compreensiva e generosa. Agradeço sua infinita paciência durante todo o trabalho que desenvolvemos. E a sua orientação construtiva e transformadora.
A todos os professores que passaram pela minha jornada na UFRJ, mas em especial a Professora Doutora Maria Lizete dos Santos que reencontrei nesses últimos 36 meses de mestrado e teve uma participação muito especial neste percurso.
Ao Diego de Silva, autor de Certi Bambini, que tive a felicidade de conhecer no final deste percurso. Agradeço pela atenção, pela cordialidade e pela gentileza. Agradeço ainda pela entrevista concedida.
A Profa. Doutora Maria Franca Zuccarello, a Profa. Doutora Maria Lizete dos Santos, a Profa. Doutora Jaci Correia Fernandes e ao Prof. Doutor Carlos da Silva Sobral que aceitaram gentilmente participar desta banca.
A colega de mestrado e amiga Daniele Soares da Silva pela parceria em artigos publicados e, em especial, pelas críticas e sugestões sempre pertinentes.
Aos colegas Cesar Casimiro, Daniele Biolchini, Daniele Neves, Izabel Costa, Luciana Nascimento e Sabrina Baptista. Importantes.
Agradeço também a todos os funcionários da Faculdade de Letras que trabalham de forma dedicada para que concluamos nossas pesquisas.
“ La nostra língua è come uma vecchia città: un labirinto di viuzze e di larghii, di case vecchie e nuove, di palazzi ampliati in epoche diverse, e , intorno , la cintura dei nuovi quartieri periferici, con strade rettilinee, regolari, e case tutte eguali... osservare una lingua significa osservare una forma di vita”1
Ludwing Wittgenstein.
1“A nossa língua é como uma velha cidade: um labirinto de vielas e largos, de casas velhas e
novas, de prédios restaurados em épocas diversas, e, em torno, o surgimento de novos bairros periféricos, com estradas retilíneas, regulares, e casas todas iguais... Observar uma língua significa observar uma forma de vida.”
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO
2- CONHECENDO DIEGO DE SILVA
2.1 - Uma breve apresentação
2.2 - PRINCIPAIS OBRAS
2.2.1 Certi Bambini
2.2.2 La Donna Di Scorta
2.2.3 Voglio Guardare
2.2.4 Da um altra carne
2.2.5 Non avevo capito niente
2.2.6 Tre Terzi
2.2.7 Mia Suocera Beve
3- UM BREVE HISTÓRICO DA LINGUA ITALIANA
3.1 A situação política italiana e a língua
3.1 Os dialetos e a língua italiana
4- LÍNGUA, LÍNGUA STANDARD, VARIEDADE DE LÍNGUA E DIALETO.
4.1 - Língua padrão e dialeto
4.2 - Diglossia
4.3 Classe social, grupo social, classe geracional.
4.4 Prestígio
4.5 Dimensões de variações
4.6 Grupos de adesão e gírias
4.7 As linguagens dos jovens
5- CERTI BAMBINI: um estudo de variação e uso da língua italiana
5.1 O Dialeto Napolitano
5.1.1 Traços da pronúncia napolitana
5.2 O dialeto napolitano X o italiano standard em Certi Bambini
5.2.1 Os substantivos
5.2.2 Artigos
5.2.2.1 Artigos definidos
5.2.3 Preposição
5.2.4 Adjetivos
5.2.4.1 Adjetivos possessivos
5.2.5 Pronomes
5.2.5.1 Pronomes pessoais
5.2.5.2 Pronomes demonstrativos
5.2.6 Advérbios
5.2.6.1 Advérbio de lugar
5.2.6.2 Advérbio de tempo
5.2.6.3 Advérbio interrogativo de lugar
5.2.6.4 Advérbio de negação
5.2.6.5 Advérbio de afirmação
5.2.7 Verbos
5.2.7.1 Verbos auxiliares
5.2.7.2 Verbos regulares
5.2.7.2 Verbos irregulares
5.3 Conclusões preliminares
6 – CONCLUSÃO
7 – REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
8 – ANEXOS:
Entrevista com Diego de Silva
1- INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como objetivo um estudo de variação e usos da
língua italiana no romance Certi Bambini do autor italiano contemporâneo
Diego De Silva. O foco principal dessa difícil empreitada é a língua da malavita
no contexto napolitano, seu caráter transgressor em confronto com os
parâmetros normativos da língua italiana standard.
O desejo de estudar o panorama linguístico italiano surgiu ainda no
curso de Especialização em Língua e Literatura Italiana, oportunidade na qual
pude aprender a questão dos dialetos na Itália, até então desconhecida para
mim. No mesmo período me foi apresentado o romance Certi Bambini, um
exemplo da diversidade de língua e cultura italiana contemporânea e que se
tornaria o corpus escolhido para a pesquisa que eu tanto desejava realizar.
Publicado em 2001 e ainda pouco conhecido no Brasil, o romance é
ambientado na periferia de Nápoles. A personagem principal da estória é
Rosario, um menino de onze anos, que faz parte de um grupo da malavita
napolitana – a camorra ( a máfia napolitana ) - um mundo paralelo onde
vigoram regras diversas.
O autor usa em sua obra uma linguagem rica e fascinante, tirada
diretamente da periferia napolitana: uma mistura de línguas e gírias que, em
muitos casos, se tornam incompreendidas pelo leitor. Como teremos
oportunidade de observar neste estudo, isso acontece, principalmente, nos
diálogos entre os meninos camorristi, pois essa é a única língua falada por
aqueles meninos e por pessoas que na vida real vivem essa mesma realidade.
diglóssica da língua. Segundo o linguísta GAETANO BERRUTO, a diglossia é
um tipo particular de bilinguismo descrito e estudado pela sociolinguística, onde
há a coexistência de dois registros linguísticos, sendo que o uso de um ou do
outro vai depender da situação comunicativa apresentada. Além disso, existe a
diferença de status político entre esses dois registros: um de maior prestígio,
no caso a língua padrão, e o outro de menor prestígio social.
Para entendermos essa realidade linguística apresentada por De Silva
no romance em questão e tratar a questão da evolução e situação linguística
italiana recorreremos ao linguista TULLIO DE MAURO; e no tocante à variação
e usos do italiano contemporâneo aos estudos de SOBRERO E COVERI.
A Dissertação será dividida da seguinte forma: No capítulo 2
apresentaremos o autor Diego De Silva e sua produção literária.
No capítulo 3 faremos um breve panorama histórico da língua italiana e
sua evolução até a unificação política e linguística da Itália.
