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Lavrar é o ato de abrir a terra para fazer dela a pátria das sementes. Isto se dá em todos os continentes, desde que surgiu a mulher e o homem. Embora, com toda a astúcia e sabedoria, existe uma enorme quantia, de pessoas que ainda hoje em dia, não comem.

Lavrar é o ato de encurvar-se sobre os arados e as enxadas, fazendo reverências às encostas e baixadas. Ninguém pode compreender esta relação, a não ser quem empunha os calos das próprias mãos para fazer a terra tornar-se semeada.

Mexer com a terra é ter paciência pela espera. É arrancar de baixo do pedregulho o orgulho de ser cultivador. É de certa forma ser senhor do próprio nascimento. É suar a água com o sofrimento e secar a face com as pontas dos dedos. É ter uma infinidade de segredos neste longo e belo relacionamento.

25 de julho é o dia do motorista que transporta, mas antes, se quiser, tem que passar pela porta da agricultura. Por isto é também o dia do lavrador que aprendeu, com as enxadas ou o trator, riscar quadros de roças transformando-as em pinturas.

Lavrar é entender-se com o solo. É consultá-lo para saber o que pensa sobre cada espécie de semente. É acreditar que é possível ser coerente no trato com a natureza e com a terra. Quem cultiva tem a sua conduta onde empreende contra a fome a cada dia uma luta, enfileirando as plantas como soldados em guerra.

Cresce junto com a roça o aprendizado. Cada lavrador tem a seu lado uma lavradora. É esta figura encantadora que luta para ter o seu lugar e marchar como as sementes nas fileiras. Se as plantas são todas companheiras por que haveríamos de nos discriminar?

Limpar a terra é carpir a própria sorte que só o tempo dirá se valeu ter trabalhado. É olhar para os campos silenciados pelas leis, a inflação e os preços. É sentir ameaçado o endereço, por ter que entregar tudo e se mudar endividados.

Lavrar a terra é mais que uma profissão é cultivar o sentido e a razão de viver na harmonia entre os iguais. É saber depender dos animais, dos insetos, das chuvas e da lua. É compreender que a vida continua e vai além das relações carnais.

Viver na roça é morar entre os pomares. É recriar todos os lugares atingidos pela força do trabalho. É despertar de cada planta um suspiro na lavoura. É marcar na utopia criadora a identidade como rastros no assoalho.

Dá pena ver a destruição desta velha cultura. Inventam-se formas modernas de fazer a agricultura que só em olhar começamos a ter medo. De que adianta tanta intransigência? Se está se destruindo a consciência de quem na história guardou cada segredo.

Não basta inventar mil artifícios se estes inventos se transformam em vícios e modificam nossa identidade. É preciso evitar o constrangimento e saber que o principal insumo para se produzir o alimento, é sem dúvida nenhuma o valor da honestidade.

Saudamos esta classe resistente que existe em todos os continentes onde cada qual comemora o seu dia. Produzir e cuidar bem das sementes, para que seja garantido a todos o sustento. Lutar para ter o controle do alimento é o jeito perfeito de garantir a nossa soberania.

Cartas de Amor Nº 63

AO ÂNIMO

Já é antigo este ditado, de certo inventado por um sábio corcunda, que: “Quanto mais se abaixa a cabeça, mais se levanta a bunda”.

Há pelo menos 40 anos neste espaço brasileiro, que a mídia com cinismo sorrateiro, nos traz as notícias já embrulhadas com as críticas. É porque os donos das TV’s e dos jornais, na esfera das relações sociais, querem dar a direção política.

Estão acima do Estado e dos partidos. Têm seu próprio sistema informativo, dão aos seus arapongas disfarçados, o nome de “repórteres” investigativos.

Em suas matérias e editoriais, ditam as pautas políticas semanais. Colocam então com os seus simples dizeres, os três poderes da república a seu serviço e pressionam para que mantenham com eles os compromissos.

Enfim, orientam o deputado, desafiam o judiciário e enquadram o senador. Constrangem o presidente e batem no governador. Têm de fato um poder assustador, principalmente para aquele que quer ter a imagem pública, e gozar por muito tempo os prazeres da República.

E o povo que está fora dos poderes? Orientam a conduta com os seus exemplos e dizeres, onde os desvios e os vícios são entregues a domicílio matizados em belas cores. Penetram pela pele descuidada de cada face ingênua, boquiaberta e patética. Vão implantando sem escrúpulos a sua ética e transformando-a na prática de valores.

A revolta destes senhores poderosos e barrigudos, é quando os movimentos sociais ignoram isto tudo, e partem para mostrar aquilo que eles querem esconder. Então se sentem atingidos em seu poder.

Podemos dar um exemplo e mostrar como isto é. Estamos vivendo uma trama que se chama: “A febre do Boné”.

