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Esta carta ganha mais importância por estar dirigida à militância. A uma militância destinada, que ousou se insurgir pelas estradas em busca de grandes soluções. Desafiou os cerrados e os grotões, dando um sinal de alerta. Fizemos o que devia ser feito, com clareza e com respeito, o que era pra fazer na hora certa.

Dissemos na saída, de forma confiante, que cada um de nós seria muito importante, mas não sabíamos apenas a metade. Quando chegamos percebemos o resultado, que a marcha tinha se projetado, pelo país e por toda a humanidade.

Mas é preciso frisar por um instante, a questão não é só ser mais importante, como pessoa ou equipe de serviço. Porque sabemos que acima de nós, há um movimento que sustenta a nossa voz; nos mantêm firmes e ligados aos compromissos.

Elegemos como referência o valor da gentileza, somente ele teria tanta grandeza, para acolher a determinação. A marcha foi sem dúvida a grande escola, onde o bailar de nossas solas serviu de caderno. Há os que ainda dizem que somos atrasados, incultos e ultrapassados; ficar parados, calados e humilhados, de certo para estes é ser modernos?

As noites do cerrado eram frias, como o coração da burguesia que não vibra, não canta, não planta. Não ama, não clama, somente sente, raiva e calafrios. Mas o dia era cheio de calor, onde os passos mostravam com vigor que é possível enfrentar limites e desafios.

Sempre ao clarear do dia iniciava uma nova romaria. O Estado que puxava as longas filas, mais cedo agarrava suas mochilas. Tinha que chegar primeiro, onde a ocupação deveria assustar mais um grande fazendeiro. Treze foram feitas nesta combinação. A equipe de acomodação se adiantava para quando chegasse a multidão, os colchões já estivessem estendidos, para que os mais enfraquecidos, pudessem descansar o coração.

Na saída nada era esquecido, o lixo era todo recolhido e o local era deixado como estava. De uma coisa é que ninguém lembrava, concertar a cerca arrebentada; é que o Sem Terra não nasceu pra fazer cercas, mas para derrubá-las.

A marcha marcou muito profundo a nós e o coração de “todo o mundo”. Mostrou, que aos esquálidos e rejeitados, foi dada a tarefa de manter acesa a chama, para indicar o caminho de quem ama, que se plantarem haverá colheitas, e assim as novas gerações serão bem mais perfeitas.

Você que marchou diga a quem perguntar, que não há coisa melhor do que marchar e lutar contra os opressores. Ficar frente a frente com os dominadores e passar pelos caminhos planejados, a polícia, os juizes, governos e deputados, nada podem fazer, quando a fraqueza se enche de certezas, é sinal que vai vencer.

A tarefa companheiros e companheiras, está cumprida. A reforma agrária está de novo envaidecida, anunciando que a terra poderá ser repartida. Basta que o presidente se empenhe a cada dia, combata o oportunismo e a covardia de seus ministros e assessores; e que jamais se esqueça, que a marcha foi apenas o canteiro, e que nós cultivadores somos como o jardineiro, que planta porque quer cheirar as flores.

Tudo será diferente daqui pra frente. Temos que lutar mais, estudar mais, conviver mais, produzir mais, ser bons filhos e ser bons pais.

Guarde no portal da sala pendurada a sua mochila, para que ela sempre puxe em filas os valores mais profundos. Jamais se cale ou pense em desistir, pois você ajudou a construir, mais uma das grandes maravilhas deste mundo.

Cartas de Amor Nº 120

AO FUTURO

Quem acredita no futuro caminha um tanto mais seguro. Há os que pensam que a semente pereceu, que a Pátria não tem mais sentido e que o sonho morreu. É uma pena, porque há tanto vigor contido a espera de quem lhes dê sentido...

Quem segue lutando está sempre semeando. Há os que temem o horizonte, não arriscam nenhum passo, vivem no compasso da frustração de ontem. É uma pena, porque quem semeia o campo da utopia, está deixando muito mais que impressões digitais, deixa heranças de razões, baladas e canções que enchem os corações de encantos e alegrias.

Quem confia na razão não descuida da emoção. Há quem pense que o homem é somente racional; a mulher é do mesmo material, por isso cabe à frieza do mercado, a tarefa de mantê-los ocupados. É uma pena, pois há tanta criatividade sem utilidade. O excesso de civilização jamais poderá conter a força da paixão e o prazer de amarmos de verdade.

Quem se organiza, não se atemoriza. Há os que temem o desconhecido, calam-se diante dos desmandos e obedecem as ordens e os comandos. É uma pena, porque é tão bom participar, deixar- se utilizar como instrumento das mudanças. Encher o coração de confiança, levar uma idéia para a prática. Inventar uma nova gramática, onde se conjuga o verbo da esperança.

Quem junto segue pela trilha, partilha. Há os que acham que a competição é a única norma da civilização. É uma pena, pois a cooperação que embasa o princípio da solidariedade, tem suas raízes na velha convivência, foi quem abriu as dobras da consciência, e é quem garantirá a seqüência da nova humanidade.