O capítulo 4 trata a questão dos conceitos de língua, língua standard,
variação linguistica e dialeto. Ainda neste capítulo faremos um breve estudo
sobre diglossia ( BERRUTO ), classe social, grupo social, classe geracional,
prestígio, dimensões de variações, grupos de adesão e gírias e finalmente as
linguagens dos jovens, que segundo COVERI vêm de fato definidas como
“linguagens juvenis”.
No capítulo 5, faremos um estudo do corpus: primeiramente
apresentaremos um breve panorama da história do napolitano e a seguir uma
análise dos usos da língua italiana e do napolitano, com foco na língua da
em relação às escolhas linguísticas presentes no romance, tanto nos diálogos
quanto na narrativa em terceira pessoa.
O capítulo 6 contém as palavras finais, quando me despeço do leitor, e
aponto possíveis encaminhamentos para essa pesquisa.
Para que o leitor dessa Dissertação tenha a oportunidade de ser
introduzido ao texto de De Silva, e instigado à leitura de Certi Bambini, anexo
partes do romance e, também, a entrevista que me foi concedida pelo autor.
2- CONHECENDO DIEGO DE SILVA
2.3 - Uma breve apresentação
“A me piace molto che nei miei libri si senta che io sono un uomo del sud e mi piace usare una lingua come quella che io parlo.” (Diego de Silva) 2
Diego De Silva nasceu em Nápoles, em 1964. Advogado criminalista,
publicou em 1999 o seu primeiro romance La donna di scorta, que foi vencedor
de vários prêmios. Mas foi em 2001 com o romance Certi Bambini que o seu
sucesso foi consagrado. O livro ganhou o prêmio Selezione Campiello e foi
finalista dos prêmios Viareggio, Brancati, Fiesole e Bergamo. Traduzido em
seis países, o livro inspirou um filme em 2004 dirigido pelos irmãos Andrea e
Antonio Frazzi e foi vencedor do Karlovy Vary International Film Festival e do
prêmio Fassbinder European Film Academy Discovery e, ainda , foi indicado ao
Nastro d'Argento 2005 .
É um autor brilhante e versátil e foi o romance Certi Bambini que abriu
caminho para um gênero literário que fez de Nápoles e da Camorra um dos
argumentos mais queridos da narrativa italiana dos últimos anos e a prova
disso é que as suas obras foram traduzidas na Inglaterra, Espanha, Portugal,
Holanda, Alemanha e Grécia. [ Maria Cerino]
Além disso, Diego de Silva é um autor que ao mesmo tempo em que
Capito Niente, sabe ser frio, implacável, doloroso e emocionante, como em
Voglio Guardare.
Diego de Silva, geralmente, ambienta os seus romances na periferia de
Nápoles.
«Cos’è la scrittura se non la sintesi delle contraddizioni? E quando riconosci i legami con una terra è perché ne riconosci le incoerenze. Napoli è in una bolla d’inchiostro. Noi scrittori non limitiamo la città. Ne fossilizziamo l’immagine, ma le istituzioni addirittura la portano indietro» (Diego de Silva, Cafebabel). 3
De Silva publicou também Voglio guardare (2002 e 2008) , Da un altra
carne (2004 e 2009), e Non avevo capito niente (2007) ,vencedor do prêmio
Napoli e finalista ao prêmio Strega, a peça Casa Chiusa (2009) publicada com
os textos teatrais de Valeria Parrella e Antonio Pascale, Mia suocera beve
(2010). Escreveu contos para a antologia Dissertori, Crimini e Crimini Italiani e
escreveu, também, para o cinema, a TV e o teatro e é colaborador do
quotidiano Il mattino e o mensal Giudizio universale.
Contos:
• Il covo di Teresa, em Crimini, (Einuadi Stile Libero, 2004)
• Meglio dell'amore, em Disertori, (Einaudi Stile Libero, 2000)
• Nascondi le macerie, em De Andreide (Rizzoli, 2006)
• L'intervista, em Bonus tracks (Mondadori, 2007)
2 Eu gosto muito que nos meus livros percebam que eu sou um homem do sul e eu gosto de usar uma língua como àquela que eu falo.
• Non è vero, em Crimini Italiani (Einuadi Stile Libero, 2008)
• Le donne più belle si vedono negli aeroporti em Corti di carta (Corriere
della Sera, 2008)
• Il mezzo nichilismo dell'homo democraticus, em Questo terribile intricato
mondo (Einaudi, 2009)
Scripts
• Certi Bambini , direção de Andrea e Antonio Frazzi (2004)
• Ciro, epsodio de All the invisibile Children , direção de Stefano Veneruso (2005)
• Sulla mia pelle, direção de Valerio Jalongo (2005)
• I giorni dell’abbandono , direção de Roberto Faenza (2005)
• Il covo di Teresa, direção de Stefano Sollima (2006)
• Il coraggio di Angela , direção de Luciano Manuzzi (2007)
• L’ultimo Pulcinella, direção de Maurizio Scaparro (2008)
2.2 - PRINCIPAIS OBRAS
2.2.1 Certi Bambini
Começamos a descrever o romance Certi Bambini, objeto do presente
estudo, publicado em 2001 e ainda pouco conhecido no Brasil, foi vencedor de
numerosos prêmios, entre eles o Prêmio Selezione Campiello 2001, o prêmio
Brancati – Zafferana, o Fiesole, o Bergamo e foi finalista do prêmio Viareggio.
O livro foi traduzido em seis países e inspirou um filme em 2004 dirigido
pelos irmãos Andrea e Antonio Frazzi e foi vencedor do Karlovy Vary
International Film Festival e do prêmio Fassbinder European Film Academy
Discovery e, ainda , foi indicado ao Nastro d'Argento 2005 . Ambientado na
periferia de Nápoles, pode-se ver através dos olhos de um menino, um mundo
paralelo onde vigoram regras diversas. Rosario, protagonista, um menino de
onze anos, inteligente, que quer crescer e aprender. Um menino que cuida da
avó doente e que faz o bem com a mesma facilidade que faz o mal, até porque
essa diferença não lhe foi ensinada. É cruel em certas reações e sabe ser uma
criança quando menos se espera. Um menino que se envergonha da pobreza
material em que vive e deseja para si um futuro diferente daquele que o
espera. Rosario, que, como muitos meninos de sua idade, por falta de opção já
está envolvido com a camorra (a máfia napolitana) e tem uma tarefa a ser
cumprida para a mesma: matar um homem. Este é o seu primeiro homicídio.
