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Educar é uma arte tão antiga como as cores, que se eternizam nas pétalas das flores. E, por mais que os diplomas nos encham de vaidades, ninguém jamais conseguiu desativar esta atividade.

Há os que educam pela convivência, outros pela profissão, e, uns terceiros, pela aparência. Estão os últimos nas escolas privatizadas, vendendo ali o conhecimento, que muitas vezes em si não vale nada.

Se o conhecimento liberta, é preciso que as portas das universidades estejam sempre abertas. Se ficarem fechadas, para uma grande massa de jovens, também não valem nada. Quem tem a chave para ali entrar, são poucos e escolhidos, enquanto uma imensa quantidade, tenta e paga para serem excluídos.

É a lei do mais forte aplicada à educação. Os que perdem sua vaga, culpam-se pela rejeição, como se não tivessem capacidade e assim vão distanciando-se da universidade. E, os governantes pensam ser fortes e corretos, dirigindo um país de analfabetos.

Agora com a ALCA seremos ainda mais punidos. Uma rede empresarial fará a dominação cultural, como se os norte-americanos fossem os mais sabidos. E se não reagirmos bem ligeiro, poderemos ver nossos filhos cantarem, pela manhã, o Hino Nacional brasileiro, mas, ao meio dia, o dos Estados Unidos.

Não choremos às “letras derramadas”, sejamos como o vento que entra caverna a dentro, retirando dela o vácuo que lhe causa danos. Pois, educar é a arte de forjar novos seres humanos. Por isto não há tempo a lamentar, é preciso abrir a consciência, desejar e lutar por uma boa escola, evitando que ela se torne esmola.

É a vez do professor, dizer que o ensino e ele mesmo têm valor. Sua função é ajudar o educando a ser um grande criador. Deve inspirá-lo e animá-lo para que se conduza. Seja consciente e que à condição de indigente nunca se reduza.

O educando sempre é a matéria prima, onde se acrescenta apenas a auto-estima, para que corra em busca de fazer o seu próprio saber, como o fruto que por si se esforça para amadurecer.

Quem educa é como o galho que sustenta o fruto em forma de chocalho. Bate pra lá, bate pra cá, e não cai, o esforço mais a vontade do vento, é que determinam até onde este movimento vai.

O objetivo é embalar o fruto até produzir sementes de boa qualidade, que levarão do galho a própria identidade, despedindo-se para germinar. Assim é a tarefa de educar: dar curso ao caráter e à conduta, para que o educando se organize e faça a própria luta.

Quem educa deve ter orgulho de assim ser, caso contrário se assemelha a quem não quer crescer. Tem em si o potencial, mas não se manifesta, e se anula como o galho esquecido no meio da floresta.

Educador que se preza não se enlata, renova-se com a arte de ser autodidata. Forja seu próprio jeito em grande estilo, tornando-se impossível substituí-lo.

Educar é plantar. É dar origem ao destino. É alinhar o rumo dos raios como sol a pino que fazem a própria direção, mas que respeitam a obra de toda a criação, apenas a iluminam ainda mais.

Cartas de Amor Nº 40

AO ESTUDO

Vamos falar do estudo como um pedaço da vida. Não é somente o corpo que precisa de comida. A consciência em sua longa estrada, deve ser também alimentada.

Um ser humano é por natureza duplicado. Tem um lado material e um lado ideal. Um é sentimental. O outro, forte, rígido e mais pesado.

Os músculos, a pele, os ossos e os órgãos genitais, ocupam um lugar como os demais. Sentimos dor e cada pulsação. Mas neles há um detalhe que chamamos de emoção. Esta não tem definido o tempo e o lugar. Está nos poros que nos fazem suar, alcança os olhos e nos faz chorar, nos calafrios que vêm nos arrepiar, e no sono na hora de sonhar.

Assim é a vida de um ser social. Que diferença tem este com o animal? Se forem estas as características, sejamos realistas, um do outro é quase igual.

Mas é possível um distanciamento, se colocarmos entre ambos o nível do conhecimento. Este para o homem é tudo, e o adquirimos convivendo e pelo estudo. O animal pouco progride, por isto não tem a noção de quando agride.

O conhecimento dentro da gente é como um rio, deslizam as idéias, enfrentam desafios. Na sua ausência, só fica a aparência, e a consciência em suas formas, como a água sumida se parece a uma caverna já sem vida.

Cada ser humano tem sua identidade, um nome, um endereço e a memória guardada desde o começo. Seja alguém pobre ou venha da classe rica, por fora é uma coisa, mas por dentro como fica? Por isto há milhões de pessoas que, por fora levam um Rei estampado na fronte, mas por dentro, carregam um grande ignorante.

Isto já é antigo. Desde que os escravos eram presos em minas, é que o corpo sem conhecimento por si mesmo se domina. Fica covarde, com medo de morrer. Mata os sonhos em sua mente, pois o que sente não consegue descrever.

Um ser humano dominado se torna como um animal. Em tudo é igual: forte e resistente, dócil e obediente como o soldado que adora o general. Anda, mas não faz a própria estrada. Mora, mas não tem sua morada. Pensa, mas renega o pensamento. Grita, não é seu o grito, é um lamento. E sente apenas, o seu próprio esquecimento.

O estudo nos dá o conhecimento. Nos compreendemos por fora; nos conhecemos por dentro. Cada idéia formulada é uma luz que se ascende. Cada decisão tomada é um inimigo que se rende.

Porque gostamos mais do trabalho braçal e menos de estudar? Porque o corpo aprendeu a respeitar as ordens recebidas. Educou-se ao longo das gerações, que se faz à vontade dos patrões. E assim aconteceu, cada um deixou de ser seu próprio eu, e morreu.

No conhecer se esconde a rebeldia, a força e a utopia. Por isto é preciso estudar todos os dias. Fazer cada idéia provar sua verdade e com as mãos torná-las realidade.

Ser militante é ser um criador. Ser o próprio professor e a professora. É entrar dentro de si com uma boa vassoura e retirar o lixo que acoberta o cadeado da corrente. É tornar-se radical e intransigente, contra a dominação. É ter clara a explicação de que: não vale a pena viver só para dar prazer a quem domina. É libertar o escravo desta mina feita em cada um de nós. Soltar a voz. Soltar os nós. Desamarrar enfim a auto-estima.

Cartas de Amor Nº 41