Quem os sonhos carrega, não se entrega. Há os que se deixam corromper, aceitam até vender os princípios e os valores. É uma pena que estes desertores não saibam como é belo resistir, não se prostituir, nem se deixar acovardar. A maior herança que se pode preservar, são os exemplos de bons cultivadores.

Quem acredita no que sonha, nunca se envergonha. Há quem pense que sonhar é proibido, que imaginar é tempo perdido e que viver é um eterno depender. É uma pena, pois há tanto por fazer, que ninguém pode queixar-se de estar sem ocupação. Cada instante é um tempo de invenção, não se pode deixar bater inutilmente o coração.

Quem sabe os direitos que tem, não se deixa humilhar por ninguém. Há os que pensam que a força e a violência são educativas, que bastam as campanhas ostensivas para pacificar a sociedade. É uma pena, pois a desigualdade que gera a violência, jamais é combatida, e fica sangrando esta ferida, enquanto uns poucos se divertem na luxúria e na opulência.

Por fim, quem confia sempre desafia. O futuro não é uma distância imensa; nele nos esperam as recompensas. Vale a pena sonhar, lutar, ter crenças. Sobrou a nós esta tarefa de insistir, de querer, de investir nas diferenças. Ânimo, força, coragem e esperança, o presente é como uma criança, o futuro é uma paixão imensa.

Quem lutar, no futuro terá tempo para amar, cantar, sorrir e conviver. Quem parar, terá tempo de fingir, fugir, deixar-se destruir, morrer... Que as futuras gerações que ainda vão nascer, possam se orgulhar de quem viveu para deixar, um pedaço de futuro por fazer.

Cartas de Amor

Nº 121

AO COMPORTAMENTO

Na vida sempre há certos momentos, que precisamos olhar mais para o comportamento. Não de forma moralista, mas pela ética socialista. Naquele velho e bom sentido, de ver um dia construído o “homem novo”. O “homem novo” significa o povo, não uma ou outra pessoa isolada. Esta é a grande empreitada que a história nos legou sem dizer nada.

A história é às vezes silenciosa, teimosa, dificulta todas as saídas. As forças ficam enfraquecidas e presas dentro das consciências. É o tempo de se ter paciência, melhorar a convivência e as relações humanas. Isto não é pouco! É um avanço medonho! Se tomarmos como referência os sonhos, agredidos pelos golpes dos sacanas.

O comportamento é como uma lavoura, se cultiva. Há os que se escondem por trás das “cercas vivas”, cheias de espinhos e ficam ali sozinhos cuidando a propriedade. Mal sabem que a fragilidade é maior quanto mais nos isolamos, mais penamos, e menos ajudamos a mudar a sociedade.

É a convivência que orienta o coração. Por isso há coisas que aprendemos com razão, outras completamente erradas; como se escrevêssemos em folhas amassadas, a sentença de uma condenação. Às vezes até na brincadeira fazemos coisas que nos marcam a vida inteira.

A cultura também são as travessuras! Repetimos tantas coisas que aprendemos que às vezes nem sabemos porque existem. Viram vícios, desvios e então resistem, quando alguma coisa tentamos transformar; seja beber, fumar, jogar... são como péssimos inquilinos, que brigam para não se deixar desalojar.

Os vícios em nós conquistam seu espaço. Mesmo que digamos: “Eu não faço!” em seguida estamos executando. É uma força que exerce outro comando e desvia o rumo da intenção; não é fácil combater este dragão, pois nas entranhas vive em nós se alimentando.

A propósito, um exemplo até infantil. Tentava o avô já bem senil, convencer o neto revoltado, que, por razões desconhecidas, com o amigo tinha se desentendido e brigado.

Dizia o avô ao neto que não parava de chorar: “Você precisa relevar, o ódio só faz mal ao coração!”. Como não conseguia do neto a atenção, decidiu uma anedota fantasiar.

Disse ele em um tom meloso: “Há dias que também me sinto assim, como se tivesse aqui dentro de mim, um lobo bom e outro raivoso. Os dois vivem brigando e disputando espaço e levam a vida assim neste cansaço”. “E qual dos dois vence no fim?” Perguntou o neto contendo o choro e o lamento. Respondeu o avô, num gesto fraternal: “No fim vencerá o animal, que a cada dia eu der mais alimento!”.

Por isto é que dizemos, que a vida é preciosa, mas pode tornar-se uma aventura perigosa se não tivermos o mínimo de cuidado. Nascemos para ser “mal educados”, pois é assim que nos querem as forças do mercado.

Quando entendermos que a propriedade vale menos que uma vida, que cada vício é uma grande ferida que temos sangrando na consciência, então é a hora de mudar; de iniciar a construir novas referências; seja na economia, na política ou na ideologia.

Mas, se ao tentar mudar percebermos que as forças recuam no momento exato! Temos que parar e sem medo perguntar: Sou um ser humano ou sou um rato?

Cartas de Amor Nº 122

No documento COLETÂNEA CARTAS DE AMOR completa Junho 2006 (páginas 124-127)