O romance não apresenta uma ordem cronológica dos fatos. Durante
percurso no trem, relembra os momentos e fatos que o levaram até ali. O autor
usa em sua obra uma linguagem rica e fascinante, tirada diretamente das
periferias italianas, neste caso o napolitano. Usa na maioria dos diálogos, a
língua da malavita, que é a língua falada por esses meninos e por pessoas que
na vida real vivem essa realidade que é mostrada no romance: um outro lado
de Nápoles que muitos desconhecem.
Segundo De Silva, a obra nasceu da ideia de contar e denunciar o mais
grave delito que a camorra tenha cometido: o roubo da infância, isto é, tirar das
crianças a possibilidade de serem crianças, de brincar e sonhar e não, como
acontece na obra, onde crianças estão envolvidas com diversos delitos.
“Certi Bambini è nato essenzialmente dall’idea di raccontare il più grave dei delitti che la camorra abbia scelto di commettere, lo scippo dell’infanzia.” (Diego de Silva)4
2.2.2 - La Donna Di Scorta
La donna di scorta é o primeiro romance De Diego de Silva. Publicado
em 1999 pela Pequod e depois reeditado pela Einaudi em 2001. O romance
venceu o Premio Del Giovedì Marisa Rusconi e foi finalista do Prêmio
Montblanc.
A obra apresenta a estória de Lívio e Dorina, que têm um caso amoroso.
Livio é casado e tem uma filha e Dorina é solteira. Ao contrário do que seria
mais comum, Dorina é uma jovem sem questionamentos e sem pretensões,
4 Certi Bambini nasceu da ideia de contar o mais grave delito que a camorra escolheu cometer,
não quer ser a nova esposa e quer de Lívio apenas aquilo que ele pode lhe
dar. Desta maneira Dorina acaba colocando Lívio em crise pela falta de
perguntas e de outros questionamentos.
Amor, adultério, relação, amizade, o relacionamento dos dois não tem
classificação, pois os papeis são claros desde o inicio. Dorina não quer ser
uma nova esposa e por isso Lívio entra em crise. Quer tê-lo plenamente
apenas quando ele pode estar com ela, seja por poucos dias, poucas horas ou
apenas durante um almoço. Não é ela que se sente incomodada após um
encontro sexual, mas sim Lívio que se sente pequeno.
Mas esta não é apenas uma história de relacionamento ilícito. É um
olhar impiedoso sobre os desejos de cada um de nós, sobre aquilo que
buscamos e os limites dos horizontes que criamos. Sobre mil possibilidades de
encontros, de ônibus perdidos e sobre aquilo que poderia ter acontecido se
tivéssemos chegado alguns instantes depois ou se nunca tivéssemos passado
por aquelas calçadas e sobre aquilo que nem nós sabíamos que queríamos,
até que o destino colocasse diante de nós.
A paixão de Dorina é auto-suficiente. Um amor sem teto, sem rituais
familiares. Dorina faz Lívio descobrir suas contradições, suas hipocrisias. E
Lívio a quer cada vez mais. A deseja como se pode desejar um bem, uma
propriedade. Foi impulsionado pela sua singularidade, mas no fundo ele queria
descobrir que ela era uma mulher como tantas outras. Mas Dorina não é como
as outras, e é isso que a torna especial. Teria sido mais fácil para ele
diminuí-la, negá-diminuí-la, esquecê-diminuí-la, como um acidente de percurso acontecido durante a
sua pacata vida de casado.
“Você não deveria ser boa comigo” disse Lívio a Dorina, em uma das tantas
ocasiões onde, escondido da mulher, liga para a amante, para pedir desculpas
mais uma vez. A jovem escuta as mil desculpas de Lívio e com um olhar frio o
deixa livre para escolher.
Com as palavras cheias de ritmo, Diego De Silva coloca em cena uma
espécie de comédia humana: fraquezas e desejos, medos e sacrifícios,
mesquinhez e mediocridade.
A estrutura narrativa clara e quase cinematográfica oferece ao leitor uma
divisão de vida quotidiana, simples e normal, como todos os sentimentos
universais, primeiro deles, o amor. La Donna di Scorta é uma história de amor
antes de ser uma história de adultério, de todos os amores possíveis, daqueles
aos quais renunciamos, daqueles que decidimos levar a diante colocando em
discussão tudo aquilo que foi nossa vida até então e decidindo não ter mais
vergonha de admitir que a escolha vai significar abandonar alguém. Dorina
sabe disso, desde o início.
2.2.3 - Voglio Guardare
Voglio Guardare narra a história de duas vidas paralelas. Celeste, uma
menina colegial aparentemente normal, alterna uma vida familiar desprovida de
carinho e cheia de sujeira e um segredo: se prostitui e procura a violência nas
ruas de modo masoquista , por razões que não são claras nem para ela.
David Heller é um jovem e brilhante advogado criminalista, que, porém,
conhece o terrível segredo do advogado e quer olhar de perto o mal e entra em
sua casa para ver onde ele se esconde. No final, é ela quem salva Heller, em
uma medida extrema, irremediável, quando esse desejo de olhar está para ser
afogado no sangue inocente de uma menina.
A mensagem conclusiva é aquela que talvez para sanar o mal seja
necessário outro mal? O escritor representa o mal, não o julga, nem traça o
percurso criminal de Celeste e Heller, as razões da sua crueldade e também as
disposições para sofrê-las. A atenção é focada mais sobre as personagens do
que em suas ações ou motivações. O elemento que permeia o romance é a
obsessão dos dois: a de Celeste de se prostituir aparentemente sem intenção
de lucro (talvez por vício? Ou por tédio?) e de se deixar espancar por maníacos
de uma periferia como tantas. E a de Heller de atrair meninas despreocupadas
mostrando gatinhos ou brincando de forma macabra de caça ao tesouro dos
ovinhos de chocolate, os espalhando por todos os cantos com paranóia em sua
casa. E em seguida a obsessão de se livrar de qualquer traço material e
psicológico dos seus crimes, para construir com sabedoria uma vida dominada
pela normalidade do mal.
A obra de De Silva é fria e implacável. Seu desprendimento lembra o
estilo dos autores americanos contemporâneos, mas não parece estar de fato
influenciado.
