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Sesmarias, eram de certa forma cortesias dadas pelos amigos da Coroa portuguesa àqueles que quisessem explorar a terra e a natureza, no início da colonização. Era uma espécie de doação com limites de direitos, os sesmeiros deviam o respeito e garantias aos senhores das capitanias.

Por ser a capitania hereditária, a sesmaria substituía a reforma agrária. O donatário fazia as concessões, cobrando impostos e doações para garantir o seu poder, mas o sesmeiro não podia vender nem negociar a sesmaria; era um acordo não uma democracia.

Enfim, veio a independência e esse sistema entrou em decadência, até poucos dias, quando o governo brasileiro retomou às sesmarias.

Isto ainda está se dando através de um projeto que a Casa Civil está elaborando. Mas, pouca coisa para elaborar ainda resta, e logo será dada a “Concessão de Áreas de Florestas”.

Sabemos porém que o projeto está sendo proposto e conduzido pela “bondade” dos Estados Unidos, que patrocinou recentemente, uma viagem ao Ministério do Meio Ambiente para verificar e eliminar as falhas, comparando a outro projeto parecido, que está sendo desenvolvido, na Austrália. O império volta a ser Coroa dona da Capitania, e projeta a concessão de Sesmarias; do mesmo jeito que já era: só pode explorar as riquezas e a floresta, não pode se apropriar da terra. Esta continua sendo brasileira, com um grande cadeado na porteira.

Ora, todos nós sabemos o que é ser uma colônia e que o império sempre esteve de olho na Amazônia. Não quer a terra, porque essa em seu país já tem demais, o que quer de fato, é uma forma de contrato, para explorar nossas riquezas naturais!

O governo se torna o antigo donatário e age como um latifundiário. Governa sem soberania, pois aceita que o país seja uma capitania.

E ainda há quem aceite e não se importe, com medo da invasão militar vinda da América do Norte! Acalmem-se, pois não teremos esta sorte! Os governantes darão ao imperador, as riquezas, a dignidade e o que for, se o povo não desafiar a própria morte.

É a reforma agrária da Capitania, onde o menor pedaço são três léguas de frente como na velha Sesmaria. É o agronegócio que não terá sócio; explorará à vontade, e deixará ao povo brasileiro, as favelas, os morros e os terreiros, para exercer a sua liberdade.

Tudo está ficando muito sério, até Banco aqui vira ministério! Está na hora de tomar consciência e concluir de vez a independência.

Não é por nada, nem por nacionalismo, mas não se pode escancarar as portas para o imperialismo.

A integração internacional, não pode se dar às custas da exploração mineral e vegetal! Esta é a integração do capital não da população, pobre e infeliz. É por isso que, quem não tem mais riquezas em seu país, está fora da globalização.

Por isto estamos todos convocados, a nos armarmos de foices e machados e soltarmos um brado triunfante. Rumarmos para o lado da floresta, não para cortar as árvores que nela ainda resta, mas para derrubar a ignorância de nossos governantes.

Cartas de Amor Nº 104

À OLGA

Há um filme recentemente produzido que o próprio nome já lhe dá sentido. Sentido de sentir! Se alguém duvidar e disser que não irá chorar ao assistir, pode mentir.

Mas o choro não é de desespero ou de lamento; é uma mistura de orgulho e sofrimento que toma conta do ambiente o tempo inteiro. É a alma do povo brasileiro, estampada na tela, porque Olga apresenta-se viva, valente, persistente, solidária e bela.

Quem vê o filme entende facilmente uma antiga verdade, “que os mortos nunca morrem enquanto os vivos têm deles saudade”. Isto mesmo! Continuam vivos e belos, pois o passado e a utopia se ligam por dois elos.

O roteiro destaca a força feminina, da criança, da jovem, da mãe, da heroína, sem vacilar um momento sequer. Por preconceito pode ser que ninguém fale, e os homens que assistem o filme calem, mas por dentro, no íntimo do pensamento, desejariam ser essa mulher.

Ser Olga no masculino ou no feminino é querer ser sujeitos do destino. É desprender-se de toda a mesquinhez, ver o futuro com senso de altivez sentindo o aproximar dos próprios passos. É descobrir que temos um coração e um corpo com dois braços, onde cada qual tem sua função: carregar uma palma em cada mão para tecer a história como um laço.

Os críticos não compreendem, fingem que não se rendem para a razão sentimental. Mas com certeza percebem que na revolução tudo se utiliza, a força, a fé, o amor, a pontaria precisa, também o instinto maternal.

Não será por este detalhe revelado, que o filme está sendo muito criticado?

É belo observar o ar com que cada cena se reveste, mostrando-nos que Olga não foi a simples mulher de Luis Carlos Prestes. Comportou-se como a mãe que conduz o filho pela mão, trazendo-o escoltado e protegido, colocando-o no lugar outrora definido, para liderar a revolução.

Como a mãe que protege o próprio filho, salvou-lhe a vida na hora da prisão, gritando um forte “Não!”, dizendo que Ele estava desarmado. Poderia ter fugido ou se acovardado, mas esta força superior de mulher firme e coerente, fez com que se colocasse à frente e não ao lado.

Quando pensavam que estava presa e dominada e já não seria capaz de fazer nada, anunciou a sua gravidez; como a dizer mais uma vez, que jamais renunciaria à liberdade. Quem resistiria em meio a tanta crueldade, portar-se com coragem e altivez?

Deportada não deixou que a humilhassem. Na cadeia não deixou que a derrotassem nem destruíssem a sua família. Gerou e pariu a bela filha amamentando-a até o leite secar. Tentou em vão este ciclo prolongar, para o dia da despedida não chegar.

E ao sentir o fim da vida, na agonia da própria despedida, registrou com naturalidade a sua dor. E em meio às lágrimas e os lamentos, transformou o próprio testamento numa bela e cordial carta de amor.

Por fim, ao passar pelas grades do nazismo, não deixou de acreditar no socialismo onde estava para ela a liberdade. Embora triste, a última cena é bela e forte, a vemos caminhando com passos firmes para a morte, sem renunciar à sua dignidade.

Cartas de Amor Nº 105

No documento COLETÂNEA CARTAS DE AMOR completa Junho 2006 (páginas 108-110)