RevBrasAnestesiol.2017;67(2):214---216
REVISTA
BRASILEIRA
DE
ANESTESIOLOGIA
PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologiawww.sba.com.br
INFORMAC
¸ÃO
CLÍNICA
Ruptura
de
cisto
paratraqueal:
um
diagnóstico
diferencial
para
ruptura
traqueal
Joana
Marques
∗,
Ana
Rita
Henriques,
Luisa
Azevedo,
Daniela
Chalo
e
Adelina
Almeida
CentroHospitalarBaixoVouga,DepartamentodeAnestesiologia,Aveiro,Portugal
Recebidoem21dejunhode2014;aceitoem21dejulhode2014 DisponívelnaInternetem28desetembrode2016
PALAVRAS-CHAVE
Rupturatraqueal; Cistoparatraqueal; Complicac¸ões anestésicas
Resumo A ruptura traqueobrônquica (RTB) é uma complicac¸ão rara, mas potencialmente fatal, comumente causada por trauma de pescoc¸o e tórax. A RTB iatrogênica pode ser causada porintubac¸ão,traqueostomia, broncoscopia, mas também pode estar relacionada a doenc¸as primárias preexistentes.Os cistos aéreos paratraqueais, raramentedescritos na literatura,parecemestarassociadosàdoenc¸apulmonarobstrutivaefraquezadaparede pos-terolateraldireitadatraqueia.Relatamosocasodeumarupturadecistoaéreoparatraqueal empacientepreviamentesaudável.
©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eum artigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
KEYWORDS
Trachealrupture; Paratrachealcyst; Anesthetic complications
Paratrachealcystrupture:adifferentialdiagnosisfortrachealrupture
Abstract Tracheobronchialruptureisararebutpotentiallylife-threateningcomplication com-monlycausedbyneckandchesttrauma.Iatrogenictracheobronchialrupturecanbecausedby intubation,tracheostomy,bronchoscopybutalsolinkedtopre-existingprimarydiseases. Para-trachealaircysts,infrequentlydescribedinliterature,seemtobeassociatedwithobstructive lungdiseaseandweaknessesinrightposteriorlateralwallofthetrachea.Wereportacaseof aparatrachealaircystruptureinaprevioushealthypatient.
©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisan openaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense( http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:joanalbm@gmail.com(J.Marques).
http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2016.09.001
Rupturadecistoparatraqueal:umdiagnósticodiferencialpararupturatraqueal 215
Introduc
¸ão
Ruptura traqueobrônquica(RTB) é umacomplicac¸ão rara,
maspotencialmentefatal,comumentecausadaportrauma
de pescoc¸o e tórax e também associada a doenc¸as
pul-monares primárias preexistentes.1 Intubac¸ão orotraqueal,
traqueostomiaebroncoscopiatambémsãopossíveiscausas
iatrogênicas.2
Oscistosparatraqueaissãopoucodescritosnaliteratura
eencontradosapenasempequenassériescompoucos
paci-entesoucasosisoladosnaliteraturaradiológica.
O paciente assinou o termo de consentimento para a
publicac¸ãodosdetalhes.
Relato
de
caso
Apresentamosumcasoderupturatraquealempacientecom
sinais clínicos e achados em tomografia computadorizada
(TC)decistoaéreoparatraqueal(figs.1e2).
Paciente do sexo masculino, 55 anos, estado físico
ASA II, submetidoà microcirurgiatransoral eletiva a laser
para otratamento deedema de Reincke. O paciente não
tinhaodiagnósticodedoenc¸apulmonaralémdetabagismo
crônico;semsinaisdeintubac¸ãodifícil.
Figura1 Rupturadecistoparatraqueal.
Figura2 Rupturadecistoparatraqueal1.
Após a induc¸ão da anestesia intravenosa (infusões de
remifentanil,propofolerocurônio),opacientefoiintubado
com tubo traqueal Laser-Flex de 5mm e a laringoscopia
registrougrau II de Cormack-Lehane. Imediatamente após
aintubac¸ão,ETCO2nãofoidetectadoeumadessaturac¸ão
ocorreu, o que justificou a substituic¸ão do tubo, embora
visualmente não houvesse dúvida de intubac¸ão traqueal.