Voglio Guardare é de certo modo um pequeno romance de terror ímpar,
rico não de um verdadeiro suspense, mas sim de um singular estado de
2.2.4 Da Un Altra Carne
É a estória de Guido, um dos filhos da Sra Traversari, que um belo dia
chega em casa com um menino nas mãos. Salvino tem 10 anos e um passado
secreto. Não se sabe nada sobre os seus pais, nem Guido fornece explicações,
mesmo que entre ele e o menino pareça existir uma relação de confiança
construída ao longo do tempo. Para todos a chegada de Salvino é um furacão
interior. Não apenas porque é difícil aceitar um estranho, um intruso que invade
nossas vidas do nada. As razões que a simples presença da criança, que é
suficiente para alterar o equilíbrio de uma família e os indivíduos que a
compõem, são em grande parte obscuras e é essa área escura , este lugar da
verdade em movimento, que o romance de De Silva atravessa, sem dar nem
exigir explicações.
2.2.5 - Non Avevo Capito Niente
Apresenta a estória de Vicenzo Malinconico, um advogado napolitano de
quarenta anos, há pouco tempo abandonado pela mulher. É uma personagem
positiva, que de maneira muito humana, com altos e baixos, com reflexões às
vezes estúpidas e superficiais, às vezes profundas (e muitas vezes
simultaneamente uma e outra), enfrenta a solidão, as contradições e o absurdo
da sua condição, da sua profissão e da sua cidade. Depois os ventos começam
emergir sua capacidade, suas qualidades, e colocam a personagem e o leitor
em paz com a vida. A partir de então, iniciam uma série de aventuras narradas
por Diego De Silva, autor até hoje classificado na rica categoria dos escritores
italianos de suspense. Em Non avevo capito niente, o autor napolitano
demonstra o quanto estreita e emblemática é esta classificação para um autor
versátil e brilhante como ele. A força do livro está na narração, com a escolha
da primeira pessoa para contar melhor os estados de humor e a filosofia do
protagonista, que se auto-define, entre outras coisas, um dos novos pobres da
era moderna, daqueles que não o admitem nunca, colocam o terno e gravata e
que não têm nenhum sindicato pronto para defender os seus interesses.
Fala-se de camorra e de relacionamentos humanos com uma leveza e
um humor irresistível, onde aspectos seríssimos da vida quotidiana (de uma
cidade como Nápoles) e dos relacionamentos humanos são ridicularizados por
seus absurdos, incoerências e aspectos ridículos.
Acabamos nos apaixonando pelo protagonista, cuja humildade justifica
os seus erros. E também a vontade de sucumbir às prepotências, algo que em
algum modo tem um efeito positivo na sua imagem. O autor dá digressões
periódicas entre um capítulo e outro, alguns pensamentos do protagonista em
voz alta, sobre os temas que a estória mostra. Às vezes divertidíssimo, às
vezes menos, mas é um detalhe de um livro delicioso, uma autentica lufada de
ar fresco e de inovações de um panorama literário italiano muitas vezes
parecido com si mesmo.
Com esta obra, Diego De Silva se impôs ao grande público com uma
irresistível ironia, divertiu e conseguiu falar de Nápoles e dos seus “problemas”
2.2.6 Tre Terzi
O livro nasce do roteiro teatral do espetáculo Tre Terzi encenado no
Teatro Mercadante de Nápoles e também em outros teatros, na temporada
teatral 2007/2008.
Tre Terzi são três peças em poucas páginas: Casa Chiusa de Diego De
Silva, L’incognita << Mah>> de Valéria Parrela e La soluzione de Antonio
Pascale, onde Nápoles, a sua língua, o seu micro-clima existencial, a sua
morfologia antropológica, constituem o tema e ao mesmo tempo o perímetro
dos escapes no imaginário, dos outros lugares narrativos e dramatúrgicos no
qual se movem os diferentes protagonistas.
Em Casa Chiusa a cena se desenvolve toda dentro de um quarto onde
um homem e uma mulher discutem entre eles sobre uma terceira pessoa
amada por ambos. A cena segue com um diálogo vivaz e uma eterna oscilação
entre a doçura e a crueldade.
L’incognita << Mah>> mostra uma cartomante trans-televisiva com uma
veia tipicamente cômica em um dialogo surreal com a esposa de um cliente
que morreu.
E La solizione é ambientada em uma Nápoles nobre onde o pai dilapida
2.2.7 Mia Suocera Beve
Em Mia suocera beve o autor volta à cena do crime para descrever as
vicissitudes e os involuntários golpes de gênio do advogado napolitano Vicenzo
Malinconico, profissional quase desempregado, feliz de forma intermitente e
agora definitivamente desempregado.
O centro do romance desta vez é o sequestro pessoalmente filmado ao
vivo por câmeras de um supermercado. Ao tê-lo estudado e executado foi um
engenheiro informático que projetou o sistema de câmeras de vigilância. O
sequestrado é um boss da camorra que o engenheiro considera responsável
pela morte acidental do seu único filho. A eficácia do plano é impressionante:
ao chegar aos noticiários o engenheiro pretende contar o seu drama e
processar o boss. A cena do sequestro se torna assim o set de um trágico
cômico reality, com a multidão e as forças da lei que assistem impotentes o
“espetáculo”. A única esperança de impedir a tragédia é confiada ao advogado
Vicenzo Malinconico, que o engenheiro encontra casualmente no
supermercado e o “nomeia” defensor público. Malinconico com a sua proverbial
indecisão, o seu natural senso de ridículo, a sua irreprimível tendência a
meditar, a sair do tema e encontrar o cômico no trágico, o seu resumir e
reescrever os últimos acontecimentos de sua vida privada, conseguira sabotar
o plano do engenheiro e talvez até mesmo a grande confusão que é a sua vida.
Diego De Silva a cada dia vem conquistando mais leitores com as suas
deliciosas comédias humanas, suas prosas frias e implacáveis e sua
capacidade de falar da camorra e de relacionamentos humanos com uma
Como vimos, as obras de Diego de Silva apresentam ao leitor uma realidade
linguística e cultural italiana pouco conhecida fora da Itália. Para entendermos
essa situação tão bem retratada por De Silva, buscamos fundamentos teóricos
e históricos na evolução da língua italiana, que serão tratados no capítulo
3- UM BREVE HISTÓRICO DA LINGUA ITALIANA
3.1 A situação política italiana e a língua.
A história da língua italiana é de uma riqueza única e sua evolução e
consolidação não foi um processo tão simples. Nesta seção faremos um breve
panorama da história linguistica italiana.
Segundo Tullio de Mauro em Storia Linguística dell’Italia Unita, a
questão da variedade da língua italiana - os dialetos - já era observada por
Dante, em sua obra De Vulgar Eloquentia. A pluralidade da língua era
verificada em varias obras literárias.
