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ÀS CRIANÇAS BRASILEIRAS

Dizem que somos aqui um povo feliz, porque em nosso país não há guerras e furacões, que não temos divisões, repressões e luta armada. Tudo é normal para quem está de bem com o capital e considera os dados uma piada.

Existe em nosso Brasil também guerra civil. Mata-se à bala ou de fome. É assim que o sonho de liberdade se consome. Veja estes dados pesquisados por outro paradigma: só há nove milhões dos cento e sessenta nesta pátria violenta que levam uma vida precisamente digna. Para corrigir esta insensatez, bastaria que cada pessoa na família ganhasse um salário e meio por mês.

A previsão é que nos traz constrangimento, pois, a continuar este fraco crescimento, para acabar com a miséria no campo e todos os seus danos, levaremos três mil e novecentos anos.

As conseqüências já sabemos, mas é bom que as recordemos: morrem por ano antes dos 12 anos de vida, 120 mil crianças nesta guerra fratricida. É um povo ainda novo que morre por falta de comida. Como diz o poeta olhando a mãe vendo o filho que aos poucos se consome: “Morre meu filho morre, que morrendo a fome some”.

É uma hipocrisia ver parte de quem se diz de esquerda se juntar à burguesia para cobrar de Cuba o respeito, principalmente aos direitos humanos. Por que não contabilizam nos meses e nos anos os dados entre Cuba e o Brasil? Iriam descobrir que enquanto lá morrem 8 aqui morrem 36 crianças que nascem em cada mil.

Quase 6 milhões de crianças de 5 a 16 anos trabalham aqui para ajudar os pais. Sem sonhos apenas se perguntam: o que é que falta ainda sofrer mais? Esta tragédia não tem comparação, porque metade delas não recebe nenhuma remuneração.

No próximo natal, 21 milhões de crianças e adolescentes, não receberá presentes. Não é por maldade de seus pais, é que em suas famílias nenhuma delas ganha mais que meio salário mínimo por mês. Por isso outra vez vão lhes falar, que devem se calar e esperar que chegue um dia a sua vez.

Perguntaram a uma criança em uma carvoeira no interior do Pará, que dissesse, mesmo em sua vida cruel, o que é que gostaria de ganhar de presente do Papai Noel? Respondeu ela quase sem sentir: “Eu queria que ele me ajudasse a parar de tossir”. Soube-se depois que seu padrasto lhe batia toda noite só porque tossia e lhe perturbava o sono que dormia.

O que será o amanhã de um país sem esperanças quando as próprias crianças já não querem nem presentes? Diremos a elas que fomos enganados e pouco respeitados pelos presidentes?

Há os que têm tempo para ter paciência, mas há aqueles que tempo já não têm; nascem para morrer de imediato enquanto os governantes respeitam os contratos, entregando o nosso pouco àqueles que tudo tem.

Será que um contrato assinado pode deixar um povo inteiro deserdado? Pode-se enganar por um tempo uma criança dizendo a ela que o futuro será diferenciado, sem dizer porém para que lado. Mas não se pode enganar a própria sorte. No dia em que milhões não temerem mais a fome e nem a morte, surgirá do chão uma nação livre e forte e os contratos serão de uma só vez todos rasgados.

Cartas de Amor Nº 79

AO LIVRO

Existem muitas formas de estarmos acompanhados, uma delas é ter um livro sempre ao nosso lado. Ele é uma das invenções bonitas, descobertas pela escrita.

Nos livros pode-se estudar, informar, divertir e animar. Neles encontramos coisas boas, também muita coisa à toa.

Os livros entram nas consciências e vão tornando-se referências. Escrever é ter responsabilidade, pois a leitura rápida ou lenta, sempre acrescenta algo que tira ou dá a liberdade.

É muito bom ler. A leitura enaltece o saber na longa estrada. Desperta o senso crítico, corrige o pensamento mítico; incentiva e desafia quem porventura sozinho não se guia; o livro é como o corrimão da escada.

O livro também é emoção. Cada página folheada com o dedo indicador da mão é como o degrau subido, vamos seguindo e ficando mais sabidos, conduzidos pela teimosia dos passos, assim, cada qual constrói a sua história e a empilha dentro da memória escrevendo e relatando as vitórias e os fracassos.

Leia, leia sempre! Não deixe que a preguiça da alma lhe condene à ignorância. Quem lê enxerga na distância as mudanças que precisam ser feitas. O saber adquirido é como uma colheita, guardada no celeiro de sua vida; jamais há de faltar comida a quem produz o alimento e a receita.

Leia e incentive outros a lerem. Tenha sempre um livro à mão para doar, é o melhor presente que se pode dar a alguém que quer acompanhar-nos no caminho; quem dá um livro jamais está sozinho, outro alguém partilha da mesma ceia; o saber penetra pelas veias, toma a mente e se transforma em carinho.

O livro eleva o nível de consciência, carrega a causa e a ciência, ajuda na transformação; o que se escreve já é a interpretação da aurora no ponto de ser nascida, as palavras após serem tecidas, revelam a imagem de quem somos, dizem ali se valentes ou covardes fomos, pelas marcas, cicatrizes e feridas.

Há livros para todas as idades, todos os gostos e imaginações, há os que falam das nações das guerras e dos movimentos. Há biografias e sentimentos, descritos em páginas volumosas, que penetram como o perfume das rosas, no espaço da vida de quem luta, ler é como descascar a fruta, engolindo a saliva saborosa.

Quem não gosta de ler, não desanime! Às vezes não achou a leitura certa. Não fez ainda a descoberta da importância da leitura. Procure ler sobre pinturas, romances, livros de teatro e de poesia, história de marchas e romarias e até de guerras se lhe atrair; lembre-se que para progredir é preciso ler cada dia um pouquinho; guarde sempre o livro com carinho ele é a escada que lhe ajudará a subir; para qualquer lugar que desejar ir.

Tenha em mãos o livro e a caneta, vermelha azul ou de tinta preta, para anotar as descobertas. Ler é dialogar com as idéias erradas e corretas, por isso é preciso assinalar ou questionar! Sem a ajuda das mãos não se pode guardar o grande patrimônio do saber, portanto, sempre na hora de ler, todos os sentidos deve se convocar.

Vinte e nove de outubro é o dia do livro, este companheiro de todos os momentos, é um grande acontecimento onde a solidariedade questiona o egoísmo. É o exercício da confraternização; pois, sem os livros não se faz revolução, sem o estudo, não se organiza o socialismo.

Cartas de Amor Nº 80