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Não faz muitos dias, uma revista da alta burguesia, resolveu atacar a nossa educação. Disse coisas nunca vistas. Por estarmos no dia dos educadores homenageamos essas trabalhadoras e esses trabalhadores, chamando-os de Camaradas Comunistas!

Alegou que falamos de Marx, de Ho Chi Minh, Che Guevara e da revolução. “Isto não está nas normas do Ministério da Educação!” Mas o pior dito com mais veemência, é que nossas escolas ensinam que não tivemos independência!

Queriam o que? Que falássemos de Getúlio, Castelo Branco, Médici e Figueiredo? Do Pinochet, do Hitler ou do Tancredo? Que a Xuxa estivesse na parede e o Homem Aranha nos salvasse com sua rede? Ou então, mentirmos, que o capital financeiro é quem nos irá salvar? Seriam esses os heróis, a cultuar?

Mas a revista de índole capitalista, quis chamar a atenção do Governo e do Estado que está deixando algo incontrolado dentro da República! Pois desse jeito não há como acabar com a escola pública!

De certo gostariam que nossas escolas fossem clandestinas, para aí terem razão de incluí-las nas chacinas.

É crime cantar batendo as mãos? “Burgueses não pegam na enxada, burgueses não plantam feijão, e nem se preocupam com nada, arrasam aos poucos a nossa nação.”

Se é isso que os ofende, podemos escrever uma outra letra tirando-lhe o tom polêmico, e elogiá-los dizendo que: “Burgueses, do agronegócio, só plantam transgênicos para exportar e viver no ócio”. Burgueses são burgueses não tem jeito, por mais que se queira ter respeito, devido à sua ganância imensa, até os elogios viram ofensas.

Denunciou a revista capitalista, nas palavras da maldosa jornalista, que por sinal ainda não aprendeu a escrever a gosto. Será que não sabe que Sem Terra não é mais um substantivo composto? Pois com o suor de nosso rosto, nos tornamos sujeitos! Por isso escrevemos com letras maiúsculas sem o hífen que separa. Esta gramática, aprendemos na vida e nas escolas construídas com lonas amarradas em varas.

Mas denuncia ela em números estarrecedores que temos quatro mil educadores. Mil e oitocentas escolas funcionando, e cento e sessenta mil crianças estudando. Mas o que lhe queimou os olhos igual centelha, foi ver que em cada sala há uma bandeira vermelha.

Será que esta revista capitalista não sabe que a escola é um direito e que para educar não há somente um jeito? Fundamentalismo é quando nas escolas se aprende a adorar o capitalismo! Ali sim, de tanto usar só o livro didático, o professor fica lunático!

Por que a jornalista não vai a uma escola urbana de uma periferia, e presta atenção no que se ensina a cada dia? Ou nas ruas das cidades, nos fornos de carvão, ver o trabalho escravo, talvez aprenderia a pronunciar de outro jeito, e com respeito, a palavra Revolução.

Que pena que as escolas não são ainda comunistas, onde se pudesse aprender desde cedo a não ser capitalistas! Porque, além de indecoroso, ser capitalista é muito perigoso!

Nos faz lembrar do velhinho e o escorpião, que após salvar o inseto no riacho, ferrou o pobre velho bem na palma da mão. Este respondeu com delicadeza: cada um de nós agiu segundo a sua natureza.

O que esperar de uma revista capitalista? Que elogiasse uma causa humanista?

Cartas de Amor Nº 108

AO MARIGHELLA

Freqüentemente os dias nos surpreendem, trazendo-nos à lembrança àqueles que não se rendem. Nem o tempo os elimina, permanecem como as rochas resistentes, entre a névoa da neblina.

É verdade que o tempo com sua encenação, como se tivesse mãos, coloca os marcos a cada aniversário mais distantes. Mas, nunca rebaixa os comandantes. Ou seja, o tempo que envelhece não desce a graduação, de quem pensou, lutou, viveu e morreu pela revolução.

Quatro de novembro, no calendário dos humanos, recordamos que há trinta e cinco anos, Marighella caiu em uma emboscada. Tombou sobre as pedras da calçada da Alameda Casa Branca com toda a dignidade que portava. A força que o esperava era a dos carrascos repressores. Ganhavam para matar cultivadores de jardins que se pareciam às próprias flores.

Marighella era um daqueles militantes que todos gostam de ver, ouvir e apreciar. Contam que falava devagar soletrando as sílabas como em um ditado. Astuto e desconfiado, não deixava escapar nenhum segredo. Poeta, seresteiro por consciência, criou uma frase que definiu a sua essência: “Não tive tempo pra ter medo”.

Foi com Jorge Amado deputado. Cassado ficou sem partido. Resistiu à prisão e foi ferido, agindo como um pássaro contra o vento. Fez de sua intuição um movimento embrenhando-se sem medo pela luta armada, teria, se não fosse a emboscada, quem sabe, mudado a história pelos acontecimentos.

Nos momentos de bastante apreensão, na prova escolar ou no fundo da prisão, a poesia surgia sob a ansiedade. Como esta que veremos, cheia de ternura, onde, após duras e longas sessões de torturas, pode assim descrever a Liberdade.

“Não ficarei tão só no campo da arte, e, ânimo firme, sobranceiro e forte, tudo farei por ti para exaltar-te, serenamente, alheio à própria sorte. Para que eu possa um dia contemplar-te dominadora, em férvido transporte, direi que és bela e pura em toda parte, por maior risco que essa audácia importe. Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma, que não exista força humana alguma que esta paixão embriagadora dome. E que eu por ti, se torturado for possa feliz, indiferente à dor,

morrer sorrindo a murmurar teu nome”.

Muitos deixam por herança aos descendentes, capitais. Outros deixam exemplos e valores. Marighella nos deixou a utopia cheia de cores e poesias sempre mais atuais.

Cartas de Amor Nº 109

No documento COLETÂNEA CARTAS DE AMOR completa Junho 2006 (páginas 112-114)