“Soltanto un ridotto grado di svilupo degli studi di linguistica italiana può spiegare come mai, considerando la situazione linguistica della peninsola dal punto di vista della lingua letteraria, più d’una volta si sia quasi dimenticata l’esistenza dei dialetti: il vigore e la molteplicità di questi erano già presenti a Dante e, si può dire, non c’è manuale di filologia romanza in cui non si sottolinei, con una sorta di compiacimento populistico la vitalità.”5
A situação linguística italiana em 1870 posta em relação ao curso dos
eventos históricos anteriores foi entendida perfeitamente por um
contemporâneo, Ascoli. No “Proemio archivio glottologico” o linguísta italiano
deu provas de que o fato que na Itália, entre a conquista romana dos séculos
IV e III a.C e a unificação política em 1861, não tinham agido forças capazes de
5Apenas o reduzido grau de desenvolvimento dos estudos de linguística italiana pode explicar
acrescentar ou pelo menos salvaguardar a homogeneidade linguística das
diversas regiões. Segundo Ascoli, estariam, então, faltando forças centrípetas,
reduzíveis em última análise na centralização demográfica, econômica, política
e intelectual, resultado de um estado unitário e de uma cidade capital, que
tinham, ao contrario, operado na França, Espanha e Inglaterra, induzindo a
província a orientar-se, também linguisticamente, segundo o modelo das
respectivas capitais. Por outro lado, observava Ascoli, que também faltava na
Itália um movimento que difundisse largamente a instrução elementar e a
leitura dos textos sacros, como acontecia nas cidades alemãs.
A ausência de forças centrípetas na história italiana nos séculos antes
da unificação, dá conta somente em parte da situação linguística do país na
metade do século XIV: aquela ausência não correspondia nos séculos a
simples inerte continuação do estado de homogeneidade linguística criado pela
romanização; correspondia, pelo contrario, a ação de poderosas forças
centrífugas.
Sobre o fundo de todos os acontecimentos históricos italianos está, não
necessariamente obrigatória, mas fortemente condicionante, uma realidade
geográfica descontinua, também históricas e linguísticas inclinadas a
desvalorizar geralmente a importância dos aspectos e dos confins geográficos
em relação aos confins políticos e administrativos. A paisagem criada pelo
homem, antes da descontinuidade territorial da península, leva a admitir que
essa favoreceu de maneira decisiva as caracteristicas regionais. Graças a essa
localização geográfica, na idade pré-românica pôde surgir e manter uma
filologia romana no qual não se destaque com uma espécie de complacência populista , a sua
fragmentação étnico-linguística que não tem comparação, não só na Europa,
mas considerando áreas de dimensões iguais àquelas italianas, mas também
fora dela. Apenas na Índia, com um território muito maior, se verifica uma
mistura parecida de etnias e línguas.
Entre os séculos IV e III a.C liguri, celtas, venetos, picenos, umbros,
oscos e sannitos, gregos, messapos, sicanos e siculos foram unificados sob a
direção política da república romana. Mas o temor político não comportou a
alienação ou a rápida assimilação das etinias pré-românicas, que como eles,
se renunciavam às próprias autonomias políticas e administrativa, estavam
livres para o restante, podiam conservar costumes, institutos e idiomas
tradicionais. Em relação a estes últimos, sabe-se que, como a completa
assimilação política realizada através da inclusão dos povos sujeitos na civitas
romana, era uma concessão honorária, assim o uso do latim, longe de ser
imposto, estava e ficou invocado e concedido como um direito cobiçado. De tal
modo a romanização, que antes da unificação política do século XIX foi o
maior, se não o único processo capaz de tornar homogêneo a península
italiana, que alcançou em parte este resultado ainda no tempo de Augusto. As
distinções étnicas Pré-romanas, também porque se apoiavam, como foi dito,
sobre distinções criadas pelos confins naturais, resistiam ao ponto de serem
tomadas por base das regiões então estabelecidas.
Dois séculos mais tarde, a reorganização do Império envolve a
separação da Itália em duas diversas circunscrições: a setentrional, com o
centro em Milão, e a centro-meridional, com o centro em Roma. Mas ainda com
mais carga de consequências para história da Península deveria revelar-se um
de Nice do principio da continuidade. Por causa de tais princípios as partições
administrativas romanas, agora em ruínas pelo enfraquecer-se do poder
central, puderam, ao contrario, sobreviver tomados como base pelas divisões
entre as várias circunscrições eclesiásticas. E não foi apenas deste modo que
as organizações da igreja de Roma intervieram para reforçar particularidades e
divisões: com a criação e reforço entre Tirreno e Adriático do Patrimonium
Sancti Petri, desde a Idade Média fenômenos de cada ordem não podiam
expandir-se pelas planícies mais ao sul da Toscana e de Roma.
Garantida pelas lutas e pelo equilíbrio conduzido pelos grandes estados
nacionais europeus entre o XVI e o XVIII, a divisão da península italiana em
unidades políticas diversas e profundamente diferenciadas pelo ponto de vista
de estrutura demográfica e social durou pouco afetada no período napoleônico,
até o século XIX. Ou melhor, nos primeiros cinquenta anos daquele século,
para aumentar as diferenciações existentes veio a revolução industrial. Esta
agiu, nos outros estados europeus, no sentido da sempre mais acentuada
unificação das organizações econômicas e sociais .Na área alemã , como foi
dito, favoreceu a formação da união alfandegária entre os diversos estados que
lá existiam. Na Itália, ao contrário, a revolução veio da refração contra as
variadas e estagnadas sociedades do tempo e operou diferenciando-a ainda
mais: a falta dos mercados, a escassez dos capitais e o atraso tecnológico
forçou cada estado da Península a iniciar as primeiras tímidas tentativas de
industrialização importando capitais e técnicas estrangeiras, mas por outro
lado, estabelecendo barreiras protecionistas bem mais rígidas que no passado,
No plano linguístico, em consequência das vicissitudes históricas
surgiram e prosperaram uma selva de idiomas fortemente diferentes um do
outro, que são conhecidos como os dialetos italianos. Para entendermos essa
realidade, apresentaremos a seguir um estudo histórico sobre os dialetos
italianos.
3.2 Os Dialetos e a língua italiana.
Os dialetos italianos são ainda hoje separados em pelo menos três
grandes grupos: os setentrionais, o galoitalico, limitado ao sul da linha La
Spezia – Rimini ; o grupo toscano, com os assim ditos dialetos de transição; e ,
finalmente, o grupo meridional.