Quando Lula era ainda candidato, através de sua política de aliança, passou a estes coronéis da informação, credibilidade e confiança. E se pudéssemos dizer de uma forma não fraterna, ficaram satisfeitos que chegavam a “mijar-se pelas pernas”.

Passadas as eleições, compostos os ministérios, novamente se alinharam e consideraram que o governo era sério. Então, um a um foram fazendo suas audiências. Enquanto que, (e isto nada tem demais), os movimentos sociais com suas posições maduras e tranqüilas, aguardaram sem pressa bem no final da fila, com paciência.

Feita a rodada, chegou a vez de receber os camaradas. Que até então não tinham dado nem sequer uma opinião. Mas eis que despertaram os rancores. Através dos refletores atentos, deram o deferimento de que seria ilegal, como se o Presidente tivesse deixado de ser coerente, entrado em um prostíbulo, e manchado a sua moral.

Isto doeu demais e a intimidade foi ferida. Pois viram que o Presidente, se quiser, pode ser independente da minoria, e fazer as audiências com cordialidade e alegria.

Mas continuam nervosos e rebelados. Agora porque foram revelados os dados reais dos grandes proprietários de terra no Brasil. E que, se o governo quiser fazer a reforma agrária, a classe latifundiária é composta apenas de 27 mil. Que coisa perigosa, se o povo compreender este sacrilégio, que uma minoria quer manter a terra como privilégio!

Animar significa botar alma, dar a vida. Imprimir a cada passo coragem, entusiasmo, luzes, cores. É tempo de avançar, seguir em frente. Espalhar em toda a terra boas sementes, que o futuro nos espera com as flores.

Cartas de Amor Nº 64

À IRREVERÊNCIA

Corre à solta um argumento que chega a criar constrangimento. Dizem os ideólogos da hipocrisia, que os movimentos sociais são importantes, para provar que há democracia.

Desenvolvem em suas falas arranjadas e polidas, o argumento porém, de que a lei deve sempre ser cumprida. É, a bem da verdade, para o Estado manter a sua autoridade.

Não dizem eles uma coisa que está em sua própria alçada, de que os movimentos sociais somente surgem, porque a lei que os favorece nunca é aplicada. A lei do direito de comer, trabalhar, morar, sentir prazer...

Então este discurso deve ser contestado. Os movimentos sociais somente surgem e seguem o seu curso, porque é o último recurso, que os fracos encontraram para defender-se das injustiças cometidas pelo Estado.

Na história da humanidade podemos perceber algo interessante. Até a revolução francesa o poder da “nobreza” vinha de Deus. A partir daí o povo o delega aos representantes seus. Que não são propriamente o Estado, apenas de gerenciá-lo são encarregados.

Por trás destes dirigentes, há uma classe violenta com subdivisões interna. Por isso é que, o Estado nunca pertence ao povo, e às vezes nem a quem governa.

Esta classe dominante, atua impondo cláusulas como a duas partes que assinam um contrato em uma sociedade. Quem ferir alguma delas, paga multa sem piedade. Só que ela, quando paga, usa o dinheiro, os fracos tem que usar como moeda a própria liberdade.

A classe dominante quando lhe é favorável, fala com cautela e com prudência, pois é a única que em sua insanidade, tem a legítima possibilidade, de usar a força e a violência.

Preparam porém o terreno quando precisam usá-la, para que a opinião pública não venha condená-la. Aí entra em campo a mídia com suas firmes opiniões, visando “amolecer” os corações.

Então passam a apontar uma infinidade de defeitos. Separam do povo alguns sujeitos, como se eles fossem os culpados pela necessidade coletiva, e aí os esfolam até ficarem em carne viva. Querem dar a entender, que se criminalizarem alguns indivíduos, o problema fica fácil de se resolver.

Ás vezes quem governa tem até com a pobreza certa delicadeza e atenção. Mas da mesma forma, é ameaçado. Se não utilizar a força do Estado e aplicar a violência e a repressão, alertam que pode haver a cassação.

Os truculentos dizem com sua intransigência, que “é preciso baixar o pau da lei”. Reconhecem então que ela não se aplica sem violência.

Os movimentos sociais surgem e são punidos, porque os seus problemas nunca são resolvidos. Governo sai, governo entra, e a classe dominante continua sempre violenta.

Os poderosos são covardes e nojentos. Para tudo criam normas. Então querem estabelecer até as formas de como devem se comportar os movimentos. Aí são “importantes”, se ficarem dentro dos padrões, ditados pela classe dominante. Se for para esperar, o povo não precisa se organizar! Os fracos somente são irreverentes porque os fortes são irresponsáveis e inconseqüentes. Por isto é preciso continuar com a irreverência. É a única forma de defesa que resta para a pobreza, defender-se da arrogância e da violência.

Cartas de Amor Nº 65