Fizemosumasegundatentativaeomesmoocorreu.Na
ter-ceiratentativa, feitacom o mesmo tubo, aintubac¸ão foi
confirmadacomsucessoporcapnografiae ausculta.Cerca
dedezminutosdepois,apressãodepicoinspiratório
aumen-toupara39cmH2Oe aETCO2para53mmHg,aSpO2caiu
para89%eaauscultapulmonarrevelouroncosaudíveis
bila-teralmente.Hidrocortisona(100mg)eaminofilina(240mg)
foramadministradaseafrac¸ãoinspiradadeO2foi
aumen-tadapara70%.Osparâmetrosvoltaramaonormalem5min.
Após 60min de cirurgia, a extubac¸ão foi feita sem
complicac¸ões.Nosegundodiadepós-operatório,opaciente
desenvolveuenfisemasubcutâneocervicaletorácicograve
seminsuficiênciarespiratória.
TCrevelouumpneumomediastino,comumdefeito
pos-terolatraldedescontinuidadefocaldatraqueia,com1mm
de comprimento, localizado 2,5cm acima da carina, que
abriueminspirac¸ão comalta suspeitadeserumaruptura
docistotraqueal,confirmadapelocirurgiãocardiotorácico.
Discussão
Cistosparatraqueaispodemestar presentes em
aproxima-damente3,7%dapopulac¸ão.3Algunsrelatossugeremuma
associac¸ão com doenc¸a pulmonar obstrutiva e enfisema,
devidoà fraquezana paredeposterolateraldireitada
tra-queia, no nível de entrada torácica, devido ao aumento
das pressões expiratóriasnesses pacientes,3 mas também
há estudos que não encontraram qualquer relac¸ão entre
elas.4
Otermocistoparatraquealémuitoinespecíficoparauma
colec¸ão aérea.Aparentemente,elesnãopassamde
diver-tículos traqueais, revestidos por epitélio colunar ciliado,
algunsdelescomumaouvárias conexões estreitas coma
traqueia.3Provavelmente devidoao aumentodaresoluc¸ão
emTC,aincidênciadecomunicac¸õescomatraqueiavaria
de8%a35%.3,4Oscistosaéreosparatraqueaisdoladodireito
datraqueiapodemserunilocularesoumultiloculares.
O diagnóstico de ruptura de cisto aéreo paratraqueal
baseia-seemaltograu desuspeitaclínica, grac¸asao
apa-recimento de sinais e sintomas clínicos sugestivos, como
enfisemasubcutâneo,insuficiênciarespiratória,
pneumotó-raxehemoptise.
O tratamento de escolha tem sido reparo cirúrgico ou
conservador,dependedotamanhoedalocalizac¸ãodalesão.
Otratamentonãocirúrgicoéaconselhávelemcasos
peque-nos(<2cm)edescomplicados.5
Nossaintenc¸ãofoirelatarcistosparatraqueaiscomouma
causapossívelderupturatraqueal,osquaissãoraramente
descritosnaliteratura,masnãotãoincomunsnapopulac¸ão.
Conflitos
de
interesse
216 J.Marquesetal.
Referências
1.Roh JL, Lee JH. Spontaneous tracheal rupture after severe coughingina7-year-oldboy.Pediatrics.2006;118:e224---7.
2.MinãmbresBJ,BallesterosM,LlorcaJ,et al.Trachealrupture afterendotrachealintubation: aliterature systematicreview. EurJCardiothoracSurg.2009;35:1056---62.
3.GooJM,ImJG,AhnJM.Rightparatrachealaircystsinthe tho-racicinlet:clinicalandradiologicsignificance.AmJRoentgenol. 1999;173:65---70.
4.Buterbaugh JE, Erly WK. Paratracheal air cysts: a com-mon finding on routine CT examinations of the cervical spineand neck thay may mimicpneumomediastinum in pati-ents with traumatic injuries. Am J Neuroradiol. 2008;29: 1218---21.