Fortemente isolados aos três grupos estão o sardo e o ladino, ambos
considerados como formações autônomas em relação à complexidade dos
dialetos ítalo-românicos.
A variedade e diferença dos dialetos é resultado das diferentes correntes
inovadoras que investiram o latim em diversas regiões.
arcaica, sono, con il sardo, la varietà romanza fonologicamente più vicina al latino. (Storia linguistica dell’italia unita, Tullio de Mauro, p. 24) 6
Uma vez constituídos, os dialetos por séculos se desenvolveram em
direções diversas e a sua variedade foi limitada apenas pelo fato que em
todas as regiões foi adotado o latim no uso jurídico até o século XV ou XVI, e
no uso eclesiástico por mais tempo ainda. Entre os séculos XIV e XVI as
classes mais cultas começavam a usar com mais freqüência, nas escrituras
públicas e privadas, o fiorentino, nas formas fixadas por Dante, Petrarca e
Bocaccio, enriquecidas depois , por elementos lexicais e estruturas sintáticas
latinas. Junto com o fiorentino se popularizaram com o tempo alguns dialetos
como o veneziano no norte, o romanesco na Itália central, o napolitano e o
siciliano no Sul.
Não surpreende o fato que, desde o século XIV, a adoção de uma
língua nacional comum não tenha atenuado mais a adversidade dos
dialetos. As mesmas razões que consentiram e favoreceram a formação e
sobrevivência de várias tradições dialetais foram obstáculos na difusão de
um idioma comum a toda península. Como foi dito, na França, na
Alemanha, na Espanha e na Inglaterra, motivos de ordem política,
econômica, social e cultural operaram ativamente já antes do século XVI
para que o latim medieval fosse substituído por um idioma vulgar e assim o
idioma pré-selecionado, uma vez assumido como língua nacional, se
difundisse em todas as regiões e em todas as classes sociais. Entre os
séculos XIV e XVI a Itália também tinha uma língua nacional: o toscano
(mais precisamente o fiorentino), mas este tinha apenas prestígio literário,
prestígio que foi confirmado mais tarde graças ao petrarquismo e aos
gramáticos.
Embora não seja negligenciada a influência que as necessidades do
comércio tiveram em manter vivas formas inter-regionais do italiano (o
italiano itinerário do qual falava Foscolo), a existência do italiano comum
durante três séculos foi, fora da Toscana, essencialmente garantida pelo uso
que, de geração em geração, continuaram a fazer os escritores e
estudiosos, com a única exceção de Roma. Em Roma, por vários fatores, o
italiano foi língua usada pelas classes mais altas e, então, em uma ampla
gama de relações da vida pública e privada. A crise de despovoamento da
cidade depois do saque de 1527 e o sucessivo e lento repovoamento,
graças ao afluxo de imigrantes do conselho, colocaram em crise o vernáculo
local, de origem notavelmente longe do toscano. Por outro lado, a corte
pontífica era o único centro político na Itália que era composto por indivíduos
de todas as regiões forçadas assim a usar um idioma unitário; os prelados,
forçados no interior da corte a falar italiano, transferiam este hábito nas suas
relações quotidianas com os locais, que foram realizadas sempre mais longe
do uso do vernáculo ou o usaram em formas mais sutil. Mas, tirando Roma,
somente nos documentos escritos e nas ocasiões mais solenes. Por
séculos, a língua italiana, única entre as línguas européias de cultura, viveu
apenas ou quase somente como língua dos cultos. O patriótico afeto nutrido
por ela pelos escritores foi, e se vê agora bem o porquê, a principal razão da
sua sobrevivência através dos séculos.
Na próxima seção apresentaremos o percurso da língua italiana e dos
dialetos até a unificação.
3.3. Língua e dialetos: a unificação
Segundo Tullio de Mauro, o fato que a língua italiana tenha sido
usada por séculos somente em círculos restritos e em ocasiões de
solenidades particulares, influenciou não apenas nas atitudes estilísticas
individuais dos poetas e prosadores, mas afetou também as estruturas
fonológicas, morfológicas, lexicais e sintáticas, na forma interna da língua e
na evolução histórica.
in gran parte vivo ed era quasi tutto ancora perfettamente trasparente. (p.26) 7
Isto é bem claro se pensarmos que os fenômenos de transformação
fonética, ligados ao uso falado da língua, ficaram necessariamente
estranhos a uma língua de tradição principalmente escrita, e que os
processos de individualização funcional das formas gramaticais e lexicais, e
as inovações semânticas, nem mesmo podiam verificar-se em uma língua
que pela tradição, através do tempo era confiada a uma minoria de
doutrinados, que a usavam apenas em documentos.
Uma tradição linguística como essa, explica como apenas as notáveis
inovações fonológicas verificadas no italiano entre o séc. XIV e o séc. XIX
estão relacionadas diretamente com a grafia; quanto às inovações lexicais e
morfológicas, essas consistem em adições de novos elementos aos antigos,
mais que em substituições e ou transformações. E a fonte de tais inovações,
é obvio que não fossem populares, mas aprendidas; não dialetais, mas
latinas. A influência latina no léxico e na sintaxe italiana é o fenômeno
diacrônico mais importante na história linguística da Itália antes da
unificação. Isso foi levado a tal ponto que na idade da Arcádia os poetas
italianos podiam se deliciar nas composições de versos ambivalentes.
7 Um caráter que, de um ponto de vista diacrônico, individua o italiano em relação ás outras
Nicola Capasso, Il grande giurista napoletano del primo Settecento , quando metteva da parte lo scintillante dialetto delle Alluccate contra li Petrarchiste o di altri suoi sonetti, scriveva versi come questi: << In mare irato, in subita procella / Te adoro maria, benigna stella>>. Erano versi che potevano essere letti sia come latini sia come italiani a parità di senso e di pronuncia (tenendo presente la pronuncia latina del V secolo d.C., restata canonica nella scuola italiana). Si tratta di giochi: ma il fatto che fra tutte le lingue neolatine, a parte alcune varietá dialettali sarde, soltanto l’italiano li consenta, è significativo della profonda latinizzazione. (p.27) 8
Outros reflexos estruturais do uso, principalmente escrito e pouco
frequente, do italiano são aparentes na mesma poliformia morfológica e
lexical. Quando uma mesma forma flexional se apresentava em duas
variantes, estas vinham ambas conservadas por séculos na tradição italiana,
na qual não podiam interferir as tendências seletivas, econômicas, operantes
nas línguas submetidas a um uso mais amplo: é o caso, por exemplo, de
esto e questo, gito e andato, alma e anima. Enquanto para alguns
significantes o francês e o espanhol têm uma só palavra, o italiano do
ottocento tem duas, três, quatro, perfeitamente equivalentes quanto ao
significado.
Essa angustia no âmbito de uso do italiano levava Carlo Gozzi e Ugo
Foscolo a definir o italiano como “língua morta”; Leopardi a detectar a aridez
e Manzoni a negar que os escritores italianos tinham uma “língua viva e
verdadeira”. E nisto estava a raiz antes da secular “questão da língua”: a
8 Nicola Capasso, o grande jurista napolitano da primeira metade do século XIX, quando
conservação de uma forma, a aceitação de alguns inevitáveis neologismos,
fenômenos ligados ao consenso espontâneo da coletividade dos falantes,
que na tradição linguística italiana podiam ser resolvidos apenas por vias
doutrinal, ajustando por razões filológicas, conforme este ou àquele modelo
ideal.
Diante deste uso restrito da língua nacional, era inevitável que o uso
dos dialetos progredisse sempre mais. Nas décadas que precederam a
unificação, em toda a península era atribuída aos dialetos uma grande
dignidade social. Os dialetos eram usados pelas classes populares e
também pelas classes cultas, pela aristocracia e por fim pelos intelectuais,
não apenas na vida privada, mas também sempre na vida pública e em
ocasiões solenes:
In Piemonte si predicava in dialetto; il dialetto era d’uso nei salotti della borghesia e dell’aristocrazia milanese; a Venezia , il dialetto si affaciava e dominava perfino nelle orazioni politiche e giudiziarie; anche a Napoli il dialetto era d’uso normale nella corte (meno, invece, nella borghesia); il primo re d’Italia , Vittorio Emanuele, usava abitualmente il dialetto anche nelle riunioni con i suoi ministri. A Venezia , a Milano, a Napoli, a Palermo, si costruirono delle koinài dialettali illustri , entro cui si inalvearono tradizioni leterarie che con Meli, Porta, Goldoni raggiunsero elevati livelli poetici. Alle soglie dell’unità , praticamente assente dall’uso parlato, l’italiano pareva dunque minacciato persino del suo dominio dell’uso scritto. (p.29) 9
9 Em Piemonte se rezava em dialeto; o dialeto era usado nos salões da burguesia e da
No momento da unificação, quase 80% da população italiana era
privada da possibilidade de contato com o uso escrito do italiano, ou seja,
pela escassa ausência do uso oral do italiano. Só a partir de 1951 os censos
italianos distinguiram aqueles que tinham alguma familiaridade com o
alfabeto, os semi-analfabetos e os alfabetizados. A situação cultural havia
progredido em relação aos anos da unificação. Os semi-analfabetos eram
cerca de um quarto dos não analfabetos.
Nos primeiros anos após a unificação, e, em medida ainda maior, nos
anos e décadas anteriores, um real contato com a língua comum e a sua
efetiva e definitiva aquisição eram reservadas (ou, ao menos, podiam ser)
apenas àqueles que, depois da escola primária, continuavam por alguns
anos os estudos.
Em 1862-63 a instrução pós-primária era dada a 0,89% da população
com idade entre 11 e 18 anos. Pode-se então concluir que através da escola
o conhecimento do italiano era garantido a apenas este percentual da
população e, então, que os italofoni ou melhor dizendo italografi eram
pouco menos de 1 por cento. Embora seja menor, tal percentual é alto em
relação à efetiva realidade. O percentual dos 0,89% diz respeito aos inscritos
como um todo, e não efetivamente os frequentadores em número com
certeza menor, e prescinde, enfim, a cada consideração relativa ao real
aproveitamento escolar e ao efetivo aprendizado da língua. Adotando
entretanto, critérios de grande abrangência, pode-se concluir que nos anos
aprender o italiano era cerca de 0,8% da população, por assim dizer, em
uma massa de 20 milhões de indivíduos.
O caso de Florença (com o restante das cidades toscanas) e de
Roma, pelas razões históricas já lembradas, na Toscana e em Roma os
dialetos locais eram particularmente próximos na estrutura fonológica,
morfológica e lexical da língua comum. Além disso na miséria escolástica do
Estado Pontifico, Roma era uma ilha na qual as instituições escolásticas
populares eram mais eficientes e difusas, que em outro lugar da Itália. Por
isso pode-se concluir que, em torno aos anos da unificação, a simples
qualidade de não alfabetizados permitia a Roma e a Toscana uma real
posse da língua comum: dos 160.000 italofoni de outras regiões, são
acrescentados cerca de 400.000 toscanos e 70.000 romanos.
Concluindo, segundo De Mauro, nos anos da unificação nacional, os
italofoni eram um pouco mais de 600.000 sobre uma população de
25.000.000 de indivíduos: ou seja, 2,5% da população.
Esperar modificar as condições linguísticas italianas apenas através
da ação dos professores toscanos que difundissem a língua comum era e
deveria ser ilusório. Além disso a metade dos professores era habituada a
dar aulas em dialeto. No velho ducado parmense, por exemplo, para lecionar
nas escolas primárias era suficiente conhecer a ortografia italiana, sendo,
então, inevitável e normal que os professores não falassem a língua italiana,
entre outras dificuldades do ensino do italiano que não era diferente de uma
região para outra. Geralmente os professores, que eram pouco instruídos e
conheciam a língua italiana ou não queriam usá-la, com a desculpa que seus
alunos não a entendiam. Por causa desses problemas foram adotados os
programas manzonianos, (a teoria manzoniana, que nasceu na polemica
contra as velhas posições puristas, porque volta a defender o uso vivo da
língua de Florença contra aqueles que queriam bloquear o desenvolvimento
linguístico italiano às formas aureo trecento). Adotaram-se também manuais
anti-dialetais nas escolas, o Ministério da Educação abriu concursos para
dicionários dialetais e por um certo tempo foi seguida a prática de transferir
professores da região de origem para outra região de dialeto diferente,
desconhecidos por eles e consequentemente não utilizável no ensino.
A partir de Manzoni e da unificação política italiana (1861), a situação
linguística da península se modificou. As políticas linguísticas desse período
contribuíram para a consolidação da língua italiana. É claro que esse foi um
processo lento e verifica-se a expansão da língua italiana a toda população
da península somente a partir do advento da televisão (1954).
Atualmente a língua italiana é falada por cerca de 70 milhões de
pessoas. Como foi visto anteriormente a língua italiana baseia-se nos dialetos
da toscana (mais precisamente o fiorentino). O italiano é a língua oficial na
Itália e na Republica de São Marino e é uma das línguas oficiais da Suíça.
Também é a segunda língua oficial do Vaticano e em algumas áreas da Ístria,
da Eslovênia e Croácia, como uma minoria italiana. Também é constantemente
falado em Córsega e em Nice (antigas possessões italianas), além da Albânia.
Como vimos, a evolução e consolidação da língua italiana não foi um
língua românica ao qual ao lado do dialeto eleito como língua nacional não
coexistam e persistam outros dialetos diversos>>.
A seguir faremos um breve estudo sobre os conceitos de língua, língua
4- LÍNGUA, LÍNGUA STANDARD, VARIEDADE DE LÍNGUA E
DIALETO.
Para compreender as diferenças entre os conceitos de língua, língua
standard, variedade de língua e dialeto, recorremos a importantes teóricos
no assunto.
4.1 - Língua padrão e dialeto
Segundo o linguista Gaetano Berruto em Fondamenti di
Sociolinguistica, uma língua é todo sistema linguístico (conjunto de formas,
paradigmas, regras, etc., organizado em numerosos subsistemas em
diversos níveis de análise) com uma peculiaridade em termos de
características estruturais. Enquanto uma noção variacionista afirma que a
língua é a soma de variedades que formam um diassistema, a sociologia da
linguagem afirma que a língua é todo sistema linguístico socialmente
desenvolvido:
saranno i suoi dialetti. (Fondamenti di Sociolinguistica, Gaetano Berruto, p.181) 10
Para compreender tais diferentes perspectivas, Kloss (1978:23-60)
introduziu as noções de Abstandsprache (língua por distanciamento, segundo a
proposta terminológica de Muljacic) e de Ausbausprache (língua por
elaboração):
Una língua per distanziazione è riconosciuta automaticamente come língua a sé, diversa dalle altre lingue, sulla base delle cacatteristiche strutturali a tutti i livelli che la caratterizzano e la differenziano; una lingua per elaborazione è una lingua per così dire sviluppata, che soddisfa o è in grado di soddisfare (crf.sopra § 6.1) tutta la gamma di funzioni richieste dalla società , in particolare gli usi scritti formali e tecnologici, e può valere come mezzo di espressione di tutti gli aspetti della cultura e della vita moderna. Le lingue storico-naturali esistenti al mondo sarebbero dunque riportabili a uno dei tre casi seguenti: o si tratta di lingue sia per distanziazione che per elaborazione (per esempio, l’italiano, il francese, il tedesco, il cinese, ecc), o si tratta di lingue solo per distanziazione.
(p.182)11
10 Uma noção variacionistica diz que uma língua é uma soma de variedades de línguas,
formadoras de um diassistema (cfr § 3.1.3) . E uma noção tipicamente sociolinguística (ou também de sociologia da linguagem): uma língua é cada sistema linguístico socialmente desenvolvido , que seja língua oficial ou nacional em qualquer pais, que desenvolva uma ampla gama de funções na sociedade , que seja padronizada e seja super-ordenada a outros sistemas linguísticos subordinados eventualmente presentes no uso da comunidade (que se relacionadas geneticamente com essa, serão os seus dialetos).
11Uma língua por distanciamento é reconhecida automaticamente como língua para si
Standard (padrão) é em sociolinguística um termo polissêmico , e pode
ser entre outras suposições ou em perspectiva social e normativa , prescritiva,
indicando então a norma codificada de referência para o bom uso correto da
língua, ou em perspectiva linguística e descritiva. Neste segundo sentido,
padrão é mais “um conjunto de traços não socialmente marcados pela língua”,
que representam o uso médio dos falantes cultos. Entretanto, sempre, os dois
sentidos tendem a sobrepor-se, também na terminologia dos linguístas. Além
disso, se sobrepõe, não raramente, àquele de língua padrão, o conceito de
língua nacional: é assim, por exemplo, em uma das caracterizações clássicas
mais amplamente citadas pela noção de Garvin- Mathiot (1956)
De fato Garvim e Mathiot definem língua padrão nos termos das
seguintes propriedades fundamentais: estabilidade flexível, intelectualização,
função de modelo de referência, função de prestígio, função unificadora, devido
ao fato de servir como elo de ligação entre falantes da variedade
sócio-geográfica diferentes da mesma língua, fazendo, no interno, participantes da
mesma comunidade; função separadora, serve como um símbolo de unidade
nacional diferente opondo-a, em direção ao externo, a outras unidades
nacionais. Agora é claro que as duas últimas propriedades se adicionam bem
mais ao status de língua nacional do que ao de língua padrão. Contudo, é fato
que as línguas nacionais tendem a ser também línguas padrão: a função
nacional implica um grau de padronização, e um certo grau de padronização
favorece a suposição de língua nacional.
Entretanto, se a variedade padrão de uma língua coincide com uma
variedade sócio-geográfica localizável, esta é sempre falada por uma élite
cultural, econômica e política (no desenvolvimento diacrônico respectivamente,
é a variedade típica de uma élite cultural e da classe dominante para ser
promovida a variedade padrão). Em cada caso, em cada sociedade a
variedade padrão é sustentada implicitamente e explicitamente com força das
classes dominantes, através da escola, da administração, das mass media, e
em geral da ideologia predominante.
À noção de língua padrão se opõe a de dialeto. Como muitas vezes
acontece com noções de amplo emprego e pertencente à linguagem comum,
uma definição unívoca de dialeto é um assunto bastante espinhoso. Como já
pudemos observar en passant, o conteúdo preciso daquilo que se refere com o
termo ‘dialeto’ pode variar sensivelmente de comunidade para comunidade e
em relação à condição local. Em vias preliminares, os dialetos são as
variedades linguísticas definidas na dimensão diatópica (geográfica), típicas e
tradicionais de uma determinada região, área ou localidade. Como tais, os
dialetos, não são nunca variedade padrão (mesmo que possam gozar de um
certo grau de padronização e codificação), mas são subordinados a uma
língua padrão, composta de variedades estritamente relacionadas ou mais ou
menos distantes, que fazem dela seu teto. Para estabelecer que um
determinado sistema linguístico X é um dialeto da língua Y são, portanto,
necessárias três condições: a) que X tenha uma boa vizinhança estrutural com
Y; b) que X tenha Y como língua teto c) que X tenha parentesco genético com
Y.
Porém ocorrem imediatamente aqui detalhes: Coseriu distingue muito